sábado, 14 de julho de 2007

perguntas e respostas

Tenho tido alguma dificuldade em estar informado acerca da apicultura, essa paixão recentemente iniciada.
no intuito de ajudar outros ignorantes como eu, junto um texto de perguntas e respostas de um autor e pesquisador brasileiro, que me têm ajudado muito no meu percurso.



1. A Abelha
1.1 Que abelhas são criadas no Brasil?
A espécie de abelha mais comum, criada no Brasil e no mundo inteiro é a Apis mellifera (o seu nome científico). Também são criadas aqui algumas espécies de abelhas nativas (ou indígenas ou sem ferrão), que são menores e muito menos produtivas, mas que fornecem um tipo de mel diferente, muito apreciado por alguns.

Este documento contém informações apenas sobre Apis mellifera. Para obter informações sobre abelhas nativas, consulte os grupos de discussão mencionados no item 12.9).
1.2 O que significa esse nome científico?
A classificação dos seres vivos é feita em diversos níveis (reino, classe, ordem...). Ao se mencionar um determinado indivíduo, o mais comum é usar-se apenas o gênero e a espécie. No caso, a nossa abelha comum pertence ao gênero Apis e à espécie mellifera.

Um outro nível é usado às vezes para identificar subespécies, variedades ou raças, como em Apis mellifera carnica. Ao final do nome científico, freqüentemente aparece o nome do responsável pela identificação da espécie, geralmente abreviado. Por exemplo, Apis mellifera mellifera L. (de Linnaeus).

Quando se está fazendo referência a mais de uma espécie do mesmo gênero, ele é escrito seguido da abreviatura spp. Por exemplo, Apis spp.

Os elementos do nome científico são palavras em Latim, ou latinizadas, quando a palavra correspondente não existe neste idioma. O gênero é grafado com a primeira letra em maiúscula, a espécie e subespécie, em minúscula. Nenhum deles leva acento.
1.3 Que raças de abelhas existem?
A Apis mellifera possui diversas subespécies (raças). Algumas são originárias da Europa e outras da África. Entre as européias mais conhecidas, estão a mellifera, a ligustica (popularmente conhecida como "italiana"), a carnica e a caucasica. Entre as africanas, destacam-se a scutellata, a capensis, a monticola e a adansonii.
1.4 Que raças existem no Brasil?
No Brasil, e em quase toda a América Latina, a predominância é de uma raça híbrida entre a A.m.scutellata e as raças européias citadas acima. Como essa hibridização não está padronizada, ou seja, ainda há uma enorme variedade morfológica e comportamental, não foi registrada uma raça específica, mas essas abelhas são genericamente referidas como abelhas africanizadas.
1.5 Como essas abelhas chegaram aqui?
Rainhas de A.m.scutellata (originalmente chamada de A.m.adansonii) foram introduzidas no Brasil em 1956, para uma experiência de melhoramento genético. Fora de controle, enxames abandonaram as colméias e passaram a viver na natureza. A partir de então, enxameações sucessivas e cruzamentos de zangões africanos com princesas européias deram início a uma longa e impressionante ocupação do continente. Em 1990, os genes africanos chegaram à fronteira sul dos EUA, tendo percorrido cerca de 8.000 km em 34 anos.

Ao longo do tempo, os cruzamentos deram origem a enxames híbridos, com diferentes graus de predominância dos caracteres genéticos africanos.
1.6 As abelhas africanizadas são mais agressivas?
Sim, em intensidade variada. Há enxames excepcionalmente agressivos e outros relativamente mansos.

A propósito, a tendência de "correção política", amplamente difundida nos EUA e importada livremente pelo resto do mundo, caracteriza o comportamento da abelha como defensivo, e não agressivo, porque o ataque seria sempre uma resposta a um estímulo externo. Na minha opinião, isso é apenas uma confusão semântica. O intuito pode ser de defesa, mas a ação é de agressão. Se um cachorro resolver estraçalhar uma pessoa na rua por se sentir ameaçado, alguém diria que ele é muito defensivo? É claro que não.

Neste texto, apenas a expressão agressividade é usada para qualificar uma resposta de ataque.
1.7 Quando um ataque de abelhas pode ser fatal?
A literatura registra que um indivíduo hipersensível pode morrer em virtude de uma única ferroada, mas isso é muito raro. Mais comum é morrer a pessoa ou o animal que, impossibilitado de fugir por qualquer razão, fica exposto a um número muito grande de ferroadas. Crianças e deficientes físicos que estejam nas proximidades de um enxame agressor correm maior risco. Animais amarrados ou cercados também. Apicultores bem protegidos raramente sofrem mais do que umas poucas e inofensivas ferroadas.
Há casos registrados de morte com 100-300 ferroadas, e há um caso de sobrevivência registrada com 2.243 ferroadas. Em geral, a dose letal mediana (para a qual 50% das vítimas morrem) fica em torno de 19 ferroadas por quilo, para adultos [SCH92].
1.8 A apicultura pode ser considerada uma atividade perigosa?
Mexer com abelhas, sem conhecimento, pode ser considerado perigoso. A apicultura racional, praticada com os critérios de segurança bem conhecidos, é provavelmente uma atividade muito menos perigosa que algumas outras profissões e passatempos. Ao longo deste texto, há várias considerações sobre segurança. Independentemente disso, fazer um bom curso teórico-prático é uma condição essencial à formação de um bom apicultor.
1.9 Quantas vezes uma abelha pode ferroar?
Normalmente, uma única vez. O ferrão é uma estrutura que se parece com um arpão e que fica cravado na vítima. Ao se desprender, a abelha deixa para trás não apenas o ferrão, mas também o saco de veneno e parte do seu aparelho digestivo. Enquanto o ferrão permanece cravado, o veneno continua a ser instilado por ação involuntária (veja os itens 4.13 e 4.14). A abelha morre em horas ou dias.
1.10 A rainha ferroa? E os zangões?
Normalmente, a rainha só ferroa outra rainha, quando em disputa pela colméia. Ferroada de rainha em humanos é bastante rara, e, quando acontece, geralmente é após a manipulação de outra rainha pelo apicultor. O ferrão da rainha é mais firme que o das operárias e tem menos rebarbas, o que quase sempre evita o seu arrancamento após a ferroada.

Zangões não ferroam porque não possuem ferrão.
1.11 Afinal, por que as abelhas ferroam?
As abelhas ferroam quando sentem que a sua própria integridade ou a de sua família está ameaçada. Por isso, uma abelha longe de sua colméia nunca ataca ninguém, a menos que seja molestada diretamente, ou que tenha saído há pouco de uma colméia atacada. Pessoas que desconhecem esse fato assustam-se desmesuradamente quando uma abelha voa próximo a elas, imaginando que se trata de um ataque, e não uma simples investigação sobre a possível utilidade daquelas vestes coloridas ou daquele perfume exótico.
1.12 As abelhas são criaturas boas?
Nem boas, nem más. São apenas insetos, que apresentam um comportamento baseado num conjunto limitado de respostas aos diferentes estímulos que sofrem. Abelhas não raciocinam, não planejam, não ficam de mau ou de bom humor. Também não se afeiçoam ao apicultor nem se acostumam a ser manipuladas. Todos esse sentimentos são próprios de alguns vertebrados, especialmente os mamíferos, mas não de insetos.
1.13 Como as abelhas não planejam, se elas guardam mel para o inverno?
Elas não guardam mel para o inverno, simplesmente porque a grande maioria das abelhas que estocam o mel nunca viram e nem verão o inverno, já que elas raramente chegam a viver dois meses na época de forrageamento. Elas simplesmente respondem ao estímulo "secreção de néctar nas proximidades" coletando e armazenando tudo o que podem. Do ponto de vista da seleção natural, os enxames que assim procedem conseguem sobreviver aos tempos difíceis e têm oportunidade de passar seus genes adiante. Os demais simplesmente morrem, sem conseguir perpetuar esse comportamento na espécie.
1.14 O que as abelhas reconhecem como ameaça?
Barulhos normais, como o ruído de passos e conversa raramente perturbam as abelhas. Elas são estimuladas por vibrações fortes (de motores, por exemplo), odores (suor, perfumes), movimento (quanto mais rápido, pior) e cores (as escuras mais do que as claras). Pêlos em geral, cabelos e roupas felpudas estimulam fortemente o ataque, mais ainda se forem escuros.

Dentre os maiores estímulos, pode-se destacar o dióxido de carbono, exalado em quantidade pelos humanos. Por essa razão, evite, sempre que possível, respirar ou soprar próximo às abelhas.

Um detalhe interessante é que as condições ambientais parecem influir decisivamente no comportamento mais ou menos agressivo das abelhas. Dias nublados, úmidos e ventosos são, quase com certeza, dias de manejo difícil (embora também haja uma boa surpresa de vez em quando).
1.15 O que são as castas de abelhas?
Casta é cada um dos tipos de abelha existentes nos enxames: rainhas, operárias e zangões.
1.16 O que diferencia a rainha das operárias?
Visualmente, a rainha é muito maior que as operárias. Uma rainha é produzida pelas operárias sempre que necessário, a partir de uma larva jovem, de operária, de até 3 dias de vida.

Três fatores determinam que uma larva comum se transformará numa rainha, e não numa operária [WIN03]. Primeiro, a qualidade da alimentação. Larvas de rainhas são alimentadas com geléia real, uma mistura de secreções das glândulas mandibulares e hipofaringeanas das operárias. Larvas de operárias são alimentadas com uma mistura semelhante, mas com uma proporção muito menor da substância mandibular e ainda com a adição de pólen.

Segundo, a quantidade de alimentação. As larvas de rainha não apenas "bóiam" numa quantidade enorme de geléia real, como a ingerem com muito mais apetite do que as larvas de operária. Isso acontece porque elas são estimuladas pelo conteúdo maior de açúcar na geléia real do que na comida das larvas nos primeiros dias.

Terceiro, o tamanho da célula de rainha, chamada de realeira. Ela é muito mais ampla do que os alvéolos de operárias, e permitem um crescimento muito maior da rainha.

Outra diferença é que a rainha é a única fêmea a acasalar e, portanto, somente ela é capaz de pôr os ovos que gerarão novas operárias e zangões (veja o item 1.28 abaixo).
1.17 E o que é uma princesa?
É como é chamada uma rainha muito jovem, que ainda não foi fecundada.
1.18 Como é a fecundação da rainha?
Alguns dias após o seu nascimento, a princesa faz um ou mais vôos nupciais, nos quais copula com diversos zangões (entre 7 e 17, provavelmente). Depois disso, retorna à colméia e nunca mais acasala. O sêmen introduzido fica armazenado num órgão da rainha chamado espermateca, pelo resto da sua vida reprodutiva. No momento da postura, o óvulo que desce pela vagina será fertilizado por um espermatozóide da espermateca, caso a rainha esteja pondo um ovo numa célula de operária, ou não será fertilizado, caso a célula seja de zangão (que é maior que a de operária).
1.19 Como podem os zangões nascer de ovos não fertilizados?
Trata-se de um fenômeno conhecido como partenogênese, comum também em vespas e formigas. O indivíduo resultante não tem pai e é haplóide, isto é, possui metade dos cromossomos de sua mãe - apenas 16. Essa situação curiosa determina que a rainha que gerou um zangão seja o "pai genético" das filhas desse zangão.
1.20 Qual é a função dos zangões?
Aparentemente, eles existem apenas para a procriação. Eles não defendem a colônia (não possuem ferrão), nem coletam nada de útil para a colméia na natureza.
1.21 Como identificar um zangão?
O zangão é maior que as operárias e, por isso, é freqüentemente confundido com a rainha por apicultores iniciantes. Na verdade, ele é completamente diferente, tanto das operárias quanto da rainha. O seu corpo é mais largo, e o abdômen termina numa forma rombuda, e não pontiaguda. Além disso, os seus olhos compostos são muito grandes, juntando-se no topo da cabeça.
1.22 Zangões são sempre “puros”? [1]
Talvez em razão de os zangões serem haplóides, espalhou-se a crença de que eles são sempre de raça pura. O filho de uma rainha pura também será puro (embora possa ter características diferentes da sua mãe), e o filho de uma rainha mestiça poderá ser mestiço e, havendo coincidência, também poderá até ser puro (veja item 1.23).
1.23 Os zangões irmãos são idênticos? [1]
Não necessariamente. Pode haver zangões irmãos idênticos, mas isso é apenas uma coincidência. Ocorre que uma célula comum da rainha possui 32 cromossomos ligados dois a dois (16 pares) e os óvulos produzidos possuem apenas 16 cromossomos, nenhum ligado a outro. Estes 16 cromossomos resultam da combinação aleatória de um dos cromossomos do par 1, mais um dos cromossomos do par 2, e assim por diante. Como em cada par de cromossomos a carga genética varia de um cromossomo para outro, cada óvulo produzido – e cada zangão, por conseqüência - carregará uma carga genética particular. Posto em números, uma rainha pode gerar 216 = 65.536 óvulos (zangões) diferentes, considerando-se apenas o agrupamento randômico dos cromossomos durante a meiose. Na verdade, este número pode ser muito maior, pois há um segundo fenômeno de variabilidade genética importante, conhecido por crossing over [ARM01].

Pela mesma razão, zangões não são idênticos à sua mãe. Uma característica qualquer (determinada por gene recessivo) que não se manifeste na rainha pode estar presente no zangão, se ele ficar com o cromossomo que carrega este gene.
1.24 Qual é a função da rainha?
A rainha dá origem a todos os indivíduos da colméia, pela postura de ovos fertilizados (para operárias) e não fertilizados (para zangões). Além disso, a sua presença (mais precisamente os feromônios que ela produz) determina o comportamento "normal" das demais abelhas.
1.25 Quantos ovos a rainha põe por dia?
No pico da postura, ela chega a pôr 2.000 ovos por dia.
1.26 O que acontece quando a rainha morre?
A rainha pode morrer acidentalmente, por exemplo, durante um manejo de rotina do apicultor, ou ser morta pelas próprias abelhas, caso o seu desempenho seja insatisfatório. Em qualquer dos casos, as abelhas, assim que percebem a falta da rainha, tratam de produzir outra, a partir de uma larva jovem de operária (de até 3 dias).
1.27 E se não houver uma larva jovem?
Se não houver uma larva disponível, ou se as rainhas produzidas não sobreviverem por qualquer motivo, o enxame não será mais capaz de produzir uma nova rainha. Se o apicultor estiver atento, ele poderá fornecer ao enxame uma nova rainha ou um quadro de cria, para que elas tentem de novo, caso contrário, a colméia tornar-se-á zanganeira.
1.28 O que é uma colméia zanganeira?
É a colméia em que as abelhas, na falta da rainha, começam a pôr ovos. Como não são fecundados, esses ovos geram apenas zangões, e a colméia acaba extinguindo-se com a morte das operárias.
1.29 Por que as abelhas começam a pôr ovos?
Uma visão popular e antropomórfica explica que a postura das operárias é um "esforço desesperado" de preservação da colônia, mas isso não é verdade. Elas simplesmente passam a pôr ovos porque, sem rainha e sem crias, interrompe-se a produção de feromônios que inibem o desenvolvimento dos seus ovários.

Uma questão interessante é por que esse mecanismo foi preservado ao longo da seleção natural, se ele, aparentemente, é inútil. A resposta pode estar na subespécie africana A.m.capensis, que apresenta uma característica interessante: os ovos não fertilizados podem produzir fêmeas também, além de machos. Assim, uma colméia pode produzir uma nova rainha a partir de um ovo posto por uma operária e realmente conseguir voltar ao normal. Em freqüência muito menor, a geração de fêmeas a partir de ovos não fertilizados ocorre também nas demais subespécies, o que pode indicar que esse mecanismo já foi mais útil e mais eficiente no passado.
1.30 Como saber se uma colméia está sem rainha?[2]
A ausência de ovos em época de postura normal é um forte indicativo. Mas isso também pode significar preparação para a enxameação, se houver realeiras no ninho. Também pode indicar a presença de uma rainha virgem, o que pode ser presumido se forem encontradas realeiras já abertas.

Se a colméia fica sem rainha durante vários dias na época da safra, pode-se perceber a situação visualmente, pelo acúmulo anormal de mel e pólen no centro dos favos de cria.

Apicultores mais experientes, porém, podem suspeitar da orfandade no instante em que abrem a colméia. O que acontece é que, à medida que aumenta o tempo de ausência da rainha, as operárias começam a apresentar um padrão anormal de agitação. Muitas saem voando imediatamente, não necessariamente para atacar, num comportamento visivelmente diferente dos enxames normais.
1.31 Como saber se uma colméia está zanganeira?
Nada mais fácil: no momento da postura, as operárias não percebem (ou não fazem caso) se um alvéolo já tem outro ovo nele depositado. Por isso, os ovos vão se empilhando, e cada alvéolo acaba contendo vários deles, o que é facilmente percebido pelo apicultor.
1
Os ovos são depositados nas paredes dos alvéolos, porque o abdômen das operárias não alcança o fundo. A operculação das células é protuberante, típica das de zangão. Depois de algum tempo, os zangões começam a nascer, mas são todos pequenos, porque foram gerados em alvéolos de operárias, que são muito menores.
1.32 Em quanto tempo uma colméia fica zanganeira?
Depende. Enquanto houver cria, aberta ou fechada, é pouco provável que as operárias ponham ovos. Quando não houver mais rainha e crias, as operárias começarão a pôr dentro de 14 dias, em média [WIN03].
1.33 Como identificar a rainha?
A rainha se parece com uma operária, mas é maior e tem o abdômen proporcionalmente mais alongado. Encontrar uma rainha pode ser uma das tarefas mais complicadas da apicultura. No capítulo 7, são mencionadas algumas técnicas úteis.
1.34 Qual é a função das operárias?
Como o nome sugere, trabalho duro. Enquanto são jovens, dedicam-se ao trabalho interno: limpam as células, alimentam as larvas jovens e a rainha com substâncias nutritivas que elas mesmas secretam, alimentam as larvas mais velhas com pólen e mel, empilham o pólen recolhido nas células, secretam cera, constroem favos, recebem, processam e armazenam o néctar, vedam frestas com própolis, defendem e ventilam a colméia, operculam células. Quando mais velhas, dedicam-se, principalmente à coleta de néctar, pólen, água e própolis. A coleta de néctar ou mel pode ser feita também em outras colméias, especialmente as mais fracas, num comportamento de pilhagem (saque).
1.35 Qual é a relação entre a idade das abelhas e as tarefas executadas?
Há uma grande variação na relação entre idade e atividades executadas. Há períodos de vida preferenciais para as abelhas executarem determinadas tarefas, mas eles podem mudar completamente em caso de necessidade. Além disso, a abelha pode executar diversas tarefas diferentes durante um dia. Uma relação comum, em situação normal da colméia é a seguinte [WIN03]:


Tarefa
Idade (dias)
Limpeza de alvéolos
0 a 8
Operculação de cria
2 a 9
Atendimento de cria
5 a 15
Atendimento da rainha
3 a 14
Recebimento de néctar
8 a 16
Remoção de detritos
7 a 21
Compactação de pólen
8 a 19
Construção de favos
11 a 22
Ventilação da colméia
13 a 22
Guarda da colméia
14 a 27
Primeiro forrageamento
18 a 28
1.36 Quanto tempo vive uma abelha?
Durante a safra, uma operária africanizada vive, em média, 38 dias, sendo 23 executando tarefas domésticas e fazendo as primeiras coletas, e 15 somente forrageando. Na entressafra, a expectativa de vida aumenta, e elas chegam a viver 5 meses ou mais em climas muito frios. Uma operária européia chegou a viver 320 dias [WIN03].

Aparentemente, a distância total voada é um determinante muito mais importante para a longevidade da abelha do que a sua idade. Um estudo de Neukirch, citado em [WIN03], estabeleceu um limite teórico médio de 800 km voados, não importando se eles se acumulam ao longo de 5 ou de 30 dias.
1.37 Quantas abelhas vivem numa colméia?
O número real é extremamente variável, a cada época do ano, de colméia para colméia. No pico da safra, por exemplo, considere as seguintes hipóteses:

· Postura diária de 2 mil ovos
· Tempo de desenvolvimento ovo-adulto de 20 dias
· Viabilidade de 100% da cria
· Ciclo de vida de 38 dias para as operárias

Nesse caso, teoricamente, a colônia poderia crescer até chegar à população abaixo, permanecendo em equilíbrio enquanto a postura se mantivesse.

· 1 rainha
· algumas centenas de zangões
· 38 mil crias (ovos, larvas, pupas)
· 44 mil operárias domésticas/campeiras (até 23 dias)
· 32 mil campeiras
1.38 Quando as abelhas pilham as colméias vizinhas?
Geralmente quando a produção de néctar é baixa, e uma colméia vizinha tem mel em estoque e está desprotegida por falta de operárias. Esse comportamento freqüentemente é ativado pelo próprio apicultor que, durante o manejo, expõe o estoque de mel das colméias à investigação das vizinhas ou fornece alimentação artificial com xarope de forma descuidada ou em alimentadores deficientes (veja capítulo 6).
1.39 Como as abelhas se comunicam?
Principalmente, por meio de interações químicas. Essas interações se processam pela produção de feromônios, substâncias secretadas por diversas glândulas que são percebidas pelo olfato. Os feromônios são o principal meio de estimulação e coordenação de quase todas as atividades das abelhas. Os feromônios produzidos pela rainha, por exemplo, inibem a construção de realeiras pelas operárias, inibem o crescimento dos ovários das operárias, atraem zangões nos vôos nupciais, atraem as operárias em geral e particularmente as nutrizes, que alimentam a rainha com geléia real.

Feromônios de operárias estão muito ligados à defesa da colméia. A ferroada libera um feromônio que induz outras abelhas a atacarem. Por esta razão, é comum a ocorrência de várias ferroadas no mesmo local. Também por isso, é conveniente a limpeza freqüente das roupas de proteção.

Um outro feromônio de operária é o de localização, usado para atrair ou orientar outras abelhas em direção ao alvado, água ou fonte de alimento. A liberação desse feromônio se dá numa posição bastante familiar aos apicultores: a abelha ergue o seu abdômen, expõe a glândula de Nasanov, localizada próximo à extremidade, e bate as asas para dispersar a substância.

As crias também produzem feromônios que estimulam as operárias a atendê-las e ajudam a inibir o desenvolvimento dos ovários das operárias.
1.40 E a dança das abelhas?
Feromônios são o principal, mas não único meio de comunicação. Interações táteis e sonoras, como o roçar de antenas ou as danças também são muito usadas. As danças são padrões de movimento, vibração, ruído e direção utilizados com diferentes propósitos, dos quais o mais conhecido é a passagem de informações sobre uma fonte de alimento. Nessa dança, por exemplo, a abelha percorre um trecho reto do favo "requebrando-se" e depois volta ao início desse trecho num trajeto de semicírculo. Em seguida, percorre de novo o mesmo trecho reto e volta em outro semicírculo, mas desta vez pelo lado oposto.

Para saber a qualidade e a distância dessa fonte, as abelhas levam em conta o entusiasmo da dançarina, o tempo gasto no trecho reto e o número de vezes em que os passos foram executados. Já a direção da fonte é passada como um ângulo, formado entre o trecho reto da dança e uma linha vertical. Este ângulo corresponde ao formado pelos pontos sol-colméia-fonte (a colméia no vértice).

Assim como o achado de alimento, o de novas casas no momento da enxameação também é comunicado por danças. Além disso, elas também estimulam determinadas atividades, como o forrageamento e a enxameação [WIN03].
1.41 Como elas fazem quando o sol não está visível?
O sol pode não estar visível para nós, mas estar para as abelhas. Ocorre que elas enxergam um espectro de luz diferente dos humanos, que não inclui as freqüências mais baixas (próximas do vermelho), mas inclui as mais altas, já na faixa ultravioleta. E as freqüências ultravioletas atravessam camadas finas de nuvens, de forma que o sol permanece visível para as abelhas mesmo em muitos dias nublados.

Mas é possível que a visualização do sol não seja tão importante. Acontece que as abelhas são capazes de se orientar após o pôr-do-sol e, eventualmente, até de forragear à noite. Para isso, elas consideram a posição exata do sol no momento, como se pudessem enxergá-lo através da Terra ou estimar a sua posição.
1.42 Como elas informam uma posição atrás de um obstáculo?
A direção é informada como se ele não existisse. Por exemplo, uma florada atrás de um morro é indicada na dança como se as abelhas tivessem de atravessá-lo para chegar lá. A distância informada, porém, corresponde ao gasto de energia necessário para alcançar o objetivo e ela, nesse caso, é maior do que seria se não houvesse morro. Na busca, as campeiras que assistiram a dança fazem as voltas que forem necessárias para alcançar o destino.
1.43 A que velocidade voa uma abelha?
Em média, a 24 km/h.
1.44 Quanto tempo uma abelha leva para nascer?
Este tempo, ao contrário do que muitos imaginam, é variável. Temperaturas altas na área de cria podem acelerar o processo, enquanto que as temperaturas baixas retardam-no. O ciclo médio de desenvolvimento das abelhas européias, em dias, é o seguinte:

Casta
Ovo
Larva
Pupa
Total
Rainha
3
5,5
7,5
16
Operária
3
6
12
21
Zangão
3
6,5
14,5
24

Já as africanizadas são um pouco mais precoces, a rainha nasce em 15 dias, e a operária, em 19-20 dias.
1.45 O que as abelhas comem?
Resumidamente, néctar e mel, como fonte de carboidratos, e pólen, como fonte de proteínas, gorduras, vitaminas e minerais, além de água. As larvas de operárias e zangões, até 4 dias de vida, são alimentadas pelas abelhas com secreções nutritivas, produzidas pelas glândulas hipofaringeanas e mandibulares das operárias. Após o 4º dia, a alimentação das larvas muda para outros tipos de geléia e uma mistura de néctar, mel diluído e pólen. Após o nascimento, durante cerca de duas semanas, a operária consome muito pólen, pois depende dele para, nessa fase da vida, produzir as substâncias que alimentarão as larvas e a rainha. Gradualmente, a dieta da operária começa a mudar para néctar e mel, à medida que ela abandona o serviço de alimentação e assume outros serviços, como a coleta de água, néctar, pólen e própolis.

A rainha alimenta-se quase que somente de geléia real, tanto na fase larval quanto em toda a sua vida adulta. A geléia real é um produto semelhante à comida da larva, mas com uma proporção muito maior da secreção mandibular e, por essa razão, mais rica em algumas substâncias nutritivas.

Zangões adultos são alimentados pelas operárias nos primeiros dias, e depois se alimentam sozinhos, basicamente de néctar e mel.
1.46 Como os enxames se reproduzem?
Em algumas situações, uma colônia resolve se dividir, e a isso se dá o nome de enxameação. Ela ocorre com freqüência durante floradas abundantes, quando o espaço na colméia torna-se insuficiente para armazenar o néctar que entra e a nova prole que está sendo gerada pela rainha. Quando a rainha não produz feromônios em quantidade suficiente para todo o enxame, a enxameação também pode ocorrer (é o que acontece com rainhas mais velhas).

O primeiro passo do processo de enxameação é a produção de princesas.

Antes de nascerem as princesas, as operárias submetem a rainha a um regime forçado, negando-lhe alimento e tratando-a rudemente, para que não fique parada. Supostamente, isso serve para interromper a postura e deixá-la mais leve para a viagem da enxameação. No dia da saída, muitas operárias engolem o máximo de mel, para garantir a sua sobrevivência até que uma nova morada seja encontrada, e para poderem produzir cera para a construção dos primeiros favos. Muitas operárias, especialmente as mais jovens, abandonam a colméia, levando junto a rainha (ou arrastando-a, em alguns casos).

Ao abandonar a colméia, o enxame agrupa-se nas imediações, num galho de árvore, num poste, num automóvel, onde ele achar mais conveniente. Em seguida, abelhas batedoras saem em busca de um lugar seguro para formar a nova colméia (em alguns casos, essa pesquisa pode iniciar antes mesmo da saída do enxame). Elas avaliam ocos de árvores, cupins abandonados e cavidades em rochas, além de espaços em telhados, caixas vazias, tonéis abandonados e muitos outros. Quando uma batedora acha um bom lugar, volta ao enxame e comunica a boa notícia dançando. Mais abelhas aparecem para avaliar a escolha e, se ela for melhor que as alternativas encontradas por outras batedoras, o enxame decide fazer a nova colméia ali.
1.47 O que acontece com a colméia que perdeu um enxame? [2]
Fica com a casa, toda a cria, as reservas de pólen, parte das reservas de néctar e mel, parte das operárias, especialmente as mais velhas, e uma ou mais princesas ou rainhas novas, que lutarão até a morte até que só sobre uma para comandar a colméia.

Dependendo do tamanho original do enxame e das condições da colméia, outros enxames podem ser produzidos - os enxames secundários. Eles são menores e podem conter uma ou mais princesas.

Numa colméia de um apiário, a enxameação representa um prejuízo certo, uma vez que, não apenas parte do mel foi levada embora, como foi drasticamente diminuída a força de trabalho para coletar mais. Em geral, de colméias que enxameiam, não se consegue nenhuma produção significativa de mel na temporada. Algumas vezes, porém, especialmente se houver bastante espaço para crias e mel na colméia, a enxameação ocorre suficientemente tarde, para que bastante mel já tenha sido estocado.
1.48 Por que as abelhas abandonam a colméia?
Quando as abelhas são submetidas a um nível de estresse ou privação muito grande, elas podem abandonar a colméia e tentar a sorte em outro lugar. Uma causa comum é o calor excessivo. Caixas com pouco espaço e sem ventilação, quando deixadas ao sol, provocam abandono (é o caso de caixas-isca de papelão, por exemplo). Períodos de carência alimentar muito prolongados e ataque de formigas também. O mesmo com manejos descuidados ou muito freqüentes.
1.49 Por que as abelhas às vezes matam a sua rainha?
Diversos fatores podem provocar a substituição da rainha. Quando ela já não produz feromônios em quantidade suficiente, as abelhas podem resolver trocá-la. Também quando o seu desempenho é baixo (postura deficiente) ou o seu estoque de esperma acaba (ela só consegue produzir zangões). Em alguns casos, as abelhas parecem culpar a rainha por algum distúrbio maior na colméia, e liquidam-na por "peloteamento" (formam uma bola em torno dela até sufocá-la). Em qualquer caso, o propósito parece ser sempre obter uma rainha nova, melhor que a atual.
1.50 Como as abelhas lidam com as variações de temperatura?
A capacidade de as abelhas lidarem com variações de temperatura está ligada ao tamanho do enxame. Uma abelha sozinha tem mínima proteção, uma colméia numerosa pode manter o seu centro a 35 ºC, em situações externas de extremo calor (até 70 ºC) e de extremo frio (até -80 ºC) [SOU92].

Para resfriar uma colméia, as abelhas utilizam a evaporação da água, um processo eficiente, porque absorve grande quantidade de calor ao ocorrer. Elas expõem a água, na forma de películas nas suas mandíbulas ou gotículas espalhadas pela colméia, a uma corrente de ar provocada por elas mesmas, com o bater de suas asas. Dessa forma, conseguem sobreviver em ambientes muito quentes, desde que haja água suficiente disponível.

Para esquentar uma colméia, as abelhas agrupam-se em torno do centro, onde estão as crias. Quanto mais baixa a temperatura, mais apertado será o agrupamento. As abelhas, nessa situação, assumem uma posição relativa que força o entrelaçamento dos seus pêlos torácicos, aumentando a capacidade de isolamento térmico das sucessivas camadas. Essas camadas são formadas por abelhas voltadas para o centro do grupo, e há um revezamento entre as que estão em posição mais externa e as que estão mais ao centro.

Elas também são ajudadas pela presença de alvéolos vazios, que formam câmaras de ar parado, que é um bom isolante. Se ainda assim a temperatura continuar caindo, as abelhas passam a produzir calor pela vibração da sua musculatura torácica. Nesse caso, porém, elas necessitam ingerir quantidades maiores de mel para repor a energia perdida. Em outras palavras, transformam-se em estufas movidas a mel.
1.51 Por que o apicultor põe fumaça nas abelhas?
A principal razão é bloquear ou diminuir a resposta agressiva. Um dos efeitos da fumaça é impedir que os feromônios de alarme sejam bem percebidos pelas operárias, o que evita que muitas abelhas saiam da colméia para defendê-la.

Muitos acreditam também que a fumaça dispare na colméia um comportamento de preparação para a fuga: as operárias passariam a engolir mel e armazená-lo na vesícula melífera, para um eventual abandono da colméia. Isso, ocuparia as abelhas por algum tempo e alteraria o seu comportamento de defesa, mudando de agressão para fuga. As abelhas que engolem mel também teriam maior dificuldade para ferroar. Este efeito, porém, não está bem documentado na literatura, e, pessoalmente, admito sérias dúvidas sobre a sua realidade.

Outra utilidade muito importante da fumaça é a condução das abelhas. Como elas geralmente são repelidas pela fumaça, o apicultor a utiliza para afastar as abelhas de terminados locais, como a superfície da caixa antes da recolocação da tampa.
1.52 A fumaça não estressa as abelhas?
Sim, bastante. Manejos muito freqüentes podem até provocar o abandono de toda a colméia. A fumaça é quase sempre necessária, mas, por qualquer ângulo que se examine (estresse das abelhas, contaminação de favos e mel), sempre será preferível usar a menor quantidade possível de fumaça numa manipulação.
1.53 Quanto pesa uma abelha?
Em média, uma abelha recém nascida (com o aparelho digestivo vazio) pesa cerca de 65 mg (africanizada) e 83 mg (européia). Isso dá 15.000 africanizadas/kg e 12.000 européias/kg, mas não use esses dados para calcular o peso de um enxame, pois nele, as abelhas possuem um conteúdo intestinal variável, que pode chegar a 80% do seu peso líquido. Em média, estima-se de 7.000 a 10.000 abelhas por quilograma.
1.54 Como a abelha coleta néctar?
A abelha suga a substância adocicada (néctar, pseudonéctar, calda, suco, refrigerante, etc.) com a ajuda da sua prosbócide (língua). A substância é então conduzida até uma porção do aparelho digestivo chamado de vesícula melífera, uma espécie de antecâmara do estômago, que pode ser amplamente distendida.
1.55 Quanto néctar a abelha pode transportar?
Em média, a carga de néctar de uma européia situa-se entre 20 e 40 mg, podendo chegar, ocasionalmente a 80 mg. A carga média da africanizada é um pouco menor, e a máxima pode chegar a 60 mg ou um pouco mais.
1.56 A que distância uma abelha voa para colher néctar?
O mais próximo possível. Três quilômetros é uma distância máxima freqüentemente mencionada, mas as abelhas voarão mais do que isso se necessário. Economicamente, quanto mais próxima do apiário estiverem as flores, melhor, pois as abelhas consumirão menos mel durante a atividade da coleta.

Na prática, freqüentemente considera-se que a flora apícola útil ao apiário está circunscrita num raio de 1 a 1,5 km, o que corresponde a uma área circular de 300 a 700 hectares.

A certificação de apicultura orgânica exige que não haja cultura convencional (não orgânica) num raio de 3 km do apiário.
1.57 Como a abelha coleta pólen?
Ela usa a língua e as mandíbulas para tirar algum pólen das anteras e umedecê-lo. Muitos grãos também ficam presos ao seu pêlo na operação. Depois, ela "escova" esses grãos, geralmente durante o vôo, mistura-os ao pólen umedecido e compacta tudo na corbícula, uma reentrância existente no seu par de pernas posterior. A medida que mais pólen vai sendo coletado, a carga nas corbículas aumenta, e alguns pêlos são envolvidos pelas bolotas, para que elas permaneçam firmes no lugar.
1.58 Como a abelha coleta própolis?
Com ajuda das mandíbulas e do primeiro par de patas, ela remove o material resinoso da planta. Depois, armazena-o na corbícula, de forma semelhante ao que faz com o pólen. Antes de usar a própolis, a abelha ainda mistura-a com cera, numa proporção que pode chegar a 30%, para tornar a sua consistência mais trabalhável.
1.59 Como a abelha coleta água?
Ela suga a água e armazena-a tal como faz com o néctar, na vesícula melífera.
1.60 O que estimula as abelhas para a colheita?
Basicamente, a necessidade das abelhas, a disponibilidade de espaço na colméia e a abundância local dos recursos. Num clima quente, por exemplo, a necessidade de refrigerar a colméia comanda a busca de água. Em floradas grandes, a necessidade por pólen e néctar e o espaço de armazenamento disponível orientam a sua colheita.

Em vários estudos, observou-se que a alocação de campeiras para colheita de um recurso específico estava relacionada à pronta aceitação deste recurso pelas abelhas domésticas na hora da chegada da campeira. Por exemplo, se uma campeira que coletou água é imediatamente aliviada da sua carga na chegada à colméia, ela provavelmente voltará para buscar mais água. Se, por outro lado, ela demora muito a conseguir livrar-se da sua carga, ela provavelmente dirigirá seus esforços a outro produto na próxima viagem.
1.61 Onde as abelhas guardam esses produtos?
O pólen é armazenado nos alvéolos próximos à área de cria, que é o seu principal consumidor. O néctar é armazenado nos alvéolos que estão acima e ao lado da área de cria e pólen. A própolis é usada diretamente no objetivo: tapar frestas e envolver corpos estranhos que não puderam ser removidos. A água não é armazenada nos favos, mas distribuída entre diversas abelhas jovens, que a manterão nas suas vesículas melíferas até que ela seja necessária.
1.62 Como as abelhas produzem cera?
Operárias, normalmente entre 8 e 17 dias de idade, secretam cera na forma de flocos, através de glândulas cerígenas, localizadas na parte frontal do abdômen. Para produzir cera, as abelhas precisam ingerir muito mel.
1.63 Quanto mel deve ser ingerido para a produção de 1 kg de cera?
Em média, as abelhas ingerem 8 kg de mel para produzir 1 kg de cera.
1.64 Que abelha devo criar, européia ou africanizada?
Essa pergunta é nitroglicerina na apicultura brasileira. Desconheço algum estudo formal que tenha comparado o desempenho das duas raças no Brasil, mas os relatos informais de apicultores que tentaram trabalhar com européias (inclusive eu) sistematicamente indicam produtividade e agressividade significativamente menores do que as das africanizadas.

No entanto, ainda pairam dúvidas sobre a qualidade das européias testadas por aqui, grande parte delas proveniente de um mesmo fornecedor brasileiro. O sucesso das européias em outros países, inclusive de clima mais quente, como a Austrália, entusiasma muitos criadores, embora muito mais no plano teórico do que no prático.

Por enquanto, a criação de africanizadas parece ser quase um consenso nacional, apesar de algumas vozes contrárias. O argumento decisivo é a rusticidade muito maior das africanizadas, que podem ser criadas sem nenhum medicamento, o que não ocorre com as européias, em quase todo o resto do mundo.

Uma lista parcial das vantagens e argumentos favoráveis a umas e outras encontra-se a seguir:

Pró Africanizadas:
· Estudos já confirmaram que a africanizada é uma abelha mais rústica, menos sujeitas a doenças. Por exemplo, a podridão de cria americana, que atinge colméias européias argentinas, nunca chegou aqui.
· Talvez pelo mesmo motivo, o comportamento higiênico mais apurado, parasitas como a varroa, que infernizam as européias, não costumam causar maiores prejuízos às africanizadas. É verdade que o clima quente da maior parte do Brasil é desfavorável à varroa, mas alguns estudos já determinaram a superioridade das africanizadas em condições idênticas.
· Por essa razão, é possível manter-se um apiário de africanizadas mais natural, sem o uso de medicações, o que é uma grande vantagem. Pelo que se sabe de outros países, essa é uma situação bastante incomum em colméias européias, que normalmente dependem de antibióticos e acaricidas para se manter produtivas.
· A maior agressividade das africanas é às vezes uma aliada do apicultor, pois dificulta o roubo das colméias.
· Diversos relatos informais de apicultores brasileiros dão conta que a produtividade das africanizadas é, quase sempre, muito maior do que a das européias.

Pró Européias:
· São muito menos agressivas. Demoram mais a iniciar um ataque, atacam com menos abelhas, perseguem a vítima por uma distância muito menor e recompõem-se em um tempo muito menor do que as africanizadas.
· Têm menor propensão a enxamear.
· Têm menor propensão a abandonar o ninho.
· Pilham menos.
· Quando um quadro é manipulado, comportam-se mais calmamente, sem correrias frenéticas de um lado para outro. Isso facilita muito o manejo em geral e a localização da rainha, especificamente.
· São maiores e carregam cargas maiores - precisam de menos viagens para colher a mesma quantidade de néctar, por exemplo.
· Vivem mais.
· Muitos países que usam apenas européias têm produtividades médias que chegam a três ou quatro vezes a do Brasil.
2. A Colméia
2.1 O que é uma colméia?
É a casa das abelhas. Por extensão, a palavra também é usada para fazer referência às abelhas que a habitam.
2.2 Como é uma colméia?
A colméia dita racional é uma caixa, ou um conjunto de caixas empilháveis, dispostas sobre um fundo (ou chão) e cobertas por uma tampa (ou teto). Geralmente, é feita de madeira. Dentro das caixas, ficam os quadros (ou caixilhos), que são estruturas retangulares, como molduras, destinadas a conter os favos feitos pelas abelhas.

