sábado, 14 de julho de 2007

apicultura

Este texto foi construido por um colega meu, destinado aos seus alunos e que me fez o favor de ceder para ver se entendo um pouco mais do assunto.

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1. APICULTURA: BREVE RESENHA HISTÓRICA
A Apicultura é o ramo da agricultura que estuda as abelhas produtoras de mel e as técnicas
para explorá-las convenientemente em benefício do homem. Inclui técnicas de criação de
abelhas e a extracção e comercialização de mel, cera, geléia real e própolis.
As abelhas melíferas são criadas em áreas onde haja abundância de plantas produtoras de
néctar. Como norma, os maiores produtores de mel estabelecem as suas colmeias em zonas de
agricultura intensiva, já que não é prático cultivar plantas para a produção de mel.
É sem dúvida uma das ocupações mais produtivas do mundo e também uma das mais
antigas. As abelhas já existiam antes do aparecimento do homem à superfície da terra. No Paleolítico
o homem explorava o mel dos enxames naturais de uma forma primitiva, pilhando1 os ninhos
que encontrava nos troncos das árvores, nas fracturas de rochedos ou em cavidades sob a
terra. Com a revolução neolítica, tornou-se sedentário, agricultor, criador, e domesticou igualmente
as abelhas ( DARRIGOL, 1981 ).
Não é difícil encontrarem-se pinturas rupestres com mais de 6.000 anos onde observamos
uma relação íntima entre o homem e a abelha.
Os “ homens de Cro-Magnon “, outrora considerados pertencentes à espécie Homo sapiens,
deixaram-nos a esse propósito os primeiros testemunhos iconográficos2. Os mais famosos
descobertos em Espanha, na Cueva de la Araña,
de Bicorp, na província de Valência, remontam
provavelmente há cerca de 8 mil anos. Uma
dessas pinturas rupestres representa uma personagem,
que colhe, rodeada de abelhas em voo, um
favo do interior de uma rocha ( in “ O Apicultor
“, 1996 ; Fig. 1 ).
Na Mesoptâmia encontram-se placas de
cera de abelha com inscrições cuneiformes3, prova
do domínio técnico dos babilónicos que sabiam utilizar os materiais do meio que os rodeava (
DARRIGOL, 1981 ).
1 Pilhar - Acto ou efeito de roubar.
2 Iconografia - Descrição das imagens, quadros, bustos e pinturas antigas ou modernas; conjunto de imagens a respeito
de um determinado assunto.
3 Designativo de uma escrita dos Assírios e dos Caldeus, cujos caracteres tinham a forma de cunha.
2
Para os Maias o mel representava a fertilidade, logo os deuses necessitavam das actividades
das abelhas para criarem a vida. Por este motivo os Maias deveriam alimentar os seus Deuses
com mel e fumos sagrados libertados da combustão da cera. " ... La abeja era muy apreciada en
el México prehispánico, no solo por su miel sino por su cera. Todavia se cree en Yucatán que la
cera negra de la abeja silvestre tiene mayor eficacia como ofrenda, en forma de vela, que la blanca
comercial... " ( ÁLVAREZ, 1988 ).
Na América Pré-Colombiana a abelha está sempre associada à terra, aos poderes obscuros
que saem do solo.
As ceras ao arderem libertavam pela sua constituição em resinas e gomas vegetais substâncias
alucinogénicas4, fazendo delirar aqueles que inalavam os seus fumos.
Um dos povos da antiguidade que com
maior detalhe descreveram as suas técnicas apícolas
foram os egípcios. Descrevem com detalhe
tanto o tipo de colmeias utilizadas como a forma
de extracção do mel e métodos de armazenamento
e conservação. Para dar uma ideia da importância
deste produto basta dizer que aproximadamente
900 remédios ou fórmulas medicinais que usavam
habitualmente, mais de 500 continham mel nos
seus componentes.
A apicultura desenvolveu-se no apogeu da
civilização grega. Todos os camponeses de Ática5 tinham um ou vários cortiços na época de Péricles,
servindo o mel sobretudo para a alimentação das crianças. É a própria mitologia que nos
diz que Zeus fora criado graças ao leite da cabra de Amalteia e ao mel das abelhas do monte de
Ida ( CHÉZERIES, 1982; DARRIGOL, 1981 ).
Na época romana o mel entrava no fabrico de todos os bolos. Além disso, as mulheres
serviam-se dele para confeccionar produtos de beleza. Em seguida, na Idade Média o mel manteve-
se presente em todo o lado. A realeza chegou até a adoptar as abelhas nos seus brasões (
DARRIGOL, 1981 ).