Esse é o modelo moderno básico, mas inúmeros outros são possíveis. No passado, as colméias eram cestos de palha emborcados. Caixas comuns, sem quadros, também foram usados por décadas.
2.3 De que outros materiais podem ser feitas as colméias?
Há muitos anos existe no mercado internacional colméias feitas de material sintético, como o poliuretano. Embora ocasionalmente alguém se manifeste favoravelmente a elas, o mais comum é ouvir-se queixas e suspeitas. Seja como for, elas parecem estar no mercado há tempo demais para ainda não terem emplacado, já que o peso leve é um grande atrativo para os apicultores. Talvez com a adoção de melhores tecnologias e materiais, a colméia sintética acabe se tornando uma boa alternativa.

Mais raramente, ouve-se falar em outros materiais, como isopor ou concreto, mas nenhum deles com resultados importantes.

Na apicultura orgânica, somente caixas de madeira são permitidas.
2.4 Qual é o melhor tipo de colméia?
É difícil dizer. Hoje em dia, a apicultura mundial inclina-se para o modelo Langstroth (ou americana), talvez nem tanto pela sua funcionalidade, e mais pela sua popularidade. É um caso em que usar o mesmo modelo que todo mundo é melhor porque todos os insumos, equipamentos e acessórios disponíveis já estão padronizados e são, portanto, muito mais baratos e facilmente encontrados. Quando não mencionado, esse texto sempre fará referência a colméias Langstroth.

Várias alternativas ao modelo Langstroth já existiam ou foram desenvolvidas depois que ela apareceu no Brasil. As mais importantes são a Schenk, a Curtinaz e a Schirmer. Algumas foram projetadas para usarem as bitolas de madeira padrão no país. Outras foram adequadas para climas mais frios ou mais quentes. Outras são reversíveis, para que a disposição dos quadros em relação ao alvado possa mudar de acordo com a temperatura. Outras tiveram os seus quadros desenhados para facilitar a desoperculação. Outras previram a unificação das dimensões, com caixas e sobrecaixas idênticas. Quase todas têm uma ou mais vantagens em relação à Langstroth, mas nenhuma delas foi capaz de superá-la a ponto de tornar-se um novo padrão de fato. Portanto, se você estiver iniciando na apicultura, compre caixas Langstroth.
2.5 O que são ninhos e melgueiras?
Ninhos (ou caixas, ou câmaras de criação) contêm os quadros que serão usados para a postura de ovos e desenvolvimento das crias. Geralmente são mais altas e formam o primeiro ou os primeiros andares, se a colméia for vista como um edifício.

Melgueiras (ou sobrecaixas) são destinadas apenas à produção de mel, para que os seus quadros não contenham também crias e pólen. Geralmente são mais baixas que os ninhos e formam os andares mais altos do "prédio". Alguns apicultores preferem usar apenas ninhos nas colméias, inclusive fazendo o papel de melgueiras (os sobreninhos).

Ocasionalmente, usa-se a palavra caixa para fazer referência a um ninho ou a uma melgueira, indistintamente. A mesma palavra pode ser empregada no sentido de colméia - "tenho dez caixas de abelhas".
2.6 O que é melhor, melgueiras ou sobreninhos?
Sobreninhos são melhores porque permitem uma padronização de quadros - com ninhos e melgueiras, o apicultor precisa manter estoques de dois tamanhos de quadros e de lâminas de cera alveolada. Com sobreninhos, a tela excluidora torna-se totalmente dispensável, porque qualquer quadro com postura pode ser remanejado para o ninho.

Por outro lado, sobreninhos carregados de mel são pesados demais, e praticamente inviabilizam o manejo por uma só pessoa. Os favos de ninho também precisam ser centrifugados com muito mais cuidado, para não se partirem. Além disso, floradas não muito intensas ou enxames não muito fortes, que poderiam encher uma melgueira, talvez não sejam suficientes para encher um sobreninho, dificultando a colheita.
2.7 Não há uma alternativa intermediária?
Sim. Alguns apicultores usam e recomendam um tamanho intermediário de caixa, a ser usado como ninho (2 unidades) e melgueiras. O ninho padrão tem 24,4 cm de altura, a melgueira padrão tem 14,4 cm e essa caixa intermediária tem 16,8 cm. Por simplificação, essas alturas são eventualmente referidas como 24, 14 e 17 cm, respectivamente.Outros tamanhos também são ocasionalmente testados e recomendados por alguns apicultores.
2.8 Quanto pesam uma melgueira e um sobreninho?
Em colméias Langstroth, uma melgueira com dez quadros cheios de mel operculado contém cerca de 11 a 12 kg de mel. Um sobreninho nas mesmas condições contém cerca de 20 a 22 kg de mel. A caixa intermediária contém aproximadamente 13 a 15 kg de mel.

O peso das caixas varia com o tipo de madeira empregada. Uma melgueira de cedrinho, com dez quadros aramados e lâminas de cera alveolada pesa em torno de 5 kg. Um ninho nas mesmas condições, pesa cerca de 8 kg.

Quando são usados menos quadros na melgueira ou no sobreninho (8 ou 9), o peso do mel é um pouco maior.
2.9 Afinal, quantos quadros devem ser usados, 8, 9 ou 10?
Dez quadros é a capacidade normal, tanto das melgueiras quanto dos ninhos, e os espaçadores Hoffmann dos quadros são projetados para manter a distância de 35 mm entre os centros de dois favos contíguos. Em melgueiras e sobreninhos, porém, muitos apicultores removem um ou dois quadros, para que os favos de mel fiquem mais largos ("gordos"). Isso facilita muito a desoperculação com faca, economiza quadros e promove um melhor aproveitamento da caixa, já que um ou dois espaços vazios entre os favos são substituídos por mel. A remoção de quadros, porém, não pode ser feita a qualquer momento (veja item 8.14).

Em relação ao ninho, não há vantagem para as abelhas em usar-se menos de 10 quadros, porque elas não teriam o que fazer com o espaço excedente. Os alvéolos de cria têm um comprimento padrão, adequado para o seu desenvolvimento. No entanto, alguns apicultores recomendam a manutenção de 9 quadros no ninho para facilitar a retirada e reposição dos quadros durante o manejo.

É bom frisar que o transporte de caixas com menos de 10 quadros pode acarretar muitas quebras e esmagamentos de favos e abelhas, pelas colisões ocorridas em razão dos movimentos pendulares dos quadros.
2.10 O que são espaçadores Hoffmann?
São laterais de quadros mais largas na parte superior do que na inferior. O seu formato diminui a área propolisada entre dois quadros contíguos, facilitando a remoção do quadro. Ao mesmo tempo, o estreitamento curto e arredondado dos espaçadores facilita a inserção do quadro entre os demais.
2.11 Como as abelhas sabem onde devem colocar cada produto?
Não sabem. O apicultor apenas aproveita a sua tendência de organizar a colméia em camadas: primeiro crias, depois pólen, depois mel. Assim, se a primeira caixa (a mais de baixo) estiver bem, com favos em boas condições e com espaço sobrando, é muito provável que a rainha use esta área para pôr seus ovos.

Eventualmente, por falta de espaço ou de condições melhores, a rainha pode subir e fazer a postura numa melgueira. Para evitar isso, os apicultores às vezes usam telas excluidoras.
2.12 O que é uma tela excluidora?
É uma tela larga o suficiente para deixar uma operária passar, mas não uma rainha, nem os zangões. Com a tela posta entre o ninho e as melgueiras, pode-se ter segurança de que não haverá quadros de cria nas melgueiras.
2.13 Por que alguns apicultores não usam a tela excluidora?
Uma razão é porque a tela é um equipamento a mais para o apicultor manipular. Os manejos às vezes são demorados, e quanto mais peças o apicultor tiver de manipular, pior. Também, porque às vezes a tela parece funcionar como uma barreira para as operárias. Elas conseguem passar, mas simplesmente se negam a construir favos e depositar mel acima da tela, especialmente quando o fluxo de néctar não é dos mais fortes.

Quando colocada depois que algum mel ter sido armazenado na melgueira, zangões podem ficar presos ali e até entalarem na tela e morrerem.
2.14 Por que as abelhas constroem seus favos exatamente dentro dos quadros?
Somente porque são induzidas a isso. No centro de cada quadro, o apicultor coloca uma lâmina de cera alveolada, que funciona como um início do favo. As abelhas só continuam o que já receberam começado. Quando não são induzidas, ou quando sobra algum espaço relativamente grande numa caixa, as abelhas constroem favos fora dos quadros. Quando o apicultor esquece quadros sem cera alveolada, elas constroem favos atravessados, cada um passando por dentro de vários quadros. Neste caso, arrumar a colméia pode dar um trabalho enorme.
2.15 Por que as abelhas preenchem alguns espaços com cera e outros com própolis?
Essa foi talvez a maior descoberta da apicultura moderna, que possibilitou o desenvolvimento das colméias racionais. Não há uma razão conhecida, mas segundo as observações de Lorenzo Lorraine Langstroth, em 1851, as abelhas não fecham espaços maiores de 6,4 mm com própolis, nem constroem favos em espaços menores que 9,5 mm. Isso permitiu definir o espaço-abelha.
2.16 O que é o espaço-abelha?
É exatamente o intervalo de 6,4 a 9,5 mm que as abelhas sempre deixam livre. Conhecendo essas medidas, foi possível projetar a colméia racional, de quadros móveis, com a certeza de que as abelhas construiriam favos apenas nesses quadros, se corretamente induzidas, e não iriam colá-los entre si e nem às paredes das caixas. Essa é a dimensão mais conhecida na apicultura, mas há outras também importantes.
2.17 Quais são os outros espaços importantes?
Uma lista parcial, em milímetros, para abelhas européias, é a seguinte [CUS01]:

Espaço (mm)
Efeito
0 a 4
Insuficiente para passagem, geralmente é propolisado
4,3
Impede a passagem de zangão e rainha
5
Adequado para grades de coleta de pólen
5,2 a 5,4
Impede a passagem de zangão (não de rainha)
6
Mínimo espaço deixado entre dois favos contíguos de mel
9
Espaço usual entre dois favos contíguos de cria
2.18 O que é cera alveolada?
É cera derretida e estampada com hexágonos com a dimensão média dos alvéolos. As lâminas produzidas assim são cortadas no formato dos quadros e vendidas aos apicultores. Esta cera é fornecida às abelhas em substituição a favos velhos ou inutilizados.
2.19 Como a cera alveolada é fixada nos quadros?
Os quadros possuem fios de arame ou nylon atravessados, geralmente no sentido horizontal. A lâmina é soldada neles com ajuda de um pouco de cera derretida ou, no caso de arames, pelo seu aquecimento por uma corrente elétrica. Arames também podem ser incrustados com ajuda de uma carretilha.

Um cuidado muito importante ao soldar a lâmina é com o alinhamento dos alvéolos. Eles devem ficar com dois vértices opostos dos hexágonos perfeitamente alinhados na vertical. Isso pode não acontecer se a lâmina estiver mal cortada, no sentido atravessado (dois lados opostos alinhados com a horizontal) ou simplesmente cortada torta. Se isso ocorrer, a lâmina poderá ser integralmente rejeitada pelas abelhas.
2.20 É melhor soldar a lâmina encostada na barra superior?
O melhor, na verdade, é usar lâminas que aproveitem ao máximo o espaço disponível no quadro. Isso poupará as abelhas de produzirem cera, permitindo-lhes uma produção maior de mel. Mas quando a lâmina de cera é menor (em altura) do que o espaço disponível no quadro, há duas indicações de soldagem.

Quando o quadro for destinado à postura, é preferível soldar a lâmina encostada na barra superior. O espaço que sobrará entre a lâmina e a barra inferior normalmente não será puxado com alvéolos e, como vantagem, facilitará a movimentação da rainha e das operárias.

Quando o quadro se destina à armazenagem de mel, o ideal é soldar a lâmina encostada à barra inferior. Nessa situação, as abelhas puxam o favo e estendem-no até a barra superior, promovendo um aproveitamento integral do espaço e uma solidez muito maior do favo. Isso se reflete num armazenamento maior de mel por quadro, otimizando a função da melgueira. Além disso, e talvez mais importante, a resistência muito maior do favo, quando soldado em cima e embaixo, permite uma colheita e uma centrifugação muito menos sujeitas a quebras e despedaçamentos. E isso é especialmente importante quando se usam oito ou nove quadros na melgueira, pois eles se tornam ainda mais pesados do que o normal.
2.21 Como se solda cera com corrente elétrica?
Primeiro, os quadros devem ser aramados. O ideal é quatro fios em quadro de ninho e três em quadro de melgueira. O arame deve ser ancorado no início, passado pelos furos e ancorado novamente no fim, sem cruzamentos e amarrações intermediárias. Ele deve ficar bem esticado, mas não em excesso, caso contrário, poderá causar deformações nas laterais do quadro.

Para arames galvanizados, use uma fonte de tensão entre 12 e 18 volts. Para arame inox, use uma fonte entre 24 e 30 volts. Coloque a lâmina sobre os arames (um peso em cima da lâmina, como um pedaço de tábua, ajuda bastante). Ligue cada pólo da fonte a uma extremidade do arame e observe a incrustação ocorrer até a metade, mais ou menos, depois desligue os pólos.
2.22 Que fonte é essa?
Uma fonte de 12V possível é a bateria do automóvel, mas não é recomendável. Usando-a, você pode causar curtos-circuitos que danifiquem a bateria ou outro sistema elétrico do seu automóvel, além de descarregá-la, naturalmente.

Se você tem experiência com ligações elétricas, o melhor é fazer o seu próprio incrustador, adquirindo um transformador de tensão numa loja de artigos eletrônicos. Forneça essa especificação:

Para arames galvanizados:
Tensão de entrada: 127 ou 220 volts (escolha a que corresponde à sua rede)
Tensão de saída: 12 volts
Corrente de saída: 8 a 10 ampères

Para arames inox:
Tensão de entrada: 127 ou 220 volts (escolha a que corresponde à sua rede)
Tensão de saída: 24 a 30 volts
Corrente de saída: 8 a 10 ampères

Para qualquer tipo de arame:
Tensão de entrada: 127 V ou 220 V (escolha a que corresponde à sua rede)
Tensão de saída: 24 a 30 volts
Corrente de saída: 8 a 10 ampères
Em série com a entrada, ligue um dimmer para lâmpadas incandescentes. Ao fazer a primeira incrustação, ajuste o dimmer para que a incrustação seja rápida, mas sem provocar muito centelhamento.
2.23 Que arame é melhor?
Eu prefiro arame inox. Ele é mecanicamente mais resistente, e podem-se usar fios mais finos, que atrapalham menos a postura da rainha. É muito mais resistente à oxidação, e tem vida útil maior. Pela sua rigidez, é mais difícil de ser manipulado, e precisa estar num carretel para não virar uma maçaroca. Precisa de uma tensão elétrica mais alta para incrustação, por apresentar uma resistência elétrica maior. É mais caro, mas rende muito. O fio de 0,3 mm de diâmetro tem cerca de 1.800 metros por quilo, e apresenta uma resistência mecânica maior que a do arame galvanizado nº 22 (diâmetro de 0,7 mm), que ainda é muito usado.

O arame inox deve ser o do tipo rígido, usado para a confecção de molas. Há um fio mole, mais fácil de trabalhar, mas com uma resistência mecânica muito menor.
2.24 O arame não encrava na madeira dos quadros?
Sim, e isso acarreta uma diminuição da tensão de esticamento do arame ao longo do tempo. Para evitar esse problema, ponha ilhoses em todos os buracos dos quadros. No caso do fio de inox, mais fino, esse procedimento é absolutamente indispensável.
2.25 Quadros plásticos não são preferíveis?
Os quadros plásticos, em poliestireno, compõem-se de uma moldura, idêntica aos de madeira, e mais uma superfície alveolada, como se fosse uma lâmina de cera. Assim, estes quadros não precisam de aramação nem da incrustação de cera. Quando a parte alveolada é banhada com cera, a aceitação das abelhas é normal, mas o quadro dificilmente é aproveitado por elas quando o banho de cera não é feito.

Isso sugere dificuldades na reutilização dos quadros, e esta é de fato a principal reclamação dos usuários. É possível que para quadros de melgueira, que devem ser preservados tanto quanto possível, essa idéia dê bom resultado. Mas, como no caso das caixas de poliuretano, os quadros de poliestireno estão no mercado há tempo demais para ainda não terem se tornado uma alternativa bem conhecida.

Na apicultura orgânica, esses quadros são proibidos.
2.26 Do que são feitos os favos?
Exclusivamente da cera secretada pelas operárias.
2.27 Como os favos são produzidos?
As abelhas que secretam cera fazem uma espécie de "cortina", umas presas às outras pelas patas. Cada uma delas produz flocos de cera, que depois são mascados e amolecidos com um pouco de saliva. Em seguida, são colados e moldados na estrutura de cera que está sendo construída. No caso do favo, a estrutura é um agrupamento de alvéolos, ou células, cuja seção transversal é um hexágono. Esses alvéolos são dispostos lado a lado, de forma que cada parede é compartilhada por duas células (exceto as paredes mais externas, é claro). Eles também são dispostos fundo-contra-fundo, desencontrados, de maneira que cada favo possui duas camadas de alvéolos, cada camada voltada para um lado.
2.28 Por que o alvéolo é hexagonal?
Essa forma otimiza a construção, pois atende da melhor forma possível o compromisso entre economia de cera e trabalho versus a resistência mecânica final do conjunto. Naturalmente, esta não é uma decisão racional das abelhas; uma hipótese é que a seção hexagonal seja apenas o resultado final da tentativa de formar vários alvéolos contíguos de seção circular – uma forma muito mais comum na natureza.
2.29 Qual é o tamanho do alvéolo?
As européias constroem 857 alvéolos de operária em 100 cm² (considerando-se as duas faces). A A.m.scutellata, menor, constrói 1000 alvéolos no mesmo espaço. Quando é fornecida cera alveolada às africanizadas no padrão europeu, elas mantêm as dimensões originais da lâmina. Alvéolos de zangão são maiores e perfazem cerca de 520 por 100 cm². Alvéolos usados para cria de operárias e armazenagem de pólen geralmente têm as mesmas dimensões. O armazenamento de mel pode ser feito em alvéolos de operária ou de zangão.
2.30 Quantos alvéolos há num favo?
Depende da área útil do quadro (as medidas mais rigorosas são as externas), mas pode-se estimar, arredondando, para 7.000 alvéolos de operária por quadro de ninho (3.500 por face), e 4.000 alvéolos por quadro de melgueira (2.000 por face).

No caso de favo de zangão, um quadro de ninho possui cerca de 4.200 alvéolos (2.100 por face), e, um quadro de melgueira, 2.400 (1.200 por face).
2.31 Existe cera alveolada para zangões?
É pouco comum aqui no Brasil, mas existe sim. Ela é usada principalmente por criadores de rainhas, que precisam produzir bons zangões também. Além disso, o uso favo de zangão na melgueira é muito usado por alguns apicultores de outros países.

As razões é que, primeiro, a extração de mel é muito acelerada pelo diâmetro maior dos alvéolos, o que facilita bastante o escoamento durante a centrifugação. Segundo, um favo de zangão utiliza apenas 78% da cera empregada num favo de operária do mesmo tamanho. Numa melgueira, a diferença de cera pode chegar a 130 g a menos com favos de zangão, o que, teoricamente, corresponde a cerca de 1 kg de mel economizado na produção de cera. Em outras palavras, o uso de favos de zangão na melgueira poderia aumentar a produção de mel em cerca de 9%.
2.32 Que cor tem o favo?
Favos recém construídos são brancos, mas vão ficando amarelados rapidamente. Os favos de ninho escurecem muito mais que os de melgueira, pois cada cria deixa resíduos do seu casulo e dejetos orgânicos que as outras operárias não conseguem eliminar inteiramente. Um favo de ninho antigo chega a ser quase negro.
2.33 Por que o mel não escorre do favo?
A construção do favo é orientada pela gravidade, e ele é perfeitamente vertical. Os alvéolos, porém, não são puxados a 90º. Eles são feitos com uma inclinação ascendente de 9 a 14º em relação à horizontal. Isso evita que o néctar/mel escorra logo que começa a ser armazenado no alvéolo, e também impede que as larvas caiam da célula acidentalmente. Quando o volume de néctar/mel armazenado atinge a borda do alvéolo, as abelhas iniciam a sua operculação (fechamento), de forma a impedir o escorrimento.
2.34 Como é o fundo da colméia?
É uma superfície, geralmente de madeira, com pequenas paredes nas laterais e atrás, que servem de apoio ao ninho. A frente estende-se alguns centímetros além do comprimento do ninho, para servir de plataforma de pouso e decolagem das abelhas. O espaço formado entre a superfície do fundo e o início da parede frontal do ninho é a entrada da colméia, chamada de alvado.
2.35 Que tamanho tem o alvado?
O alvado normal tem cerca de 37 cm de largura por 1 ou 2 cm de altura. Na prática, geralmente é usado um redutor, um pedaço de madeira que diminui esse espaço um pouco nas estações quentes e bastante nas frias (nas estações quentes, às vezes não é usado nenhum redutor). Alguns fundos são reversíveis, o que significa que as paredes laterais têm alturas diferentes de um lado e de outro. Com isso, o apicultor pode variar a altura do alvado pela reversão do fundo.
2.36 Como é a tampa da colméia?
É uma superfície, geralmente de madeira, com paredes em duas laterais, que ajudam no seu encaixe sobre a última caixa da colméia ou sobre a entretampa.
2.37 O que é uma entretampa?
É um dispositivo comum em outros países, mas muito pouco usado no Brasil. Trata-se de uma peça que serve para o fechamento superior da colméia, mas não fica exposta, e sim protegida pela tampa, que nesse caso, funciona também como um telhado.

Mesmo que as nossas colméias não sejam vendidas com entretampa, eu não apenas a uso como recomendo. Uma entretampa é um dispositivo perfeito para promover a ventilação da colméia, evitando que a grande quantidade de vapor produzida pelo enxame condense nas partes superiores da colméia e torne o seu ambiente insalubre, especialmente em regiões muito úmidas ou frias.

Para fazer uma entretampa de ventilação, basta cortar uma placa de compensado naval de 10-12 mm da mesma dimensão das caixas, e montar sobre as suas bordas (de um lado só) ela uma espécie de moldura, com sarrafos de 1 x 2 cm. Essa moldura deve ser interrompida por cerca de 5 cm no centro de uma das laterais, de forma a criar uma janelinha. Posta sobre a colméia, esta entretampa ficará com a janelinha acima do alvado. Essa janela, passará a ser guardada pelas abelhas, que, no entanto, dificilmente a usarão como alvado, talvez pela sua posição superior, que não é a preferencial para elas. Uma vantagem adicional deste modelo é que o espaço maior entre o topo dos quadros e o compensado permite a colocação de alimento protéico pastoso diretamente sobre os quadros de cria, que é o ideal.

Se alguém não quiser usar os sarrafos, pode fazer uma ventilação mais simples, e, na minha observação, ainda mais eficiente: fure a placa no centro com uma serra copo de 40 mm. Depois coloque um parafuso em cada canto da placa, de forma que as cabeças se sobressaiam uns 4 mm. Sobre esses parafusos será apoiada a tampa, garantindo espaço para a ventilação, mas sem possibilidade de correntes de ar diretas.

Outros modelos, derivados destes, podem ser feitos para permitir a alimentação protéica logo acima do ninho, quando houver melgueiras, ou com um dispositivo de fechamento opcional do orifício de ventilação, o que também é muito útil às vezes. Um modelo misto, com janela lateral e furo superior pode ser usado simultaneamente para ventilação e suporte a alimentadores do tipo balde (veja capítulo 6).
2.38 Que outros equipamentos podem compor a colméia?
Outros equipamentos importantes, mas de uso temporário, estão listados abaixo. Em outros capítulos, eles são mais bem explicados.

· Alimentadores, para fornecer alimentos às abelhas
· Tela excluidora de alvado, para impedir a saída da rainha da caixa (útil em colméias com enxames recém capturados)
· Tela de alvado com escape invertido, que permite a entrada das abelhas, mas não a sua saída (útil para transportes curtos ou trabalhos de manutenção do apiário)
· Tábua de escape, para remover abelhas das melgueiras antes da sua retirada
2.39 Como se protege a colméia contra a intempérie?
De três formas: cobrindo-a com um telhado (ou impermeabilizando a tampa), protegendo-a com algum tipo de pintura ou revestimento e colocando-a sobre um suporte para afastá-la do chão.
2.40 Como pode ser feito o telhado da colméia?
Qualquer superfície impermeável, de 60x80 cm ou um pouco maior, pode dar um ótimo telhado. Um pedaço de telha de fibrocimento dá uma boa proteção. Alguns apicultores usam tonéis pequenos, cortados ao meio. Uma alternativa mais cara mas muito bonita e durável é usar placas de compensado naval cobertas com chapa galvanizada pintada. Em qualquer caso, quando a colméia estiver exposta a ventos fortes, é recomendável colocar um peso sobre o telhado.
2.41 Como se pinta uma colméia?
Somente as paredes externas da colméia devem ser pintadas. Cores claras ajudam a refletir melhor as radiações do sol e manter uma temperatura mais amena em dias quentes. Duas demãos de tinta esmalte brilhante sobre selador, aplicados em madeira bem seca, é uma fórmula de excelente durabilidade (o esmalte brilhante é mais resistente que o opaco). Alguns apicultores suspeitam que a tinta esmalte e a tinta a óleo podem contaminar os produtos da colméia com metais pesados, e recomendam apenas tinta látex, a mesma usada para alvenaria.

Diversos fabricantes de colméias não as pintam, mergulham-nas num preparado fervente de 70% querosene, 25% parafina, 2,5% cera de abelhas e 2,5% breu. As caixas devem ficar em local ventilado até que o cheiro desapareça. A durabilidade é boa, mas o processo é perigoso. Além disso, as caixas ficam altamente inflamáveis, podendo ser completamente destruídas por um incêndio de campo que ocorra no apiário.

Quem é certificado como apicultor orgânico não pode usar esses processos de impermeabilização. Uma receita "ecológica", divulgada no grupo de discussão da Apacame, é 8 litros de álcool, 1 litro de óleo vegetal e 1 kg de própolis (pode ser a borra ou raspagem de quadros). Tudo deve ficar bem fechado num tambor e ser mexido diversas vezes, durante um mês. Depois, deve ser coado numa meia de nylon e usado para pintura das caixas, em duas demãos. A pintura deve ser refeita a cada dois ou três anos. Desconheço a eficácia desta fórmula. Já ouvi elogios e contestações às proporções usadas.
2.42 Onde fica apoiada a colméia?
Diversos tipos de suporte podem ser usados. Com africanizadas, suportes individuais, ou no máximo duplos, são mais recomendáveis que os coletivos, pela sua tendência à pilhagem. Cavaletes de quatro pés, fixos ou móveis, são muito usados. Tijolos, pedras ou o chão facilitam o ataque de predadores e sujeitam a colméia a quedas por desequilíbrio.

Para suportes fixos, eu prefiro os de pé central, único. Eles podem ser feitos com restos de cano galvanizado de 100 mm, encontrado em ferros-velhos ou em secretárias de obras públicas. Com quatro pedaços de cantoneira, faz-se um H com braço central duplo, e solda-se este braço numa extremidade do cano, de cerca de 1 m. O fundo da colméia fica apoiado nos braços laterais do H, bem encaixado entre as laterais das cantoneiras. A caixa pode ficar a 40-50 cm do solo. Pintado, esse suporte tem duração ilimitada, evita deslocamentos da colméia por pequenos esbarrões ou vento, é muito mais fácil de aprumar a caixa e facilita o controle de predadores, como formigas e tatus.

Uma boa alternativa ao cano galvanizado é o uso de cano de PVC de 100 mm, cheio de concreto. A parte superior pode ser fixada em um parafuso grande, que é mergulhado numa extremidade do cano enquanto o concreto ainda está mole.
3. O Apiário
3.1 Com quantas colméias devo iniciar um apiário?
Se você não tem experiência anterior, com zero. Isso mesmo, antes de adquirir qualquer coisa de apicultura, procure um bom curso. Depois de fazê-lo, você terá condições muito melhores de avaliar como deverá ser o seu início na apicultura, ou, se for o caso, até desistir da idéia.
3.2 Como eu acho um bom curso de apicultura?
Uma forma é consultando a associação de apicultores da sua região.

Na minha opinião, um bom curso é aquele que combina teoria e prática de forma complementar. A teoria deve ser dada em vários dias, pois o assunto é vasto e impossível de ser minimamente assimilado se ensinado em um ou dois dias apenas. Da mesma forma, a prática deve ser feita em várias vezes, para que os alunos possam enfrentar diversas situações diferentes com a necessária tranqüilidade.

Alternativamente, você pode ler este texto, alguns livros e artigos, algum curso pela Internet, o que lhe dará uma boa base teórica, e fazer alguns dias de prática com algum apicultor amigo seu. Mas eu ainda recomendo a primeira opção, em que a prática é conduzida pelo mesmo instrutor teórico, o que dá uma maior solidez ao aprendizado.

Além do curso básico tradicional, há outros específicos que podem ser do seu interesse. Antes de fazê-los, porém, procure acumular um pouco de experiência e conhecimento, para direcionar melhor seus objetivos.
3.3 Mas, afinal, com quantas colméias geralmente se inicia um apiário?
Cinco a dez colméias é uma recomendação freqüente na literatura, mas não leve isso muito a sério. Você pode perfeitamente iniciar com uma única colméia, aprender bastante com ela, divertir-se e ainda colher seu primeiro mel. Depois, se desejar, e na medida das suas possibilidades, você pode ir ampliando o apiário.

Como primeiro critério, adote a sua capacidade de manejo. Estime quantas colméias você pode manter bem, considerando o seu tempo disponível e a sua disposição. Esqueça o critério, relativamente comum no início, de aumentar o número de colméias até igualar-se ao seu vizinho ou impressionar seus amigos - esta é uma receita de fracasso quase garantida. Não esqueça que você pode ser um excelente apicultor de uma colméia ou um péssimo apicultor de 200. Na dúvida, opte sempre pela qualidade.
3.4 Onde o apiário deve ser localizado?
Há diversas variáveis envolvidas nessa escolha: segurança, disponibilidade de flores e de água, presença de outros apiários.
3.5 A que distância de casas um apiário pode estar?
Em relação à segurança, abelhas africanizadas não podem ser mantidas em áreas densamente populadas. Uma recomendação freqüente é que o apiário seja mantido a 500 m de residências e criadouros. Trata-se, porém, de uma tolice. Essa distância define uma área circular completamente desabitada de quase 80 hectares, algo impossível para a maioria dos apicultores.

Eu crio abelhas africanizadas desde 1987. Num raio de 100 a 200 m há ou já houve casas, galinheiros e chiqueiros. Em todo esse tempo, nunca houve caso de pessoa ou animal ferroado em conseqüência das confusões que aprontei no apiário. É claro que isso não prova nada, mas a minha observação (e a de muitos outros) é que a proteção mais eficiente não é a distância, mas barreiras naturais bem fechadas, como mato nativo, um morro ou um reflorestamento adensado (cuidado, porém, que florestas plantadas são cortadas periodicamente).

Portanto, ao escolher o local do seu apiário, certifique-se de que há uma boa barreira natural entre o local e as casas e galpões vizinhos. Com boas barreiras naturais, uma distância de 100 m pode ser suficiente. De qualquer forma, se você for iniciante em apicultura, procure ouvir a opinião de um apicultor experiente antes de definir o local do seu apiário.
3.6 A que distância de flores e água deve ficar o apiário?
Em relação às flores, quanto mais próximo, melhor. Grosso modo, considere que a flora apícola útil situa-se num raio de até 1.500 metros do apiário. Não apenas a distância, mas também (e principalmente) a quantidade de espécies apícolas e a duração, intensidade e período das floradas são importantes na localização de um apiário fixo. Se você não tem alternativa, só lhe resta estabelecer o apiário onde é possível e avaliar o seu desempenho por algumas safras. Deficiências na flora apícola podem ser compensadas com o plantio de espécies apropriadas à sua região, ao menos parcialmente.

Em relação à água, também é interessante que ela esteja disponível em local próximo, de fonte limpa. Às vezes, uma alternativa viável é fazer um bebedouro para as abelhas, com água encanada pingando sobre um tanque raso, com areia e brita para as abelhas não se afogarem.
3.7 Que distância entre apiários deve ser respeitada?
Considerando-se a área útil de coleta das abelhas em 1.500 m, três quilômetros seria uma distância ideal. Infelizmente, este também é um número completamente irreal para a maior parte dos apicultores. Na prática, o que importa mesmo é a saturação do local.

Qualquer florada produz uma quantidade de néctar que pode ser total ou parcialmente colhido pelas abelhas e outros insetos. Se o tempo permite, mas nem todo o néctar produzido é colhido, a área está insaturada, isto é, ela ainda admite acréscimo de colméias. Caso contrário, a área está saturada, e o acréscimo de colméias acarretará a queda de produtividade das demais. Essa condição não é imediatamente percebida, mas uma queda de produção contínua por alguns anos pode ter a saturação como causa. A saturação também pode ocorrer sem acréscimo de colméias, pela remoção da flora apícola local, por desmatamento ou limpeza de campo.

Se você estiver iniciando, pode ir aumentando suas colméias gradualmente, até que a produção média fique mais ou menos estável. Se ela entrar em declínio contínuo, é bom investigar as causas, mas cuidado para não culpar a saturação muito cedo. O clima, por exemplo, é um fator altamente determinante da produção. As ocorrência das espécies anuais e o desempenho apícola das plantas também podem variar enormemente de um ano para outro.
3.8 Até quantas colméias posso ter num apiário?
De novo, depende da saturação da área. Em alguns lugares, não valerá a pena ter nenhuma; em outros, talvez seja possível manter cinqüenta colméias. Em qualquer caso, a capacidade do local é variável, podendo crescer ou diminuir de acordo com o que é plantado ou cortado nas imediações.
3.9 E se a produção cair porque o meu vizinho instalou um apiário?
Essa é uma questão muito delicada. Parece-me claro que seu vizinho tem o mesmo direito que você de ter um apiário. É como o caso do comerciante que tem um mercado e vê um concorrente estabelecer-se a meia quadra. A não ser que haja demanda reprimida, ambos ganharão menos do que ganhariam se estivessem sós. O direito de ambos é garantido, mas os resultados podem fazer um deles desistir.

No caso de apiários vizinhos, há dois caminhos possíveis: cooperação ou competição. Você pode conversar com o seu vizinho e chegar a um acordo com ele a respeito de quantas colméias cada um pode explorar, considerando o potencial do local e quanto cada sítio contribui para a flora apícola. Essa é a solução ideal, mas requer que os vizinhos tenham bom senso e boa vontade, o que nem sempre acontece.

A alternativa, no caso de uma área saturada, é a competição: tentar fazer o melhor manejo possível, para obter uma produtividade aceitável.
3.10 A que distância deve ficar uma colméia da outra?
Abelhas africanizadas geralmente são agressivas e pilhadoras, não devendo ser mantidas muito próximas, para que o manejo de uma colméia não alarme as vizinhas. Em geral, 5 m é uma distância aceitável, mas há quem use um distanciamento muito pequeno, da ordem de 1 metro.
3.11 Que outras considerações são necessárias no planejamento do apiário?
O mais importante é que haja um planejamento completo e cuidadoso antes que a primeira colméia seja instalada, porque depois tudo será muito mais difícil.

Por exemplo:

· Verifique se há agricultores que usam pesticidas nas proximidades. Isso pode ser fatal para suas abelhas ou deixar resíduos no seu mel.
· O apiário deve ter acesso fácil - lembre-se de que haverá colméias a serem levadas para lá e, espera-se, melgueiras muito pesadas a serem retiradas.
· O acesso às colméias deve ser sempre por trás, nunca pela frente, pois isso interrompe a linha de vôo delas e provoca muito mais ataques.
· Um sombreamento leve é muito útil nas estações quentes. Em regiões que possuem estações frias, árvores que perdem as folhas no inverno são uma boa opção para arborizar o apiário. Uma boa alternativa, especialmente nas regiões mais ao Sul, é posicionar as colméias numa boca de mato voltadas para o Norte. Desta forma, elas receberão uma incidência direta de sol maior no inverno e menor no verão.
· Locais sujeitos a alagamento são péssimos para as abelhas, pois a umidade dificulta a evaporação do néctar, e para o apicultor, que deve manejar as abelhas em meio à lama.
· Terrenos muito íngremes dificultam a movimentação no apiário e sujeitam o apicultor a quedas que podem ter sérias conseqüências. O uso de terraços pode ser uma boa solução.
· É preferível que o lado dos ventos mais fortes fique protegido por algum tipo de quebra-vento, natural, construído ou plantado.
· Lembre-se que você pode querer aumentar o apiário no futuro. É melhor já pensar numa possível ampliação e preparar toda a área de uma vez.
· Não esqueça de que você precisará de um local para abrigar os equipamentos, as roupas e as colméias vazias.
· A distância do apiário à sua casa também não pode ser grande demais, para que o manejo possa ser feito numa freqüência mínima.
3.12 Para que lado devem ficar virados os alvados?
Uma crença comum é de que os alvados devem ser voltados para Leste, de forma que as abelhas "comecem a trabalhar assim que o sol nasça". Pelo mesmo raciocínio, essas abelhas devem parar de trabalhar mais cedo, já que o sol poente estará no lado oposto ao alvado? Um trabalho realizado na Inglaterra divulgado no plenário Apacame por Breno Freitas, da UFC, investigou o comportamento de abelhas cujas colméias tinham o alvado voltado para diferentes posições, e não encontrou nenhuma diferença significativa.

Um critério bom é posicionar as colméias de forma que o deslocamento do apicultor e de algum veículo possa se dar sempre pelos fundos das colméias, nunca próximo às frentes. Se ainda assim houver alternativas boas de posicionamento, considere a possibilidade de instalá-las em beira de mato, voltadas para o Norte (veja item 3.11) ou com o alvado voltado para o lado em que os ventos são menos intensos.
3.13 Como limpar o apiário?
Depois de habitado, a limpeza do apiário é um pouco mais complicada. Tem de ser feita com o equipamento de proteção, pois a movimentação provoca muita agitação nas colméias. Uma boa solução é usar as telas de alvado, de escape invertido. Essas telas permitem a entrada das campeiras, mas não a sua saída. Assim, o trabalho pode ser feito com mais calma, à custa do aprisionamento temporário das abelhas.

Alguns usam herbicidas naturais, como o sal. Poucas plantas toleram uma alta salinidade, e o apiário, ou pelo menos o entorno das colméias, pode ser mantido limpo assim. Sem uma cobertura vegetal, porém, o solo absorve e irradia mais calor, aumentando a temperatura no apiário. E as chuvas podem transformá-lo num lamaçal.

Uma boa ajuda pode ser o plantio de uma cobertura vegetal baixa e agressiva, como alguns tipos de grama e trevos, de preferência que já estejam aclimatados à região.
3.14 Posso criar animais perto do apiário?
Depende. Animais encurralados podem ser atacados e mortos se não puderem fugir.

Gado bovino normalmente pode ser criado, desde que não haja cercas que impeçam a sua fuga. Nesse caso, é preferível não cercar nem mesmo o apiário, pois se algum animal conseguir passar a cerca e derrubar alguma colméia, provavelmente não achará a saída. Com apiário aberto, geralmente o gado aprende a respeitar as colméias, e raramente se ouve relatos de acidentes.

Já com gado eqüino, alguns apicultores reportam problemas. Os cavalos parecem ter uma tendência menor de fugir sob ataque, e maior de se agitar, escoiceando. Isso é perigoso em caso de acidente.

Animais menores podem ser mantidos à distância com o cercamento do apiário com tela ou arame.
3.15 Posso fazer as minhas colméias?
A não ser que você seja um marceneiro, é melhor comprá-las, pois a construção dá muito trabalho, e as dimensões devem ser exatas, para que outros acessórios possam ser usados com elas. As dimensões estão disponíveis na Internet e em diversos livros. Mas é preciso tomar cuidado com as medidas: em [WIE87], por exemplo, algumas medidas não são as oficiais.
3.16 Quanto custa uma colméia?
Uma colméia completa, com fundo, ninho, duas melgueiras, quadros aramados e tampa custa aproximadamente o mesmo que 10 kg de mel (no varejo). Um ninho com quadros custa por volta de 4 kg de mel, e uma melgueira, uns 3 kg de mel.
3.17 Quantas melgueiras por colméia devo comprar?
Depende da produtividade possível na sua região, na melhor florada. O melhor é informar-se com os vizinhos. O mínimo absoluto, me parece, são duas melgueiras para cada colméia, pois é possível que você precise de um ninho e uma melgueira para a postura da rainha (veja item 7.14). Se você adotar um manejo intensivo para produção de mel, com troca freqüente de rainhas e alimentação artificial na entressafra, e tiver uma boa flora apícola na região, pode pensar em 3 a 5 melgueiras por colméia. Na dúvida, compre duas melgueiras por colméia e avalie os primeiros resultados.
3.18 Preciso comprar colméias de reserva?
Sim, isso é muito importante. Inicialmente, tenha pelo menos uma ou duas colméias completas de reserva. Com o tempo você vai ajustando essa quantidade.
3.19 Como povoar o apiário?
Há diversas formas de se obter enxames para povoar o apiário. A primeira é comprar enxames em uma loja ou de outro apicultor. Um enxame custa cerca de 8 kg de mel.