Bonaparte, quando se tornou Imperador, escolheu símbolos à medida do seu poder, simbolizando
a abelha a perenidade das instituições.
4 Alucinogénico - que provoca alucinações. Falsa percepção; imagem tomada como percepção sem que haja efectivamente
objecto correspondente.
5 Região da Grécia Antiga.
3
Arqueólogos italianos localizaram, recentemente, colmeias de barro na ilha de Creta com
idade aproximada de 3.400 anos a.C. Registos centenários provam que o mel já era utilizado
desde 5000 A. C. pelos Sumérios.
O trabalho com as abelhas era rudimentar assim como a extracção dos seus produtos
como por exemplo o mel. Será muito importante salientar a elevada
importância da cera na antiguidade e o seu grande número de aplicações
como por exemplo a manufactura de cosméticos, em particular
cremes para a cara e para as mãos, batons, etc.
Para facilitar a extracção de produtos como o mel e cera o
homem criou, ao longo da história e nas diversas civilizações, mecanismos
que lhe permitiram não só facilitar as operações de trabalho
como também a obtenção de um produto de melhor qualidade em termos de aspecto físico. O
Homem começou por fornecer às abelhas " casas " artificiais, protegendo-as das condições climáticas
adversas e assim permitiu que operações como a cresta6, o reaproveitamento de ceras, a
alimentação do enxame, a marcação ou multiplicação de abelhas rainhas, etc..., se tornassem
operações simples.
Desde o princípio da apicultura até à Idade Média os enxames eram instalados em troncos
de árvores vazios. O egípcios utilizavam tubos moldados em argila e noutras civilizações utilizava-
se cestos de palha e canas. Nas zonas mediterrâneas onde há abundância de sobreiros a "casa"
que se tornou mais comum foi o conhecido cortiço, extremamente leve e fácil de transportar,
permitindo simultaneamente isolamento térmico e proporcionando às abelhas uma generosa facilidade
de moldagem, entre outras características. Desta forma o cortiço possibilitou ao homem o
transporte das colónias para locais mais privilegiados em termos de clima e flora melífera,
melhor aproveitamento de cera, mel, etc. Em determinada altura o cortiço era o melhor que havia
mas evidentemente que tem certas limitações, não permitindo por exemplo o aumento de espaço
provocando enxameações frequentes e, por vezes, indesejáveis. Também nos cortiços não é possível
controlar o interior da colónia nem fazer o reaproveitamento dos favos.
Assim por volta de 1850 um Pastor americano chamado Lorenzo Lorraine Langstroth (
1810-1895 ) descobriu depois de um estudo intenso das abelhas de mel7 o Espaço das Abelhas (
ou caminho para as abelhas ) como elemento fundamental na colmeia que recebeu o seu nome e
que levou à adopção da colmeia de quadros móveis na maior parte dos países do mundo. O Espaço
das Abelhas consiste numa medida dentro de um determinado intervalo ( 6 -10mm ), que
6 Colheita do mel
7 Designação que advém da tradução do Inglês Honeybee.
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permite a sua passagem. Na prática este espaço é frequentemente de 8 mm. Se o espaço entre
duas partes da colmeia for inferior a 6 mm, as abelhas ocupam-no com própolis construindo
assim uma barreira, a fim de impedir a entrada de inimigos. Este processo torna-se bastante incómodo
para o apicultor, especialmente nas
áreas muito arborizadas, onde a fonte de própolis
é abundante. Se, pelo contrário o espaço for
superior a 10mm, as abelhas constróem um favo
de ligação.
O espaço das abelhas é, assim o princípio
pelo qual se baseia a construção de colmeias
de quadros móveis. Como foi dito anteriormente
o reverendo L. L. Langstroth goza da fama de
ter descoberto o espaço das abelhas. Todavia,
nunca afirmou esse facto. Apenas achou que
havia a necessidade de ter em conta este espaço
no desenho do seu modelo de colmeia de quadros
móveis. A colmeia de quadros móveis concebida pelo reverendo Langstroth foi patenteada a
5 de Outubro de 1852 e, a partir daí, desenvolveu-se a colmeia moderna.
APICULTURA NO MUNDO RESUMO
Pelas pesquisas arqueológicas, sabe-se que as abelhas existem há pelo menos 42 milhões
de anos.
Quanto à apicultura, de acordo com documentos de vários historiadores, remonta ao ano
de 2.400 a.C., no antigo Egipto.
Entretanto, arqueólogos italianos localizaram colmeias de barro na ilha de Creta
com idade aproximada de 3.400 anos a.C.