Outra forma é capturar enxames com caixas-isca. Esse é o método mais barato e menos trabalhoso, mas não é muito garantido.

Outra maneira é capturar enxames alojados na natureza ou em locais indevidos. Eles podem ser encontrados em ocos, cupinzeiros velhos, vãos de paredes duplas, caixas, barris, qualquer lugar. Esta, freqüentemente, é a maneira mais penosa e a que exige maior experiência. Por outro lado, pode ser também uma atividade rentável, pois há apicultores que cobram pelas remoções - além de ficarem com o enxame.

Quando se deseja ampliar um apiário já povoado, pode-se também recorrer à divisão de enxames.
3.20 Como é uma caixa-isca?
Um estudo do Departamento de Genética da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP) desenvolveu um padrão de caixa-isca que parece ser consenso hoje no Brasil, às vezes com pequenas variações [SOA97]. Primeiro, ela deve ser de papelão (a caixa que contém caixas de sabão em pó é boa e facilmente obtida em supermercados). Dentro, deve haver uns cinco quadros de ninho, aramados normalmente, cada um com 1/3 de lâmina de cera alveolada. As paredes internas devem ser "pintadas" com uma substância atrativa, o capim-cidró/cidreira (Cymbopogon citratus), macerado e misturado com vaselina. Um "alvado" de 10 cm² deve ser aberto na caixa.

Para aumentar a sua durabilidade, a caixa pode ser pintada de branco ou amarelo ou envolvida num plástico. Nesse caso, um saco de lixo de cor clara (de 50 l) e fita adesiva são suficientes (não esqueça de cortar o saco no local do alvado). A caixa deve ficar a 2 m de altura do solo, em boca de mato.

Algumas variações parecem funcionar igualmente bem. A tira de cera pode ser estreita - uma lâmina de melgueira fornece 5 tiras, o suficiente para uma caixa-isca. Folhas de capim-cidró podem ser esfregadas na caixa, ao invés de misturadas a vaselina. Alguns apicultores recomendam borrifar a caixa internamente a cada 15 dias com uma mistura de capim-cidró, própolis (pode ser a borra) e álcool comum. A caixa pode ficar mais baixa, a 1,5 m, por exemplo, para facilitar o manuseio.
3.21 Não é melhor usar colméias vazias para atrair enxames?
Segundo o estudo mencionado acima, não. A caixa de papelão é dez a quinze vezes mais atrativa do que as de madeira.
3.22 Por que usar o Cymbopogon citratus?
Porque ele possui um odor semelhante ao feromônio produzido pela glândula de Nasanov, que as abelhas utilizam para chamar as demais.
3.23 Quando colocar e tirar as caixas-isca?
Os períodos de enxameação coincidem com os de safra. Por isso, colocam-se as caixas-isca no início da safra, deixando-as até o final. Em outras épocas, sempre é possível capturar algum enxame, especialmente os que abandonam suas colméias, mas a probabilidade é muito menor. Por via das dúvidas, podem-se deixar algumas iscas no campo.
3.24 Quando o enxame pode ser transferido para a colméia definitiva?
Cerca de uma semana após a captura, já deve haver favos com cria. Nesse momento, cai o risco de o enxame abandonar a caixa após uma manipulação, e a transferência para a colméia definitiva pode ser feita. No entanto, eventualmente, pode-se manter o enxame na caixa-isca até a sua transferência para o local definitivo (apiário).

A limitação mais importante para a manutenção do enxame capturado na caixa-isca é o calor. Por se tratar de um material termicamente isolante, o papelão pode provocar um aumento intolerável de temperatura no interior da caixa, especialmente se ela estiver exposta ao sol da tarde. Nesse caso, 7-10 dias é, provavelmente, o máximo que um enxame agüentará ali.

Outro problema é a deterioração da caixa de papelão, que poderá acontecer rapidamente após a entrada do enxame. A causa é que, com um alvado pequeno e embalada num saco plástico, a ventilação da caixa torna-se muito deficiente, e a grande quantidade de vapor gerado pelo enxame acaba condensando-se nas paredes e encharcando o papelão.

Para evitar ou amenizar esses problemas, pode-se abrir uma fresta na parte superior de uma lateral da caixa, sobre o alvado ou na lateral oposta. Isso melhorará a ventilação e garantirá mais conforto ao enxame e uma vida útil maior à caixa-isca.
3.25 Quando a nova caixa pode ser transferida para o apiário?
Se o apiário estiver a mais de 3 km, basta esperar até que o enxame esteja bem ambientado, com as campeiras trabalhando bastante. Também é importante que o enxame esteja bem alojado, com bons favos de cria e quadros bem seguros, para que o transporte não os danifique.

Se o apiário estiver próximo, há três possibilidades. A primeira é na noite seguinte ao dia de captura. Essa é a melhor opção, mas só pode ser feita se a distância permitir um transporte manual e extremamente cuidadoso, que não perturbe o enxame, pois ele estará em forma de cortina, construindo os favos. Como as campeiras mal começaram a tarefa de coleta, elas ainda não se habituaram ao novo local, e a perda no dia seguinte, por retorno ao local da captura, será mínima.

A segunda possibilidade é mover a caixa para um local distante mais de 3 km, deixá-lo por lá duas semanas e depois transferi-lo para o apiário (há quem afirme que apenas 3 dias no local provisório são suficientes, mas eu nunca cheguei a confirmar isso). Para isso, a colméia deve estar em boas condições para resistir ao transporte.

Uma terceira possibilidade é a movimentação direta do local de captura para o apiário próximo por volta do 30º dia de captura. Nesta época, grande parte das campeiras originais já morreram ou estão próximas do fim, enquanto que a primeira geração de abelhas novas está quase pronta para iniciar as tarefas de coleta. Assim uma transferência para um local próximo causa uma perda relativamente pequena de campeiras por retorno ao local de origem, e ainda assim de campeiras velhas.
3.26 Como capturar enxames alojados?
Esse é um tópico avançado, que requer experiência no trato com as abelhas e, muitas vezes, outras habilidades. O processo, basicamente, consiste em remover os favos do local e transferi-los para um ninho. Cada favo deve ser colocado no centro de um quadro sem arame, e fixado com elásticos de prender dinheiro ou barbantes. É importante que a orientação vertical dos favos seja preservada, ou todo o trabalho será perdido. Depois disso, as abelhas e, especialmente a rainha, devem ser transferidas para a nova caixa, com ajuda de uma concha ou caneca. Enquanto a rainha não for transferida, as abelhas não permanecerão na nova casa. Ao contrário, quando a rainha estiver lá, as abelhas restantes entrarão por conta própria.

Por fim, a nova colméia pode permanecer no local por algum tempo até que todas as abelhas tenham se recolhido a ela. Às vezes, isso requer o fechamento das entradas originais. Alguns apicultores colocam ainda uma tela excluidora de alvado (ou uma tela excluidor normal, entre o ninho e o fundo), para que a rainha não consiga fugir num primeiro momento. Posteriormente, a caixa deve ser movida para o local definitivo, e os favos capturados devem ser gradualmente substituídos por cera alveolada.

Há uma alternativa interessante, que não pode ser usada sempre, e de cujo resultado não tenho confirmação. Consiste em instalar uma colméia ou um núcleo nas proximidades do enxame alojado e forçar a passagem das abelhas pela colméia, com a ajuda de um tubo. Naturalmente, todas as frestas da colméia original deverão ser bem vedadas. Eventualmente, o enxame pode adotar o novo espaço e abandonar o antigo.
3.27 Como manter informações sobre o apiário? [3]
O registro de informações sobre o apiário e as colméias pode ser muito útil ao apicultor, especialmente ao iniciante e ao grande apicultor. Para poucas colméias, um caderno pode ser suficiente. Para quem quiser manter dados mais organizados e em maior quantidade, algumas planilhas eletrônicas servirão perfeitamente. Quem preferir uma interface mais simples e um conjunto de funções já bem definidas pode optar por um programa de apicultura. Há vários deles disponíveis na Internet, em diversas línguas. Alguns possuem versões para demonstração e até versões gratuitas completas para poucas colméias. Um programa nacional, premiado no XV Congresso Brasileiro de Apicultura, pode ser encontrado em http://www.apissoft.com.br.
4. Proteção
4.1 Como se proteger durante o manejo?
O apicultor protege-se principalmente de duas formas: com o uso de vestimenta adequada e o emprego de fumaça.
4.2 Como deve ser a vestimenta do apicultor?
Botas, jaleco e calças ou macacão, luvas e máscara. O ideal é que sejam usadas apenas cores claras, de preferência o branco, pois elas estimulam menos a agressividade das abelhas.

As botas devem ser de borracha branca, melhor se tiverem o cano firme e estreito, que proteja até o meio da panturrilha, aproximadamente.

O macacão, ou o conjunto de jaleco e calça, pode ser feito de algodão (brim) ou de tecidos sintéticos, como nylon ou albene. Há inúmeros modelos, alguns ventilados, alguns com máscara integrada, alguns com mais de uma camada. Ao fazer um curso de apicultura, você provavelmente será apresentado a vários modelos e poderá escolher o que lhe parecer melhor. Mas como primeira escolha, eu recomendaria um macacão de brim branco, bem simples. É o que eu uso até hoje, e garanto que você não jogará dinheiro fora. Ele deve ser bem folgado, pelo menos dois números acima do seu, para evitar que fique muito esticado sobre a pele e facilite a vida das abelhas agressoras. Por baixo do macacão, é bom usar sempre uma camiseta de algodão e uma bermuda, para que o macacão, quando molhado de suor, não fique colado ao corpo. Para mexer em enxames muito agressivos, a roupa de baixo pode ser reforçada.

A máscara deve ter uma área de visão ampla, protegida por uma tela preta (para evitar ofuscamento). De preferência, essa tela deve contornar toda a cabeça, para permitir uma ventilação melhor. Eu uso máscaras independentes do macacão. O modelo tradicional, feito com chapéu de palha e tela metálica, é confortável, seguro, fresco e durável, e você pode apostar nele sem medo. Para iniciantes, porém, o modelo de máscara integrada ao macacão pode ser preferível, pois dá uma sensação de segurança maior.

As luvas podem ser feitas de borracha, courvin ou couro (vaqueta). Eu gosto das luvas de couro, que dão proteção máxima em qualquer situação, e são muito resistentes.

Essas são as minhas preferências, certamente diferentes das de outros apicultores. Só depois de adquirir alguma experiência, você poderá definir bem qual é o seu conjunto ideal.
4.3 Como vestir todo esse equipamento?
Simples: as peças das extremidades devem recobrir o macacão. A máscara (quando separada) recobre a gola, as luvas recobrem os punhos e as botas recobrem as pernas do macacão.
4.4 Não se morre de calor?
Pelo menos, não muitas vezes.

Na verdade, o calor pode ser um inimigo terrível do apicultor, e ainda assim será preferível a uma porção de ferroadas. Mas alguns procedimentos podem diminuir um pouco o sofrimento:

· Mantenha as colméias a meia-sombra no verão.
· Leve água ao apiário. Se ela puder ser mantida gelada ou fresca, melhor. Para beber, providencie um buraco na máscara, à altura da boca, de forma que seja possível beber com um canudo. Faça uma tampa para esse furo (com velcro, por exemplo).
· Carregue dentro da máscara uma toalhinha para secar o excesso de suor do rosto. Segure-a pelo lado de fora da máscara.
4.5 Mas as abelhas não entram pelas frestas?
No ajuste da máscara e das luvas, não devem sobrar frestas, ou as abelhas poderão entrar. Algumas abelhas agressivas dentro da máscara não é uma situação nada agradável de se enfrentar.

Entre o macacão e as botas, o problema é menor, porque elas raramente descem para ferroar. Se o cano não for muito largo, as canelas e o pé serão os locais com menor risco de serem ferroados.
4.6 O que eu faço se entrarem abelhas na máscara?
Uma saída é afastar-se bastante do apiário e tirar a máscara, mas isso raramente é possível. Quando essa situação ocorre, o nível de ataque é muito alto, e você acabará sendo perseguido por outras abelhas que o impedirão de livrar-se da máscara (veja também item 4.12 abaixo).

O que eu faço é matar as abelhas que entraram com golpes rápidos, esmagando-as contra a minha cabeça. Mas o melhor mesmo é ter muito cuidado ao colocar a máscara, ou usar máscaras integradas ao macacão, que impedem a entrada de abelhas (a não ser que haja um furo, é claro).
4.7 Como se proteger contra enxames muito agressivos?
Enxames hiperagressivos podem ser um problema sério. Felizmente, eles não costumam existir em grande número no apiário. Para começar, deixe a sua manipulação por último, para que a resposta agressiva não atrapalhe o manejo das demais colônias. Tente fazer um manejo rápido, aplicando mais fumaça do que de hábito. Se possível, evite dias sombrios, úmidos ou ventosos.

Por baixo do macacão, use algo grosso, como um abrigo esportivo. Use meias duplas e recubra-as o máximo possível com as extremidades do abrigo e do macacão. Cuide especialmente para não deixar frestas junto às luvas e às máscaras. Deixe qualquer equipamento furado ou descosturado em casa.

Alguns apicultores recomendam o uso de macacões de nylon nessas circunstâncias. O nylon é fino e não dá uma boa proteção, mas as abelhas têm dificuldade em ferroar por não conseguirem se agarrar bem à roupa. Com isso, muitas que morreriam ao ferroar um macacão de brim acabam se salvando.
4.8 A fumaça tonteia as abelhas?
Não, ela inibe a percepção dos feromônio de alarme que são liberados pelas abelhas quando elas se sentem ameaçadas. Há também uma teoria que prega que a fumaça desencadeia na colméia um comportamento de preparação para abandono, que faz com que muitas abelhas se encham de mel, ao invés de assumir uma posição de revide à ameaça. Supostamente, uma abelha cheia de mel teria também mais dificuldade em flexionar o abdômen para ferroar.
4.9 Como usar a fumaça?
Aqui há duas abordagens. Eu prefiro usar o mínimo indispensável. Por isso, preciso estar sempre com o fumegador à mão e usá-lo freqüentemente, com pequenas fumegadas. Não há dúvida que dá mais trabalho, especialmente quando se trabalha sozinho, mas as abelhas e os consumidores do seu mel agradecem.

A outra abordagem é o oposto: aplicar bastante fumaça. Com isso, inibe-se de uma vez quase toda a capacidade de resposta agressiva da colméia. Esse método é freqüentemente usado por quem possui um número grande de colméias e não pode perder muito tempo em cada uma delas. Na minha opinião, se alguém não consegue cuidar direito de suas colméias, deveria pensar em reduzir o seu número ou contratar ajudantes, não em piorar a qualidade do manejo.
4.10 Por que a fumaça é indesejável?
A fumaça causa um transtorno geral na colméia, atrapalhando todas as atividades. A volta à normalidade na colméia pode levar horas. Além disso, ela impregna todo o interior da colméia, inclusive o mel que será colhido pelo apicultor. Se você consome mel habitualmente, com certeza já provou mel com gosto de fumaça. Ele foi extraído por um apicultor que usou fumaça demais quando havia mel não operculado na colméia.

Mas o sabor ruim não é o pior da história. A fumaça proveniente da queima incompleta dos restos vegetais, que é o que ocorre no fumegador, é composta por uma quantidade muito grande de substâncias químicas tóxicas e carcinogênicas. Hidrocarbonetos, como metano, propano e octano, cetonas, álcoois, aldeídos, ácidos, entre outros, são produzidos no fumegador, e parte deles é expelida junto com o vapor d'água, as cinzas e o alcatrão que também compõem a fumaça [FIS02]. Para resumir: fumaça é sujeira, evite-a tanto quanto possível.
4.11 Quanto tempo devo esperar para abrir a caixa após pôr fumaça?
Uma recomendação freqüente na literatura é que se coloque algumas baforadas no alvado e se espere alguns minutos, "tempo suficiente para que as abelhas se encham de mel". Mas admito algum ceticismo em relação a este raciocínio. Eu nunca espero tempo nenhum e nunca encontrei diferença quando tentei experimentá-lo.

Ocorre que as abelhas dispostas a atacar e ferroar normalmente compõem um percentual muito pequeno do enxame, de algumas dezenas a poucos milhares. Se fosse diferente, o enxame facilmente poderia se inviabilizar pela morte de muitas adultas. Assim, para que a teoria de "encher-se de mel" funcione, é necessário que exatamente essas poucas abelhas guardas corram aos favos de mel, disputando-os com uma população de operárias centenas de vezes maior. É um pouco difícil de acreditar.

A minha recomendação é fumegar três ou quatro vezes pelo alvado, deslocar-se para trás da colméia, levantar a tampa e, a partir daí, usar o fumegador apenas quando necessário e apenas com intensidade suficiente. Deve-se ter cuidado especial quando há melgueira com mel desoperculado, para não contaminá-lo.

Obviamente, há condições de exceção que precisam ser tratadas de forma especial. Enxames excessivamente agressivos não podem ser controlados com pouca fumaça. Em dias sombrios, a concentração de abelhas nas colméias é maior, e a agressividade geralmente também. A presença de vento dissipa muito rapidamente a fumaça e, conseqüentemente, os seus efeitos. Nesses casos, um volume maior de fumaça e o seu uso com maior freqüência é inevitável.

Da mesma forma, enxames pequenos podem muitas vezes ser manipulados sem fumaça nenhuma, ou com quantidade absolutamente mínima. Por isso, nunca trate da mesma forma seus enxames diferentes.
4.12 Como posso me livrar das abelhas que me perseguem?
Dentro do apiário, não é possível, você apenas deve manejá-las o mais suavemente possível para manter a resposta agressiva no nível mais baixo que puder.

Fora do apiário, há um método que funciona muito bem: atravesse um mato fechado em zig-zag. Às vezes, uma ou duas entradas e saídas num mato já despista quase todas as abelhas perseguidoras. Prevendo isso, você pode já deixar caminhos irregulares prontos para uso.
4.13 O que fazer quando eu levar uma ferroada?
Uma recomendação repetida por quase todos os apicultores é que o ferrão não deve ser removido com os dedos em movimento de pinça. Ele deve apenas ser raspado rapidamente, com a ponta do formão ou mesmo da unha (essa recomendação não é consensual, veja o item 4.14 abaixo). Depois, se for possível, limpe ou cubra a região, para que os feromônios ali depositados não provoquem outras ferroadas.

Se a ferroada atingir a pele através da roupa, veja se o ferrão ficou preso e remova-o. Em seguida, aplique um pouco de fumaça no local, para disfarçar o feromônio.
4.14 Por que devo retirar o ferrão rapidamente e sem usar os dedos?
Porque junto com o ferrão, normalmente é deixado também o saco de veneno. Quando isso ocorre, o veneno permanece sendo injetado por algum tempo e quanto mais rápida for a sua retirada, melhor. No entanto, muitos acreditam que se isso for feito com os dedos, é provável que o saco seja espremido, e o resto do veneno seja introduzido de uma só vez.

Um estudo recente, porém, contesta a hipótese de impropriedade de uso do dedo para a remoção do ferrão [VIS03]. Para isso, foram provocadas diversas picadas em voluntários, e variou-se o tempo (0,5 a 8 segundos) e a forma de remoção dos ferrões (arrancamento com os dedos e raspagem). Por fim, foram analisadas as respostas locais ao veneno injetado. A conclusão foi que, quanto mais rápida é a remoção, menor a quantidade de veneno injetada. Por outro lado, o método de remoção não teve nenhuma influência na resposta e o arrancamento com os dedos não causou a injeção de mais veneno. A explicação para isso é que o veneno de fato continua a ser bombeado após a deposição do ferrão, mas é um sistema de válvulas que controla o fluxo e não contrações do saco (cujas paredes nem sequer possuem músculos) ou a sua compressão.

Resumindo, quando você for ferroado, retire o ferrão o mais rápido possível, do jeito que der.
4.15 Como é que alguns apicultores trabalham sem proteção?
Com o tempo e a experiência, é possível dispensar alguma proteção, especialmente as luvas. Muitos apicultores profissionais, que trabalham com muitas colméias, acabam habituando-se às ferroadas e preferem evitar o uso das luvas, que sempre atrapalham um pouco. Num manejo simples, em dia favorável, você pode fazer uma experiência e ver como se sente.

Em nenhuma hipótese, porém, trabalhe sem a máscara. O pescoço e o rosto são áreas muito sensíveis, e não vale a pena correr o risco. Uma ferroada no olho é um acidente grave e pode deixar seqüelas que farão você se arrepender dessa imprudência pelo resto da vida.
4.16 Então, por que há gente que trabalha sem máscara?
Talvez pelas mesmas razões que as pessoas que guiam motos sem capacete ou que trabalham na construção civil sem EPIs: para evitar o desconforto e por excesso de confiança. No caso da apicultura, pode haver um componente adicional: o desejo de impressionar os amigos com uma demonstração de coragem.

Mas, desprotegido, o apicultor não apenas corre um risco desnecessário. Ele geralmente precisa diminuir esse risco com o uso exagerado de fumaça, o que é pior também para as abelhas.
4.17 Então não devo fazer uma barba de abelhas também?
Faça, se quiser, mas por sua conta e risco. É perigoso com abelhas européias e muito mais com africanizadas. Aliás, isso não é apicultura, é apenas espetáculo.
4.18 Por que as abelhas ficam naquela forma de barba?
A pessoa coloca a rainha de uma colméia numa gaiolinha, pendura-a no pescoço e sacode as abelhas ao lado. Em seguida, elas se agrupam em torno da rainha.
5. Prática Básica
5.1 Quais são as principais ferramentas do apicultor?
Na hora do manejo, as ferramentas essenciais são o fumegador, o formão e o espanador.
5.2 Como é o fumegador?
É um cilindro metálico - a fornalha, acoplado a um fole. Há dois modelos básicos, o tradicional, usado no mundo inteiro, e um modelo brasileiro, conhecido como SC-Brasil. O modelo brasileiro é maior e mais apropriado para se trabalhar com africanizadas, pois essas abelhas requerem mais fumaça. Em contrapartida, o modelo tradicional geralmente pode ser utilizado com uma só mão, enquanto que o SC-Brasil precisa de duas mãos ou, pelo menos, de uma mão e de uma perna (ou barriga).

Diversos apicultores usam o fumegador pendurado numa lateral da caixa, e aproveitam o "bico de pato" (um espalhador de fumaça) para fumegar o topo dos quadros usando uma só mão. A desvantagem desse método é que muita água com alcatrão pinga pelo bico, sujando os quadros e os favos.
5.3 Qual é o combustível ideal para o fumegador?
Há inúmeras fórmulas mirabolantes, geralmente inventadas por gente que acredita que as abelhas devem ser narcotizadas. Não falta também quem pense que o fumegador é um incinerador de lixo e jogue ali qualquer porcaria que esteja à mão. Mas é preciso lembrar que a fumaça entra em contato e deixa resíduo em toda a colméia, inclusive no mel. O melhor é usar apenas restos vegetais bem secos, como palha (restos de roçada de campo, por exemplo) ou maravalha de madeira bruta (restos de aplainamento de tábuas). Cuidado para não usar restos de compensados ou aglomerados, inclusive MDF, pois eles são produzidos com colas que, ao queimarem, podem produzir fumaça ainda mais tóxica do que o normal.
5.4 Como acender o fumegador?
Se o combustível estiver bem seco, não haverá problema. Coloque um pouco no fundo da fornalha e acenda com fósforo, ou, melhor ainda, com um daqueles acendedores a gás para fogões. Espere até formar algumas brasas, ajude um pouco com o fole. Depois vá colocando mais combustível, pouco a pouco, e acionando o fole até que uma fumaça branca, espessa e fria saia pela boca do fumegador. Recarregue-o com mais combustível sempre que a fumaça começar a escurecer um pouco ou sair acompanhada de fagulhas.

Se o combustível estiver um pouco úmido, uma pequena dose de álcool em gel resolverá o problema.
5.5 E como reacender o fumegador?
Se sobrar combustível na fornalha de um dia para outro, não tente acender o fumegador por cima, pois o resultado sempre será ruim. Se o combustível velho estiver muito carbonizado, jogue-o fora. Se ainda houver uma boa porção não queimada, despeje-o numa folha de jornal, inicie o fogo do fundo e recoloque-o aos poucos na fornalha. Depois, complete o nível com combustível novo.
5.6 Para que serve o formão?
As abelhas tendem a propolisar todas as frestas estreitas da colméia, a acabam assim colando todas as partes móveis da colméia. Por essa razão, a ferramenta mais importante do apicultor é o formão, uma barra chata de aço, dobrada em L, com as extremidades levemente afiadas (mas não cortantes). Esse formão é usado sempre como alavanca, para levantar a tampa, separar os quadros e descolar as caixas. Também é muito útil para raspar restos de cera e de própolis.
5.7 Como é o espanador?
O espanador (ou escova), apesar do nome, parece-se mais com um grande pente, porque possui apenas uma fileira de cerdas. Essas cerdas devem ser bem macias, para removerem as abelhas sem machucá-las ou danificar os favos. Também é importante que as cerdas sejam de cor clara, menos irritantes para as abelhas.

O espanador deve ser passado de forma a não irritar ou machucar as abelhas.
5.8 Há outras ferramentas úteis para o manejo?
Uma lâmina afiada (faca, canivete ou estilete) é imprescindível no dia-a-dia do apicultor.

Um acendedor para o fumegador é necessário. Podem ser fósforos ou isqueiro, mas o melhor é um acendedor a gás para fogões, daqueles com uma haste comprida.

Há um tipo especial de formão, com uma extremidade em forma de "J", que funciona muito melhor que o formão convencional na hora de retirar os quadros.

Uma outra ferramenta, de alguma utilidade, é o pegador (sacador) de quadros. Trata-se de uma espécie de alicate duplo, usado para retirar e segurar os quadros que serão examinados, com mínimo risco de danificar o favo ou machucar as abelhas. Alguns apicultores gostam do sacador, mas outros, depois de algum tempo, acreditam que podem trabalhar muito bem sem ele. Eu estou no segundo time.

Elásticos ou barbantes podem salvar o dia, caso você se depare com favos tortos ou quebrados.

Outras ferramentas podem ser importantes, mas de uso muito eventual, como alicate, martelo, arame, pregos.
5.9 Como fazer para não perder essas ferramentas?
Nada mais fácil do que perder essas ferramentas num apiário. Para evitar isso, faça o seguinte: vá a uma ferragem e compre dois rolos de fita isolante, um vermelho e outro amarelo. Coloque uma ou duas fitas de cada cor em volta das suas ferramentas e nunca mais você as perderá. Se você for daltônico, escolha cores que você consegue distinguir perfeitamente no campo, em ambiente claro e quase escuro.
5.10 Com que freqüência devo examinar as colméias?
Depende da época e do tipo de manejo. Uma inspeção rápida pode ser feita a cada semana (ou duas, ou três), mas talvez não haja nenhum problema se você esperar um mês ou mais. Revisões completas podem ser feitas cerca de 2 a 4 vezes por ano.

Se você quiser usar alimentação estimulante antes da florada, o ideal será fornecê-la com grande freqüência - dia sim, dia não, por exemplo. Se isso não for possível, procure fornecer uma quantidade maior de xarope em alimentadores lentos (veja o capítulo 6).

Durante a safra, há duas abordagens antagônicas. A primeira é verificar a colméia freqüentemente para tentar conter alguma enxameação. No entanto, o controle de enxameação não é nada trivial nem 100% garantido, e muito melhor é fazer-se uma prevenção adequada (veja o capítulo 7).

A segunda abordagem, preferível na minha opinião, é mexer o mínimo possível na colméia, abrindo-a poucas vezes e rapidamente, apenas para verificar a acumulação de mel e colocar ou retirar melgueiras. Isso evita perturbações na que podem até significar perda de mel.

De qualquer forma, independentemente da abordagem adotada, é importante que
As colméias não sejam abertas com temperatura ambiente muito baixa, da ordem de 10 ºC ou menos. Caso contrário, muitas crias poderão morrer.

5.11 Como é feita uma revisão completa?
Primeiro, ponha fumaça e abra a colméia, como mencionado acima. Se houver melgueiras, avalie o seu conteúdo retirando um ou dois quadros. Com o tempo, bastará dar uma olhada superficial e suspendê-la, para estimar bem a quantidade de mel armazenado. Verifique se há postura na melgueira. Faça o mesmo com todas as melgueiras e vá retirando-as até chegar ao ninho, usando um pouco fumaça sempre que necessário. Se houver mel desoperculado, use a fumaça lentamente, dirigindo-a apenas para o topo dos quadros. Se estiver ventando, direcione a fumaça para o lado da colméia que estiver recebendo o vento, diretamente na parede. A fumaça vai subir e apenas lamber a parte superior dos quadros.

No ninho, retire cada um dos quadros e examine-os Com o tempo, você será capaz de selecionar apenas alguns quadros bem representativos da situação do ninho, abreviando esse trabalho. No início, ajuda bastante remover o quadro mais vazio de uma das extremidades e pô-lo de lado, para ampliar o espaço de trabalho. Em seguida, faça as verificações e correções necessárias, recoloque todos os quadros, de preferência com a mesma orientação frente-fundo original, e recoloque as melgueiras, usando um pouco de fumaça para esmagar o mínimo de abelhas possível.

Numa revisão de rotina, verificam-se diversos pontos:

· O enxame está bem desenvolvido para a época?
· Há reservas de mel suficientes até a próxima revisão?
· O tamanho do alvado é compatível com a temperatura média da estação e com o movimento de entrada e saída das abelhas?
· A rainha está presente e a postura é adequada?
· Há realeiras?
· As crias estão se desenvolvendo bem?
· Há espaço suficiente para aumentar a postura?
· Há espaço suficiente para armazenar mais mel?
· Há sinal de doença na colméia?
· Há sinal de ataque de formigas, traças ou outros animais?
· Há favos velhos ou quadros danificados a serem substituídos?
· Há umidade condensada na colméia?
· Há sinais de excesso de calor dentro da colméia?
5.12 As colméias mais fortes devem ser examinadas primeiro?
Não. Em apicultura, muitas vezes a idéia de se fazer primeiro o trabalho mais complicado é impraticável. A razão disso é que mexer primeiro na colméia mais difícil pode significar problemas para o manejo de todas as outras. Isso acontece especialmente em dias desfavoráveis para o manejo, como os nublados, úmidos e ventosos. Fazendo sempre as revisões mais simples primeiro garante que, se você tiver de interromper o trabalho, uma boa parte dele talvez já esteja concluída.
5.13 Por que pode ser necessário interromper o trabalho?
Uma possibilidade é começar a chover. Outra é que a agitação e a agressividade das abelhas podem atingir um nível alto demais, atrapalhando muito o manejo e causando um número alto de ferroadas, além de saque generalizado e mortandade de abelhas. Isso não é comum, mas é bom acostumar-se com a idéia de que o apicultor nem sempre consegue fazer no apiário tudo o que foi planejado, especialmente quando a sua experiência ainda não muito grande.
5.14 Onde ponho as caixas que vão sendo retiradas?
Quando se retira uma caixa da colméia, muitas abelhas que estavam ali saem (caminhando) para fazer uma investigação do que houve. Quando essa caixa é posta diretamente no solo, as abelhas que saem podem ser pisadas pelo apicultor, atacadas por predadores ou, na melhor das hipóteses, demorar muito para retornar à casa, já que muitas delas são jovens que nunca voaram.

O que eu faço (e recomendo) é apoiar a caixa sobre a tampa, previamente largada no solo. A caixa pode ficar apoiada numa lateral menor, isto é, de tal forma que os quadros fiquem em sentido vertical ("de pé"). Fica melhor ainda se um canto dessa lateral ficar sobre um ressalto da tampa. Essa posição é confortável para o apicultor, evita que muitas abelhas saiam da caixa, evita que o mel escorra e evita que os quadros se inclinem, o que acontece quando a caixa é apoiada numa das laterais maiores.

Após recolocar as caixas, basta varrer as abelhas que estão sobre a tampa para dentro da colméia, e a perda de abelhas é mínima.
5.15 Como retirar e examinar os quadros?
Se houver muitas abelhas sobre ele, ponha um pouco de fumaça para elas se afastarem. Depois, descole as laterais do quadro, usando o formão como alavanca. Fica mais fácil se um quadro da extremidade tiver sido retirado antes. A seguir, suspenda um canto do quadro com o formão e segure esse canto com os dedos ou o quadro inteiro com o sacador de quadros. Depois solte o outro canto com o formão e retire o quadro.

Se houver muitas abelhas sobre o favo, e você precisar ter uma visão melhor, remova o excesso com um leve chacoalhar, bem acima do ninho. Se precisar remover quase todas as abelhas, use seguinte manobra: segure o quadro por um canto com uma das mãos e, com a outra mão, dê um golpe seco, de cima para baixo, na mão que está segurando o quadro. Dependendo da força que você usar, poderão se desprender as abelhas, os ovos, as larvas e o néctar; muito cuidado, portanto.

Em seguida, segure o quadro pelos cantos e analise a face do favo que está voltada para você. Se você estiver de costas para o sol, o quadro ficará mais bem iluminado. Para analisar a face oposta, vire-o de cabeça para baixo, girando-o com os dedos das duas mãos. Tenha cuidado para não expor as crias muito tempo ao sol (mais de alguns poucos segundos), pois elas são extremamente sensíveis.

Tenha muito cuidado também ao recolocar o quadro, para não esmagar outras abelhas e, principalmente, a rainha.

Quando terminar de recolocar todos os quadros, aperte-os em direção a uma das extremidades, para que sobre o mínimo de folga entre eles, dificultando a propolisação das suas laterais.
5.16 Como saber se o enxame está bem desenvolvido?
Principalmente, por comparação com os demais. Mas a experiência ajuda muito.
5.17 Como saber se há mel suficiente até a próxima revisão?
Depende da temperatura média da época, do fluxo de néctar existente ou por iniciar, de quando será a próxima revisão e do tamanho do enxame. É um ponto em que a experiência do apicultor é muito importante para um bom julgamento.

Se as abelhas estiverem colhendo néctar, esse dado não é tão importante. Caso contrário, se houver um quadro de ninho com bastante mel ou várias coroas de mel sobre a área de cria, provavelmente você não precisará se preocupar por uma ou duas semanas, dependendo do tamanho do enxame. Na dúvida, sempre alimente a colméia.
5.18 Quais são os sinais de excesso de calor na colméia?
A presença de abelhas paradas no alvado, batendo as asas, significa que elas estão forçando a ventilação da colméia. Isso é normal, desde que não sejam muitas abelhas e que o zumbido interno (das que estão ventilando lá dentro) não seja muito forte.

Um indício forte de excesso de calor é o agrupamento de abelhas do lado de fora, formando uma "barba" perto do alvado. Embora seja às vezes entendido (corretamente) como prenúncio de enxameação, o mais provável é que as abelhas não estejam conseguindo refrigerar o interior da colméia quando todas elas estão lá dentro. Para resolver esse problema emergencialmente, podem-se colocar pequenos calços sob a tampa. Para resolvê-lo melhor, pode-se adotar um telhado maior, de cor clara, ou mover a colméia para um local mais sombreado. Uma boa alternativa é usar uma entretampa para ventilação (veja item2.37).
5.19 Por que os favos de cria devem ser substituídos periodicamente?
Há duas razões principais: Uma é evitar que o favo velho se transforme num veículo de contaminação, já que ele é sistematicamente exposto a dejetos das larvas. A outra é impedir que o estreitamente natural do alvéolo, provocado pelos restos de sucessivos encasulamentos, acabe influindo no desenvolvimento das crias, resultando em adultos menores.
5.20 Quando os favos devem ser trocados?
A fórmula mais simples é substituir, numa das revisões anuais, aqueles que estiverem totalmente escuros, de forma que não se possa ver a luz do sol através dos alvéolos.

Outra recomendação comum é trocar-se cerca de 1/3 dos favos por ano, o que daria, em média, uma vida útil de 3 anos por favo.
5.21 Quando devem ser colocadas as melgueiras?
No início da safra, quando a movimentação do alvado começar a crescer. Nesse momento, interrompa a alimentação energética (veja o capítulo 6) e, se houver quadros do ninho com "mel" feito a partir do xarope, remova-os, centrifugue-os e devolva-os vazios à colméia. Isso é necessário por duas razões: primeiro, se este mel estiver desoperculado, ele pode ser relocado pelas abelhas para abrir espaço para a postura da rainha, e as melgueiras recém postas são um ótimo destino. Segundo, se o mel estiver operculado, ele pode bloquear o ninho, impedindo que a rainha aumente sua postura. Veja também o capítulo 8 para maiores considerações sobre a colocação de melgueiras.
5.22 É melhor fazer o manejo de dia ou à noite?
Isso é uma preferência bastante pessoal do apicultor. Acredito que a maioria prefira trabalhar à luz do dia, mas há alguns que não concordam. Quem trabalha à noite afirma que é mais fácil manejar os enxames muito agressivos, pois as abelhas voam muito pouco. Na minha opinião, o manejo à noite dificulta muito a inspeção visual, aumenta o risco de tropeços e quedas e causa muito mais mortes de abelhas, pois elas tendem a cobrir a caixa e os favos, numa atitude de defesa passiva (elas param com o ferrão voltado para cima, de modo a evitar o contato do "atacante" com a colméia).

A fumaça também parece ser muito menos eficaz à noite. Elas não retornam rapidamente à colméia quando fumegadas, e permanecem cobrindo o topo dos quadros e as paredes das caixas. Por esta razão, A quantidade de abelhas esmagadas na reposição das caixas também é muito maior. As que voam até o apicultor agarram-se firmemente às suas vestes, todas tentando ferroar, e só podem ser removidas com o espanador.

Uma vantagem é que o trabalho à noite é quase sempre mais fresco do que durante o dia.
5.23 Por que as abelhas voam pouco à noite?
Na verdade, elas voam se houver luz visível. O que os apicultores fazem é usar luz vermelha, que não é visível para as abelhas. Para isso, usam qualquer fonte de luz comum, como uma lanterna, e cobrem-na com papel celofane vermelho ou algo similar. Nessas condições, os objetos iluminados por essa luz não são bem visíveis para as abelhas, especialmente se a lua for nova ou estiver encoberta. Mesmo assim, elas conseguem fazer alguns vôos curtos e chegar ao apicultor, que, por essa razão, não pode prescindir do seu equipamento de proteção.
6. Alimentação
6.1 Como deve ser alimentada a colméia?
Por estranho que pareça, este é um dos assuntos mais polêmicos da apicultura nacional. Há dúzias de fórmulas, das mais simples às mais sofisticadas, cada uma defendida com unhas e dentes por seus simpatizantes. Também há diversas formas de fornecer o alimento e, de novo, há defensores fervorosos de um ou outro modelo. As próximas questões esclarecem alguns pontos básicos da alimentação artificial, como tipos, fórmulas e modos de fornecimento.
6.2 O que é alimentação artificial?
Alimentação artificial é o fornecimento de substâncias nutritivas para as abelhas. A alimentação pode ser de subsistência, quando não houver provisões suficientes na colméia para garantir a sua manutenção, ou estimulante, para induzir o crescimento da colméia antes de uma florada. Além disso, a alimentação artificial pode ser protéica (para substituir o pólen) ou energética (para substituir o mel).
6.3 Quando deve ser fornecida a alimentação de subsistência?
Quando não houver reservas suficientes até a próxima florada. Ela normalmente não é necessária quando o apicultor deixa uma boa quantidade de mel para as abelhas, mas isso nem sempre é feito, já que, economicamente, o mel vale muito mais que o açúcar. Além disso, há méis de cristalização rápida que não podem ser deixados na colméia, especialmente em climas frios, sob pena de as abelhas não conseguirem consumi-lo mais tarde.

Após a colheita, o início de uma entressafra longa (mais de dois meses) é um bom momento para fornecer a alimentação de subsistência. Uma possibilidade interessante é adiar um pouco o fornecimento, até que o enxame se reduza naturalmente, inclusive com a expulsão dos zangões. Nesse momento o xarope pode ser fornecido em quantidade grande o suficiente para toda a entressafra. Ou, ao contrário, essa alimentação pode ser fornecida aos poucos, de acordo com a percepção do apicultor.

O fornecimento de uma só vez reduz o trabalho, mas aumenta o risco de perda de alimento por deterioração, caso as abelhas não o aceitem ou demorem muito a recolhê-lo. Enxames pequenos, especialmente, têm dificuldade em esvaziar os alimentadores grandes.
6.4 Como é a alimentação energética de subsistência?
O xarope (substituto do mel) deve ser mais concentrado do que na alimentação estimulante, para que as abelhas não precisem gastar muita energia na sua desidratação.

Como xarope, alguns recomendam uma mistura de açúcar refinado comum em água, num proporção alta, como 2:1 (em peso), por exemplo. Isso significa 2 kg de açúcar em 1 l de água, ou um xarope com concentração de açúcar de 67%. Aquecer a água facilita bastante a mistura.

Outra proporção interessante é 1,5:1 (açúcar:água). Ela pode ser obtida enchendo-se um recipiente até a metade com água e completando-se com açúcar. Produz um xarope com concentração de 60% de açúcar.

Outros recomendam o uso de açúcar invertido. Outros ainda, especialmente quem produz mel orgânico, recomendam apenas o fornecimento de mel.
6.5 A alimentação de subsistência não pode ser sólida?
Alguns apicultores fornecem açúcar puro ou cândi às abelhas. Não é a melhor opção, pois exige que elas dissolvam o alimento antes de consumi-lo (num período frio isso pode ser muito difícil). Além disso, o açúcar puro muitas vezes é rejeitado por elas.

Uma alimentação pastosa, mista, energético-protéica, é uma alternativa possível.
6.6 O que é cândi?
É uma mistura de açúcar com mel. Para prepará-lo, peque uma porção de açúcar confeiteiro e vá acrescentando mel e amassando até formar uma massa flexível, que seja o mais seca possível, sem se esfarelar. É um tipo alimento muito usado em transporte e introdução de rainhas.
6.7 Quando deve ser fornecida a alimentação estimulante?
Cerca de sessenta dias antes de uma florada intensa.

Uma consideração importante sobre a alimentação estimulante é que ela deve simular um fluxo de néctar na colméia e, portanto, deve ser fornecida freqüentemente. Nesse aspecto, as recomendações mais comuns para alimentadores rápidos vão de três a sete vezes por semana. Para alimentadores lentos, o fornecimento semanal ou ainda mais espaçado pode ser suficiente.
6.8 Quanto deve ser fornecido de alimentação estimulante?
Depende do tamanho do enxame. Cerca de 800 ml em dias alternados já dão uma resposta boa, mas o melhor é observar a acumulação do xarope, permitindo-a, mas não em excesso. Se essa acumulação for muito grande, vários quadros do ninho ficarão cheios de xarope, e a rainha não poderá fazer a postura. Essa é uma situação chamada de bloqueio do ninho, e leva a colméia, quase certamente, à enxameação.

Uma alternativa provavelmente melhor é alimentar as abelhas liberalmente, removendo os favos repletos de xarope sempre que necessário. Com isso, o espaço para a rainha estará garantido, ao mesmo tempo em o estímulo é máximo.
6.9 Como evitar o bloqueio do ninho?
Os quadros cheios de xarope devem ser removidos e substituídos por outros com favos vazios (em bom estado) ou lâminas de cera alveolada. Os favos com xarope podem ser distribuídos às colméias fracas, ou centrifugados, para que o seu conteúdo possa ser devolvido à colméia sob forma de mais alimento estimulante.

Uma alternativa possível, mas bem menos interessante, é deixar os favos por um dia a cerca de 100-200 metros do apiário, para que o xarope neles estocado volte a simular néctar para todas as colméias. Nesse caso, não apenas as suas colméias, mas todas as da região serão beneficiadas.
6.10 Como é a alimentação estimulante?
O xarope deve ser menos concentrado do que na alimentação de subsistência, para simular o néctar, que possui, em média, uns 30-35% de açúcar.

Para obter um xarope com aproximadamente 35% de açúcar, faça uma mistura na proporção de 4:7,5, por exemplo, 4 kg de açúcar em 7,5 l de água. Isso dá 11,5 kg de xarope, que ocupam uns 10 litros. Como a mistura é pouco saturada, ela pode ser feita facilmente com água fria e um pouco de agitação.

Da mesma forma que na alimentação de subsistência, há quem recomende o uso de açúcar invertido ou mel, mais diluídos.
6.11 Como calcular as proporções de açúcar e água?
A densidade do açúcar é 1,59, o que significa que cada quilograma contribui com 0,63 litros num xarope. Com este dado, você pode calcular qualquer proporção, mas eu vou facilitar-lhe a vida.

Para produzir cerca de 10 litros de xarope (200 ml a mais ou a menos), use a tabela abaixo. Para volumes diferentes, apenas corrija as quantidades dos ingredientes na mesma proporção.

Ingredientes
Xarope
Água (l)
Açúcar (kg)
Peso (kg)
Volume (l)
Açúcar
(%)
Equivalente em mel (kg)
A evaporar (l)
8,5
2,5
11
10,1
23
3
8
8
3,5
11,5
10,2
30
4,3
7,2
7,5
4
11,5
10
35
4,9
6,6
7
4,5
11,5
9,8
39
5,5
6
6,5
5,5
12
10
46
6,7
5,3
6
6
12
9,8
50
7,3
4,7
5,5
7
12,5
9,9
56
8,5
4
5
8
13
10
62
9,8
3,2
4,5
9
13,5
10,2
67
11
2,5

As colunas de ingredientes referem-se às quantidades a serem misturadas. O peso do xarope é apenas ilustrativo, pois os alimentadores têm suas medidas em litros. A coluna "Açúcar (%)" indica a concentração do xarope. O peso equivalente em mel corresponde ao que sobra do xarope após a sua desidratação até o patamar de 18%. A coluna "A evaporar" mostra quanta água deve ser retirada do xarope para que as abelhas possam armazená-lo com 18% de umidade. A tabela foi ajustada para volumes e pesos de ingredientes que fossem múltiplos de 0,5.
6.12 O que é açúcar invertido?
É um açúcar comum, sacarose, quebrado ("invertido") em açúcares mais simples, a frutose e a glicose. Há uma fórmula que se tornou popular no país, após a divulgação de alguns estudos de Sílvio Lengler, da UFSM. Trata-se de uma mistura de 5 kg de açúcar comum, 1,7 l de água e 5 g de ácido tartárico, tudo fervido por 40-50 min em fogo baixo [LEN99]. Eu tenho algumas reservas em relação a essa fórmula. Primeiro, ela consome muito tempo e combustível para ser feita. Segundo, há estudos que atestam que soluções de sacarose são mais atrativas para as abelhas do que as de frutose e glicose. Terceiro, é sabido que determinada concentração de HMF em xaropes, acima de 30 ppm, pode ser prejudicial às abelhas. Não conheço a concentração de HMF no açúcar invertido, mas o processo de obtenção sugere que ele deve estar presente.

Indagado a respeito disto, Lengler afirmou já estar ciente deste perigo e já ter corrigido a sua fórmula para que o tempo de fervura fosse, no máximo, 3 minutos. Segundo um pesquisador austríaco, esse tempo limitaria a formação de HMF a 30 ppm, evitando problemas para as abelhas [LEN03]. Permanece a minha dúvida se, nesse tempo, é possível de fato ocorrer a inversão de uma quantidade significativa de sacarose, ou se o resultado será quase idêntico a uma solução comum de sacarose em água.

Por outro lado, o açúcar invertido é mais resistente à fermentação que a solução se sacarose, e pode ser administrado em volumes maiores sem que se estrague antes de as abelhas poderem colhê-lo.
6.13 O que HMF?
É uma sigla que corresponde a hidroximetilfurfural, uma substância produzida pela desidratação da frutose em meio ácido, numa velocidade que varia diretamente com a temperatura. O mel (e muitos outros produtos comestíveis) possui HMF, e o seu nível elevado é um indicativo de superaquecimento (cada 10ºC a mais aumenta a velocidade de produção de HMF 4,5 vezes), longa estocagem ou falsificação.
6.14 Mel velho pode ser usado na alimentação artificial?
Depende. Se ele for estocado em temperaturas baixas, o nível de HMF deve permanecer baixo; caso contrário, o mel velho pode até matar o enxame. Na dúvida, não o utilize.
6.15 Como resolver o problema de fermentação do xarope?
De duas formas: a primeira, quimicamente, acrescentando um preservativo de alimentos. Por exemplo, sorbato de potássio (1 grama por litro de xarope) ou benzoato de sódio (1,5 gramas por litro de xarope). O açúcar invertido também é menos propenso à fermentação.

A segunda forma é deixando que as próprias abelhas cuidem disso, tal como cuidam do néctar. Para tanto, é preciso fornecer quantidades modestas de xarope de cada vez, em alimentadores individuais rápidos.
6.16 Deve-se acrescentar sal ao xarope?
Na minha opinião, não há porquê. Se o argumento é deixar o xarope mais parecido com o mel no seu conteúdo nutritivo, não é a adição que um único composto mineral que vai fazer alguma diferença. Por outro lado, se a quantidade de sal for grande, o xarope poderá matar o enxame. Por exemplo, uma proporção de apenas 0,125% (ou seja, 14 mg de sal em 10 litros de xarope a 30%) já pode causar disenteria e mortalidade nas abelhas [BAR77].
6.17 Como o xarope é fornecido?
Há vários tipos de alimentadores, coletivos e individuais. Os coletivos facilitam o fornecimento, mas provocam lutas e até pilhagens entre as colméias, se o alimentador não estiver a uma distância razoável do apiário. Também fornecem alimento a todos os insetos da região, além das suas abelhas. Como se não bastasse, os enxames fortes, que não precisariam de alimentação, serão os que coletarão mais xarope, em detrimento dos menores. Alguns apicultores ainda os usam, e até o recomendam, mas eu não os acho aceitáveis.

Já os alimentadores individuais atendem uma única colméia cada um, e são muito mais eficientes. Eles podem ser externos ou internos.
6.18 Por que os alimentadores coletivos provocam pilhagem?
Quando uma fonte de alimento é encontrada nas proximidades das colméias, especialmente em época de carência, há uma boa probabilidade de as abelhas começarem a pilhar umas às outras. A provável razão disso é que recursos muito próximos da colméia são comunicados através de uma dança circular, que não informa distância e direção [WIN03]. As abelhas que assistem à dança saem depois para fazer uma pesquisa nas imediações da colméia, e pode ocorrer de algumas acharem uma colméia vizinha bem provida antes da fonte de alimento comunicada.

Em pouco tempo, principalmente em apiários com colméias próximas, muitas delas, às vezes todas, tornam-se saqueadas e saqueadoras. Para o apicultor, é uma situação completamente indesejável, pois a morte de muitas abelhas, talvez de algum enxame mais fraco, é certa. No caso do alimentador coletivo, depois de algum tempo, dependendo da resistência nas colméias, ele pode acabar sendo conhecido por todas as campeiras, e a pilhagem acabará.

O mesmo problema ocorre com manejos demorados durante a entressafra e com a devolução de melgueiras após a extração de mel, especialmente quando deixadas ao ar livre.
6.19 Como são os alimentadores individuais externos?
Os alimentadores de alvado são, em geral, menores e mais sujeitos a saque, por ficarem mais expostos, mas são mais fáceis de fornecer às abelhas, pois não exigem a abertura da colméia.

O alimentador Boardman é o mais conhecido, um vidro com tampa furada que se encaixa e pinga sobre uma plataforma de madeira encaixada no alvado. As abelhas da colméia têm acesso privilegiado ao xarope, mas muitos saques ocorrem assim mesmo. Como os furos têm de ser pequenos, para que o xarope não saia mais rapidamente do que as abelhas podem colhê-lo, o Boardman acaba sendo um alimentador lento, que assim favorece ainda mais o saque e a fermentação do xarope. Hoje, existem plataformas que suportam uma garrafa PET de 2 litros.

Um modelo modificado do Boardman tem um desempenho melhor. Ao contrário de pingar sobre uma superfície de madeira, ele tem a saída de xarope mergulhada num cocho raso, como um bebedouro de aves. Isso evita o escorrimento do xarope e acelera o seu consumo pelas abelhas.

Para mim, o melhor modelo de alimentador de alvado é o cocho. A Apivac, Associação de Apicultores do Vale do Carangola (MG), comercializa um desses alimentadores, feito em ABS. Trata-se de um recipiente que fica pendurado à frente do alvado, preso por um suporte metálico facilmente adaptável. Sobre a boca do alimentador, corre uma tampa que forma um túnel de acesso ao alimento. Dentro do cocho, há um flutuador para as abelhas não se afogarem, mas isso não é suficiente: as paredes devem ser lixadas internamente, com lixa grossa, para que elas possam subir sem dificuldade. O cocho admite cerca de 1,5 litro e é esvaziado em poucas horas por um enxame médio. Quando carregado no final da tarde, ele é encontrado vazio pela manhã, evitando quase completamente o saque. A sua recarga é muito rápida, bastando levantar a tampa e despejar o xarope. Mesmo que haja abelhas lá dentro, elas não se afogarão se o flutuador estiver presente e as paredes bem lixadas.
6.20 Como são os alimentadores internos?
Há dois tipos principais. Um é o Doolittle, um cocho estreito, que substitui um quadro da colméia. Não é muito prático porque a sua colocação envolve manipulação do ninho, o que, além de trabalhoso, pode ser prejudicial às abelhas quando a temperatura é muito baixa.

O outro modelo é o de cobertura. É um recipiente de mesmas dimensões que as caixas, apenas mais baixo, e é colocado sobre elas. As abelhas entram no alimentador para remover o xarope por dentro da colméia, o que não dá muita margem a saques. É um alimentador rápido pela sua construção, mas que geralmente aceita volumes grandes de xarope, que pode fermentar se não for quimicamente tratado. Também é um alimentador que, freqüentemente, não chama a atenção das abelhas e pode ser rejeitado. Dependendo da sua construção, também pode provocar grande mortandade por afogamento.
6.21 E os alimentadores de balde?
Estes podem ser internos ou externos. Trata-se de alternativa barata ao alimentador de cobertura, e é feito com um recipiente plástico furado, como um balde de mel de 5 kg. Ele pode ser apoiado numa entretampa furada (veja o item 2.37) e colocado dentro da colméia, protegido por um ninho vazio, ou fora, devidamente imobilizado para não voar com o vento.

Para construí-lo, basta fazer alguns furos na tampa com uma agulha incandescente. Depois, o balde deve ser emborcado sobre os quadros do ninho (apoiado em sarrafos ou na entretampa). Ao emborcar o balde, é possível que o xarope escorra por alguns instantes; por esta razão, é recomendável que ele seja comprimido antes de ser virado (para expulsão de uma parte do ar) ou que seja virado longe da colméia, para não encharcar as abelhas nem provocar saques.

Há variações deste modelo, inclusive usando garrafas PET.
6.22 O "mel" produzido com essa alimentação pode ser consumido?
O que as abelhas produzem com essa alimentação é um produto útil para elas, mas não é mel. Se for produzido higienicamente, sem aditivos tóxicos, ele pode ser consumido pelas pessoas, mas o seu sabor pouco lembrará o de algum mel legítimo. Aliás, esse produto é popularmente chamado de "mel expresso" e é eventualmente usado para incrementar a produção de forma fraudulenta.
6.23 Quando deve ser fornecida a alimentação protéica?
Em relação à alimentação protéica (substituição do pólen), geralmente não se diferencia subsistência de estímulo, exceto em relação à quantidade fornecida. Durante a entressafra, o consumo protéico normalmente é menor, pois poucas ou nenhuma cria está sendo gerada. No entanto, quando o enxame começa a se desenvolver, por estímulo artificial ou natural, a escassez de pólen pode ser um fator limitante, causando um grande atraso no aumento populacional. Se não houver fonte de proteína disponível, nenhum tipo de estimulação à base de xarope funcionará, pois as abelhas jovens não terão como produzir as substâncias nutritivas para alimentar as crias e a rainha.

Uma outra situação em que a alimentação protéica é obrigatória ocorre quando há uma florada de pólen tóxico na região. Um exemplo disso é a floração do barbatimão e do falso-barbatimão (Stryphnodendron spp. e Dimorphandra mollis), comum principalmente na região Sudeste [CIN02]. As flores dessas plantas produzem pólen tóxico, que causa alta mortalidade nas crias da colméia. Nesse caso, o recomendado é que a alimentação protéica inicie pelo menos 15 dias antes da florada, e seja mantida durante todo o seu período.
6.24 Como é a alimentação protéica?
Diversas fórmulas já foram testadas, com misturas em proporções variadas de farinha de soja, de milho e de trigo, levedo de cerveja, pólen, leite em pó. Atualmente, há duas fórmulas populares disponíveis comercialmente: a farinha, da Apivac, e o Pólemel (o acento extravagante é de responsabilidade do fabricante - a Avesul).

Ambos têm boa reputação, embora suspeite-se de que o Pólemel poderia ter a sua fórmula melhorada, se o fabricante suprimisse a lactose da sua composição. Este açúcar, encontrado no leite, é freqüentemente citado na literatura com tóxico para as abelhas. Por outro lado, a farinha da Apivac me parece ser menos atrativa para as abelhas do que o Pólemel.
6.25 Como a alimentação protéica é fornecida? [2]
Em alimentadores internos ou coletivos. Os internos devem ser de cobertura, de forma que o produto fique o mais próximo possível das crias. O Pólemel é fornecido no próprio saco em que é vendido, aberto (uma janela grande, na face superior do saco) e deve ser deixado próximo à área de cria, diretamente sobre os quadros do ninho ou logo abaixo deles. Para deixá-lo sobre os quadros, é preciso colocar sobre o ninho um "extensor", que pode ser um quadro feito com sarrafos de 1 x 2 cm, ou uma entretampa, ou até uma tela excluidora, dependendo do tipo de moldura usado, pois normalmente não há espaço suficiente.

Mas uma maneira muito mais rápida e menos estressante para as abelhas é fornecê-lo pelo alvado. Para isso, deve-se usar o lado alto do fundo reversível, ou aumentar a altura das suas paredes com sarrafos, até que o saco possa ser introduzido pelo alvado. Caso as abelhas depositem própolis nessa entrada, basta removê-la com a ajuda do formão. Outra alternativa é levantar a colméia inteira pelo alvado, usando o formão como alavanca, introduzir o saco de Pólemel, e baixá-la novamente (antes, porém, deve-se usar um pouco de fumaça para afastar as abelhas do fundo da colméia e evitar esmagamentos).

Um detalhe importante é que, se o Pólemel for posto longe dos quadros de cria (num alimentador de cobertura, por exemplo), há uma boa probabilidade de as abelhas rejeitarem-no.

Já a Apivac recomenda o fornecimento da sua farinha num alimentador coletivo, cujo modelo ela explica a quem quiser fazê-lo ou vende a quem preferir comprá-lo pronto.
7. Enxames e Rainhas
7.1 Como se movimenta uma colméia para um lugar próximo?
Este pode ser um problema mais complicado do que parece à primeira vista. Acontece que as abelhas campeiras memorizam a localização da sua colméia, e quando ela é movida, as abelhas não aprendem imediatamente a nova localização. Como resultado, muitas campeiras (talvez a grande maioria), ao saírem da colméia recém movida, acabam voltando ao local original e perdendo-se.

Para evitar esse problema, há duas soluções eficazes: mover a colméia para longe, esperar duas semanas, e movê-la de volta ao local definitivo. Durante esse tempo, pelo menos a maioria das campeiras já morreu ou esqueceu seus pontos de referência, e não voltará ao local original.

Outra solução é mover a colméia cerca de um metro de cada vez, com a freqüência possível para o apicultor (1, 2, 3 vezes por semana, etc.) Com isso, as abelhas nunca chegam a se perder, pois conseguem identificar sem problemas a sua colméia, se ela estiver muito próxima do local original. Para usar esse método, um cavalete móvel é muito útil.

Uma outra solução recomendada por alguns é garantir a ventilação da colméia com uma tela, e fechar completamente o alvado com palha ou serragem molhada, para que as abelhas percebam a mudança. Infelizmente, tão freqüente quanto a recomendação dessa técnica são os relatos do seu insucesso.

Quando a colméia a ser movida para um local próximo tiver sido ocupada recentemente por um enxame voador, haverá dois momentos bons para movê-la diretamente para o local definitivo – na primeira noite e por volta do 30º dia (veja item 3.25).
7.2 O que fazer com as campeiras que voltam ao local de origem?
Quando não há alternativa para a movimentação curta de uma colméia, pode-se tentar um reaproveitamento das campeiras perdidas. Para isso, é preciso recolhê-las em um núcleo durante o dia e sacudi-las à tardinha na colméia deslocada. Há relatos de apicultores que repetiram esse procedimento por poucos dias, e as campeiras não retornaram mais ao local original.
7.3 A partir de que distância as abelhas não voltam mais ao local original?
Considerando-se a distância de vôo útil de 1,5 km, o transporte da colméia para além de 3 km não deve produzir um retorno significativo de campeiras.
7.4 Como se movimenta uma colméia para um lugar distante?
Distâncias grandes, que requerem o uso de um veículo, exigem a fixação das partes móveis da colméia e uma boa ventilação para as abelhas. A fixação pode ser feita com sarrafos e pregos ou grampos, de forma que nenhuma caixa, fundo ou tampa deslize sobre os demais. As melgueiras devem ser removidas, especialmente se tiverem mel, pois este pode vazar e afogar as abelhas. Para segurar somente a tampa, um elástico desses de prender carga em motocicleta (extensor) pode resolver.

A ventilação pode ser proporcionada por uma tela de alvado de escape invertido, se o tempo total for pequeno (2 a 4 horas, no máximo) e a temperatura não for muito alta, ou por uma tela plástica fixada no lugar da tampa. Eu prefiro montar a tela numa moldura e depois pregar a moldura na caixa. Apicultores de Santa Catarina, que trabalham com polinização de macieiras, relatam que o uso de escape invertido dispensa completamente a tela superior, desde que as caixas sejam alinhadas no sentido da carroceria do caminhão, isto é, com os alvados virados para a frente, de forma a melhorar a ventilação.

A colméia deve ser fechada para transporte no momento em que o mínimo de campeiras estiver fora. Isso pode se dar ao anoitecer ou mesmo durante o dia, com uso da tela de alvado com escape invertido, cerca de 1h30min após a sua colocação.

As colméias não podem ficar em ambiente quente demais. O vento, durante o deslocamento, também pode matar as crias e até as adultas. Quadros com muito mel podem se quebrar e causar o afogamento das abelhas. Muita vibração e quadros soltos podem causar o seu esmagamento.

Como os movimentos horizontais mais bruscos e freqüentes ocorrem na direção do deslocamento, por acelerações e freadas, recomenda-se que as colméias sejam alinhas da mesma forma. Em outras palavras, o lado mais comprido das colméias deve ficar paralelo à lateral, com o alvado voltado para a frente ou para os fundos do veículo. Dessa forma, os favos dificilmente sofrerão o movimento de pêndulo, que pode ser fatal para muitas abelhas e para a rainha.
7.5 Como se faz a divisão de um enxame?
Há várias técnicas. A idéia básica é, a partir de uma colméia, formar duas ou três menores. Um critério possível é o do equilíbrio das colméias resultantes, que é obtido pela divisão aproximadamente justa das quantidades de cria, pólen e operárias. Os quadros são separados de acordo com o seu conteúdo e postos em outras caixas. As novas colméias são depois completadas com outros quadros, com lâmina de cera, favos vazios ou favos com cria, mel ou pólen de outras colméias. Os seus alvados devem ser diminuídos ao máximo.

Se uma das colméias for movida para um local próximo, ela deverá ficar com o mínimo de mel possível, dando preferência ao que estiver operculado. Isso vai diminuir a possibilidade de saque pelas ex-companheiras. Após alguns dias, essa colméia (e a outra também, se necessário) deve receber alimentação, em alimentador interno ou externo de consumo rápido. Para dificultar a pilhagem, o xarope deve ser fornecido à noite e em pequenas quantidades. Alimentação protéica também é muito importante nessa fase.
7.6 O que fazer com a rainha numa divisão?
Uma prática recomendável é capturar a rainha antes de se proceder à divisão, tanto para protegê-la quanto para reintroduzi-la numa colméia certa. Quando o enxame é muito grande e a identificação da rainha é muito difícil, pode-se usar o seguinte método para dividir uma colméia em duas:

1. Se houver melgueiras, deve-se removê-las, cuidando para que a rainha não esteja nelas. Deixá-las fechadas por enquanto;
2. Tirar metade os quadros do ninho original e transportá-los, sem abelhas, para o novo ninho;
3. Completar os dois ninhos com novos quadros;
4. Pôr uma tela excluidora sobre o ninho original e o ninho novo sobre a tela excluidora;
5. Fechar a colméia e aguardar algum tempo (630 minutos).
6. Remover o ninho superior e formar com ele a nova colméia (está será a colméia sem rainha).
7. Redistribuir as melgueiras e mover a nova colméia ao seu local de destino. Cuidado neste ponto: o enxame movido pode tornar-se alvo de pilhagem severa, com as abelhas tentando levar o seu mel de volta ao local de origem. Uma saída possível é manter as duas colméias lado a lado, de forma que as campeiras confundam os alvados.

Na nova colméia, o apicultor pode introduzir uma rainha nova, ou deixá-la com cria e provisões suficientes para que possa produzir a sua. Caso ele opte pela produção natural de rainha, e se a separação das duas colméias resultantes for pequena, a colméia órfã provavelmente ficará melhor no local original, abastecida por todas as campeiras. A colméia com a rainha antiga perderá as campeiras, mas terá capacidade quase imediata de reposição.
7.7 O que fazer se houver saque entre as colméias?
Este problema é especialmente grave no final das safras, quando as populações estão fortes, mas não há mais néctar para colher. Nesse caso, um simples manejo mais demorado pode levar todas as colméias a entrarem em conflito. Isso ocorre porque abelhas de todas as colméias descobrem as provisões da colméia vítima e avisam as suas parceiras. No entanto, como a comunicação das abelhas não é muito precisa, as colegas tentam recolher qualquer possível fonte de mel nas imediações, o que inclui as colméias que não haviam sido abertas. Como resultado, têm-se todas as colméias tentando saquear quase todas as demais. Eventualmente, as mais fracas acabam sucumbindo.

Uma vez iniciado o saque, pará-lo é muito difícil. Quando o enxame é pequeno e suas provisões são grandes (pode acontecer com colméias sem rainha há bastante tempo), a destruição do enxame é quase certa. Fechar a colméia imediatamente e carregá-la para mais de 3 km pode ser a única saída.

Temporariamente, a pilhagem pode ser interrompida com o uso de escapes invertidos em todas as demais colméias do apiário, mas essa é uma solução emergencial, apenas para dar tempo ao apicultor realizar outros procedimentos. Quando os escapes forem retirados, se tudo permanecer como antes, o saque recomeçará.

Uma tentativa que pode funcionar para enxames médios ou grandes que estejam sob ataque é a fumegação pesada. O apicultor deve postar-se ao lado da colméia e fumegar abundantemente a região frontal ao alvado, sem deixar a fumaça entrar na colméia. Isso deve ser feito por vários minutos, sempre tentando repelir as saqueadoras, até que o movimento diminua bastante. Depois disso, muitas vezes o enxame agredido consegue se reorganizar e acabar com a pilhagem.

O melhor é sempre evitar a pilhagem, reduzindo o tempo de manejo ao máximo nas entressafras. Quando isso não for possível (no caso de troca de rainhas, por exemplo), podem-se colocar escapes invertidos em todas as colméias, aguardar algum tempo e só depois iniciar o manejo, tornando a colocar os escapes nas caixas já manipuladas e só retirando todos ao final do procedimento.

Um dispositivo freqüentemente recomendado na literatura é a tela anti-pilhagem, que é colocada à frente do alvado para enganar as abelhas saqueadoras. A entrada é por cima da tela, mas só as moradoras locais, já acostumadas, se dão conta. As saqueadoras tentem por algum tempo e depois desistem. Eu não tenho experiência com o uso desta tela e nunca consegui encontrar algum apicultor que a usasse e tivesse alguma opinião a respeito.
7.8 Para que serve uma união de enxames? [3]
Enxames são unidos, principalmente em duas ocasiões: por necessidade, quando um deles está fraco demais ou perdeu a rainha (e a chance de produzir uma nova), ou para aumento de produção.

Pelo menos em tese, um enxame grande deve produzir mais do que dois médios. A razão disso é que cada colméia requer um determinado número de operárias para trabalhos internos, que não varia muito com o aumento da população. Numa união, é como se todas as operárias ocupadas com o trabalho interno de uma das colméias fosse liberada para a coleta. É uma quantidade muito significativa: numa colméia de 15.000 a 30.000 abelhas, entre 60 e 80% da população (11 a 18 mil indivíduos) cuida dos trabalhos internos. Numa colméia de 60.000 abelhas essa quantidade se mantém, mas se torna muito menos significativa percentualmente (20 a 30%) [AMB92].
7.9 Então é melhor unir o máximo possível de enxames?
Em tese sim, mas é preciso tomar alguns cuidados. Uma união que resulte num enxame grande demais pode acarretar dois problemas: dificuldade de manejo para o apicultor e aumento do risco de enxameação (pela desagregação for falta de feromônio de rainha em quantidade suficiente). Na prática, talvez o melhor seja unir cada 3 ou 4 enxames pequenos, e cada 2 médios.
7.10 Qual é o melhor momento para fazer-se a união? [3]
Em caso de necessidade, a qualquer momento. Para aumento da produção, o melhor é no início de uma grande florada.

Uniões durante a entressafra só devem ser feitas para salvar algum enxame sem rainha ou pequeno demais. Os enxames muito pequenos às vezes demoram demais a se desenvolver, mesmo quando bem alimentados. Provavelmente, a pequena quantidade de operárias seja um fator limitante para o cuidado e o aquecimento da cria, impedindo uma postura abundante da rainha, ou inviabilizando o seu desenvolvimento. Isso acontece muitas vezes com enxames resultantes de divisões de outros; no entanto, enxames capturados (de enxameações naturais) muitas vezes não apresentam a mesma dificuldade de desenvolvimento, mesmo quando pequenos. É possível que essa diferença seja explicável pelo fato de que as enxameações naturais priorizam o abandono das abelhas mais jovens e, portanto, mais aptas a cuidar das crias.

Fora essas duas situações (enxames muito pequenos ou sem rainha), não há nenhuma vantagem em se fazer uniões na entressafra. Ao contrário, quanto mais enxames houver, maior será o número de rainhas no apiário e maior será a quantidade de cria disponível no início da próxima safra. Só então, quando a postura de todas as rainhas tiver sido estimulada com alimentação energética e protéica, e houver bastante néctar disponível, podem-se unir todos os enxames pequenos e médios e preservar os que conseguiram crescer o suficiente para garantir uma boa colheita.
7.11 Como unir os enxames sem diminuir o número de colméias?
Durante o período de safra, um apiário menor e mais produtivo é mais vantajoso sob os aspectos de rendimento e mão-de-obra empregada. No entanto, é importante que o apicultor consiga repor pelo menos o mesmo número de enxames que foram subtraídos do apiário pelas uniões. Para isso, há duas alternativas.

Primeiro, a divisão ao final da safra. Todas as colméias fortes podem ser divididas, de forma a manter a lotação original do apiário. Nesse momento, podem ser adquiridas boas rainhas para os novos enxames. No entanto, é preciso ficar atento para o fato que no final da safra, freqüentemente é difícil encontrar rainhas à venda, especialmente se na sua região a safra é um pouco atrasada em relação às demais. Por outro lado, divisões de enxames que não sejam muito grandes podem resultar em frustração. Isso ocorrerá se os enxames resultantes forem muito pequenos, de modo que possam abandonar a colméia ou demorarem demais a se recuperar, mesmo sendo alimentados abundantemente,

Outra forma, na minha opinião muito melhor, é compensar as perdas das uniões com capturas de enxames, instalados na natureza ou com caixas-isca. Isso é preferível porque, ao mesmo tempo em que preserva a força de todos os seus enxames, ainda remove enxames da natureza que posteriormente fariam concorrência aos seus. Além disso, é comum conseguir-se capturas durante a safra, num período de maior disponibilidade para aquisição de rainhas. Outra razão é que enxames capturados em caixas-isca freqüentemente se desenvolvem muito melhor e mais rapidamente do que aqueles produzidos por divisão.

Na prática, podem-se combinar as duas formas acima, quando as capturas não ocorrerem em quantidade suficiente. Trabalhando dessa forma, teremos um apiário do tipo "sanfona", com mais colméias na entressafra e menos colméias na safra.
7.12 Qual é o roteiro de um apiário "sanfona"?
· No início da safra (florada grande e duradoura), unir os enxames segundo o critério de tamanho: 2 médios, 3 ou 4 fracos, tentando equilibrar a força dos enxames resultantes e preservar as rainhas melhores e/ou mais jovens.
· Também no início da safra, preparar e distribuir as caixas-isca para as capturas.
· À medida que as capturas forem ocorrendo, as novas colméias podem ser colocadas ao lado das produtivas, em suporte ou cavalete duplo. Isso facilitará bastante uma eventual união no futuro.
· Aos poucos, as colméias capturadas poderão ter as suas rainhas substituídas por outras adquiridas de um bom produtor.
· No final da safra, após a última colheita, é hora de fazer as divisões (apenas as possíveis e necessárias), substituir as rainhas do restante das colméias novas e providenciar alimentação para todas as colméias que precisarem. (Note que apenas as colméias novas recebem rainhas novas). Muito cuidado com o manejo neste momento: é o período crítico para pilhagem das abelhas (veja o item 7.7).
· Durante a entressafra, as colméias devem ser mantidas bem alimentadas. Dois meses antes da nova safra, as colméias (pelo menos as menores) devem receber alimentação estimulante, energética e protéica.
· No início da próxima safra, recomeça o ciclo.
7.13 Mas, afinal, como se faz uma união?
A união é um procedimento relativamente simples:

· Primeiro, abra a colméia com a rainha mais antiga ou mais fraca. Se houver melgueiras, ponha-as de lado, fechadas e com o mínimo de abelhas dentro. Cuidado para a rainha não ficar numa delas.
· Elimine a rainha e feche a colméia.
· Faça o mesmo em todas as colméias com rainhas antigas ou fracas.
· Mais para o final da tarde, reabra estas colméias e cubra-as com uma folha de jornal. Alguns apicultores preferem usar um sanduíche de jornal e mel, mas eu não vejo vantagem. Pelo contrário, mel com tinta de jornal não parece muito apropriado para as abelhas.
· Em seguida, sobre cada uma destas colméias orfanadas, coloque uma colméia que possui rainha nova, e, sobre esta, as melgueiras retiradas no início.
· Aguarde uma semana e faça um rearranjo nos ninhos, de forma a deixá-los prontos para a safra.

Quando o apicultor trabalha rotineiramente com união de enxames, suportes ou cavaletes duplos facilitam muito o trabalho, já que as colméias unidas já estarão lado a lado. Além disso, evitam a perda de campeiras, pois as da colméia deslocada entrarão automaticamente na colméia unida.
7.14 Com quantos ninhos deve ficar uma colméia?
Tratando-se de ninho Langstroth normal, com altura de 24 cm, e considerando o uso de melgueiras para a colocação de mel (quem só usa ninho e sobreninho não se preocupa com esse problema), há duas correntes de pensamento. Uma delas prega o uso de dois ninhos. Os argumentos a favor desta idéia incluem um espaço amplo para a rainha e um controle de enxameação mais simples, pela reversão dos ninhos (passando o de cima para baixo).

A outra corrente recomenda o uso de apenas um ninho. A idéia aqui é simplificar o manejo, usando uma caixa a menos. Ao mesmo tempo, a probabilidade de as operárias depositarem mel nas melgueiras durante um fluxo de néctar não muito grande, especialmente quando se usa tela excluidora, parece ser maior quando apenas um ninho é usado.

A minha opção é por um único ninho. A idéia de a rainha precisar de dois ninhos inteiros para a postura é discutível. Considere, por exemplo, uma excelente rainha, que chegue à média de postura de 2.500 ovos por dia durante a safra. Se cada favo de ninho receber 5 mil ovos em média (cada um possui 7 mil alvéolos), o máximo possível de cria aberta e fechada da colméia ocupará apenas dez quadros (porque o ciclo médio de desenvolvimento das africanizadas é de 20 dias), ou seja, um único ninho. Na prática, situações como esta são bastante raras, e dificilmente uma colméia chega a dez quadros de cria por si só.

Por outro lado, quando o manejo é cuidadoso, com troca freqüente de rainha e alimentação estimulante, ou quando a florada é intensa e longa, o enxame pode se desenvolver muito. Neste caso, a intensa atividade durante a safra pode provocar a ocupação de vários favos do ninho com mel e pólen, forçando a postura da rainha em caixas superiores (ou a enxameação, caso não haja espaço disponível). Embora isso dê a muitos apicultores a falsa impressão de uma postura excepcional, a conclusão é a mesma para as duas interpretações: se a rainha for confinada a um único ninho (por uma tela excluidora), a probabilidade de enxameação aumenta muito.

Assim, quando se usa um só ninho, é importante não colocar a tela excluidora diretamente sobre ele. Os apicultores que não usam a tela freqüentemente tem cria na primeira melgueira, e passam a considerá-la como parte do ninho (pelo menos os quadros com cria, já que os demais podem ser colhidos normalmente). Quem usa a tela, pode colocá-la acima da primeira melgueira, com razoável segurança de que não faltará espaço para a postura.
7.15 O que fazer com um ninho bloqueado por mel?
Algumas vezes, as próprias abelhas tratam de transferir às melgueiras o mel ali armazenado, se houver espaço disponível e, especialmente, se a rainha não puder usar os favos logo acima do ninho, pela presença de tela excluidora ou favos de mel operculados. Também por essa razão, é importante que o apicultor remova os favos que estiverem cheios de alimentação artificial no início da safra, ou ela pode acabar nas melgueiras colocadas posteriormente.

De qualquer forma, embora não seja aconselhável perturbar as abelhas durante a safra, o apicultor pode aliviar o bloqueio por mel de um ninho. Para isso, os favos devem ser removidos, centrifugados e devolvidos à colméia, de preferência um a cada 3 dias ou mais. Isso abre espaço para a rainha e é preferível à simples troca de um favo com mel por um quadro com cera alveolada, pois as abelhas iniciam a deposição de néctar nos alvéolos logo que eles começam a ser puxados, antes que a rainha possa efetuar a postura. Contrariamente, quando é fornecido um favo puxado, a rainha pode usá-lo imediatamente, e garantir o seu espaço (não significa que vá fazê-lo de fato, mas as chances são maiores). Se muitos favos puxados forem fornecidos de uma só vez, a rainha possivelmente não terá tempo de apossar-se de todos antes que a deposição de néctar inicie.

Uma outra técnica interessante é a reversão de caixas. Uma vez que a rainha esteja fazendo a maior parte da postura na caixa superior, esta pode ser trocada de lugar com o ninho (mesmo sendo uma melgueira). Neste caso, porém, é preciso verificar se o ninho possui espaço para postura, e não apenas mel operculado, o que funcionaria como uma forte barreira para a rainha voltar a usá-lo.
7.16 Como reforçar uma colméia com cria sem uni-la a outra?
É preciso retirar quadros com cria de algumas colméias e colocá-los na colméia necessitada. Alguns apicultores, ao invés de apenas estimular os enxames ou uni-los, adotam a tática de manter colméias criadeiras e colméias produtivas. As colméias produtivas recebem cria das outras, aumentando rapidamente a sua população e, dessa forma, a sua produtividade.
7.17 Como é uma colméia criadeira?
É uma colméia da qual não se obtém nada a não ser crias. Ela deve ter uma boa rainha e receber farta alimentação energética e protéica, inclusive durante a safra. Nessas condições, ela é capaz de gerar pelo menos dois quadros completos de cria por semana (cerca de 12 a 14 mil crias). Quando a cria está madura, prestes a nascer, uma parte é transferida para outro enxame (produtor), e outra parte é deixada na colméia criadeira para reposição das abelhas que forem morrendo. A cria aberta não deve ser transferida, para não sobrecarregar a colméia produtiva com mais trabalho.
7.18 Como evitar a enxameação?[2]
Não existe método garantido. Há diversos deles propostos na literatura, alguns bastante complicados, quase todos exigindo verificação muito freqüente da colméia para a destruição de realeiras e ampliação do espaço de postura e armazenagem de mel. Às vezes, parece preferível ter algumas enxameações no apiário do que usar um desses métodos propostos.

Uma boa prevenção me parece o único caminho aceitável contra a enxameação. A troca anual de rainhas é um procedimento que ajuda a evitá-la, além de contribuir para uma maior produtividade do enxame. A manutenção de espaço de sobra na colméia, tanto para a postura quanto para a armazenagem de mel, desde o início da safra, também é uma boa prática. Também o são os manejos rápidos e infreqüentes e a manutenção das colméias com boa ventilação e em ambiente sombreado (ou com telhados amplos, de cor clara). Quando todos esses elementos estiverem presentes, a enxameação ainda será possível, mas ela provavelmente ocorrerá mais tarde, permitindo que o enxame armazene mel suficiente para ser colhido pelo apicultor.
7.19 O que fazer se houver realeiras no enxame? [2]
Basicamente, há duas razões para haver realeiras no enxame: morte da rainha ou enxameação. No primeiro caso, as realeiras devem ser preservadas; no segundo, elas podem ser removidas se a rainha velha ainda está presente.

A inspeção dos favos pode ajudar a identificar a causa das realeiras. Muitas vezes (não sempre), um número grande de realeiras, localizadas nas bordas dos favos, são indícios de enxameação. Por oposição, poucas realeiras, localizadas nas faces dos favos, indicam reposição de rainha morta.

A esses sinais, deve-se acrescentar uma análise da cria. Rainhas prestes a enxamear param a postura por poucos dias. Portanto, realeiras fechadas com crias jovens podem indicar enxameação. Já realeiras fechadas e somente crias operculadas pode ser sinal de reposição de rainha.

De qualquer forma, é importante notar que a eliminação das realeiras na ausência da rainha velha (morta ou já enxameada) pode ser fatal para o enxame. O ideal, portanto, é que o apicultor sempre se certifique da presença da rainha antes de remover as realeiras.
7.20 O que fazer com as realeiras removidas? [2]
Elas podem ser destruídas ou, se forem procedentes de um bom enxame e estiverem operculadas, podem ser aproveitadas em outras colméias ou núcleos.

Se a decisão for pela destruição, as que estiverem desoperculadas poderão ser guardadas num recipiente limpo para que a geléia real seja retirada e consumida, (nem que seja para matar a curiosidade dos familiares e amigos).
7.21 Como aproveitar as realeiras em outras colméias? [2]
Realeiras retiradas de um enxame com boas características podem ser introduzidas em colméias previamente orfanadas ou núcleos criados para tal. No entanto, há um momento mais adequado para isso, que é por volta do décimo dia de construção da realeira, quando ela está fechada e a incubação ainda levará cerca de dois dias para se completar. Como o apicultor não pode estimar a idade de uma realeira "achada", o método não é muito garantido.

Por essa razão, a opção por núcleos pode ser mais interessante: se a introdução da realeira não der certo, o prejuízo com a perda de um núcleo é muito menor do que com a perda de uma colméia.

Para fazer um núcleo, pegue dois ou três quadros de cria em diferentes estágios e mais dois ou três quadros de provisões, todos com abelhas aderentes. Esses quadros podem ser procedentes de colônias diferentes, mas nenhum deles pode vir com a rainha. Os quadros serão postos numa caixa pequena (com volume de meio ninho) ou mesmo num ninho inteiro, dividido ao meio por uma tábua separadora.

Para fazer a introdução da realeira, tanto numa colméia orfanada quanto num núcleo, recorte-a cuidadosamente do quadro da colméia-mãe e fixe-a entre as barras superiores de dois quadros da caixa de destino, com o máximo cuidado para não danificar a realeira. Depois, feche o núcleo e não mexa nele por cerca de duas semanas. Dependendo das condições climáticas, durante esse tempo a princesa já deverá ter nascido e acasalado.

Antigamente, era recomendada a introdução da realeira num protetor do tipo "West", uma gaiolinha no formato de um cone de mola. Hoje, ele é considerado dispensável.
7.22 Por que a introdução de uma realeira pode não dar certo? [2]
Vários motivos podem impedir que de uma realeira resulte uma rainha fértil. O primeiro é pela inviabilidade da pupa, já que ela pode estar morta dentro da realeira, ou ter sido lesada durante a manipulação. Por esta razão, introduzir pelo menos duas realeiras em cada núcleo ou colméia pode ser uma boa idéia.

Outro motivo é a falta de zangões na região. Após uma entressafra relativamente longa, a probabilidade de haver zangões em alguma colméia próxima é muito pequena. Nesse caso, a princesa pode nascer saudável, mas não encontrar seus pares para acasalar.

Da mesma forma, condições climáticas muito adversas podem retardar bastante os vôos nupciais ou ocasionarem a morte da princesa.
7.23 Como se acha a rainha?
Com sorte ou muita paciência. O método principal é remover cada quadro e verificar cuidadosamente as duas faces. Lembre-se que a rainha tentará esconder-se no ponto mais escuro, num canto, talvez por baixo das operárias. Olhe algumas vezes as duas faces, não desista logo. Se achar que ela não está mesmo ali, devolva o quadro à colméia (ou, melhor ainda, ponha-o num ninho vazio, previamente colocado ao lado) e passe para o próximo quadro.

Um método mais drástico é peneirar as abelhas. Primeiro, desloque a colméia para o lado e ponha uma vazia no seu lugar. Remova os quadros do ninho antigo e examine cada um para tentar achar a rainha neste momento. Se não for possível, sacuda-o e passe-o para o novo ninho sem abelhas aderentes. Quando terminar, ponha sobre o novo ninho uma tela excluidora e, sobre esta, uma melgueira vazia. A seguir, despeje todas as abelhas do ninho original dentro dessa caixa vazia, de maneira que elas tenham de passar pela tela excluidora para chegar aos seus favos. Então, ponha fumaça para forçar a descida das operárias e tente achar a rainha, que deverá estar passeando sobre a tela excluidora ou numa parede da melgueira.

Outro método que às vezes dá resultado é pôr bastante fumaça no alvado, antes de abrir a colméia. Com isso, há uma boa chance de que a rainha afaste-se dele o máximo possível, e talvez você a encontre no lado de baixo da tampa, assim que abrir a colméia. Naturalmente, trata-se de um método condenável pelo próprio abuso de fumaça (veja item 4.10) e ele não funcionará se houver uma tela excluidora. Também é especialmente danoso se houver melgueiras, pois o mel pode ser contaminado pelo excesso de fumaça, e a rainha pode se esconder numa melgueira, ao invés de subir até a tampa.
7.24 Durante as revisões é preciso sempre enxergar a rainha?
Não. A presença da rainha pode ser percebida pela presença de ovos. Mesmo quando a postura cessa completamente na entressafra, o apicultor experiente pode perceber a presença da rainha pelo comportamento mais pacífico (menos agitado, para ser mais exato) das operárias. Na verdade, há muito poucas ocasiões em que realmente é necessário achar a rainha.
7.25 Quando se deve substituir a rainha? [2]
A melhor época de troca é dois a três meses antes da próxima safra, mas isso nem sempre é possível, já que muitos criadores de rainhas também passam por uma entressafra de produção. Se isso ocorrer, vale a pena procurar por produtores de outras regiões do país, já que a diversidade climática e as safras e entressafras são bastante distintas no Brasil.

Junto com a consideração de antecedência da próxima safra, outra que pode ser útil é o final da safra corrente. Como o fim de safra é uma ocasião de grande agitação na colméia, pela grande quantidade de abelhas presentes e pelo final do fluxo de néctar, muitas vezes é preferível esperar algum tempo (um mês, mais ou menos) para efetuar a troca da rainha. Assim, as populações serão menores, facilitando a manipulação das colméias e a procura pela rainha antiga.

Por outro lado, se o apicultor quiser fazer divisões das colméias, o ideal é aproveitar o momento de população máxima, que ocorre no final da safra. Embora a divisão não seja o método ideal para multiplicação de enxames, ele facilita grandemente a introdução de rainhas novas (veja o item 7.6).
7.26 Com que freqüência a rainha deve ser substituída? [2]
Uma recomendação comum é que ela seja trocada anualmente. A razão disso é que uma rainha jovem é mais produtiva e menos propensa a enxamear. Há quem troque as rainhas a cada seis meses e a cada dois anos ou mais, mas a periodicidade anual me parece ser a ideal, considerados os aspectos práticos e econômicos.

Num estudo citado em [SAN93], foi medida a produção de 36 colméias, metade delas com rainhas de um ano, metade com rainhas de dois anos. As colméias com rainhas mais jovens produziram quase 40% a mais de mel do que as mais velhas – 141 kg contra 102 kg, respectivamente.
7.27 Como substituir uma rainha?
De duas formas: adquirindo uma rainha de um fornecedor e introduzindo-a na colméia ou forçando as abelhas a produzirem uma nova. Para forçar as abelhas a produzir uma rainha, basta eliminar a antiga e deixar na colméia pelo menos um quadro com ovos e cria nova. Deixe a colméia fechada por 7 a 10 dias e depois verifique a presença de realeiras. Se não houver nenhuma fechada ou em desenvolvimento, forneça mais um quadro com cria nova ao enxame. Se falhar de novo, una o enxame a outro antes que ele se torne zanganeiro. Essa técnica de ser usada apenas quando houver zangões nas colméias, para garantir a fecundação da princesa.

Para adquirir uma rainha, entre em contato com um fornecedor com boas referências. Se não conhecer nenhum, pergunte em algum grupo de discussão. Alguns fornecedores recomendam a eliminação da rainha antiga com 24 a 48 horas de antecedência, para que as operárias percebam a sua ausência e aceitem melhor a nova. Outros, no entanto, não vêem utilidade nisso e recomendam a introdução da rainha nova no mesmo momento da eliminação da antiga, o que simplifica bastante a operação. Depois da introdução, a colméia deve permanecer fechada por uma semana, pelo menos.
7.28 Como as rainhas são vendidas? [2]
Salvo solicitação diferente, elas são vendidas fecundadas, testadas (já em postura), e marcadas na cor do ano. São enviadas pelo correio numa gaiola de transporte, junto com algumas operárias acompanhantes e uma porção de cândi.

Essa gaiola pode ser usada para se fazer a introdução, embora muitos manuais recomendem o uso de gaiolas de introdução específicas.
7.29 Como é uma gaiola de introdução? [2]
O modelo mais simples é um rolinho de tela metálica (ou um daqueles bobs de cabelo), fechado com madeira numa ponta e dois pedaços de jornal na outra, presos com um elástico. Na madeira, põem-se dois preguinhos, para pendurar o rolo entre dois quadros do ninho (que devem ser afastados um pouco um do outro). O jornal será roído aos poucos pelas operárias, dando tempo a que elas se conheçam antes da liberação definitiva da rainha.

Uma gaiola mais sofisticada é a Müller, que possui um ou dois túneis a serem preenchidos com cândi. Um túnel longo (às vezes o único) serve de saída para a rainha, assim que as abelhas removem todo o cândi. O túnel pequeno tem um estreitamento que não permite a saída da rainha, mas dá acesso mais rápido ao interior da gaiola para algumas operárias de cada vez. Supostamente, é uma gaiola com aceitação mais garantida da nova rainha (eu nunca percebi diferença), e especialmente recomendada no caso da introdução de uma rainha européia numa colméia africanizada.

A própria gaiola de transporte é o meio mais simples para fazer a introdução. De acordo com vários autores, as acompanhantes devem ser retiradas para a introdução. No entanto, diversos apicultores têm testado com sucesso a introdução da rainha junto com as acompanhantes na gaiola de transporte, o que representa uma boa economia de trabalho.

Quem prefere remover as acompanhantes só pode usar a gaiola de transporte se ela tiver malha larga, que permita que as abelhas da colméia possam alimentar a rainha através dos furos. O buraco por onde saíram as acompanhantes deve ser fechado com uma tampa (batoque), enquanto que o buraco que fica do lado do cândi deve ser liberado (cuidado para não esquecer dele, ou a rainha ficará presa).
7.30 Como as acompanhantes são retiradas da gaiola de transporte?
O melhor é fazer isso num ambiente fechado, a prova de abelhas. Assim, se alguma rainha sair voando, ela poderá ser recapturada.

Uma maneira relativamente eficiente é tirar a tampa da gaiola e sacudi-la com cuidado dentro de um saco plástico. Quando a rainha sair, segure-a gentilmente numa dobra do saco e sacuda o resto das acompanhantes. Depois, induza a rainha a entrar na gaiola de introdução.
7.31 Como a gaiola deve ser colocada na colméia? [2]
Uma recomendação comum é que ela seja pendurada entre dois quadros de cria, com cuidado para não obstruir os orifícios de ventilação e acesso ao cândi. Eu não gosto dessa forma porque ela exige a retirada (temporária) de um quadro do ninho ou o sacrifício de uma parte das crias, pela proximidade dos seus alvéolos com a gaiola.

A alternativa é deixar a gaiola deitada sobre as barras superiores dos quadros. Também aqui é preciso garantir que as demais abelhas terão acesso suficiente à tela, para alimentá-la (caso as abelhas acompanhantes tenham sido retiradas), e ao cândi, para libertá-la. Também é preciso providenciar um extensor para o ninho, de forma que a gaiola não seja esmagada pela tampa ou pela primeira melgueira (veja comentário sobre extensores no item 6.25). Alternativamente, a gaiola pode ser colocada no fundo da colméia, com a tela para cima, se houver espaço.
7.32 O que é "cor do ano"?
É a cor da tinta usada para pintar o tórax da rainha, para identificar o seu ano de nascimento (último dígito):

1 e 6 - branca
2 e 7 - amarela
3 e 8 - vermelha
4 e 9 - verde
5 e 0 - azul

É difícil imaginar uma utilidade real para isso. Talvez seja bom para algum apicultor com muitas colméias, que troque apenas uma parte das rainhas a cada ano e não registre quais colméias receberam rainhas novas. Situação meio rara, eu imagino. Na prática, a vantagem mesmo é que uma rainha pintada é mais fácil de ser encontrada do que uma não pintada.
7.33 Como as rainhas são produzidas para venda?
A produção de rainhas para venda é um campo bastante específico da apicultura, cheio de minúcias e conduzido por uma pequena parte dos apicultores. Apenas para dar uma idéia do processo (ou de um deles), aqui vão os detalhes básicos.

Primeiro, o apicultor seleciona as colméias que fornecerão as larvas segundo seus critérios preferidos - produtividade, mansidão, comportamento higiênico, tolerância a doenças, baixa tendência à enxameação, entre outros. Das colméias selecionadas, são extraídas larvas jovens, que são "enxertadas" em cúpulas. Essas cúpulas podem ser de plástico ou cera, e são fixadas em grupos (20, 30, 40, ...) num quadro modificado. Este quadro é colocado em seguida numa colméia forte, que pode ter sido previamente orfanada ou não, dependendo do método escolhido. Essa colméia, se alimentada abundantemente, conseguirá garantir o desenvolvimento de todas, ou quase todas as larvas enxertadas. Após cerca de dez dias do enxerto, as realeiras são distribuídas a núcleos (mini-colméias) previamente orfanados, onde as princesas nascerão, farão seus vôos nupciais e iniciarão a postura, para somente depois serem vendidas.
7.34 Quanto custa uma rainha?
Varia bastante de acordo com o fornecedor, mas fica entre 1 e 2 kg de mel, em média.
7.35 O que fazer se a rainha morrer?
Uma solução é adquirir outra rainha e tentar uma nova introdução. Outra possibilidade é deixar as próprias abelhas produzirem a sua rainha. Neste caso, deve haver um quadro com ovos e larvas jovens disponível, além de alimento suficiente (especialmente pólen ou um substituto).
7.36 O que fazer se o enxame ficar zanganeiro? [2]
Se a colméia não aceitar outra rainha ou não conseguir produzir uma nova, ela poderá tornar-se zanganeira. É sempre melhor intervir antes que isso aconteça, mas caso essa situação ocorra, há algumas tentativas que podem ser feitas. A introdução de uma nova rainha freqüentemente falha, mas pode ser tentada se houver disponibilidade de rainha.

Uma técnica possivelmente útil para enxames zanganeiros que ainda estejam fortes é sacudir todos os favos a uma boa distância do local original da colméia, para eliminar as poedeiras. Supostamente, por estarem mais pesadas e talvez desorientadas por dedicarem-se apenas à postura, elas não voltariam para a colméia. Depois, a colméia é remontada no local original, sem os favos de cria. Assim, apenas com as operárias normais, o enxame tem uma probabilidade maior de aceitar a rainha nova.

Outra idéia é a troca de lugar de uma colméia zanganeira com outra normal, forte. Nesse caso, é preciso remover os favos zanganeiros e acrescentar favos com postura boa e jovem, para que as operárias não zanganeiras, inclusive as da colméia normal que estarão entrando, produzam uma nova rainha.

No entanto, antes de se experimentar alguma forma de recuperação do enxame zanganeiro, é preciso avaliar a sua viabilidade. Enxames nessa situação, quando são encontrados, freqüentemente apresentam um número muito pequeno de operárias, muitas delas poedeiras, e não justificam esforços maiores na sua preservação individual. Além disso, nenhum desses métodos é garantido, o que valoriza ainda mais a ações preventivas para que a colméia não chegue a essa situação.

A opção, então, é a união da colméia zanganeira com uma normal, com a eliminação dos favos que estiverem cheios de ovos das operárias, para que não nasçam mais zangões. Mesmo que o número de campeiras da colméia zanganeira não seja muito grande, ao menos as provisões de mel, pólen e favos não serão perdidas.
7.37 O que fazer se o enxame morrer?
Se o enxame morrer ou abandonar a colméia, sobrará uma porção de favos cheios de crias e alimento. Em pouco tempo, estará tudo em processo de decomposição, atraindo uma porção de traças, formigas e forídeos (um tipo de mosca, muito pequena e rápida), que aproveitarão para ali depositar seus ovos e transformar tudo num cenário de filme de terror.

Nessa situação, há pouco a fazer. Remova a caixa logo. Lave e derreta os favos menos comprometidos. É possível derreter todos os favos, mas o processo será trabalhoso e, para os mais sensíveis, verdadeiramente nojento. Se você não se importar em ficar coando teias cheias de fezes e vermes cozidos, jogue tudo num latão com água quente. Caso contrário, enterre ou queime os favos em pior estado.

Depois, limpe bem as caixas, os quadros e os demais equipamentos atingidos.
8. O Mel e a Colheita
8.1 O que é o mel?
Segundo o Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA), do Ministério da Agricultura, mel é "o produto alimentício produzido pelas abelhas melíferas, a partir do néctar das flores ou das secreções procedentes de partes vivas das plantas ou de excreções de insetos sugadores de plantas que ficam sobre partes vivas de plantas, que as abelhas recolhem, transformam, combinam com substâncias específicas próprias, armazenam e deixam madurar nos favos da colméia".

Em outras palavras, é uma substância produzida pelas abelhas a partir de secreções de plantas (o néctar) ou de determinados insetos (o pseudonéctar) e da adição de algumas substâncias por elas mesmas produzidas (enzimas, por exemplo), desidratada e armazenada nos favos da colméia.
8.2 O que é o néctar?
Néctar é uma solução de açúcares (principalmente sacarose, glicose e frutose) em água em proporção que varia de 3 a 87%, embora grande parte dos néctares esteja na faixa de 30-40%. Ele contém ainda diversas outras substâncias complexas, em pequenas quantidades, que determinam o seu aroma, sabor e características nutritivas (e tóxicas, em alguns casos). O néctar é produzido no nectário, um órgão presente em muitas plantas, freqüentemente (mas não sempre) nas suas flores.
8.3 O néctar pode ser produzido fora das flores?
Sim, nos chamados nectários extraflorais. Enquanto os nectários florais ajudam na reprodução das plantas, atraindo insetos e outros animais que acabam acidentalmente polinizando as flores, acredita-se que os nectários extraflorais ajudem a proteger as plantas. Por exemplo, uma planta rasteira, quando carregada de formigas coletoras de néctar, tem menor probabilidade de ser consumida por algum animal herbívoro que passe por perto.
8.4 O que é melato?
Melato, também chamado de pseudonéctar, é uma substância doce produzido por alguns insetos que vivem em plantas, como cochonilhas e pulgões. Esses insetos sugam a seiva elaborada das plantas em busca de açúcar e quanto o tem em abundância, excretam o excesso. No Brasil, a norma vigente considera melato também o néctar extrafloral, embora os textos clássicos tendam a diferenciar uma coisa de outra.

O mel de melato é normalmente mais escuro e menos ácido do que o mel de néctar, e possui menos frutose e glicose e mais maltose e outros açúcares complexos. Em alguns lugares, especialmente na Europa, o mel de melato é muito valorizado; em outros, porém, ele é considerado de segunda linha.
8.5 Quando o mel está pronto para ser colhido?
Assim que o favo for operculado, o mel estará "maduro" para ser colhido. Antes disso, ele é chamado de mel "verde", significando que a sua umidade ainda está muito alta. Como a operação de colheita é trabalhosa, os apicultores muitas vezes preferem esperar o final da safra para fazê-la de uma única vez, mas nada impede que o mel seja colhido aos poucos.

Aliás, a permanência do mel na colméia por longo tempo pode levar à sua reidratação, pois o mel é um produto altamente higroscópico, isto é, ele tende a absorver água rapidamente quando exposto a um ambiente úmido. Esse fenômeno pode acontecer mesmo com mel totalmente operculado, pois a cera é permeável à umidade.
8.6 Por que a umidade é ruim para o mel?
Um alto percentual de umidade favorece a fermentação do mel, inutilizando-o para o consumo.
8.7 Qual é o percentual de umidade seguro para o mel?
Um percentual de 17% é tido como muito seguro [CRA83]. Até 19%, o mel é razoavelmente seguro, a partir daí o risco de fermentação começa a ser significativo. O Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade do Mel, do MAPA/SDA/DIPOA, admite umidade máxima de 20%. As diretrizes do IBD (Instituto Biodinâmico) para mel orgânico admitem, no máximo, 18% de umidade.
8.8 Como é medida a umidade do mel?
Com um instrumento chamado refratômetro. No entanto, esse controle geralmente é feito apenas por grandes compradores (entrepostos, exportadores) e não pelos próprios apicultores.
8.9 Como retirar umidade do mel?
Há desumidificadores disponíveis no mercado, mas eles são destinados a grandes produtores ou entrepostos. Para pequenas quantidades de mel, alguns apicultores recomendam a manutenção das melgueiras num ambiente seco por um dia ou dois antes do seu processamento.

Para remover umidade do ambiente, pode-se usar um desumidificador doméstico ou, se a temperatura for baixa, até um aquecedor de banheiro, destes com resistência elétrica e ventilador, pode ser muito eficiente. Um higrômetro comum pode ser usado para medir a umidade do ambiente. A tabela abaixo, extraída de [CRA83], mostra os valores de equilíbrio de umidade, quando o mel é deixado exposto por tempo suficiente (URA = umidade relativa do ar, UM = umidade do mel).

URA (%) UM (%)
50 15,9
55 16,8
60 18,3
65 20,9
70 24,2
75 28,3
80 33,1

O tempo de chegada ao ponto de equilíbrio depende muito da superfície do mel que está exposta e da sua agitação. Quanto maior for a superfície, mais rapidamente esse equilíbrio será atingido. Por outro lado, se o mel estiver em repouso e a umidade do ar for muito baixa, a desidratação rápida da sua superfície pode formar uma crosta isolante, o que atrasará bastante a continuação do processo.

Uma suspeita (desconheço algum estudo que a confirme ou negue) é que a centrifugação do mel, se realizada num ambiente seco, pode ajudar a remover parte da sua umidade, em razão da exposição de uma superfície grande (milhões de gotas, escorrimento pela parede da centrífuga) a uma ventilação forçada (produzida pelo rotor da centrífuga).
8.10 Em que condições o mel pode ser colhido? [2]
Normalmente, são colhidas as melgueiras que possuem todos ou quase todos os favos totalmente operculados. Favos desoperculados contém “mel verde”, isto é, mel que ainda não atingiu o nível de umidade ideal (ao redor de 18%). Como um nível alto de umidade está associado a um grande risco de fermentação, a colheita de favos desoperculados deve ser evitada, pelo menos em quantidade significativa.

Uma boa idéia é preparar as melgueiras e redistribuir os quadros na revisão anterior à colheita, de forma a já deixar as melgueiras prontas no topo das colméias. Dessas melgueiras, procura-se remover o máximo possível de abelhas, para elas chegarem vazias ao local de processamento. As melgueiras são então empilhadas, fixadas e transportadas.
8.11 Com que freqüência o mel deve ser colhido? [2]
O mais comum é fazer-se uma colheita de melgueiras cheias, tão logo elas estejam em número significativo no apiário. Se a florada continuar, outras colheitas podem ser necessárias.

No entanto, há uma corrente que prega que, quanto mais freqüente for a retirada do mel, mais mel será produzido. Nesse caso, o ideal seria colher com freqüência apenas os favos totalmente operculados, devolvendo-os vazios logo em seguida. A lógica por trás dessa idéia é que, percebendo a falta de mel, mais abelhas se dediquem à coleta de néctar, tornando a colméia mais produtiva neste aspecto. Não há dúvida que aumenta muito o trabalho, pois a colheita e a extração envolvem uma porção de procedimentos de preparação e conclusão, que teriam de ser repetidos muitas vezes nessa técnica.

Além disso, um número excessivo de colheitas pode prejudicar o desempenho da colméia, pelo excesso de estresse induzido. Um estudo canadense, conduzido por Tibor Szabo e citado em [SAN93], investigou o impacto de três variáveis na qualidade e na quantidade do mel produzido: a idade da rainha, o número de melgueiras colocadas e a freqüência de retirada do mel. No que diz respeito à freqüência de colheita, o estudo, que foi realizado em 36 colméias, obteve a produção de 142 kg com duas colheitas, 116 kg com quatro colheitas e 106 kg com uma colheita. Por este resultado, pode-se presumir que duas colheitas por safra é o número ideal.
8.12 Quantas melgueiras devem ser colocadas no início da safra? [2]
Também aqui há alguma polêmica. Grande parte dos apicultores recomenda a colocação progressiva das melgueiras, adicionando a seguinte apenas depois de alguns quadros da atual já estarem cheios. Um dos motivos seria evitar um desequilíbrio térmico da colméia com o aumento súbito e elevado de espaço vazio.

Outros apicultores defendem que as melgueiras, em número suficiente para acumular uns 30-50 kg de mel, devem ser colocadas todas de uma só vez, mas com um detalhe importante: todos os quadros devem ter favos puxados, e não cera alveolada. Isso evitaria em parte o desequilíbrio térmico e facilitaria a imediata deposição de néctar, ao mesmo tempo em que estimularia as abelhas a trabalhar mais, pela percepção de tantos favos vazios [AMB92]. No caso de melgueiras com cera alveolada, o empilhamento de mais de uma não traz nenhum benefício.

Na pesquisa mencionada no item 8.11, o número de melgueiras adicionadas no início da safra não teve influência significativa na produção. No entanto, o experimento usou muitas melgueiras empilhadas por colméia, da ordem de cinco a quinze, e é possível que o número de melgueiras empilhadas não faça diferença somente a partir de determinado patamar. Por outro lado, o mesmo estudo concluiu que um número maior de melgueiras estava associado a uma umidade menor do mel colhido, um resultado de grande interesse para o apicultor.

Assim, a opção pela colocação de um grande número de melgueiras, com favos puxados, no início da safra, tem a minha total simpatia. E ela é bem ilustrada pela recomendação "empilhe as melgueiras no início da safra e vá pescar", atribuída ao pesquisador Tibor Szabo, do Canadá. Um outro estudo conduzido por ele chegou à conclusão que manejos freqüentes na colméia durante a safra podem acarretar a perda (não-acúmulo, na verdade) de até 3,8 kg de mel, devido às perturbações causadas. Como esse estudo foi efetuado com européias, pode-se imaginar que talvez o impacto nas africanizadas seja ainda maior, dado o tempo de recuperação muito maior destas.
8.13 Onde deve ser colocada uma nova melgueira?
Aqui também há discussão. Parte dos apicultores acredita que uma nova melgueira deve ser colocada logo acima do ninho (e abaixo das já existentes), para diminuir o trânsito desde o recebimento do néctar até a sua armazenagem.

Já outros entendem que o resultado dessa técnica não compensa o trabalho de remoção das melgueiras existentes para a colocação da nova. E, além disso, uma melgueira vazia logo acima do ninho em plena safra, pode estimular a rainha a pôr ovos ali, caso não haja tela excluidora [AMB92].
8.14 Como colocar melgueiras com 8 ou 9 quadros?
A idéia de se usar melgueiras com 8 ou 9 quadros ao invés de 10 permite um melhor aproveitamento do espaço da caixa, economia de quadros e a produção de favos mais profundos, o que facilita muito a desoperculação, embora eles sejam mais frágeis e sujeitos a quebras e esmagamentos durante o transporte (veja item 2.9).

Para usar essa técnica, o melhor é começar com a produção de 10 favos normais, a partir de lâminas de cera alveolada. Se forem usados menos quadros com lâminas, eles não podem ser espaçados além do normal, ou as abelhas construirão favos intermediários, entre as lâminas. Alguns apicultores iniciam com nove quadros agrupados e vão separando-os à medida que os favos vão sendo puxados, mas isso não funciona direito, porque as abelhas podem finalizar os favos centrais antes mesmo de começar a puxar os da extremidade.

Depois da primeira centrifugação, os quadros já podem ser devolvidos em número menor nas melgueiras. As abelhas então apenas depositarão mel e estenderão os alvéolos até atingir o espaço normal entre dois favos de mel (6 a 9 mm).
8.15 Como as abelhas são retiradas das melgueiras?
A maneira mais simples é pela varredura dos quadros. Cada um deles é sacudido e depois varrido, de forma que as abelhas aderentes caiam dentro ou próximo da colméia. Depois o favo é levado para uma caixa auxiliar, que fica a maior parte do tempo fechada na parte superior e inferior. Esse método é demorado, trabalhoso e muito estressante para as abelhas.

Em outros países, é comum o uso de substâncias repelentes que são colocadas logo abaixo da tampa e forçam as abelhas a se deslocarem para baixo, permitindo a remoção de melgueiras inteiras. Aqui no Brasil, eu nunca soube que isto fosse utilizado.

Outra forma bastante usada lá fora para remover as abelhas é por meio de um soprador, que é muito mais rápido e eficiente que a vassourinha. Nunca vi nenhum específico a venda por aqui, mas já soube de alguns apicultores que usaram algumas improvisações: a saída de um aspirador de pó, um soprador de folhas ou um compressor de ar.

A técnica que eu prefiro é a que emprega a tábua de escape. Essa tábua deve ser introduzida logo abaixo das melgueiras a serem colhidas, com 48 horas de antecedência. Por essa tábua, as abelhas saem da melgueira e dificilmente conseguem voltar, o que transforma a colheita num verdadeiro passeio. A tábua de escape deve ser a que possui um buraco grande do lado de cima e uma tela montada sobre sarrafos (em triângulo, geralmente) do lado de baixo. É muito fácil fazê-la, procure na Internet (é conhecida também como "Québec board"). Evite, porém, o infame "escape-abelha", um dispositivo metálico que funciona (muito mal) como uma válvula de abelhas.

Essa técnica tem a desvantagem de exigir duas viagens ao apiário, e dificilmente pode ser empregada por quem possui muitas colméias. Mas é, sem dúvida a mais confortável para abelhas e apicultores. Um detalhe importante é que a tábua de escape não pode ficar muitos dias na colméia, ou as abelhas acabarão conseguindo achar o caminho de volta à melgueira. A tábua de escape também é menos eficaz quando há mel desoperculado nas melgueiras e, muito especialmente, cria aberta ou fechada.
8.16 Como as melgueiras devem ser transportadas?
Essa é uma preocupação importante, tanto em relação à segurança das pessoas, quanto à integridade dos favos. Melgueiras cheias são muito pesadas e deslizam facilmente umas sobre as outras. Para evitar esse problema, você pode utilizar dois pedaços de cantoneiras metálicas (alumínio é melhor) em cantos opostos da pilha, e amarrá-las em pelo menos dois pontos. As pilhas amarradas devem a resistir aos solavancos, curvas e freadas.

Lembre-se que um acidente com melgueiras não significa apenas mel perdido. A chegada de uma nuvem de abelhas em poucos minutos pode transformar qualquer lugar num ambiente assustador. Por isso, as melgueiras devem ser transportadas, sempre que possível, diretamente do apiário a um lugar inacessível às abelhas. Caso aconteça um acidente, procure lavar rapidamente o mel e remova o que for possível para um lugar fechado. Mesmo melgueiras em bom estado não devem ser deixadas ao ar livre por muito tempo.

Quando o caminho for muito ruim, é preciso considerar também a possibilidade de quebra dos favos, especialmente quando eles são usados em quantidade inferior à máxima (8 ou 9 na Langstroth). Para diminuir o risco de quebra, alinhe as melgueiras, de forma que a sua lateral maior fique no mesmo sentido que o veículo. Isso evitará o movimento de pêndulo dos quadros nas freadas e arrancadas.
8.17 Como é feita a desoperculação dos favos?
O método manual é com faca e garfo. A faca deve ser do tipo "serrote de pão", com um serrilhado bem largo e afiado. O quadro é mantido quase na vertical, apoiado numa lateral pequena, e a faca é passada logo abaixo da cobertura, de forma a remover as tampas sem prejudicar demais os alvéolos, para que o favo possa ser reaproveitado. Essa operação pode ser feita numa mesa desoperculadora ou mesmo sobre um recipiente largo, como uma bacia, que recolha a cera retirada e o mel que escorre. Quando a temperatura ambiente está alta demais, porém, a cera dos favos pode amolecer, e a faca não a cortará direito.

Alguns apicultores usam uma faca especial de desoperculação que é aquecida eletricamente, o que ajuda a cortar a cera. Outros usam uma faca metálica comum aquecida em água quente. Nesse caso, é preciso secá-la antes de cortar o favo, para não adicionar água ao mel. As duas técnicas têm críticos ruidosos: a faca aquecida eletricamente elevaria demais a temperatura do mel com que entrasse em contato. A faca aquecida em água quente esfria rapidamente e ainda aumenta a sujeira do ambiente, distribuindo de pingos de mel e água por todo lado. Normalmente, o serrote de pão funciona tão bem, que não consigo descobrir nenhuma vantagem em usar essas geringonças.

Como a faca normalmente não é suficiente para fazer um trabalho completo (a não ser com favos gordos e perfeitos), o passo seguinte é o acabamento. Para isso, o quadro deve deitado (com as faces na horizontal), apoiado na mesa desoperculadora ou num recipiente que recolha o mel que escorre. Utiliza-se então o garfo desoperculador nas duas faces, introduzido-o por baixo da cobertura e levantado com cuidado para não ferir muito os alvéolos.

Há algumas outras ferramentas de desoperculação, como um rolete cheio de pontas, mas não são muito populares. Há também desoperculadores motorizados, com escovas ou lâminas que removem os opérculos, mas eles normalmente se destinam a grandes produtores ou entrepostos.
8.18 O que é uma mesa desoperculadora?
Basicamente, é um tanque com um apoio para os quadros, um fundo inclinado para facilitar o escorrimento do mel e uma saída, por onde o mel passa para ser filtrado. Há modelos com telas que aparam a cera removida e já fazem uma pré-filtragem do mel.
8.19 Quanto custa uma mesa desoperculadora?
Uma pequena, para 20 quadros, em inox, custa aproximadamente o mesmo que 40 kg de mel (no varejo). A esse preço talvez precise ser adicionado o de uma torneira de corte rápido, dependendo do modelo da mesa e do esquema de trabalho do apicultor na extração. Uma torneira dessas, em latão, custa cerca de 5 kg, e, em inox, cerca de 13 kg.
8.20 O que é uma torneira de corte rápido?
É uma torneira em forma de tubo, com uma tampa que fecha com um movimento de guilhotina. Ela é chamada assim porque interrompe o fluxo de mel imediatamente, evitando fios e pingos.
8.21 Como é feita a centrifugação dos quadros?
Os quadros são colocados numa centrífuga, na posição vertical. Eles ficam apoiados no "cesto" da centrífuga, que gira junto com o eixo. Inicialmente, a velocidade da centrífuga deve ser pequena, pois os favos estão pesados de mel e podem romper-se com facilidade. No decorrer da centrifugação, o mel vai sendo extraído, os favos vão ficando mais leves e a velocidade pode ser aumentada gradualmente, até que os respingos de mel na parede interna da centrífuga cessem.

Numa centrífuga radial, o processo é exatamente assim, mas numa centrífuga facial ele é muito mais crítico e envolve pelo menos uma fase a mais, a reversão dos quadros.
8.22 O que são centrífugas radial e facial?
Os nomes se referem à posição em que os quadros são colocados no cesto. Na centrífuga radial, eles ficam alinhados com o raio, ou seja, quando vistos de cima, os quadros lembram fatias de um bolo redondo. Na facial, os favos ficam com uma face voltada para a parede da centrífuga e a outra para o eixo. Na posição facial, a centrifugação só consegue remover o mel da face que está voltada para a parede, e por isso o quadro deve ser virado, pelo menos uma vez, para que o resto do mel seja extraído.

Na centrífuga radial, a reversão não precisa ser feita. Embora nela haja também uma face privilegiada de cada favo, a inclinação natural dos alvéolos garante que ambas as faces serão igualmente esgotadas.

A centrífuga facial requer um cuidado maior na operação, pois os favos sofrem uma força perpendicular sobre sua face, que é muito frágil.
8.23 Como centrifugar favos quebrados?
Os favos quebrados devem ser desoperculados do jeito que for possível e depois amarrados ao quadro. Essa amarração pode ser feita com fio de nylon ou de arame fino. O fio deve ser amarrado a uma extremidade do quadro e depois enrolado sobre ele em ida e volta, formando assim uma espécie de rede de proteção ao favo.

Com uma boa amarração, o favo geralmente poderá ser centrifugado sem problemas. Em caso de dúvida, deixe-o para o final e faça uma centrifugação só dos quebrados, mais lenta e cuidadosa.
8.24 Por que a centrífuga vibra?
A centrifuga vibra quando o seu centro de massa não coincide com o eixo de rotação. Em outras palavras, quando o cesto está desequilibrado, com mais peso de um lado do que de outro. Quando o desequilíbrio é grande, a centrífuga pode até se mover ("dançar"), se não estiver com os pés fixados no chão.

Para evitar a vibração ou diminuí-la muito, basta prestar atenção ao carregar a centrífuga, colocando quadros de peso semelhante em posições exatamente opostas. É claro que isso só é possível quando a capacidade de quadros da centrífuga é par, o que, felizmente, é a configuração mais comum.

Outra possibilidade é carregar a centrífuga de qualquer jeito e, antes de começar a girá-la, suspender um pouco um dos cantos. Se a distribuição de peso estiver desequilibrada, o cesto vai girar até encontrar uma posição preferencial. Se isso ocorrer, basta redistribuir os quadros até que o cesto não tenda mais a ficar numa determinada posição quando o canto for erguido.
8.25 O que move a centrífuga?
Há centrífugas manuais, movidas por uma manivela, e elétricas, movidas por um motor. As motorizadas podem ter controle de velocidade manual ou automático.
8.26 Quanto custa uma centrífuga?
Tomando o preço do mel no varejo como parâmetro, uma centrífuga radial manual em inox para 8 quadros custa cerca de 50 kg, para 12 quadros, uns 65 kg, e para 16 quadros, uns 75 kg.

Centrífugas motorizadas em inox para 12 quadros custam cerca de 160 kg, e para 20 quadros, uns 230 kg, aproximadamente.

Esses preços não incluem a torneira de corte rápido.
8.27 A centrifugação dos favos é demorada?
Depende principalmente da temperatura ambiente. Grosso modo, a 30 ºC, o mel flui três vezes mais rápido do que a 20 ºC, e dez vezes mais rápido do que a 15 ºC. Também por essa razão, vale a pena aquecer o ambiente antes do processamento do mel.

Um teor de umidade baixo, por sua vez, aumenta a viscosidade do mel e dificulta o seu fluxo.

Quando o favo centrifugado tem alvéolos de zangão, o tempo de extração diminui bastante, pela facilidade maior de escorrimento do mel.
8.28 Como extrair o mel sem a centrífuga?
Sem uma centrífuga, o processamento do mel complica-se bastante. Nesse caso, normalmente há três alternativas para o favo: deixar o mel escorrer, espremê-lo ou guardá-lo inteiro (ou em pedaços).

Deixar o mel escorrer é o procedimento ideal, porque permite o reaproveitamento posterior do favo. No entanto, só pode ser feito em recipientes grandes (os favos devem deixados com uma face voltada para baixo, e depois a outra). Também é um procedimento demorado, e o mel pode acabar absorvendo umidade do meio por higroscopia. Aumentar a temperatura do ambiente e desumidificá-lo (com um aquecedor de banheiro, por exemplo) vai acelerar o processo e diminuir o risco. Mesmo assim, só é uma fórmula viável para uma colheita muito pequena.

Espremer o favo é uma maneira perfeita de inutilizá-lo para as abelhas e obter um mel cheio de impurezas. No entanto, se for a única solução possível, tente fazê-lo da forma mais higiênica possível.

A terceira alternativa, favos inteiros, pode ser preferível ao seu esmagamento. Infelizmente, ela só é possível se o quadro não tiver sido aramado. Assim, se você não possui centrífuga, não conhece ninguém que possua e não está pensando em adquirir uma, é bom prever esse problema antes de preparar e colocar as melgueiras. Nesse caso, a melhor opção é adquirir formas especiais e adaptá-las nos quadros das melgueiras. Outra saída, é usar quadros inteiros sem arame (veja o item 8.33).
8.29 O que fazer com as melgueiras após a extração?
Elas devem ser devolvidas às abelhas, que limparão todos os resíduos de mel e deixarão os favos prontos para serem usados novamente ou guardados até a próxima safra.

Há duas formas de devolver as melgueiras: empilhando-as em zig-zag a uns 100 metros do apiário, ou devolvendo-as às colméias. A primeira forma resulta em muitas brigas, mortes e, talvez, pilhagem. Também pode facilitar a transmissão de doenças entre as colméias. Além disso, não apenas abelhas, mas diversos outros insetos aparecem para comer o mel ou depositar ovos nos favos.

A segunda forma é mais trabalhosa e exige mais cuidado, mas dá um resultado muito melhor. Para isso, a devolução deve ser feita em horário calmo das abelhas (final da tarde, noite ou amanhecer), com as caixas bem limpas por fora, para não estimular os saques.

Uma alternativa interessante é devolver todas as melgueiras a umas poucas colméias, de forma a minimizar a perturbação no apiário. Esse procedimento é especialmente recomendável para a última colheita da safra.
8.30 O que é feito do mel após a centrifugação?
Primeiro, o mel deve ser passado por uma peneira fina. A seguir, o ideal é deixá-lo decantando por alguns dias e só depois embalá-lo. Naturalmente, a segunda etapa só é possível com decantador.
8.31 O que é um decantador?
É um tanque com tampa e torneira. O mel é deixado nele por alguns dias (uma semana, por exemplo), para que as impurezas que sobraram da filtragem se depositem no fundo ou subam à superfície (junto com as bolhas de ar). Depois desse período, o mel é passado para as embalagens através da torneira, que deve ser de corte rápido. Como essa torneira se localiza um pouco acima do fundo, o mel que passa por ela é o mais puro possível, exceto bem no final, é claro.
8.32 Quanto custa um decantador?
Um para 100 kg custa cerca de 40 kg de mel, mais a torneira.
8.33 É possível produzir mel em favo?
É claro que sim. Podem-se usar fôrmas especialmente feitas para serem encaixadas nos quadros de melgueira - geralmente três por quadro. No centro dessas formas é colocado um pedaço de cera alveolada, que será puxado, enchido e operculado normalmente pelas abelhas. Após a colheita, basta desencaixar as fôrmas e embalá-las. É um processo muito mais simples e limpo que a centrifugação, mas possui um público alvo bastante restrito. No preço final do produto deve ser considerada também a cera que foi produzida e estará sendo vendida junto.

Alguns apicultores, na falta de fôrmas, usam quadros comuns, sem arames. Após a colheita, retiram o favo do quadro, cortando-o pelas beiradas, dividem o favo em três ou mais pedaços, deixam-nos escorrer por algum tempo e depois embalam-nos. Não fica com uma apresentação tão boa quanto os favos enformados.
8.34 Como o mel deve ser armazenado?
Em recipientes próprios para produtos alimentícios, hermeticamente fechados. Em relação à temperatura de armazenagem, o ideal é que ela esteja abaixo de 11 ºC, pois nessa faixa a probabilidade de fermentação é baixa e a formação de HMF é muito lenta, assim como a destruição das enzimas presentes no mel.

A faixa ideal de temperatura para a cristalização do mel é de 10 a 18 ºC, especialmente, 14 ºC.

A faixa ideal de temperatura para a fermentação do mel é de 11 a 21 ºC.

A partir de 21 ºC a produção de HMF se acelera, junto com o escurecimento do mel. Cada 10 ºC a mais de temperatura aumentam a velocidade de produção de HMF em cerca de 4,5 vezes. Por exemplo, um aumento que leva 100 dias para ocorrer a 30 ºC, leva apenas 20 dias a 40 ºC, 4 dias a 50 ºC e 1 dia a 60 ºC [CRA83].
8.35 O HMF é prejudicial à saúde humana?
Não na proporção encontrada no mel. A sua presença, acima de determinado nível, é apenas um indicativo de má qualidade do mel, por adulteração, superaquecimento ou longa estocagem.
8.36 As enzimas são benéficas à saúde humana?
Não há evidências disso, embora muitos apicultores refiram-se a elas como grandes vantagens do mel. As enzimas são responsáveis pela transformação de substâncias doces colhidas na natureza em mel, e a sua ausência também é um indicativo de má qualidade do produto.
8.37 Como o mel é adulterado?
Ele pode ser misturado a outras substâncias doces, como açúcar invertido, por exemplo. Um outro tipo de adulteração é feito com o fornecimento de xarope às abelhas e colheita do que as abelhas estocam, como se fosse mel. Em alguns casos, isso é vendido como "mel expresso", o que, na minha opinião já embute uma tentativa de engodo (pois não é mel), embora seja sutilmente diferenciada da denominação simples de "mel".
8.38 Há um modo simples de descobrir se o mel é adulterado?
Não. Quando a adulteração é grosseira, qualquer pessoa com razoável experiência de consumo de mel pode suspeitar da sua qualidade, mas não acredite em testes populares, como o do palito de fósforo.

A melhor forma de não adquirir mel adulterado é encontrar um fornecedor confiável. Para o apicultor, é importante não apenas produzir da maneira correta, mas informar muito bem seus consumidores, de forma a conquistar a sua confiança e aumentar a sua capacidade de discernimento.
8.39 É possível identificar a origem floral de um mel? [3]
No caso de méis monoflorais, há alguns parâmetros pré-definidos, que variam conforme a espécie de origem. Várias análises são necessárias, em conjunto, para a comprovação da condição de monofloral de um mel. Por exemplo, análise de cor, análise de contagem e identificação dos grãos de pólen presentes (análise polínica ou melissopalinológica), análise da condutividade (cujo resultado depende da quantidade de minerais presentes no mel), análise do espectro de açúcares (a proporção de glicose, frutose, maltose, etc.).

No caso de méis multiflorais, no entanto, a identificação precisa das fontes é muito difícil. Uma determinada cor pode resultar de inúmeras misturas diferentes de néctar, assim como a condutividade e o espectro de açúcares. Já a análise polínica é, por natureza, pouco confiável. Muitas plantas que produzem néctar em abundância não têm o seu pólen coletado pelas abelhas (nem acidentalmente), enquanto outras possibilitam uma contaminação pesada do néctar. Além disso, outras contaminações polínicas podem ocorrer dentro da própria colméia, pela manipulação do néctar e do pólen pelas abelhas, ou mesmo fora dela, provocadas pelo apicultor durante a colheita e extração do mel.
8.40 Por que o mel cristaliza?
O mel é uma solução supersaturada de açúcar, o que significa que há mais açúcar dissolvido na água do normalmente seria possível manter-se. Isso faz da solução uma mistura instável, e ela, ocasionalmente, pode retornar à estabilidade através da cristalização. Isto ocorre com a perda de água da água por parte da glicose, que se transforma em monoidrato de glicose e toma a forma de cristal.

Entretanto, nem todo mel cristaliza. Como o açúcar responsável pela cristalização é a glicose, a relação entre a sua quantidade e a de água no mel é que determina se o mel cristalizará ou não. Por exemplo, de acordo com um estudo citado em [WHI92], uma relação glicose/água de 1,58 (por exemplo, um mel com 17% de umidade e 27% de glicose) não cristalizará, enquanto outro, com relação de 1,98, provavelmente cristalizará até a metade do recipiente. Uma relação de 2,16 deve provocar uma cristalização total e mole, enquanto outra, de 2,24, deve provocar uma cristalização total e dura.
8.41 Como ocorre a cristalização?
A cristalização, além da relação glicose/água, depende da presença de "núcleos" para iniciar-se. Os núcleos podem ser impurezas microscópicas, grãos de pólen, partículas de cera, bolhas de ar ou cristais incipientes. O processo, após se desencadear, prossegue até que o ponto de equilíbrio da solução seja atingido ou até que o mel seja exposto a uma temperatura imprópria à cristalização.

Quando a proporção de glicose no mel é baixa, os cristais depositam-se no fundo do recipiente, formando um agrupamento mais sólido e grosseiro. Na superfície, forma-se uma mistura mais rica em frutose e água, que é muito mais propensa à fermentação que a forma líquida original. Por essa razão, uma cristalização grosseira e parcial do mel está freqüentemente associada a um início de fermentação. Já quando a proporção de glicose é alta, a cristalização forma uma espécie de rede, imobilizando os outros componentes do mel e levando a mistura a um estado semi-sólido, com uma consistência mais homogênea. Nesse caso, como não há separação de uma parte mais líquida, o risco de fermentação não cresce.

A velocidade de cristalização depende da quantidade de núcleos existentes, e por isso, um mel que tenha sido perfeitamente filtrado e previamente aquecido (para que até os menores cristais sejam desfeitos) demorará muito mais a cristalizar. Além disso, a velocidade depende também da temperatura de armazenagem do mel. Temperaturas abaixo de 10 ºC e acima de 21 ºC inibem ou retardam bastante a cristalização. A temperatura de 14 ºC é a ideal para a cristalização.
8.42 Como descristalizar o mel?
A descristalização do mel deve ser feita com o aumento da temperatura. Quanto mais alta for a temperatura, mais rápido será a descristalização. Altas temperaturas, porém, destroem muitas propriedades do mel, e devem ser rigorosamente evitadas. Industrialmente, o mel é aquecido por pouco tempo a temperaturas entre 60 e 70 ºC, aproximadamente, para inativar os fermentos existentes (e evitar uma futura fermentação), para expelir pequenas bolhas de ar e derreter os cristais microscópicos, que posteriormente serviriam de núcleos para a cristalização, e para permitir o bombeamento do mel e a sua filtragem sob pressão.

No uso doméstico, porém, recomenda-se que o derretimento do mel cristalizado seja feito numa temperatura mais baixa (cerca de 40 ºC), em banho-maria, por exemplo, com agitação freqüente.

De qualquer forma, melhor que superaquecer o mel ou descristalizá-lo, é transformá-lo em mel cremoso, que facilita o seu consumo de todas as formas possíveis.
8.43 O que é mel cremoso?
É um mel que foi induzido a uma cristalização fina e homogênea. Essa indução é puramente mecânica, a baixa temperatura e sem adição de nenhuma substância, o que preserva todas as qualidades do mel. O mel cremoso possui a consistência que o nome indica e o aspecto parecido com o do doce de leite, embora mais denso.

O mel cremoso é muito fácil de ser manuseado com colher e espátula, pois escorre lentamente, não despedaça pães e bolos e dissolve-se facilmente em líquidos. Ele também é mais estável que o mel comum e não forma cristalizações parciais e grosseiras.
8.44 Como se produz mel cremoso?
Há várias receitas disponíveis na Internet e em livros de apicultura. Eu adotei com sucesso uma receita dinamarquesa, divulgada pela Swienty (http://www.swienty.com). Ela inclui uma etapa de superaquecimento do mel para remoção de bolhas e derretimento de cristais que eu não sigo, nem sinto falta. A versão simplificada que uso é a seguinte:

1. Induzir um início de cristalização num pote de mel. Para isso, o ideal é deixar o mel descansando a uma temperatura de 14 ºC. Não sendo possível, tente o mais próximo disso - colocar o mel no refrigerador e retirá-lo diversas vezes, pode ser uma boa alternativa. Depois, espera-se que apareçam os primeiros cristais visíveis (isso pode levar de dias a meses). Quanto maior a relação glicose/água, mais fina e mais rápida será a cristalização.

2. Depois de aparecerem os primeiros cristais, deve-se bater o mel com uma batedeira quatro vezes por dia, durante 15 minutos, com os batedores de bolo (aqueles em forma de mola). Para isso, eu ligo a batedeira a um temporizador (facilmente encontrado em lojas de eletrônica), e fixo-a sobre a tampa do pote. As hastes dos batedores passam por pequenos furos, previamente feitos na tampa.

3. Em dois dias, mais ou menos, o mel adquire uma aparência de xampu. Neste momento, ele deve ser passado para os potes definitivos. Esses potes, então, devem ser deixados em repouso numa temperatura o mais próxima possível de 14 °C. Em uma semana ou duas, o mel já terá atingido a consistência definitiva.

4. Após a produção do primeiro mel cremoso, todos os demais podem ser feitos a partir de pequenas porções dele como "semente". Para isso, basta misturar cerca de 10% de mel cremoso ao mel líquido e iniciar o processo a partir do item 2 acima.
8.45 Quem comprará mel cremoso?
No Brasil, a ignorância sobre o mel é apavorante, e chega a haver regiões em que ele só pode ser vendido líquido, em garrafas, pois o mel cristalizado é considerado adulterado ou impróprio para alimentação. Por enquanto, o mel cremoso é raro e, não duvido, de pequena aceitação no mercado. Para produzi-lo e vendê-lo, a única alternativa é propaganda e boa informação, especialmente no ponto de venda. Sem isso, a probabilidade de que as pessoas achem que você pôs farinha no mel ou qualquer outra bobagem, pode apostar, é muito grande.
8.46 Qual é a densidade do mel?
A densidade do mel, a 20ºC, com 18% de umidade, é cerca de 1,42. Isso significa que, nessas condições, 1 litro de mel pesa 1,42 quilos, em média.
8.47 Mel cura a gripe? [1]
Não, mel não cura gripe. Ele também não cura câncer nem é bom para a tosse. Há muita pesquisa sobre as propriedades terapêuticas do mel, e alguns indícios mais concretos de que ele pode auxiliar no tratamento de úlceras, ferimentos e queimaduras, em razão da sua atividade antimicrobiana.

Algumas substâncias antioxidantes também estão presentes no mel, e alguns estudos sugerem que ele pode trazer alguns benefícios à saúde pela proteção das células ao ataque dos chamados radicais livres [SCH03]. As conclusões ainda não são definitivas e esse respeito, mas alguns resultados são realmente promissores.

De resto, há muito mais folclore em relação ao emprego medicinal do mel do que evidências obtidas em estudos científicos. É claro que se você for suscetível ao efeito placebo, poderá imaginar alguma melhora da sua doença se tiver bastante fé. Faça o teste: na próxima vez em que estiver gripado prepare a seguinte receita:

3 colheres de chá de mel
1 colher de chá de manteiga sem sal
1 ou 2 tampas de conhaque ou outro destilado

Esquente por alguns segundos no microondas ou em banho-maria e misture bem. Beba quente e vá dormir. Não cura nada, mas é tão bom...

Atenção: não tente fazer isso se você tem qualquer um dos ingredientes proibido na sua dieta.
8.48 A quantas bananas equivale 1 kg de mel?
Alguns autores fazem comparações desse tipo, mas elas não têm o menor sentido à luz do que se sabe hoje sobre nutrição. Quando o mel é comparado favoravelmente com outros alimentos, geralmente o critério adotado é o da quantidade de energia fornecida por peso. Por esse critério simplista, um consumidor poderia, com justiça, concluir que é muito mais vantajoso adoçar o leite com açúcar comum, que possui 4 kcal/g (contra 3,04 kcal/g do mel), ou que é muito mais interessante passar manteiga (9 kcal/g) no pão ao invés de mel.

Na verdade, o alto teor calórico do mel mais depõe contra o seu consumo do que a favor. Quando se mencionam propriedades nutritivas, micronutrientes são muito importantes do que a energia fornecida pelo alimento.
8.49 E o mel não é cheio de vitaminas e minerais?
Sim, de fato o mel possui algumas vitaminas e diversos minerais, mas em quantidades muito pequenas. Só para dar uma idéia, se alguém quisesse suprir 30% da ingestão diária recomendada de qualquer vitamina ou mineral presente no mel, teria de comer entre 1 e 6 kg por dia, o que seria um completo despropósito.
8.50 Mas então, para que comer mel?
Por que as pessoas comem manteiga ou bebem café? Pelas suas propriedades medicinais? Pelas suas características nutritivas? É claro que não. É porque são produtos acessíveis, de sabor agradável e que se harmonizam com diversos outros alimentos. Como eles, o mel é um produto delicioso e ainda mais versátil.

Mas o mel não é e nunca será considerado um alimento básico. É um alimento complementar, e, como tal, excepcional. Na minha opinião, não há porque perder tempo com fantasias e exageros a respeito do mel. Alguns autores fazem comparações esdrúxulas e divulgam o mel como remédio. Depois, lamuriam-se quando a população o consome com a mesma freqüência que o chá de losna.

Em certos aspectos, o mel é muito semelhante ao vinho. Ambos possuem infinitos sabores possíveis, e cada safra de cada região produz exemplares únicos. Assim, em cada pote, ou em cada garrafa, há uma surpresa, e quase sempre muito agradável.

Infelizmente, muitas pessoas acham caro um pote de mel que levará um ou dois meses para ser consumido das mais diversas e deliciosas formas. No entanto, pagam o mesmo valor por uma garrafa de vinho, que será bebida em uma única refeição. Mesmo reconhecendo todas as diferenças entre os produtos e seus respectivos apreciadores, acho que esse fato indica um certo desequilíbrio de comportamento. E uma razão importante é o enorme desconhecimento da origem e das características do mel por parte da população. O mesmo não acontece com o vinho, que é muito melhor divulgado no Brasil do que o mel.
8.51 Diabéticos podem comer mel?
O mel é fundamentalmente uma mistura de carboidratos, e como tal deve ser tratado pelo diabético. Não há evidências de que o mel seja mais ou menos seguro para os diabéticos, e o seu eventual consumo deve ser combinado com o médico e considerado com a mesma cautela dispensada aos demais carboidratos.
8.52 Bebês podem comer mel?
Bebês de até um ano de idade não devem comer mel. A razão disso é que o mel pode conter esporos da bactéria que causa o botulismo (Clostridium botulinum), que podem germinar e se desenvolver no aparelho digestivo dos bebês. A contaminação do mel pode ocorrer na natureza, e a observação cuidadosa dos aspectos sanitários na colheita, extração e envase não é garantia de que o mel está livre de esporos.

A freqüência de contaminação é baixa (menos de 5% das amostras no Canadá, por exemplo [BAR99]). No entanto, o botulismo é uma doença grave, que até mesmo causar a morte, e esse fato justifica plenamente a ausência de mel na dieta dos bebês [SAN92].
8.53 Qual é o consumo de mel no Brasil?
Esse é um dado bastante incerto. Encontra-se em livros, revistas e Internet valores que variam de dez vezes - 70 a 700 gramas por pessoa e por ano. Quem trabalha com dados oficiais tende a divulgar valores menores, talvez porque grande parte da produção não seja registrada. Muitos apicultores produzem apenas para consumo próprio e da família ou amigos. Talvez uma pesquisa por amostragem pudesse dar uma idéia bastante realística da situação nacional, mas não consta que uma estatística assim já tenha sido produzida.
8.54 Qual é a produção de mel no Brasil?
Uma estimativa encontrada freqüentemente é 35-40 mil toneladas em 2002.
8.55 Qual é a produção de mel por colméia no Brasil?
A média histórica considerada é de um pouco menos de 20 quilos de mel por colméia por ano. Uma pesquisa informal, realizada no grupo de discussão da Apacame, em 2003, revelou uma produtividade média de 22,3 kg/colméia no ano de 2002, em 37 apiários de diversas regiões do país.

Um manejo bem feito ajuda bastante a obter-se uma produtividade maior, mas a flora apícola disponível, provavelmente, é o fator decisivo. Há relatos de produtores com médias de 50-60 kg/colméia/ano, ou até mais. Descartados possíveis exageros e folclores, é muito provável que sejam de apicultores que migram as suas caixas uma ou mais vezes por ano ou têm à sua disposição um pasto apícola excepcional, como florestas de eucalipto, por exemplo.
8.56 O que é mel orgânico?
É um mel produzido segundo normas específicas que, ao menos supostamente, qualificam-no como um produto isento de contaminações químicas e biológicas indesejáveis.
8.57 Como se produz mel orgânico?
Para produzir um mel que possa receber o título de "orgânico", o apicultor deve passar por um processo de certificação. Isso é feito por algumas empresas nacionais (como o IBD - http://www.ibd.com.br) e estrangeiras (como a IMO). Elas enviam inspetores que analisam tecnicamente as condições do apiário e sugerem adequações para a conversão do apiário convencional em orgânico. Atendidas suficientemente todas as exigências, e passado certo período de carência (funcionando como orgânico), a empresa certificará o apiário. Essa certificação dá ao apicultor o direito de usar um selo especial (próprio de cada empresa certificadora) no seu produto, identificando-o como orgânico perante os consumidores.

Para garantia da manutenção da qualidade, a empresa certificadora repete a inspeção pelo menos uma vez por ano, com ou sem aviso prévio.
8.58 Quais são os critérios exigidos para o mel orgânico?
No site do IBD pode-se baixar os seus critérios de certificação orgânica. Para a apicultura, há diversas exigências, como a proibição do uso de pesticidas no apiário e imediações, obrigatoriedade de aquisição de insumos de outras empresas certificadas, proibição de lavouras de manejo convencional num raio de 3 km do apiário, critérios para alimentação artificial e extração do mel, proibição de determinados medicamentos e outros. Em especial, como para todos os produtos orgânicos, é importante a manutenção de registros de manejo, produção e identificação dos lotes, a fim de garantir a rastreabilidade do produto.

Alguns dos critérios são exóticos ou inexplicáveis, como a permissão de acrescentar "chá de camomila" e "sal" à alimentação artificial das abelhas. Mas isso não surpreende tanto quanto qualificar a presença de HMF como "acidez" do mel, o que também é feito. Um dos critérios é virtualmente impraticável: o raio de 3 km sem lavouras convencionais (isso dá uma área de quase 3 mil hectares). O que ocorre, por relatos de apicultores certificados, é que este critério é basicamente decorativo, não sendo cobrado com o rigor que o texto sugere e em que alguns consumidores provavelmente crêem.

Para o consumidor, o mel certificado tem um apelo de garantia que o convencional não possui. Essa garantia está longe de ser absoluta, pois há infinitas oportunidades de fraude no processo, mas parece certo que entre dois méis desconhecidos, aquele que for certificado terá uma probabilidade maior de ser isento de impurezas e contaminações indesejáveis.
8.59 O que é hidromel?
É uma bebida alcoólica fermentada, provavelmente das mais antigas na história da civilização. É feito a partir de uma mistura de mel e água, com a possível adição de fermentos e substâncias que favorecem o seu desenvolvimento. Na Internet, pode-se achar inúmeras receitas de hidromel, bem como em muitos livros, como [CRA83].

9. Outros Produtos
Pólen
9.1 O que é o pólen?
É a célula reprodutiva masculina das plantas floríferas. Ele é produzido pelas anteras e deve alcançar o estigma da flor (a porção terminal do seu órgão reprodutivo feminino, o gineceu) para que ocorra a fecundação e a posterior formação de sementes. Este processo é chamado de polinização, e ele ocorre muitas vezes com a ajuda de agentes externos, como o vento, a chuva e animais que se alimentam do pólen ou do néctar, como as abelhas. Em comparação com o néctar, o número de espécies que produz pólen é muito maior.
9.2 Como as abelhas ajudam na polinização?
Quando a abelha pousa numa flor, para colher néctar ou pólen, grãos de pólen ficam presos nos seus pêlos. Em razão do movimento da abelha, os grãos podem ser levados ao estigma da mesma flor ou de outra. Essa ação da abelha é involuntária, e a polinização, um resultado acidental.
9.3 Como o pólen é armazenado pelas abelhas?
As bolotas de pólen trazidas pelas campeiras são empilhadas nos alvéolos logo acima da área de cria. Ao pólen, são adicionadas algumas secreções glandulares e uma fina cobertura de mel, formando o alimento básico das larvas e abelhas jovens (chamado por alguns de "pão de abelha").
9.4 Como o apicultor coleta o pólen?
O que é coletado, na verdade, são as bolotas trazidas pelas campeiras, não o que é depositado nos alvéolos. Para essa coleta, empregam-se armadilhas, chamadas de caça-pólen.

Basicamente, o caça-pólen é constituído por uma grade e uma gaveta. As abelhas passam apertadas pela grade e acabam perdendo a bolota de pólen, que cai dentro da gaveta. As abelhas não têm acesso à gaveta, que é protegida por uma tela mais fina.

Há dois modelos básicos de caça-pólen, o de alvado e o interno. O de alvado é colocado na frente da entrada da colméia, tem uma capacidade menor e deve, portanto, ser esvaziado mais freqüentemente. O interno é posicionado entre o fundo da colméia e o ninho e tem uma capacidade maior.
9.5 Por quanto tempo o caça-pólen pode ser deixado na colméia?
É preciso considerar que o pólen é um produto de extremo valor para as abelhas. Sem ele, não é possível alimentar as larvas mais velhas e as abelhas jovens que, por sua vez, dependem dele para produzir as secreções hipofaringeanas e mandibulares que alimentam as larvas jovens e a rainha. Some-se a isso o fato de as abelhas não estocarem pólen em grandes quantidades, como fazem com o mel, e se terá uma limitação muito forte para o tempo de permanência do caça-pólen na colméia. E essa limitação é tanto maior quanto mais eficiente for o caça-pólen.

Um estudo realizado em Botucatu (SP) [FUN98], identificou uma redução de cerca de 10% na área de cria de operárias e de 4% na área de cria de zangões, quando um caça-pólen era utilizado num esquema com alternância de sete dias (sete dias com, sete dias sem), em comparação com colméias de controle (sem caça-pólen). O estudo foi realizado nos meses de agosto a dezembro de 1996, e cada colméia produziu, em média, 1,5 kg de pólen em quatro meses.

É claro que diferentes resultados serão obtidos em épocas e locais diferentes. O importante é que o apicultor interessado em produzir pólen observe atentamente a resposta dos enxames e, a partir daí, desenvolva um esquema que garanta ao mesmo tempo uma boa produtividade e uma boa manutenção do enxame.
9.6 Como é o beneficiamento do pólen?
Inicialmente, caso o pólen não possa ser secado imediatamente, ele deve ser congelado. A etapa de secagem é a mais importante. O pólen possui de 18 a 25% de umidade, um nível que deve ser reduzido até cerca de 3%, para impedir o desenvolvimento de fungos e fermentos. A limpeza do pólen, manual ou mecanizada também é muito importante. Por fim, a armazenagem deve ser feita em recipiente hermeticamente fechado, para que não haja nenhuma contaminação.
9.7 É possível produzir mel e pólen na mesma colméia?
Sim, mas nenhum dos produtos de forma otimizada. Quando um produto falta na colméia, um número maior de abelhas passa a buscá-lo na natureza. Ao usar-se o caça-pólen, muitas abelhas provavelmente deixarão de colher néctar para colher pólen, o que resultará numa produção do mel inferior à capacidade do enxame em condições normais. O mesmo acontece com a produção de própolis.
9.8 O pólen é um alimento completo para os humanos?
Não, ele é deficiente em algumas vitaminas, por exemplo. Também possui uma porção relativamente alta de matéria indigerível por humanos, a celulose.

Apesar disso, o pólen pode ser considerado um excelente alimento. Para manter o mesmo raciocínio apresentado em relação ao mel, se alguém quiser suprir 30% da sua necessidade diária de algumas vitaminas e minerais, precisará consumir de 6 a 100 g de pólen. Quem ingerir 100 g de pólen estará, em média, consumindo 246 kcal e 24 g de proteínas. Em 100 g de carne bovina há 385 kcal e 23 g de proteína. No caso de frango frito, 100 g correspondem a 165 kcal e 25 g de proteína. O pólen, porém supera esses alimentos amplamente no conteúdo de vitaminas e minerais.
9.9 O pólen pode ser consumido por qualquer pessoa?
A princípio sim, mas estudos identificaram que 12 a 33% das pessoas experimentaram algum tipo de problema ao ingerir pólen, especialmente no que se refere às funções gastrintestinais. Na dúvida, inicie comendo quantidades bem pequenas e observe o resultado.
9.10 Para que o pólen pode ser usado como remédio?
O pólen também é freqüentemente apresentado como panacéia universal, o que obviamente não é. No entanto, há alguns efeitos já estudados e bem documentados do pólen. O principal é o seu efeito sobre a prostatite. Diversos estudos identificaram redução da inflamação, do desconforto e da patologia de pacientes que sofriam de inflamação prostática benigna. Em qualquer caso, porém, procure sempre um médico antes de adotar qualquer tratamento.

Um dos problemas do pólen em relação ao seu uso terapêutico é que, como ele raramente tem origem monofloral, cada amostra possui sua composição química particular. Por essa razão, a variabilidade quantitativa de seus componentes é muito grande, chegando à ordem de 500% ou até mais. Isso dificulta a prescrição de uma dosagem terapêutica específica.
Própolis
9.11 O que é a própolis?
Própolis é uma substância resinosa, coletada pelas abelhas em uma grande variedade de plantas, especialmente em brotos de árvores. Dentro da colméia, essa substância é manipulada pelas abelhas e misturada a um pouco de cera a fim de adquirir propriedades mecânicas adequadas ao seu futuro uso. Tal como o pólen e o mel, a própolis é uma substância de composição variável, por provir das plantas disponíveis na região de cada colméia. No entanto, essa variabilidade não é tão grande quanto se poderia esperar; alguns estudos mostram uma razoável similaridade entre amostras de origens bastante diferentes.
9.12 Para que as abelhas utilizam a própolis?
Para vedar frestas que permitam a entrada de frio ou inimigos naturais, para "envernizar" o interior da colméia e assim repelir outros insetos e inibir o desenvolvimento de alguns microrganismos, para recobrir corpos estranhos que não possam ser retirados da colméia, como animais mortos, para impermeabilizar a colméia e para reforçar partes frágeis da colméia, entre outros.
9.13 Como o apicultor coleta a própolis?
Para produzir própolis, o apicultor cria frestas na colméia ou insere algum elemento que induza as abelhas a cobri-lo de própolis. Uma maneira simples é levantar a tampa por meio de pequenos calços. Outra é introduzir uma tela plástica abaixo da tampa. Há ainda dispositivos especiais, de maior facilidade de uso e rendimento. Entre os dispositivos disponíveis, há vários que usam melgueiras com paredes externas especiais, que permitem a abertura progressiva de frestas, por meio de barras ou janelas deslizantes. Um exemplo desse tipo é modelo Pirassununga [CON98].
9.14 É possível produzir mel e própolis na mesma colméia?
Sim, mas nenhum dos produtos de forma otimizada (veja item 9.7). A despeito disso, o coletor Pirassununga, acima mencionado, foi desenvolvido exatamente para proporcionar a produção dupla nas melgueiras - própolis nas laterais e mel no centro.
9.15 Por quanto tempo pode ser mantido o coletor de própolis?
Por tempo indeterminado, desde que o enxame esteja suficientemente alimentado e forte. Segundo [CON98], um enxame forte leva cerca de 30 dias para produzir 600 gramas de própolis, mas isso, é claro, varia muito com o tipo de flora local, as condições do enxame e a sua tendência mais ou menos propolisadora.
9.16 Como a própolis é beneficiada?
Primeiro, deve ser feita a limpeza manual da própolis, para eliminação de lascas de madeira (oriundas da raspagem), pedaços de abelhas e resíduos vegetais. Em seguida, ela deve ser classificada segundo o padrão de mercado vigente. Uma classificação simplificada, apresentada em [ESP02], é a seguinte: de primeira qualidade, própolis em grandes flocos ou tiras; de segunda, própolis granulada; de terceira, própolis pulverizada.
9.17 Como a própolis é armazenada?
Algumas substâncias presentes na própolis evaporam-se ou degradam-se com facilidade. Por isso, é importante que a própolis seja armazenada em recipientes hermeticamente fechados, como vidros e plásticos atóxicos. Após embalada, a própolis deve sofrer um resfriamento intenso (um dia no freezer, por exemplo), a fim de esterilizar possíveis ovos de traça. Depois disso, os recipientes devem ser guardados em local fresco, seco e escuro, sem necessidade de refrigeração [ESP02].
9.18 Como a própolis é comercializada pelo apicultor?
Bruta ou sob a forma de extrato alcoólico ou aquoso.
9.19 Quais são as propriedades da própolis?
A própolis possui diversas propriedades terapêuticas e biológicas, muitas delas já bem estudadas e compreendidas. Por exemplo, ela apresenta atividades antibiótica, anti-inflamatória, anestésica, antioxidante e cicatrizante, entre outras.
9.20 Qual é a dosagem de própolis a ser usada em cada caso?
Naturalmente, aquela que for indicada por um profissional de saúde habilitado.

Embora ocorra com alguma freqüência, não acho aceitável que apicultores, pelo simples fato de recolherem própolis ou outros produtos, arroguem-se o direito de preparar drogas e prescrevê-las aos seus clientes como se fossem farmacêuticos e médicos. Embora essa atitude possa parecer perfeitamente natural às pessoas inclinadas à automedicação e aos tratamentos caseiros, ela não me parece compatível com a postura ética que se esperaria de um apicultor sério. E mais do que isso, temo que ela prejudique também a apicultura em si, ao associá-la, injusta e erroneamente, a uma forma de curandeirismo.
Cera
9.21 O que é a cera?
Cera é uma substância produzida pelas glândulas cerígenas das operárias com idade em torno de 14 dias. Para produzir a cera, as abelhas convertem o açúcar consumido sob forma de mel, num processo de baixa eficiência - cerca de 8 kg de mel precisam ser consumidos para a produção de 1 kg de cera.
9.22 Qual é a cor da cera?
Branca, como pode ser visto nos favos recém produzidos. A cor amarela ou marrom de alguns favos resulta da impregnação da cera com própolis, resíduos de pólen e outras impurezas. Os favos de cria antigos têm uma cor ainda mais escura, por conta dos restos de casulo e dejetos deixados pelas larvas.
9.23 Para que as abelhas usam a cera?
Para construir os favos e para misturar à própolis, a fim de obter uma substância com melhores propriedades mecânicas.
9.24 Quanta cera há numa colméia?
Cada favo de ninho completo possui cerca de 100 g de cera. Para cada kg de mel maduro, operculado, são gastos 55 g de cera.
9.25 Qual é a vantagem de se fornecer cera à colônia?
Pelos dados acima, uma melgueira com 11 kg de mel possui uns 600 g de cera. Para produzir 600 g de cera, as abelhas devem consumir cerca de 5 kg de mel. Em outras palavras, se um enxame produz uma melgueira cheia sem receber nenhuma cera, o mesmo enxame produzirá quase uma melgueira e meia (uns 40% a mais, na verdade) se lhe forem fornecidos favos inteiros e vazios. Se lhe forem fornecidas lâminas alveoladas, a perda de mel será menor, mas ainda assim significativa. Por essa razão, alguns apicultores incluem os favos de melgueira entre os bens mais valiosos do apiário, e tratam-nos com extremo cuidado.
9.26 Como preservar os favos de forma natural?
Essa é uma questão ainda não muito bem resolvida na apicultura. Favos são delicados, ocupam muito espaço e são muito atrativos para roedores e insetos, particularmente as traças de cera. Os favos mais sujeitos a ataques são os usados para cria e para pólen; os usados apenas com mel são bem menos suscetíveis. Favos de ninho, porém, raramente são armazenados, apenas substituídos e derretidos.

Em relação aos quadros de melgueira (entendido como aqueles usados apenas para mel), uma recomendação básica é que eles sejam devolvidos às abelhas após a extração, para que elas removam todos os resíduos de mel e deixem-nos suficientemente secos para a posterior armazenagem. Dependendo das condições climáticas (sem excesso de frio e umidade), as melgueiras podem ser deixadas nos enxames mais fortes, que se encarregarão de protegê-los contra as traças.

Se as melgueiras tiverem de ser removidas, a melhor medida para evitar a infestação por traças de cera é o tratamento térmico. O congelamento de favos por 4,5 horas a -7 ºC ou por 2 horas a -15 ºC mata todos os estágios da traça de cera. Note que esse tempo deve ser contado a partir do momento em que os favos atingiram essas temperaturas, e não do momento em que eles foram colocados no freezer. Na prática, o melhor é deixar os favos no freezer por 24 horas. Depois, os favos devem ser guardados em ambiente seco e isolado, para que não ocorram novas infestações. Se as próprias melgueiras forem usadas para armazenagem dos favos, o ideal é que elas também sejam congeladas, pois elas também podem conter ovos de traças, especialmente as muito propolisadas. Cuidado com a manipulação dos favos logo após o congelamento, pois eles se tornam extremamente frágeis e quebradiços.

Uma alternativa para a armazenagem é fazê-la em ambiente arejado e bem iluminado (mas sem exposição ao sol). Lembre-se de que, se os favos estiverem afastados uns dos outros, todas as faces receberão uma iluminação melhor. Essas condições são muito desfavoráveis ao desenvolvimento das larvas, e os favos acabam sendo rejeitados pelas traças. Se, adicionalmente, os favos puderem ser isolados do ambiente por telas mosquiteiras (num armário de tela, por exemplo), tanto melhor.

Quando nada disso for possível, deve-se, pelo menos, empilhar as caixas com algum isolante entre elas, como folhas de jornal. Isso evitará que uma infestação numa caixa se propague às outras.
9.27 Há produtos químicos seguros para a preservação de favos? [3]
O Bacillus thuringiensis, uma bactéria fatal para lepidópteros, como a traça de cera, pode ser utilizado para preservação dos quadros. Ele é explicitamente permitido na apicultura orgânica. No Brasil, uma variedade do B. thuringiensis é vendida sob o nome comercial de Dipel, e empregada para a pulverização da soja. Num estudo realizado na Universidade Federal de Lavras [BRI04], o Dipel exerceu um controle eficiente da lagarta, tanto por pulverização quanto por imersão dos quadros, usando soluções do produto em água em várias proporções (9,43 g de Dipel para100 ml de água, por exemplo).

Já em relação a produtos químicos para preservação de favos, mantenho aqui a minha posição de evitá-los sempre que possível. A título de informação, porém, vão aqui algumas informações sobre o paradiclorobenzeno (PDB). Trata-se de uma substância muito empregada, no Brasil, como desodorizante de vasos sanitários e repelentes de traças domésticas. O PDB é aprovado para uso em muitos países desenvolvidos, mas aqui no Brasil é muito pouco usado e visto com desconfiança pela maioria dos apicultores. É um contaminante importante da cera em outros países, e é terminantemente proibido na apicultura orgânica.

O PDB só pode ser usado em favos limpos, sem resíduos de mel ou pólen. Ele é usado numa proporção de 100 g para cada pilha de 5 ninhos ou 8 melgueiras. O PDB sublima (passa do estado sólido para o gasoso), e o seu gás mata a traça em todos os estágios, exceto os ovos. Por essa razão, ele deve ser reaplicado periodicamente. Como o gás é mais pesado que o ar, o PDB deve ser colocado sobre a caixa de cima, logo abaixo da tampa, e todas as frestas devem ser fechadas. O gás pode contaminar a cera, e por isso os favos precisam ser arejados por alguns dias antes de retornarem às colméias.

Atenção: nunca use naftalina para preservar equipamento apícola. Ela deixa mais resíduos na cera, e há diversas referências na literatura sobre a sua toxidade para as abelhas.
9.28 Como se produz cera?
Quantidades relativamente pequenas são produzidas a partir do derretimento dos favos velhos que foram substituídos e também dos opérculos que resultaram da extração do mel.

Se o objetivo principal for a produção de cera, as colônias deverão ser alimentadas abundantemente com xarope, a fim de estimular a produção dos favos. Por exemplo, considere a produção de uma melgueira cheia de mel operculado, a partir de dez quadros que tenham apenas uma pequena tira de cera alveolada para orientação inicial das abelhas. Neste caso, é preciso fornecer à colônia cerca de 15 litros (= 19 kg) de xarope, na proporção de 12,6 kg de açúcar para 6,4 litros de água. Posteriormente, esses favos serão centrifugados e derretidos, resultando, aproximadamente, em 11 kg de "mel" mais 600 g de cera. Esse "mel" extraído será então diluído e devolvido às abelhas como xarope, para a produção de mais cera.

Já a cera produzida pode ser derretida, a fim de ser vendida bruta ou processada. Um processamento possível, extremamente importante para a apicultura, é a laminação e estampagem da cera, para produção de lâminas alveoladas.

Outra utilidade possível para esse método é a produção de favos completos, para uso na safra de mel.
9.29 A produção de cera é rentável?
Parece não haver muita gente produzindo cera, talvez pela quantidade de trabalho necessário, mas ela pode ser rentável, sim. Um quilo de cera laminada pode valer mais de 20 kg de açúcar, mas precisa de apenas 6,5 kg (o equivalente aproximado de 8 kg de mel) para ser produzida. E o melhor é que ela depende apenas de alimentação artificial, não de floradas. Chuvas não atrapalham, porque toda a atividade é interna, mas o frio pode inibir a produção de cera.
9.30 Como se derretem favos de mel? [3]
Um equipamento relativamente eficiente para derreter favos de mel limpos e opérculos é o derretedor solar, que pode ser comprado ou feito em casa. Para isso, basta fazer uma caixa de madeira rasa, com tampa de vidro duplo (procure esquemas de construção na Internet). No fundo, pode ser improvisada uma bandeja para recolher a cera derretida (um funileiro poderá fazê-la com chapa galvanizada). Os quadros ficam apoiados sobre a bandeja, um pouco acima do fundo. A caixa deve ser posicionada inclinada, sempre com a tampa de vidro diretamente voltada para o sol. O calor do sol eleva a temperatura dentro da caixa a mais de 80 ºC, bem acima do ponto de fusão da cera.

Quando o volume de cera é maior, um derretedor a vapor pode ser uma boa solução. Um modelo compacto bastante usado é o que emprega um tonel de 200 litros. Esse tonel é dividido ao meio, ficando a "caldeira" na parte de baixo e os favos a serem derretidos na parte de cima. A sua descrição textual não é simples, mas a montagem pode ser feita por qualquer serralheiro, e podem-se encontrar esquemas na Internet.

Os pedaços de cera obtidos por estas formas de derretimento podem ser novamente derretidos para formarem um bloco - o mesmo vale para pedaços de favos e opérculos, se o apicultor não tiver os equipamentos referidos acima. Para tanto, basta colocá-los num recipiente com água quente, mexer um pouco até o derretimento completo e depois deixar a mistura esfriar. Como a densidade da cera (0,95) é menor do que a da água, ela ficará na superfície e, ao se solidificar, formará um bloco flutuante. Porém, é preciso tomar cuidado com o recipiente usado - se houver algum estreitamento na sua boca, o bloco de cera não poderá sair inteiro. Depois de retirado o bloco, deve-se raspar o seu fundo para remover as eventuais impurezas que restaram.

Favos com mel fermentado devem ser lavados antes, ou a cera poderá absorver o odor durante o derretimento.
9.31 Que tipo de recipiente deve ser usado para derreter a cera? [3]
Conforme [BOG04], recipientes de aço comum, alumínio, zinco e cobre não devem ser usados, para não escurecerem a cera. Materiais que contenham chumbo também não devem ser empregados para não contaminar a cera. O aço inox, também aqui, é o material mais indicado.
9.32 Como se derretem favos de cria? [3]
Os favos de cria têm restos de casulos nos alvéolos, que são tecidos pelas larvas antes do seu fechamento. Além disso, têm uma cera impregnada por impurezas e, por isso, mais escura.

Qualquer uma das formas acima mencionadas pode ser usada para derreter favos de cria, mas a cera precisa ser filtrada enquanto estiver derretida a fim de que as impurezas mais grosseiras sejam separadas. Quando a cera for derretida em água quente, a mistura pode ser passada por uma peneira para outro recipiente. Para tanto, um pedaço de tela metálica fina ou um saco de aniagem funcionam muito bem. No caso do derretedor solar, os quadros devem ficar sobre uma tela que retenha os casulos das crias (o que diminui a eficiência desse equipamento e aumenta o tempo do processo). No derretedor a vapor, normalmente já há uma tela para filtragem das impurezas.
9.33 Como purificar a cera? [3]
Qualquer filtragem da cera em equipamento caseiro dificilmente conseguirá limpar a cera convenientemente. Quando for derretida em água quente, o processo pode melhorar bastante se a cera filtrada for mantida líquida pelo maior tempo possível. A razão disso é que, líquida e em repouso, a cera sofre um processo de decantação em que os detritos mais pesados afundam e os mais leves flutuam. Assim que o bloco de cera esfria, a maior parte das impurezas pode então ser facilmente raspada da sua superfície.

Quem prefere números mais exatos, pode tomar como ideal a permanência da cera derretida em água a 75-80 ºC por 8 horas, no mínimo [BOG04]. Quando isso não for possível, é recomendável que, pelo menos, o resfriamento da cera seja atrasado o máximo possível, envolvendo o recipiente com material isolante (panos, jornal) e deixando-o no ambiente mais aquecido que houver.
9.34 Há meios químicos para processar a cera? [3]
Certamente, e a literatura registra alguns, como o uso de água oxigenada para o branqueamento da cera. Eles podem ser utilizados industrialmente e até em ambiente doméstico. No entanto, devido ao perigo de contaminação da cera, parece-me que o melhor é evitá-los sempre que possível.

Uma questão importante é o derretimento da cera em água dura (com excesso de minerais). Neste caso, pode ser produzida uma emulsão de água e cera. Para evitar o problema, em primeiro lugar, a temperatura da água deve ser mantida abaixo de 90 ºC. Uma alternativa é acrescentar 2-3 gramas de ácido oxálico para 1 kg de cera e 1 litro de água [BOG04] (o ácido se ligará ao cálcio e evitará a formação da emulsão, além de ajudar a clarear a cera).
9.35 Como se retira a cera dos quadros sem arrebentar os arames?
O melhor jeito é deixar os quadros ao sol por algum tempo. Em seguida, usar uma espátula com delicadeza para remover os favos. É um bom momento para raspar a própolis acumulada, que também estará amolecida pelo calor.
9.36 O que fazer com a cera derretida?
Ela pode ser usada em troca por lâminas alveoladas. Dependendo da qualidade da cera derretida, os produtores de lâminas atribuem-lhe um valor bastante variável, entregando entre 60 e 85% do peso da cera bruta em lâminas.
9.37 Qual é a temperatura de fusão da cera?
Entre 62 e 64 ºC. A partir de 50 ºC, no entanto, a cera já amolece significativamente, e a resistência mecânica de um favo diminui muito.
Geléia Real
9.38 O que é geléia real?
É uma substância produzida pelas operárias jovens para alimentação da rainha, desde o estágio de larva. Essa substância inclui secreções mandibulares e hipofaringeanas das abelhas.

Embora o alimento das crias jovens também seja freqüentemente chamado de geléia real, ele é diferente, possuindo uma proporção muito menor de secreção mandibular. Por essa razão, a geléia real contém algumas substâncias, como o ácido pantotênico e a biopterina, em quantidades muito maiores que a comida de cria.
9.39 Quantos anos a mais vou viver se comer geléia real?
Se comer apenas geléia real, provavelmente você vai viver quase 3 mil anos. A conta é simples: uma rainha, que só se alimenta de geléia real, pode chegar a viver 5 anos, ou 40 vezes a média de uma operária. Portanto, se você tomar a nossa média de vida como 70 anos, e multiplicá-la por 40...

Calma, é só uma brincadeira. A rainha de fato vive mais, mas há um problema básico nessa conta. A comparação feita é entre a expectativa de vida máxima da rainha com a média das operárias. Operárias podem viver muito mais do que isso se forem mantidas presas e alimentadas. No hemisfério norte, por exemplo, algumas colméias passam seis meses semi-enterradas na neve, e não sofrem baixas significativas se estiverem saudáveis e tiverem alimento suficiente (ou seja, nas mesmas condições da rainha).

Além disso nada garante que os mesmos efeitos causados nas rainhas pela geléia real também ocorram em mamíferos. Aliás, muitos deles é melhor mesmo que não ocorram - imagino que ninguém esteja atrás de ovários hipertrofiados, por exemplo. Na apicultura, como de resto em outras áreas de conhecimento, não é raro encontrarem-se argumentações baseadas em analogias estapafúrdias como esta.
9.40 Mas a geléia real é um bom alimento?
A geléia real possui uma composição variada, com carboidratos, proteínas, gorduras, algumas dessas com uma composição molecular bastante peculiar. Também possui algumas vitaminas e minerais (quase todos em quantidades menores do que no pólen), além de outras substâncias (esteróides, fenóis, etc.).

Diversas pesquisas atribuem benefícios variados à ingestão de geléia real, mas estudos mais elaborados, com protocolos de duplo-cego, ainda podem ser necessários para se chegar a um grau aceitável de certeza [SCH92a].

Segundo [MUR02], no entanto, já há evidências de que a geléia real pode ser eficiente como estimulante ou para tratamento distúrbios neurológicos, endócrinos, digestivos e hematopoiéticos (formadores de células sangüíneas).
9.41 Em que mais a geléia real pode ser usada?
A geléia real possui propriedades cosméticas e antimicrobianas que são aproveitadas largamente na indústria de cosméticos, especialmente sob a forma de cremes tópicos.
9.42 Quanto vale a geléia real?
Varia muito, mas uma relação possível é a de um quilo de geléia real para 40-45 kg de mel.
9.43 Como se produz geléia real?
Da mesma forma que se produz rainhas, mas com a interrupção do processo. Basicamente, é feita a orfanação de um enxame forte, seguida do enxerto de larvas de 12 a 36 horas num quadro com cúpulas artificiais, que é introduzido na colméia. Três dias depois, o quadro é recolhido, as larvas descartadas e a geléia real retirada. Cada cúpula fornece entre 200 e 300 mg de geléia.
9.44 Como a geléia real é armazenada?
Protegida da luz, em ambiente refrigerado, inclusive congelada. Ela também pode ser desidratada (por liofilização).
Veneno
9.45 O que é o veneno?
O veneno, ou apitoxina, é um produto sintetizado pelas glândulas de veneno das operárias e da rainha. É basicamente composto por uma ampla mistura de enzimas, proteínas e outras moléculas menores.
9.46 Quanto veneno possui uma abelha?
Operárias em fase de guarda ou forrageamento possuem entre 100 e 150 mg (milionésimos de grama). Rainhas possuem, em média, 700 mg.
9.47 Como o veneno atua?
Ele é injetado pelas abelhas, com o auxílio do ferrão, nos seus predadores (reais ou presumidos). Algumas de suas substâncias causam dor, enquanto outras provocam uma reação alérgica de intensidade variável, que depende do porte e da sensibilidade da vítima.
9.48 Como evitar uma reação alérgica ao veneno?
Evitando abelhas. Fora isso, um médico pode prescrever-lhe medicamentos antialérgicos para serem usados após as ferroadas e diminuir a reação, ou submetê-lo a uma dessensibilização. Mas isso, normalmente, só é feito em caso de sintomas mais graves do que simples reações locais.
9.49 Como se extrai o veneno das abelhas?
Por meio de um equipamento composto por uma tela metálica e uma membrana. A tela metálica é carregada eletricamente, o que provoca um pequeno choque nas abelhas e leva-as a ferroar a membrana e depositar ali o veneno. A membrana cede o suficiente para que o ferrão não seja arrancado, evitando assim a morte da abelha.

Pela pequena quantidade de veneno de cada abelha, o rendimento é muito baixo - um grama é obtido a partir de 100.000 ferroadas. E o processo de estimulação acaba estressando muito o enxame, que se torna hiperagressivo. Por essas razões, o valor do veneno é muito alto.
9.50 Quanto vale o veneno?
De 35-55 dólares por grama no mercado internacional, o mesmo que 3 a 5 gramas de ouro.
9.51 Para que serve o veneno?
O veneno ainda é objeto de muito pesquisa no mundo inteiro. O seu uso nos tratamentos de dessensibilização é prática corrente. Diversas pesquisas também apontam para uma possível utilidade no tratamento de artrite reumatóide, uma doença degenerativa das articulações, muitas vezes acompanhada por dor intensa.
10. Flora Apícola
10.1 O que é considerado flora apícola?
Um conjunto de plantas de interesse para as abelhas. Normalmente, essas plantas são classificadas como nectaríferas ou poliníferas, mas as boas produtoras de própolis também podem ser incluídas. Outras plantas que devem integrar a flora apícola são aquelas que não se enquadram propriamente em nenhum dos tipos acima, mas são hospedeiras habituais de insetos que produzem um pseudonéctar (melato) que é colhido pelas abelhas e transformado em mel.
10.2 Como saber qual é a flora apícola de uma região?
Impossível dizer sem examiná-la. Cada região possui sua vegetação própria, plantada ou nativa, adaptada às condições de solo, clima, topologia e ecologia. Uma região distante poucas dezenas de quilômetros de outra pode ter flora apícola predominante bastante diferente.

Para conhecer as plantas principais, pode-se perguntar a um apicultor experiente da região, ou observar cuidadosamente a atividade das abelhas por um ou dois anos.
10.3 O que é o calendário apícola?
No que diz respeito à flora, o calendário determina os ciclos de floração da região por espécie. Em geral, muitas plantas florescem ao mesmo tempo, criando períodos de abundância de alimento que podem resultar em colheita para o apicultor. Esses períodos são chamados de safras. Em contrapartida, os períodos em que a quantidade de alimento disponível para as abelhas é escassa ou nula são chamados de entressafras.

No Brasil, o número de safras e os seus períodos de ocorrência são bastante variáveis. Duas safras por ano, uma maior e outra menor ocorrem em muitas regiões.
10.4 Como descobrir o calendário apícola de uma região?
Da mesma forma que a flora apícola - perguntando ou observando. Aqui também, grandes variações podem existir entre regiões próximas, especialmente se a diferença de altitude entre elas for significativa. Os livros, por exemplo, definem a época de floração numa faixa ampla, de dois, três ou mais meses. Um leitor desavisado pode imaginar que a floração se estende por todo esse intervalo, mas, na verdade, este é apenas o período provável da sua ocorrência.

Aliás, a mesma região pode apresentar variações significativas no seu calendário apícola, de um ano para outro, por conta de fenômenos climáticos. O que se consegue, na verdade, é apenas uma média, mas que já é muito importante para o apicultor.
10.5 Por que o calendário apícola é importante?
Porque ele determina grande parte do manejo. Alimentação artificial, troca de rainhas e substituição de quadros, por exemplo, são atividades típicas da entressafra, e todos guardam uma relação temporal importante com a safra.
10.6 Quanto dura em média uma florada?
Depende muito da espécie e do tipo de plantio. A família Myrtaceae (dos eucaliptos) floresce por um ou dois meses, às vezes mais. A Asteraceae (assa-peixes, vassouras, carquejas) também tem uma florada longa, e uma espécie sucede a outra, cobrindo um período longo. A Brassicaceae (canola, nabo, couve) pode florescer por mais de dois meses. A Rutaceae (citros) tem uma floração curta, de cerca de duas semanas. Muitas outras espécies, talvez a maioria, têm uma floração relativamente curta, de alguns dias a duas semanas.
10.7 Floradas curtas são inúteis para as abelhas?
Depende do momento de ocorrência. Uma florada curta, mesmo com bom volume de néctar e concentração de açúcar, não pode ser aproveitada pelas abelhas enquanto o enxame ainda não se desenvolveu o suficiente. Essa é a principal razão do sucesso dos apicultores que estimulam corretamente as suas abelhas com alimento na entressafra: elas conseguem aproveitar bem as primeiras floradas.

Depois de o enxame estar bem desenvolvido, naturalmente ou por intervenção do apicultor, qualquer florada que seja atrativa para as abelhas é útil.
10.8 Quais são as melhores plantas apícolas?
Essa é uma das perguntas mais feitas na apicultura. Há uma variedade enorme de plantas apícolas, mas há também um problema básico: plantas de excelente desempenho numa região podem se tornar más produtoras em outra. Por essa razão, diversos estudos chegam a conclusões aparentemente incompatíveis ou mesmo conflitantes.

Na prática, é preciso recorrer a informações de inúmeras fontes e extrair delas algum consenso sobre espécies mais úteis.
10.9 A flora apícola de uma região pode ser melhorada?
Sim. O plantio de espécies melíferas que tenham bom desempenho numa região pode resultar em grande melhora da flora apícola. Uma abordagem recomendada é o plantio de espécies arbóreas perenes, consorciadas com espécies herbáceas ou arbustivas anuais, para ganho a curto, médio e longo prazos.

A questão econômica, porém, não é tão clara. Por exemplo, alguns estudos identificaram espécies com altos potenciais melíferos, da ordem de 200 a 1.000 quilos por hectare. Mas este é um potencial teórico, calculado a partir de estimativas do número médio de flores por hectare durante uma safra e do volume e da concentração média de açúcar do néctar produzido por cada flor. Não custa lembrar que, para que este néctar seja recolhido, é preciso haver condições climáticas adequadas. Também, muitas vezes há uma enorme variação no desempenho das plantas de um ano para outro. E como se não bastassem essas incertezas, nada impede que um pasto apícola cuidadosamente cultivado seja aproveitado entusiasticamente por todos os demais enxames da região, sejam eles naturais ou alojados em colméias de outros apicultores.

Uma alternativa indiscutivelmente boa do ponto de vista econômico, é o aproveitamento das culturas comerciais, especialmente as voltadas para a produção de frutas, como os citros, ou grãos, como o girassol ou a canola.
10.10 Como saber o que deve ser plantado?
Este é um tema delicado, do ponto de vista ecológico. Muitos ecologistas recomendam que apenas as espécies nativas (ou exóticas há muito aclimatadas) sejam plantadas, a fim de evitar um possível desequilíbrio ecológico. É uma posição cautelosa, mas a multiplicação artificial e maciça de uma espécie nativa também pode causar algum desequilíbrio. Isso é especialmente importante em grandes vazios demográficos e áreas de preservação ambiental, onde uma planta invasora poderá se alastrar livremente antes que o seu dano seja percebido.

Uma lista de espécies locais de interesse apícola pode ser obtida com os apicultores mais experientes da região, especialmente os mais inclinados para este assunto (não são muitos, infelizmente). Naturalmente, a região considerada não precisa se restringir às vizinhanças do apiário; ela pode compreender, por exemplo, os estados geograficamente próximos.

E uma boa alternativa sempre será uma seleção pessoal do apicultor, a partir da observação cuidadosa e muita leitura.
10.11 Que critérios definem uma boa planta nectarífera?
Basicamente, três: quantidade, qualidade e disponibilidade do néctar produzido. No que diz respeito a néctar floral, os fatores levados em consideração são, principalmente, os seguintes:

· Duração da floração;
· Confiabilidade (previsibilidade) da floração;
· Volume de néctar produzido por planta;
· Concentração de açúcar do néctar;
· Acessibilidade da abelha ao nectário;
· Qualidade do mel produzido, consideradas as suas propriedades organolépticas (aroma, sabor, textura, aspecto, etc.).

Há autores que também incluem a abundância regional como um critério para qualificação de planta nectarífera. Na minha opinião, isso é um equívoco, pois confunde a avaliação individual de cada planta com a sua participação relativa no conjunto da flora apícola regional, que são pontos bem diferentes.

Alguns desses fatores não são mensuráveis senão em laboratório, mas são percebidos pelo nível de atratividade que as flores exercem nas abelhas e pela produção destas.

Ou seja, de forma mais simples, uma boa nectarífera é aquela que floresce intensamente, todos os anos (ou sempre que plantado), atrai muitas abelhas e dá um mel saboroso.
10.12 Há plantas de floração imprevisível?
Sim. Muitas espécies perenes apresentam grandes variações de um ano para outro. É o mesmo processo que ocorre com as frutíferas, para as quais, sem manejo adequado (raleio dos frutos), os anos de abundância precedem os de escassez. Os eucaliptos, por exemplo, reconhecidos mundialmente como uma excelente fonte de néctar e pólen, são notoriamente pouco confiáveis. A espécie robusta, muito difundida no Brasil e responsável por colheitas abundantes na região sul, é uma das mais confiáveis, com florações fortes e repetidas.
10.13 Que critérios definem uma boa planta polinífera?
A flora polinífera é muito mais abundante do que a nectarífera, e, talvez por esta razão, receba menos atenção. É comum encontrar-se plantas qualificadas como boas produtoras de pólen, mas não estimativas de produtividade por espécie, por exemplo.

Do ponto de vista da necessidade alimentar das larvas de abelha, porém, sabe-se que há polens muito melhores que outros. O primeiro dado importante é que o total de proteína no pólen deve ser igual ou superior a 20%, mas ele, por si só, não significa muito. Um estudo realizado por DeGroot em 1953 determinou as quantidades mínimas de 10 aminoácidos que devem estar presentes na proteína do pólen para que as larvas possam aproveitá-la integralmente. Por exemplo, a proteína presente num pólen deve conter no mínimo 4% do aminoácido isoleucina. Se tiver apenas 3%, segundo DeGroot, as larvas só conseguirão digerir 3/4 da proteína total. Nesse caso, se o volume total de proteína for de 24% e todos os demais aminoácidos estiverem dentro do mínimo necessário, a proteína digerível para as larvas será de apenas 18%, o que é um valor insuficiente.

Um exemplo desta situação é o que ocorre com a alfafa, que provoca um enfraquecimento do enxame pela intensa colheita de néctar sem um o pólen de qualidade suficiente para manter as crias [STA96]. Já o pólen da Corymbia (ex-Eucalyptus) maculata é tido como um dos melhores polens para as abelhas na Austrália. Sementes dessa árvore são facilmente encontráveis no Brasil, por exemplo, no site do IPEF (http://www.ipef.br).
10.14 Que critérios definem uma boa planta propolífera?
Menos informações ainda se têm sobre plantas propolíferas. Uma referência freqüente à Baccharis dracunculifolia (vassoura, alecrim) afirma que ela produz a própolis verde, um tipo especialmente procurado e valorizado pelos compradores internacionais.
10.15 Como identificar uma planta?
Uma vez que se tenha observado uma planta de interesse, o primeiro passo é fazer uma pesquisa como os moradores locais para descobrir o seu nome popular. Com o nome popular, pode-se descobrir a espécie com uma simples consulta à Internet (via Google - http://www.google.com.br - ou outro buscador). Não é garantido, pois o mesmo nome popular às vezes é usado para inúmeras espécies completamente diferentes.

Não conseguindo o nome popular, pode-se recorrer a herbários de universidades ou Jardins Botânicos. Biólogos que fazem trabalho de campo, como os que trabalham na preparação de relatórios de impacto ambiental (RIMAs), têm vasto conhecimento sobre a vegetação regional, e podem ajudar.

Uma alternativa é a pesquisa bibliográfica própria. Os livros de Harri Lorenzi, do Instituto Plantarum (http://www.plantarum.com.br), por exemplo, são abrangentes, e as espécies são muito bem descritas e fotografadas. Em especial, veja [LOR00] e [LOR02].
11. Inimigos
11.1 Quais são os inimigos das abelhas? [3]
Há vários. Microorganismos causadores de doenças de cria e de adultos, parasitas internos, externos e sociais, substâncias tóxicas, predadores e outras pragas (referências em [ESP02], [GON02], [PER03], [SAM98], [SAN99], [SHI92], [WIE87]).

No que diz respeito ao Brasil e às abelhas africanizadas, os principais problemas são as substâncias tóxicas e o vandalismo ou roubo. Em relação às doenças e parasitas em geral, as africanizadas apresentam uma resistência maior que as européias. Em parte, essa resistência tem origem orgânica, como no caso da característica SMR (de Suppress Mite Reproduction), freqüentemente encontrada nas africanizadas, que impede a reprodução da varroa nos alvéolos de cria. No caso das doenças, a maior resistência das africanizadas provavelmente se deve a um comportamento higiênico mais desenvolvido, que as leva a remover os cadáveres mais rapidamente e com maior eficiência, diminuindo assim a chance de alastramento da infecção.

Ao mesmo tempo, essas abelhas têm forte tendência de abandonar completamente o ninho quando enfrentam algum tipo de perturbação mais forte, deixando para trás todos os organismos indesejados. Esse tipo de comportamento ajuda no controle de parasitas, que chegam a devastar fortes colônias de européias, mas raramente fazem o mesmo com africanizadas.

Nos países que criam abelhas européias, três pragas são responsáveis pela maior parte dos prejuízos: a podridão americana, a varroa e o besouro da colméia.

Na África, os criadores de Apis mellifera scutellata têm sofrido nos últimos anos com um caso grave de parasitismo social da A.m. capensis [GON02].
11.2 Como são classificados esses inimigos?
Há varias classificações possíveis. Uma delas, muito citada, é por fase da vida da abelha em que ela é atingida. Por exemplo, as principais doenças de cria são as seguintes:

· Podridão européia (ou CPE - Cria Pútrida Européia)
· Podridão americana (ou CPA - Cria Pútrida Americana)
· Cria ensacada
· Cria ensacada brasileira
· Cria giz

Já as principais doenças de adultos são estas:

· Nosemose
· Disenteria
· Envenenamento
· Fome e frio

E há também os parasitas e outras pragas:

· Varroa
· Acarapis woodi (doença chamada de acariose)
· Aethina tumida (besouro da colméia)
· Apis mellifera capensis
· Traças de cera
· Formigas
11.3 Podridão européia?
Agente: bactéria Melissococcus pluton.

Sintomas: larvas mortas, amareladas ou marrons. Cheiro ácido forte. Favo de cria com poucos alvéolos operculados em meio a muitos vazios ou com larvas mortas.

Contágio: as abelhas adultas contaminam as larvas ao alimentá-las.

Prejuízo: significativo, quando a colônia não tem alimento suficiente.

Ocorrência no Brasil: relativamente comum.

Controle: uma alimentação abundante, energética e protéica, geralmente resolve o problema. Se ele persistir, uma opção é substituir a rainha para tentar mudar o perfil de tolerância à doença da colônia.

Observação: essa doença pode ser tratada com Terramicina, mas essa não é a melhor escolha (veja o item 11.20 abaixo)
11.4 Podridão americana?
Agente: bactéria Paenibacillus larvae

Sintomas: crias operculadas (pré-pupa/pupa) mortas, opérculos perfurados. Larvas marrons que, quando esmagadas com um palito, adquirem uma consistência viscosa e provocam a criação de um "fio" no momento em que o palito é removido.

Contágio: fácil, através de mel e pólen contaminados com os esporos da bactéria. A transmissão se dá por pilhagem de colônias infectadas, transferência de favos de alimento pelo apicultor e até mel extraído que é recolhido pelas abelhas (essa forma proporciona a "importação" da doença de outros países, junto com méis contaminados).

Prejuízo: muito grande, podendo devastar apiários.

Ocorrência no Brasil: ainda não detectada.

Controle: colméias suspeitas devem ser imediatamente isoladas e ter uma amostra enviada a análise de laboratório. Como esta doença ainda não foi identificada no Brasil, não existe uma diretriz nacional sobre o que fazer se o resultado for positivo. O melhor talvez seja adotar o critério mais radical, usado por diversos países, que é o da destruição completa das abelhas e de todas as partes da colméia. Para isso, remova primeiro todos os quadros e queime-os durante o dia. À noite, feche a colméia e mate as abelhas com um inseticida. Essa parte é especialmente difícil para o apicultor, mas ele deve lembrar que a sobrevivência de todos os demais enxames está em jogo. No dia seguinte, queime as caixas, fundo, tampa e as abelhas mortas. O fogo é necessário porque os esporos do P. larvae suportam temperaturas de até 150 ºC. Alguns países e estados americanos admitem a esterilização do equipamento ao invés da sua destruição, mas os meios não são facilmente encontráveis no Brasil ou são muito perigosos (irradiação beta e gama, mergulho em parafina a 160 ºC, fervura em solução de soda cáustica).
11.5 Cria ensacada?
Agente: vírus (SBV, de Sacbrood Virus, sem nome científico)

Sintomas: crias parcialmente operculadas em meio a outras totalmente operculadas ou já emergidas. Pré-pupas mortas, com cor variando do amarelo ao marrom-escuro, especialmente com a extremidade da cabeça mais escura que o resto do corpo. Indivíduos mortos podem ser facilmente removidos dos alvéolos, mas, quando agarrados por uma pinça, tomam a forma de um saquinho (daí o nome).

Contágio: provavelmente através das abelhas adultas, ao alimentar as larvas.

Prejuízo: pouco significativo, podendo passar despercebido em enxames fortes.

Ocorrência no Brasil: desconhecida (veja item 11.6).

Controle: a manutenção de enxames fortes, com bastante alimento é suficiente.
11.6 Cria ensacada brasileira?
Agente: pólen do barbatimão (Stryphnodendron spp.)

Sintomas: similares aos da cria ensacada (descritos acima)

Contágio: pelas abelhas adultas, ao alimentar as larvas com o pólen.

Prejuízo: grande, com enfraquecimento ou morte de muitos ou todos os enxames do apiário.

Ocorrência no Brasil: muito freqüente na região Sudeste. Possível em outras regiões onde exista esta planta.

Controle: alimentação com suplemento protéico pelo menos 15 dias antes do início da florada do barbatimão. Manutenção dessa alimentação durante todo o período da florada.
11.7 Cria giz?
Agente: fungo Ascosphaera apis

Sintomas: larvas rígidas, aparentando mumificação. Podem ser facilmente removidas do favo com uma sacudida.

Contágio: pelas abelhas adultas, ao alimentar as larvas com pólen contaminado com o fungo.

Prejuízo: moderado em enxames mais suscetíveis.

Ocorrência no Brasil: já detectado, mas ainda não relevante.

Controle: manutenção de enxame forte e substituição freqüente da rainha.
11.8 Nosemose?
Agente: protozoário Nosema apis

Sintomas: abelhas incapazes de voar, desorientadas no chão da colméia, com tremores, com asas em posição anormal e abdômen inchado.

Contágio: pelas fezes das abelhas adultas contaminadas, quando depositadas dentro da colméia (por impossibilidade de realizar os vôos higiênicos).

Prejuízo: grande em climas temperados, pequeno nos demais.

Ocorrência no Brasil: existente, mas atualmente pouco relevante.

Controle: manutenção de enxame forte e substituição freqüente da rainha. Esterilização eventual dos equipamentos por imersão em água quente.
11.9 Disenteria?
Agente: más condições alimentares e sanitárias

Sintomas: presença de matéria fecal marrom ou amarelada na colméia, abelhas com movimentos lerdos e abdomens inchados. Mortandade de abelhas.

Causas: alimento fermentado, alimento com impurezas (como as presentes no açúcar mascavo e melado de cana), alimento com alto teor de HMF (mel velho, açúcar invertido), excesso de umidade na colméia.

Prejuízo: de pequeno a muito grande, podendo acabar com o enxame.

Ocorrência no Brasil: geral.

Controle: eliminação das causas.
11.10 Envenenamento?
Agente: inseticidas

Sintomas: mortandade súbita de adultas dentro da colméia ou redução drástica do enxame (mortandade no campo).

Causas: aplicação de inseticidas em culturas vegetais no raio de ação das abelhas. Fungicidas e herbicidas normalmente não matam as abelhas, ainda que possam deixar resíduos nos produtos coletados.

Prejuízo: Muito grande, podendo devastar o apiário.

Ocorrência no Brasil: geral.

Controle: escolha prévia do local do apiário, conhecimento prévio da rotina de pulverização das culturas vizinhas, remoção das colméias antes das pulverizações, alimentação abundante durante e após as pulverizações.
11.11 Fome e frio?
Agente: falta de alimento energético

Sintomas: Morte ou forte redução do enxame, com abelhas adultas mortas dentro dos alvéolos, as cabeças voltadas para o fundo.

Causas: falta de alimento energético (mel, néctar, xarope), especialmente na entressafra e em clima frio, quando o consumo de mel é aumentado para a geração de calor. É importante salientar que qualquer enxame normal só morrerá de frio se não tiver mel suficiente a disposição.

Prejuízo: Grande, com possível perda do enxame.

Ocorrência no Brasil: principalmente nas regiões frias (Sul) ou naquelas em que as entressafras são severas e longas.

Controle: Alimentação artificial com xarope ou mel deixado na colméia em quantidade suficiente para a entressafra.
11.12 Varroa?
Agente: ácaros Varroa destructor e Varroa jacobsoni (talvez outros)

Sintomas: presença de muitas larvas (especialmente de zangões) com ácaros - vistos a olho nu como pontos marrons, do tamanho de uma cabeça de alfinete. Os ácaros estão presentes nos adultos também, mas não são tão facilmente identificáveis.
Um teste simples de ser feito é o seguinte: recolher uma porção de abelhas adultas (500-1000 abelhas) num vidro, adicionar água e sabão líquido a 4% (ou álcool etílico ou isopropílico a 70%) e agitar bem. Depois, coar as abelhas e verificar a presença de varroas no líquido.

Prejuízo: muito grande em climas temperados e abelhas européias, menor em climas tropicais e abelhas africanizadas.

Ocorrência no Brasil: existente, mas ainda não especialmente relevante. Exige observação.

Controle: manutenção de enxames fortes, bem alimentados. Substituição da rainha em caso de infestação acentuada. O controle químico, com fluvalinato, é permitido e usado em outros países, mas não disponível nem recomendado por grande parte dos apicultores no Brasil.

Observação: existe um inseto (Braula coeca) que é praticamente inofensivo às abelhas, mas muito parecido com a varroa. Ele se aloja no tórax das operárias e da rainha, às vezes em grupos. Uma diferença perceptível é que ele possui 3 pares de patas, que se estendem para o lado do corpo, enquanto que a varroa, um aracnídeo, possui 4 pares, que se estendem para frente.
11.13 Acariose?
Agente: ácaro Acarapis woodi

Sintomas: imprecisos, muito semelhantes aos de outras doenças: enxame anormalmente reduzido, abelhas arrastando-se com asas desconjuntadas. A confirmação só pode ser feita em laboratório.

Prejuízo: grande, se não tratado.

Ocorrência no Brasil: existente, mas atualmente irrelevante.

Controle: manutenção de enxames fortes, bem alimentados, com rainha nova.
11.14 Besouro da colméia?
Agente: coleóptero Aethina tumida

Descrição: fêmeas adultas deste besouro são atraídas pelo mel e podem entrar na colméia ou pôr ovos em favos expostos ao ar livre. As larvas, de pouco mais de 1 cm, alimentam-se de mel e de crias vivas, infestando qualquer tipo de favo. O mel, fermentado pelas fezes das larvas, é repudiado pelas abelhas. Poucos indivíduos adultos podem causar pesadas infestações.

Prejuízo: muito grande na América do Norte, com exterminação de enxames. Na África, esse besouro raramente cria problemas para os enxames de Apis mellifera scutellata, embora a sua convivência seja comum.

Ocorrência no Brasil: ainda não encontrado.

Controle: difícil. Verificação cuidadosa e pronta eliminação de favos infectados. Manutenção de enxames fortes. Prevenção por exposição mínima dos favos durante o manejo e colheita de mel.
11.15 Apis mellifera capensis?
Agente: abelha A.m. capensis

Descrição: operárias da abelha capensis invadem colméias de A.m. scutellata (só dela) e passam a competir com a rainha, pondo ovos e produzindo feromônio de rainha. Esta acaba morrendo, atacada pelas invasoras ou vítima de desnutrição por falta de atendimento das suas operárias. Os ovos postos pelas capensis, apesar de não fecundados, produzem novas fêmeas poedeiras, o que acaba desorganizando a colméia de tal modo a inviabilizá-la.

Prejuízo: muito grande na África do Sul, com grande exterminação de enxames.

Ocorrência no Brasil: ainda não identificada.

Controle: muito difícil. Prevenção por isolamento das duas espécies.
11.16 Traças de cera?
Agente: Galleria mellonella (traça maior) e Achroia grisella (traça menor)

Descrição: indivíduos adultos põem ovos no interior da colméia ou em favos guardados, especialmente os mais escuros. As larvas alimentam-se de cera e formam túneis cheios de fezes e fios de seda nos favos, que se tornam inaproveitáveis para as abelhas. Em infestações pesadas, as larvas chegam a destruir a madeira dos quadros e das caixas.

Prejuízo: insignificante ou inexistente em enxames médios e fortes; importante em enxames fracos. Possivelmente grande em favos armazenados.

Ocorrência no Brasil: geral.

Controle: manutenção de enxames fortes. Enxames fracos devem ser protegidos por redução do alvado e vedação das frestas das colméias. Favos escuros (especialmente os de ninho) devem ser derretidos tão logo sejam retirados da colméia. Favos claros devem ser guardados, preferencialmente, em ambiente claro, seco e arejado. O congelamento dos favos a -15 ºC por 2 horas destrói todas as fases das traças (ovos, larvas e adultos).

Observação: em alguns países o paradiclorobenzeno (PDB) é uma substância química aprovada para controle da traça em favos armazenados. No Brasil, recomenda-se sempre evitar procedimentos que possam deixar resíduos indesejáveis na colméia e nos seus produtos.
11.17 Formigas?
Agente: diversas espécies de formigas

Descrição: as formigas costumam atacar repentinamente e causar grandes danos, devorando as crias, o mel, o pólen e provocando um grande estresse na colméia.

Prejuízo: destruição dos favos e abandono dos enxames.

Ocorrência no Brasil: geral.

Controle: manutenção da colméia em posição elevada em relação ao solo. Uso de cavaletes com proteção contra formigas, como lã ou estopa embebida em óleo, arandelas com óleo, cúpulas invertidas (de garrafas PET, por exemplo). Limpeza do terreno e combate das formigas predadoras nas imediações do apiário.
11.18 Como se pode confirmar uma suspeita de doença?
Enviando uma amostra de favo, crias e/ou adultas para análise num laboratório. Isso especialmente necessário no caso de suspeita de podridão americana, que é a doença apícola mais importante.
11.19 A quem e como se deve enviar as amostras?
Antes de enviar amostras a algum lugar, entre em contato com alguma autoridade ligada à área de sanidade apícola. Por exemplo, existe oComitê Científico Consultivo em Sanidade Apícola - CCCSA, instituído pela Portaria nº 09, de 18 de fevereiro de 2003, da Secretaria de Defesa Agropecuária, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Seus membros podem ser contatados pelos seguintes e-mails (para formar os endereços, junte as palavras em negrito com o caráter "@" entre elas):

Aroni Sattler (UFRGS/Porto Alegre/RS) - aronisattler em yahoo.com.br
Dejair Message (UFV/Viçosa/MG) - dmessage em mail.ufv.br
David de Jong (USP/Ribeirão Preto/SP) - ddjong em fmrp.usp.br
Dulce Schuch (MAPA/Porto Alegre/RS) dmtschuch em yahoo.com
11.20 Por que não tratar as doenças com remédios?
Medicamentos sempre oferecem o risco de, se mal usados, contribuírem para a seleção de cepas resistentes dos organismos que estão sendo combatidos. Além disso, eles contaminam os produtos da colméia e não têm sido necessários no Brasil. A maior resistência da abelha africanizada em relação à européia permite que muitas doenças sejam tratadas com a simples adoção de medidas sanitárias simples e/ou substituição da rainha - e conseqüente alteração do perfil genético da colméia em cerca de dois meses. Essa alteração genética é uma tentativa de criar um enxame com resistência orgânica maior ou comportamento higiênico mais apurado, o que é perfeitamente possível com a aquisição de rainhas africanizadas selecionadas.

Dessa forma, busca-se um melhoramento genético com a extinção das características ruins em relação às doenças. O retorno deste procedimento é um gasto menor em manejo e nulo em remédios, mas, principalmente, o privilégio de se recolher produtos absolutamente naturais, sem contaminantes químicos de nenhuma espécie.
11.21 Como evitar o roubo e o vandalismo?
Esse é um problema difícil. Por representar um perigo a pessoas e animais, o apiário necessariamente deve ser localizado a uma certa distância de casas e galpões, o que o torna um alvo fácil para ações criminosas. Há muito pouco o que fazer sem investir muito.

A primeira tentativa é ocultar da melhor forma possível o apiário da vista de populares. O uso de cores discretas nas colméias, telhados e suportes pode ajudar.

Alguns apicultores sugerem adotar equipamentos especiais, como fundos (chãos) de colméias com furos grandes, ou tampas integradas com telhados pesados. A idéia é que as colméias não possam ser carregadas sem que as abelhas ataquem os ladrões. Isso pode funcionar na primeira vez, mas dificilmente dará resultado numa segunda tentativa.

A montagem de armadilhas nas imediações do apiário é defendida por alguns, mas é preciso considerar muito bem as possíveis conseqüências. Armadilhas que causem dano físico ao invasor podem motivar a responsabilização criminal do apicultor. Armadilhas que apenas assustem ou que provoquem ruídos altos ou ativem sirenes talvez possam ser usadas.

Não há local 100% seguro, mas o conhecimento e uma boa relação com os vizinhos também ajudam. Um pouco de mel presenteado na colheita pode angariar aliados vigilantes.
12. Sobre o texto
12.1 A quem se destina esse texto?
Ao escrever as perguntas e respostas eu tive sempre em mente a figura típica do iniciante, com muita vontade de aprender e quase nenhum conhecimento. Mas em todo o texto, eu evitei dar apenas as respostas fáceis, as soluções únicas ou somente os entendimentos mais populares.

Embora não tenha me aprofundado nos assuntos, já que algumas perguntas precisariam ser respondidas por um curso ou por um livro inteiro, muitas respostas mencionaram vários enfoques diferentes. Isso me faz supor que mesmo apicultores experientes possam encontrar algumas novidades neste texto, se decidirem gastar algumas horas na sua leitura.
12.2 Em que o autor se baseou para escrever este texto?
Três livros formam a base teórica e conceitual deste texto. O primeiro é "The Hive and the Honey Bee", editado por Joe Graham em 1992. Este livro foi originalmente escrito por Lorenzo Langstroth em 1853, para divulgar ao mundo a sua descoberta do espaço abelha e as experiências com as colméias de quadros móveis, que mudariam a apicultura para sempre. Langstroth publicou algumas revisões do seu livro até 1885, quando confiou a continuação do seu trabalho à família Dadant. Diversas revisões foram publicadas desde então, e, em 1946, foi editada a primeira versão com múltiplos autores. Novas edições continuam a ser publicadas de tempos em tempos, as últimas em 1963, 1975 e 1992, sempre escritas por diversos autores.

A última edição foi escrita por 33 especialistas e traz uma visão atual e abrangente da apicultura, embora pouco profunda em muitos pontos, notadamente nas questões práticas e na apicultura com africanizadas. Para fazer referências a este livro, eu optei por citar os autores dos capítulos, que são independentes, e não o livro inteiro.

O segundo livro base é "O Livro do Mel", de Eva Crane (1980), publicado pela editora Nobel em 1985 (2ª edição). O título resume perfeitamente o livro - são poucas as informações, técnicas ou históricas, que não se pode encontrar nele.

O terceiro livro é "A Biologia da Abelha", de Mark Winston (1987), publicado pela editora Magister em 2003. Apesar da defasagem entre a publicação do original e a da tradução, este é um livro atual e extremamente interessante. A sua publicação ocorreu durante a redação deste texto, e foi responsável por uma ampliação significativa no seu conteúdo.

Afora esses livros, várias publicações foram imprescindíveis em algumas respostas. Todas elas estão referenciadas no capítulo 13).

A parte prática foi principalmente baseada na minha experiência pessoal. Eu crio abelhas desde 1987, sempre poucas colméias (menos que doze). Embora alguns apicultores meçam a experiência pelo número de colméias manejadas, eu sou de opinião que menos colméias possibilitam um trabalho mais cuidadoso.

Não obstante, a minha experiência particular foi consideravelmente enriquecida pelas discussões que acompanho e participo na Internet desde 1999, especialmente no Plenário Apacame (http://www.grupos.com.br/grupos/apacame-plenario, movido em 03/fev/2004 para http://br.groups.yahoo.com/group/APACAME-Plenario). Ao final de 2003, este grupo produzia cerca de 1.500 mensagens por mês, muitas delas com informações, dicas e relatos de grande interesse.
12.3 Por que há tão poucas citações nas respostas?
A minha intenção não foi fazer um trabalho acadêmico, justificando cada afirmativa feita. Eu coloquei referências (abreviadas) nas respostas apenas quando imaginei que o que estava sendo escrito poderia provocar alguma incredulidade ou contrariedade no leitor. Naturalmente, a minha capacidade de julgamento é limitada, e eu posso ter feito muito mais afirmações polêmicas do que suponho. De qualquer forma, se for necessário, acredito que eu possa fornecer uma ou mais referências confiáveis para a maior parte do que está escrito, pelo menos.
12.4 O que é considerada uma "referência confiável"?
Basicamente, a referência que eu considero ideal consiste num texto que se aprofunda na investigação de um tema, ou se apóia num estudo com o mesmo princípio. É o tipo de texto que divulga as conclusões favoráveis e desfavoráveis ao desejo do autor com o mesmo destaque, que sustenta essas conclusões com a cautela e as ressalvas necessárias e que esclarece as prováveis falhas e limitações dos estudos que as suportam.

Nenhum desses textos é correto por definição, uma vez que a ciência, felizmente, não segue uma doutrina dogmática. Mas eles devem ser suficientemente claros e honestos para permitir comprovação ou contestação nos mesmos termos.
12.5 Por que há tão poucos livros brasileiros na bibliografia?
Infelizmente, não há muitos livros sobre apicultura sendo escritos ou revisados no Brasil, e grande parte do que existe já está bastante defasado. Além disso, muita coisa escrita no passado, ainda que extremamente importante na sua época, tinha às vezes um enfoque mais motivacional do que técnico, freqüentemente valendo-se de aspectos emocionais ou religiosos para fundamentar alguns assuntos. Como você pode perceber pela leitura deste texto, eu prefiro uma abordagem mais científica.

A atual geração de pesquisadores brasileiros é competente e produtiva, como atestam os inúmeros artigos publicados em congressos e revistas nacionais e estrangeiros. Infelizmente, a produção científica não tem se traduzido na edição de livros, seja por carência de incentivo material, seja por falta de uma cultura nesse sentido. A meu ver, só as peculiares condições brasileiras já justificariam a produção de várias obras de peso.
12.6 Quem colaborou na redação deste texto?
Afora os autores citados, inúmeras pessoas colaboraram, ainda que inadvertidamente. Os apicultores e pesquisadores que emitem suas opiniões no grupo da Apacame me ajudaram muito a conhecer novas técnicas e conceitos, e formar opinião sobre muitos assuntos. Como o volume de informações é extenso e caótico, não me atrevi a mencioná-los nominalmente, sob pena de cometer esquecimentos imperdoáveis. Mas muitos foram importantes e, ao ler este texto, certamente reconhecerão suas próprias dicas.

Uma menção especial, porém, deve ser feita a Silvio Wiltuschnig. Ao saber que eu estava preparando este documento, ofereceu-se para criar o logotipo e efetivamente o fez, com grande talento. O seu belo trabalho encontra-se no início deste documento.
12.7 Você repassou dicas sem testá-las?
Em alguns casos, sim. Mas sempre tentei deixar bem claro no texto o grau de confiança que elas me inspiram. As técnicas que eu testei e aprovei (de minha autoria ou de outrem) foram explicitamente recomendadas. As que me pareceram sensatas e possivelmente úteis, mas não chegaram a ser testadas, foram simplesmente mencionadas ou sugeridas como idéia.

Algumas vezes também me referi de forma neutra a práticas comuns, apenas para deixá-las registradas, por não possuir elementos para um julgamento mais qualificado. Também contestei algumas práticas, sempre tentando deixar claro o que não funcionou nas minhas experiências ou que tipo de ressalva hipotética eu tenha a respeito.
12.8 Por que não há nada sobre...?
A apicultura é um assunto vasto. Um dos livros em que me baseei para escrever este texto possui 1.300 páginas e, sob alguns aspectos, é bastante incompleto. O que está exposto neste texto é uma parte ínfima da apicultura, embora os assuntos tratados, a meu ver, sejam de interesse freqüente dos apicultores e iniciantes. Isso não quer dizer que novas perguntas não possam ser acrescentadas, à medida que me ocorrerem ou que forem sugeridas por leitores. Um texto publicado na Internet tem exatamente essa vantagem: pode ser atualizado a qualquer instante, ao contrário de um trabalho impresso.

Alguns temas, porém foram deixados de lado de propósito ou tratados mais superficialmente do que se poderia esperar. O primeiro é a apiterapia, que eu considero um assunto separado da apicultura (embora muitos pensem diferentemente).

Outro é a flora apícola, que é apresentada aqui quase que de forma puramente conceitual, sem as tabelas de plantas que alguns leitores talvez desejassem. Como foi mencionado naquele capítulo, não existe uma fonte de dados suficientemente confiável e abrangente sobre esse tema no Brasil, embora haja iniciativas pessoais ou locais, que podem ser encontradas na Internet e em boa parte dos livros citados na bibliografia.

Já o negócio apícola foi praticamente ignorado. Essa área pode ser de grande interesse a um iniciante, mas ela tem algumas características especiais: é muito variável, ainda não está bem normatizada e as informações sobre ela são escassas e imprecisas.
12.9 Há outros grupos de discussão além do Plenário Apacame?
Sim. Sobre assuntos gerais, há um ainda incipiente, mas mais bem organizado e administrado que o Plenário Apacame, que é o Fórum Apicultura (http://www.apicultura.com.br). Ele é dividido em dois níveis, básico e avançado, sendo que o nível básico é de participação livre, enquanto o avançado requer registro.

Um grupo exclusivo sobre plantas de interesse apícola é o Florada Apícola (http://br.groups.yahoo.com/group/florada_apicola, ex- http://www.grupos.com.br/grupos/floraapicola).

Outro grupo, sobre negócios apícolas, é o Apis Negócios (http://br.groups.yahoo.com/group/Apis_negocios/, ex- http://www.grupos.com.br/grupos/floraapicola).

Para os interessados em abelhas sem ferrão (nativas), há o BEEBR (http://panda.fat.org.br/mailman/listinfo/beebr) e o Abena (http://br.groups.yahoo.com/group/abena/), grupos de discussão específicos sobre este tema.
12.10 Os valores expressos em kg de mel não estão errados?
Se ainda não estão errados, provavelmente o estarão no futuro. A intenção foi apenas dar uma idéia do valor dos bens apícolas em comparação ao seu principal produto. A relação que utilizei foi baseada em preços vigentes em 2003, de algumas lojas que anunciam na Internet. Não há nenhuma ligação direta entre os preços dos equipamentos e o do mel. É verdade que quando o mel está bem valorizado, a demanda pelos equipamentos tende a aumentar, e o seu preço também, mas essa relação é indireta e não necessariamente linear.
12.11 Por que não há figuras neste texto?
Eu não tentei fazer um manual de apicultura, apenas um texto de fácil acesso, especialmente para os iniciantes. É o tipo de texto popularizado na Internet pelo acrônimo FAQ (de Frequently Asked Questions). Incluir imagens nele significaria perder um tempo enorme, obtendo-as pessoalmente ou negociando o direito de reprodução das que estivessem disponíveis, e isso sempre esteve fora dos planos.
12.12 Então terei de ler outros livros também?
Sem dúvida nenhuma. Este texto, como foi mencionado em outros capítulos, não substitui nenhum um bom livro de apicultura. Tampouco é substituto de um bom curso teórico-prático. É apenas uma leitura inicial, complementar, ou uma fonte de consulta eventual para apicultores de todos os níveis.
12.13 É melhor imprimir este texto ou acessá-lo na Internet?
Se você desejar fazer uma leitura completa, a versão impressa provavelmente será mais confortável. No entanto, consultas eventuais poderão ser feitas na Internet com a grande vantagem da atualização. Só durante o período de redação deste texto, houve respostas reescritas três ou quatro vezes, por conta de novos dados a que eu tinha acesso.
12.14 Quais são as condições de uso deste texto?
Basicamente, as que estão previstas na Lei 9.610/98, que rege os direitos autorais (http://www.mct.gov.br/legis/leis/9610_98.htm).

Adicionalmente, você pode distribuir este texto livremente, desde que para fins puramente educacionais e, em nenhuma hipótese, comerciais. A distribuição do texto, se ocorrer, deve garantir a sua originalidade e integralidade (o texto deve estar completo e não pode ser modificado). Preferencialmente, ele deve ser divulgado pelo endereço do site (http://...).

Não é permitido manter cópias parciais ou totais deste texto em outros sites.

Você pode citar esse texto livremente e reproduzir pequenos trechos (alguns parágrafos, por exemplo) em um trabalho, desde que a origem e o autor sejam claramente mencionados.

Se houver qualquer dúvida em relação ao uso deste texto, por favor entre em contato comigo.
12.15 Como contatar o autor?
Sobre questões relacionadas à apicultura, é mais interessantes fazê-las ao Plenário Apacame (veja item 12.2). Assim, se eu não tiver tempo ou não estiver disponível para discuti-las, é muito provável que você encontre outros apicultores interessados no assunto.

Mensagens privadas podem ser enviadas a jbacampos, em yahoo.com.br (para formar o endereço de e-mail junte as duas expressões em negrito por um "@").

Deixo de antemão meus agradecimentos por quaisquer comentários ou sugestões que me sejam enviados, sabendo que, eventualmente, não conseguirei fazê-los pessoalmente.
12.16 Por que os e-mails não são escritos normalmente neste texto?
Porque há programas que varrem as páginas da Internet em busca de endereços do tipo "alguem@algumlugar". Uma vez encontrados, estes endereços são anexados a uma lista e vendidos para empresas que fazem propaganda pela Internet - os spammers.
12.17 O que significam os números entre colchetes? [2]
As numerações à direita das perguntas informam em qual data o item foi atualizado pela última vez. Na pergunta deste item, por exemplo, o número [2] indica que essa resposta foi atualizada pela última vez na versão de 14/05/2004. No início este documento há um índice (“Histórico de Atualizações”), onde o número de cada versão está associado à sua data de publicação.

Esse sistema foi adotado para facilitar a identificação das últimas alterações do texto. Um leitor que acesse este documento esporadicamente pode pesquisar quais foram as atualizações feitas desde a última vez em que ele foi lido. Para isso, basta mandar localizar as ocorrências de cada um dos números que lhe interessam. No Internet Explorer, por exemplo, basta teclar Ctrl-F, digitar o número da versão entre colchetes, e seguir clicando no botão “Localizar” para achar todas as atualizações desta versão.

Como esse sistema só foi implantado em 30/04/2004, a versão base foi considerada a de 15/04/2004. Nenhuma pergunta da versão base é numerada, enquanto todas as perguntas que sofreram atualização ou foram incluídas desde então têm o seu número de versão (entenda-se como atualização uma alteração importante no seu conteúdo; meras correções gramaticais ou ajustes de forma não se enquadram como atualização).

Entre a publicação inicial, em 20/01/2004, e a publicação da versão base, inúmeras atualizações foram publicadas, mas elas não ficaram registradas.
12.18 Há “merchandising” neste texto?
Não. Eu evitei, sempre que possível, mencionar marcas ou nomes comerciais. Com isso, deixei de me referir a excelentes fabricantes e fornecedores de produtos e equipamentos, que podem ser facilmente descobertos nos grupos de discussão sobre apicultura. No caso da alimentação protéica, porém, foram mencionados dois produtos disponíveis no mercado, pois a sua produção caseira não é trivial. Ambos possuem prós e contras, e, embora eu tenha deixado clara a minha preferência, ela não se deveu a nenhuma forma de pagamento ou compensação, mas às minhas observações pessoais, enriquecidas por muitos comentários de outros apicultores.

Isso não significa que o site não possa ser patrocinado no futuro. Mas, caso venha a ocorrer, qualquer propaganda será claramente identificada como tal e totalmente independente do texto.
12.19 Como achar um assunto neste texto?
Se você quiser usar os índices de assunto (no início) ou de perguntas (no final), pode simplesmente clicar sobre um item para vê-lo mostrado na tela. Para retornar ao índice, clique no botão “Voltar” (seta para esquerda) do seu navegador.

Se não quiser usar os índices, você pode usar a função de procura do seu navegador. Por exemplo, no caso do Internet Explorer, aperte a combinação de teclas para abrir a janela “Localizar”. Nela, digite a palavra desejada e depois clique no botão “Localizar próxima”.
12.20 Devo acreditar piamente em tudo que está escrito aqui?
Obviamente, não. Embora eu tenha feito o máximo esforço para expor aqui informações e opiniões corretas e equilibradas, estou pronto a modificar qualquer uma delas tão logo seja convencido do contrário, com dados e argumentos melhores do que aqueles a que tive acesso originalmente. O conhecimento, felizmente, evolui, e muita coisa escrita aqui pode se tornar obsoleta de um dia para o outro. Conseqüentemente, não ofereço nenhum tipo de garantia sobre qualquer coisa que tenha sido escrita neste texto.

Assim, sugiro que todas as dicas, informações e opiniões deste texto (e de todos os outros) sejam sempre analisadas com um ceticismo positivo, aquela desconfiança saudável que leva as pessoas a verificarem os dados em outras fontes, a refazerem experiências, a levantarem dúvidas, raciocinarem, contestarem e argumentarem. É o que eu normalmente faço e o que mais recomendo a todos.
12.21 Tudo parece muito complicado. Devo desistir da apicultura?
Ainda não. Se você leu todo esse material sem ter experiência prévia, é normal que a quantidade de informações o tenha assustado um pouco. No entanto, lembre-se que inúmeras gerações de apicultores criaram abelhas em caixas comuns de madeira e cestos de palha sem que qualquer dos conceitos e técnicas abordados aqui fossem conhecidos. E, sim, eles colheram mel.

Portanto, se o seu objetivo é apenas se divertir um pouco e tirar algum mel para a família, nem de longe imagine que vai precisar usar todas as informações deste texto. Antes de desistir da idéia de se tornar um apicultor, faça uma última tentativa: procure um bom curso teórico-prático e comprove pessoalmente que os prazeres da apicultura sempre superam as suas dificuldades.
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[SHI92] SHIMANUKI, H. et al. Diseases and Pests of Honey Bees. In: GRAHAM, J.M. (ed.) The Hive and the Honey Bee. Hamilton: Dadant & Sons, 1992.

[SOA97] SOARES, A.E. Caixas Iscas e Enxameação em Abelhas Africanizadas. Disponível em http://rgm.fmrp.usp.br/beescience/simp2.htm, 1997.

[SOU92] SOUTHWICK, E.E. Physiology and Social Physiology of the Honey Bee. In: GRAHAM, J.M. (ed.) The Hive and the Honey Bee. Hamilton: Dadant & Sons, 1992.

[VIS03] VISSCHER, P.K.; VETTER, R.S.; CAMAZINE, S. Removing Bee Stings. Disponível em http://bees.ucr.edu/stings.html, 2003.

[WHI92] WHITE JR., J.W. Honey. In: GRAHAM, J.M. (ed.) The Hive and the Honey Bee. Hamilton: Dadant & Sons, 1992.

[WIE87] WIESE, H. Nova Apicultura. Porto Alegre: Livraria e Editora Agropecuária, 1987.

[WIN03] WINSTON, M.L. A Biologia da Abelha. Porto Alegre: Magister, 2003.

14. Índice geral
1. A Abelha 1
1.1 Que abelhas são criadas no Brasil?. 1
1.2 O que significa esse nome científico?. 1
1.3 Que raças de abelhas existem?. 2
1.4 Que raças existem no Brasil?. 2
1.5 Como essas abelhas chegaram aqui?. 2
1.6 As abelhas africanizadas são mais agressivas?. 2
1.7 Quando um ataque de abelhas pode ser fatal?. 2
1.8 A apicultura pode ser considerada uma atividade perigosa?. 3
1.9 Quantas vezes uma abelha pode ferroar?. 3
1.10 A rainha ferroa? E os zangões?. 3
1.11 Afinal, por que as abelhas ferroam?. 3
1.12 As abelhas são criaturas boas?. 3
1.13 Como as abelhas não planejam, se elas guardam mel para o inverno?. 3
1.14 O que as abelhas reconhecem como ameaça?. 3
1.15 O que são as castas de abelhas?. 4
1.16 O que diferencia a rainha das operárias?. 4
1.17 E o que é uma princesa?. 4
1.18 Como é a fecundação da rainha?. 4
1.19 Como podem os zangões nascer de ovos não fertilizados?. 4
1.20 Qual é a função dos zangões?. 5
1.21 Como identificar um zangão?. 5
1.22 Zangões são sempre “puros”? [1]5
1.23 Os zangões irmãos são idênticos? [1]5
1.24 Qual é a função da rainha?. 5
1.25 Quantos ovos a rainha põe por dia?. 5
1.26 O que acontece quando a rainha morre?. 5
1.27 E se não houver uma larva jovem?. 5
1.28 O que é uma colméia zanganeira?. 6
1.29 Por que as abelhas começam a pôr ovos?. 6
1.30 Como saber se uma colméia está sem rainha?[2]6
1.31 Como saber se uma colméia está zanganeira?. 6
1.32 Em quanto tempo uma colméia fica zanganeira?. 6
1.33 Como identificar a rainha?. 7
1.34 Qual é a função das operárias?. 7
1.35 Qual é a relação entre a idade das abelhas e as tarefas executadas?. 7
1.36 Quanto tempo vive uma abelha?. 7
1.37 Quantas abelhas vivem numa colméia?. 7
1.38 Quando as abelhas pilham as colméias vizinhas?. 8
1.39 Como as abelhas se comunicam?. 8
1.40 E a dança das abelhas?. 8
1.41 Como elas fazem quando o sol não está visível?. 9
1.42 Como elas informam uma posição atrás de um obstáculo?. 9
1.43 A que velocidade voa uma abelha?. 9
1.44 Quanto tempo uma abelha leva para nascer?. 9
1.45 O que as abelhas comem?. 9
1.46 Como os enxames se reproduzem?. 10
1.47 O que acontece com a colméia que perdeu um enxame? [2]10
1.48 Por que as abelhas abandonam a colméia?. 10
1.49 Por que as abelhas às vezes matam a sua rainha?. 10
1.50 Como as abelhas lidam com as variações de temperatura?. 11
1.51 Por que o apicultor põe fumaça nas abelhas?. 11
1.52 A fumaça não estressa as abelhas?. 11
1.53 Quanto pesa uma abelha?. 12
1.54 Como a abelha coleta néctar?. 12
1.55 Quanto néctar a abelha pode transportar?. 12
1.56 A que distância uma abelha voa para colher néctar?. 12
1.57 Como a abelha coleta pólen?. 12
1.58 Como a abelha coleta própolis?. 12
1.59 Como a abelha coleta água?. 12
1.60 O que estimula as abelhas para a colheita?. 12
1.61 Onde as abelhas guardam esses produtos?. 13
1.62 Como as abelhas produzem cera?. 13
1.63 Quanto mel deve ser ingerido para a produção de 1 kg de cera?. 13
1.64 Que abelha devo criar, européia ou africanizada?. 13
2. A Colméia 14
2.1 O que é uma colméia?. 14
2.2 Como é uma colméia?. 14
2.3 De que outros materiais podem ser feitas as colméias?. 14
2.4 Qual é o melhor tipo de colméia?. 14
2.5 O que são ninhos e melgueiras?. 15
2.6 O que é melhor, melgueiras ou sobreninhos?. 15
2.7 Não há uma alternativa intermediária?. 15
2.8 Quanto pesam uma melgueira e um sobreninho?. 15
2.9 Afinal, quantos quadros devem ser usados, 8, 9 ou 10?. 16
2.10 O que são espaçadores Hoffmann?. 16
2.11 Como as abelhas sabem onde devem colocar cada produto?. 16
2.12 O que é uma tela excluidora?. 16
2.13 Por que alguns apicultores não usam a tela excluidora?. 16
2.14 Por que as abelhas constroem seus favos exatamente dentro dos quadros?. 17
2.15 Por que as abelhas preenchem alguns espaços com cera e outros com própolis?. 17
2.16 O que é o espaço-abelha?. 17
2.17 Quais são os outros espaços importantes?. 17
2.18 O que é cera alveolada?. 17
2.19 Como a cera alveolada é fixada nos quadros?. 17
2.20 É melhor soldar a lâmina encostada na barra superior?. 18
2.21 Como se solda cera com corrente elétrica?. 18
2.22 Que fonte é essa?. 18
2.23 Que arame é melhor?. 19
2.24 O arame não encrava na madeira dos quadros?. 19
2.25 Quadros plásticos não são preferíveis?. 19
2.26 Do que são feitos os favos?. 19
2.27 Como os favos são produzidos?. 19
2.28 Por que o alvéolo é hexagonal?. 19
2.29 Qual é o tamanho do alvéolo?. 20
2.30 Quantos alvéolos há num favo?. 20
2.31 Existe cera alveolada para zangões?. 20
2.32 Que cor tem o favo?. 20
2.33 Por que o mel não escorre do favo?. 20
2.34 Como é o fundo da colméia?. 20
2.35 Que tamanho tem o alvado?. 21
2.36 Como é a tampa da colméia?. 21
2.37 O que é uma entretampa?. 21
2.38 Que outros equipamentos podem compor a colméia?. 21
2.39 Como se protege a colméia contra a intempérie?. 22
2.40 Como pode ser feito o telhado da colméia?. 22
2.41 Como se pinta uma colméia?. 22
2.42 Onde fica apoiada a colméia?. 22
3. O Apiário 23
3.1 Com quantas colméias devo iniciar um apiário?. 23
3.2 Como eu acho um bom curso de apicultura?. 23
3.3 Mas, afinal, com quantas colméias geralmente se inicia um apiário?. 23
3.4 Onde o apiário deve ser localizado?. 23
3.5 A que distância de casas um apiário pode estar?. 23
3.6 A que distância de flores e água deve ficar o apiário?. 24
3.7 Que distância entre apiários deve ser respeitada?. 24
3.8 Até quantas colméias posso ter num apiário?. 24
3.9 E se a produção cair porque o meu vizinho instalou um apiário?. 25
3.10 A que distância deve ficar uma colméia da outra?. 25
3.11 Que outras considerações são necessárias no planejamento do apiário?. 25
3.12 Para que lado devem ficar virados os alvados?. 26
3.13 Como limpar o apiário?. 26
3.14 Posso criar animais perto do apiário?. 26
3.15 Posso fazer as minhas colméias?. 26
3.16 Quanto custa uma colméia?. 27
3.17 Quantas melgueiras por colméia devo comprar?. 27
3.18 Preciso comprar colméias de reserva?. 27
3.19 Como povoar o apiário?. 27
3.20 Como é uma caixa-isca?. 27
3.21 Não é melhor usar colméias vazias para atrair enxames?. 28
3.22 Por que usar o Cymbopogon citratus?. 28
3.23 Quando colocar e tirar as caixas-isca?. 28
3.24 Quando o enxame pode ser transferido para a colméia definitiva?. 28
3.25 Quando a nova caixa pode ser transferida para o apiário?. 28
3.26 Como capturar enxames alojados?. 29
3.27 Como manter informações sobre o apiário? [3]29
4. Proteção 29
4.1 Como se proteger durante o manejo?. 29
4.2 Como deve ser a vestimenta do apicultor?. 29
4.3 Como vestir todo esse equipamento?. 30
4.4 Não se morre de calor?. 30
4.5 Mas as abelhas não entram pelas frestas?. 30
4.6 O que eu faço se entrarem abelhas na máscara?. 31
4.7 Como se proteger contra enxames muito agressivos?. 31
4.8 A fumaça tonteia as abelhas?. 31
4.9 Como usar a fumaça?. 31
4.10 Por que a fumaça é indesejável?. 31
4.11 Quanto tempo devo esperar para abrir a caixa após pôr fumaça?. 32
4.12 Como posso me livrar das abelhas que me perseguem?. 32
4.13 O que fazer quando eu levar uma ferroada?. 32
4.14 Por que devo retirar o ferrão rapidamente e sem usar os dedos?. 33
4.15 Como é que alguns apicultores trabalham sem proteção?. 33
4.16 Então, por que há gente que trabalha sem máscara?. 33
4.17 Então não devo fazer uma barba de abelhas também?. 33
4.18 Por que as abelhas ficam naquela forma de barba?. 33
5. Prática Básica 33
5.1 Quais são as principais ferramentas do apicultor?. 33
5.2 Como é o fumegador?. 34
5.3 Qual é o combustível ideal para o fumegador?. 34
5.4 Como acender o fumegador?. 34
5.5 E como reacender o fumegador?. 34
5.6 Para que serve o formão?. 34
5.7 Como é o espanador?. 34
5.8 Há outras ferramentas úteis para o manejo?. 35
5.9 Como fazer para não perder essas ferramentas?. 35
5.10 Com que freqüência devo examinar as colméias?. 35
5.11 Como é feita uma revisão completa?. 36
5.12 As colméias mais fortes devem ser examinadas primeiro?. 36
5.13 Por que pode ser necessário interromper o trabalho?. 36
5.14 Onde ponho as caixas que vão sendo retiradas?. 36
5.15 Como retirar e examinar os quadros?. 37
5.16 Como saber se o enxame está bem desenvolvido?. 37
5.17 Como saber se há mel suficiente até a próxima revisão?. 37
5.18 Quais são os sinais de excesso de calor na colméia?. 38
5.19 Por que os favos de cria devem ser substituídos periodicamente?. 38
5.20 Quando os favos devem ser trocados?. 38
5.21 Quando devem ser colocadas as melgueiras?. 38
5.22 É melhor fazer o manejo de dia ou à noite?. 38
5.23 Por que as abelhas voam pouco à noite?. 39
6. Alimentação 39
6.1 Como deve ser alimentada a colméia?. 39
6.2 O que é alimentação artificial?. 39
6.3 Quando deve ser fornecida a alimentação de subsistência?. 39
6.4 Como é a alimentação energética de subsistência?. 39
6.5 A alimentação de subsistência não pode ser sólida?. 40
6.6 O que é cândi?. 40
6.7 Quando deve ser fornecida a alimentação estimulante?. 40
6.8 Quanto deve ser fornecido de alimentação estimulante?. 40
6.9 Como evitar o bloqueio do ninho?. 40
6.10 Como é a alimentação estimulante?. 40
6.11 Como calcular as proporções de açúcar e água?. 41
6.12 O que é açúcar invertido?. 41
6.13 O que HMF?. 42
6.14 Mel velho pode ser usado na alimentação artificial?. 42
6.15 Como resolver o problema de fermentação do xarope?. 42
6.16 Deve-se acrescentar sal ao xarope?. 42
6.17 Como o xarope é fornecido?. 42
6.18 Por que os alimentadores coletivos provocam pilhagem?. 42
6.19 Como são os alimentadores individuais externos?. 43
6.20 Como são os alimentadores internos?. 43
6.21 E os alimentadores de balde?. 43
6.22 O "mel" produzido com essa alimentação pode ser consumido?. 44
6.23 Quando deve ser fornecida a alimentação protéica?. 44
6.24 Como é a alimentação protéica?. 44
6.25 Como a alimentação protéica é fornecida? [2]44
7. Enxames e Rainhas 45
7.1 Como se movimenta uma colméia para um lugar próximo?. 45
7.2 O que fazer com as campeiras que voltam ao local de origem?. 45
7.3 A partir de que distância as abelhas não voltam mais ao local original?. 46
7.4 Como se movimenta uma colméia para um lugar distante?. 46
7.5 Como se faz a divisão de um enxame?. 46
7.6 O que fazer com a rainha numa divisão?. 47
7.7 O que fazer se houver saque entre as colméias?. 47
7.8 Para que serve uma união de enxames? [3]48
7.9 Então é melhor unir o máximo possível de enxames?. 48
7.10 Qual é o melhor momento para fazer-se a união? [3]48
7.11 Como unir os enxames sem diminuir o número de colméias?. 49
7.12 Qual é o roteiro de um apiário "sanfona"?. 49
7.13 Mas, afinal, como se faz uma união?. 49
7.14 Com quantos ninhos deve ficar uma colméia?. 50
7.15 O que fazer com um ninho bloqueado por mel?. 50
7.16 Como reforçar uma colméia com cria sem uni-la a outra?. 51
7.17 Como é uma colméia criadeira?. 51
7.18 Como evitar a enxameação?[2]51
7.19 O que fazer se houver realeiras no enxame? [2]52
7.20 O que fazer com as realeiras removidas? [2]52
7.21 Como aproveitar as realeiras em outras colméias? [2]52
7.22 Por que a introdução de uma realeira pode não dar certo? [2]53
7.23 Como se acha a rainha?. 53
7.24 Durante as revisões é preciso sempre enxergar a rainha?. 53
7.25 Quando se deve substituir a rainha? [2]53
7.26 Com que freqüência a rainha deve ser substituída? [2]54
7.27 Como substituir uma rainha?. 54
7.28 Como as rainhas são vendidas? [2]54
7.29 Como é uma gaiola de introdução? [2]54
7.30 Como as acompanhantes são retiradas da gaiola de transporte?. 55
7.31 Como a gaiola deve ser colocada na colméia? [2]55
7.32 O que é "cor do ano"?. 55
7.33 Como as rainhas são produzidas para venda?. 56
7.34 Quanto custa uma rainha?. 56
7.35 O que fazer se a rainha morrer?. 56
7.36 O que fazer se o enxame ficar zanganeiro? [2]56
7.37 O que fazer se o enxame morrer?. 57
8. O Mel e a Colheita 57
8.1 O que é o mel?. 57
8.2 O que é o néctar?. 57
8.3 O néctar pode ser produzido fora das flores?. 57
8.4 O que é melato?. 57
8.5 Quando o mel está pronto para ser colhido?. 58
8.6 Por que a umidade é ruim para o mel?. 58
8.7 Qual é o percentual de umidade seguro para o mel?. 58
8.8 Como é medida a umidade do mel?. 58
8.9 Como retirar umidade do mel?. 58
8.10 Em que condições o mel pode ser colhido? [2]59
8.11 Com que freqüência o mel deve ser colhido? [2]59
8.12 Quantas melgueiras devem ser colocadas no início da safra? [2]59
8.13 Onde deve ser colocada uma nova melgueira?. 60
8.14 Como colocar melgueiras com 8 ou 9 quadros?. 60
8.15 Como as abelhas são retiradas das melgueiras?. 60
8.16 Como as melgueiras devem ser transportadas?. 61
8.17 Como é feita a desoperculação dos favos?. 61
8.18 O que é uma mesa desoperculadora?. 62
8.19 Quanto custa uma mesa desoperculadora?. 62
8.20 O que é uma torneira de corte rápido?. 62
8.21 Como é feita a centrifugação dos quadros?. 62
8.22 O que são centrífugas radial e facial?. 62
8.23 Como centrifugar favos quebrados?. 63
8.24 Por que a centrífuga vibra?. 63
8.25 O que move a centrífuga?. 63
8.26 Quanto custa uma centrífuga?. 63
8.27 A centrifugação dos favos é demorada?. 63
8.28 Como extrair o mel sem a centrífuga?. 64
8.29 O que fazer com as melgueiras após a extração?. 64
8.30 O que é feito do mel após a centrifugação?. 64
8.31 O que é um decantador?. 64
8.32 Quanto custa um decantador?. 65
8.33 É possível produzir mel em favo?. 65
8.34 Como o mel deve ser armazenado?. 65
8.35 O HMF é prejudicial à saúde humana?. 65
8.36 As enzimas são benéficas à saúde humana?. 65
8.37 Como o mel é adulterado?. 65
8.38 Há um modo simples de descobrir se o mel é adulterado?. 66
8.39 É possível identificar a origem floral de um mel? [3]66
8.40 Por que o mel cristaliza?. 66
8.41 Como ocorre a cristalização?. 66
8.42 Como descristalizar o mel?. 67
8.43 O que é mel cremoso?. 67
8.44 Como se produz mel cremoso?. 67
8.45 Quem comprará mel cremoso?. 68
8.46 Qual é a densidade do mel?. 68
8.47 Mel cura a gripe? [1]68
8.48 A quantas bananas equivale 1 kg de mel?. 68
8.49 E o mel não é cheio de vitaminas e minerais?. 69
8.50 Mas então, para que comer mel?. 69
8.51 Diabéticos podem comer mel?. 69
8.52 Bebês podem comer mel?. 69
8.53 Qual é o consumo de mel no Brasil?. 69
8.54 Qual é a produção de mel no Brasil?. 70
8.55 Qual é a produção de mel por colméia no Brasil?. 70
8.56 O que é mel orgânico?. 70
8.57 Como se produz mel orgânico?. 70
8.58 Quais são os critérios exigidos para o mel orgânico?. 70
8.59 O que é hidromel?. 71
9. Outros Produtos 71
9.1 O que é o pólen?. 71
9.2 Como as abelhas ajudam na polinização?. 71
9.3 Como o pólen é armazenado pelas abelhas?. 71
9.4 Como o apicultor coleta o pólen?. 71
9.5 Por quanto tempo o caça-pólen pode ser deixado na colméia?. 72
9.6 Como é o beneficiamento do pólen?. 72
9.7 É possível produzir mel e pólen na mesma colméia?. 72
9.8 O pólen é um alimento completo para os humanos?. 72
9.9 O pólen pode ser consumido por qualquer pessoa?. 72
9.10 Para que o pólen pode ser usado como remédio?. 72
9.11 O que é a própolis?. 73
9.12 Para que as abelhas utilizam a própolis?. 73
9.13 Como o apicultor coleta a própolis?. 73
9.14 É possível produzir mel e própolis na mesma colméia?. 73
9.15 Por quanto tempo pode ser mantido o coletor de própolis?. 73
9.16 Como a própolis é beneficiada?. 73
9.17 Como a própolis é armazenada?. 74
9.18 Como a própolis é comercializada pelo apicultor?. 74
9.19 Quais são as propriedades da própolis?. 74
9.20 Qual é a dosagem de própolis a ser usada em cada caso?. 74
9.21 O que é a cera?. 74
9.22 Qual é a cor da cera?. 74
9.23 Para que as abelhas usam a cera?. 74
9.24 Quanta cera há numa colméia?. 74
9.25 Qual é a vantagem de se fornecer cera à colônia?. 74
9.26 Como preservar os favos de forma natural?. 75
9.27 Há produtos químicos seguros para a preservação de favos? [3]75
9.28 Como se produz cera?. 76
9.29 A produção de cera é rentável?. 76
9.30 Como se derretem favos de mel? [3]76
9.31 Que tipo de recipiente deve ser usado para derreter a cera? [3]77
9.32 Como se derretem favos de cria? [3]77
9.33 Como purificar a cera? [3]77
9.34 Há meios químicos para processar a cera? [3]77
9.35 Como se retira a cera dos quadros sem arrebentar os arames?. 78
9.36 O que fazer com a cera derretida?. 78
9.37 Qual é a temperatura de fusão da cera?. 78
9.38 O que é geléia real?. 78
9.39 Quantos anos a mais vou viver se comer geléia real?. 78
9.40 Mas a geléia real é um bom alimento?. 79
9.41 Em que mais a geléia real pode ser usada?. 79
9.42 Quanto vale a geléia real?. 79
9.43 Como se produz geléia real?. 79
9.44 Como a geléia real é armazenada?. 79
9.45 O que é o veneno?. 79
9.46 Quanto veneno possui uma abelha?. 79
9.47 Como o veneno atua?. 79
9.48 Como evitar uma reação alérgica ao veneno?. 79
9.49 Como se extrai o veneno das abelhas?. 80
9.50 Quanto vale o veneno?. 80
9.51 Para que serve o veneno?. 80
10. Flora Apícola 80
10.1 O que é considerado flora apícola?. 80
10.2 Como saber qual é a flora apícola de uma região?. 80
10.3 O que é o calendário apícola?. 80
10.4 Como descobrir o calendário apícola de uma região?. 80
10.5 Por que o calendário apícola é importante?. 81
10.6 Quanto dura em média uma florada?. 81
10.7 Floradas curtas são inúteis para as abelhas?. 81
10.8 Quais são as melhores plantas apícolas?. 81
10.9 A flora apícola de uma região pode ser melhorada?. 81
10.10 Como saber o que deve ser plantado?. 82
10.11 Que critérios definem uma boa planta nectarífera?. 82
10.12 Há plantas de floração imprevisível?. 82
10.13 Que critérios definem uma boa planta polinífera?. 83
10.14 Que critérios definem uma boa planta propolífera?. 83
10.15 Como identificar uma planta?. 83
11. Inimigos 83
11.1 Quais são os inimigos das abelhas? [3]83
11.2 Como são classificados esses inimigos?. 84
11.3 Podridão européia?. 84
11.4 Podridão americana?. 85
11.5 Cria ensacada?. 85
11.6 Cria ensacada brasileira?. 86
11.7 Cria giz?. 86
11.8 Nosemose?. 86
11.9 Disenteria?. 86
11.10 Envenenamento?. 87
11.11 Fome e frio?. 87
11.12 Varroa?. 87
11.13 Acariose?. 88
11.14 Besouro da colméia?. 88
11.15 Apis mellifera capensis?. 88
11.16 Traças de cera?. 89
11.17 Formigas?. 89
11.18 Como se pode confirmar uma suspeita de doença?. 89
11.19 A quem e como se deve enviar as amostras?. 89
11.20 Por que não tratar as doenças com remédios?. 90
11.21 Como evitar o roubo e o vandalismo?. 90
12. Sobre o texto 90
12.1 A quem se destina esse texto?. 90
12.2 Em que o autor se baseou para escrever este texto?. 91
12.3 Por que há tão poucas citações nas respostas?. 91
12.4 O que é considerada uma "referência confiável"?. 92
12.5 Por que há tão poucos livros brasileiros na bibliografia?. 92
12.6 Quem colaborou na redação deste texto?. 92
12.7 Você repassou dicas sem testá-las?. 92
12.8 Por que não há nada sobre...?. 92
12.9 Há outros grupos de discussão além do Plenário Apacame?. 93
12.10 Os valores expressos em kg de mel não estão errados?. 93
12.11 Por que não há figuras neste texto?. 93
12.12 Então terei de ler outros livros também?. 94
12.13 É melhor imprimir este texto ou acessá-lo na Internet?. 94
12.14 Quais são as condições de uso deste texto?. 94
12.15 Como contatar o autor?. 94
12.16 Por que os e-mails não são escritos normalmente neste texto?. 94
12.17 O que significam os números entre colchetes? [2]94
12.18 Há “merchandising” neste texto?. 95
12.19 Como achar um assunto neste texto?. 95
12.20 Devo acreditar piamente em tudo que está escrito aqui?. 95
12.21 Tudo parece muito complicado. Devo desistir da apicultura?. 96
13. Referências citadas 96
14. Índice geral98


Copyright Ó 2004 João Batista de Abreu Campos

5 comentários:

Mário disse...

Amigo João, parabéns pela matéria útil que postou, esta um trabalho excelente, é sem duvida um local a visitar mais vezes!

Resposta tardia a sua pergunta:
O segredo do refresco de mel -> agua fresca da fonte com mel recém desoperculado. :)

Abraço e ate breve

AnaPCarvalho disse...

João Pires

Esta muito giro

vou lendo devagarinho e como agora vou entrar em férias vou aproveitar

um abraço

Maria Isabel Pedrosa Branco Pires disse...

Olá primo

Escreves, escreves...

Um bom Natal para ti e para os teus.
Beijinhos

Isabel

Mel Fonte Nova disse...

Mr. joão é bom relembrar partes do texto e a aprender outras continue

Carlos Pedro disse...

Mr. João o Apivar e eficaz aplicar em altura com calor ou só no inverno??????? Abraço Carlos Pedro.