De qualquer forma, até onde se tem registros, o mel já era utilizado desde 5.000 a.C. pelos
sumérios
As maiores descobertas para o desenvolvimento da apicultura surgiram a partir de Aristóteles,
mas só a partir do século XVII é que houve um considerável avanço no desenvolvimento e
aperfeiçoamento das técnicas de maneio.
Foi com o aparecimento do microscópio que Swammerdam (1637-1680) desvendou o
sexo da rainha (até então supunha-se ser um rei) pela dissecação.
5
Janscha descobriu em 1771 que a fecundação da rainha ocorre ao ar livre.
Schirach também em 1771 provou que a rainha originava-se do mesmo ovo que
pode originar uma obreira.
Francisco Huber demonstrou que as rainhas acasalam-se mais de uma vez.
Johanes Dzierzon confirmou em 1845 a partenogênese em abelhas cruzando rainhas
italianas com zangões cárnicos.
Johanes Mehring produziu a primeira cera alveolada em 1857
Franz Von Hruschska inventou a máquina centrífuga para tirar mel sem danificar
os favos em 1865
Lorenzo Lorain Langstroth descobriu o "espaço
abelha", que nada mais é do que o vão entre um favo e
outro. Este espaço deve variar entre 6 e 9mm.
A partir daí criou o quadro móvel, o qual fica suspenso
dentro da colmeia pelas duas extremidades; todas
estas descobertas levaram a criação da colmeia Langstroth
em 1851
A colmeia Langstroth é considerada padrão e até hoje é a mais usada em
todo o mundo. Foi a partir dela que se deu o maior avanço na apicultura devido a
facilidade no maneio que ela proporciona.
2. APICULTURA NO AÇORES
A apicultura nos Açores remonta ao início do século XVI segundo Carta a El-Rei por Gaspar do
Rego Baldaya, em 1554, fazendo vários pedidos e queixas do Dr. Manoel Alvares ( ARCHIVO
DOS AÇORES, 1878).
Produz-se mel em quase todas as ilhas, sendo a produção mais significativa nas ilhas do
Pico, S. Miguel e Terceira.
No âmbito regional os aspectos mais importantes da apicultura estão aliados ao seu papel
ecológico, assegurando e garantindo grande parte da polinização das espécies agrícolas, ao seu
papel social, sendo partilhada por todos os estratos sociais, e ao seu valor económico, uma vez
L. L. Langstroth
6
que os produtos da colmeia são grande fonte de riqueza, não propriamente em termos de quantidade,
mas no aspecto qualitativo.
O arquipélago dos Açores possui condições naturais particularmente favoráveis para a
apicultura e produção de mel de alta qualidade. As características edafo-climáticas propiciam o
desenvolvimento de uma vegetação abundante, rica e diversificada. Todavia e apesar das grandes
potencialidades intrínsecas, o sector apresenta algumas dificuldades na comercialização, pela
falta de infra-estruturas organizativas e tecnológicas e pela ausência de estudos aprofundados
sobre a caracterização dos produtos apícolas produzidos na região.
Como já foi referido anteriormente a apicultura é uma área muito abrangente e não se relaciona
apenas com a produção de mel mas sim com muitas outras coisas. De todas elas a mais
importante é sem duvida a polinização de espécies vegetais, pois dela depende todo o equilíbrio
ecológico.
As Séries Estatísticas de 1980 a 1993 do Serviço de Estatística dos Açores não referenciam
qualquer produto directo da colmeia. Apenas o Instituto Nacional de Estatística ( I. N. E. ),
em 1990 apresenta uma distribuição de colmeias e cortiços por região onde os Açores representam
0,9%, o que é miseravelmente pouco donde a necessidade de se estudar mais aprofundadamente
a apicultura na Região.
No entanto, os Açores já produziram muito e bom mel como o atestam as descrições da
História Insulana ( CORDEIRO, 1717 ): “O principal que rende esta bella parte de tal valle, (das
Furnas) he mel, & cera, de forte que até os Padres da Companhia de JESUS tem alli colmeal taõ
grande, que cada anno lhes dá hum quarto, ou meya pipa de mel, & algus annos pipa inteyra, &
mais de pipa, & a cera correspondente; & affim cera, como o mel, excede na perfeyçaõ ao de
qualquer outra parte; …”. Na Terceira, produzia-se “… tanto mel de abelhas, que diz Fructuoso
haver homem no Porto, ou Posto Santo, que tem quinhentas colmeas, & o melhor pasto dellas.”.
No Pico “… tem muytos colmeaes, muyto mel, & muyta cera …”, apenas faltando nas Flores “
Naõ tem esta Ilha commercio algum com outras Nacções …, senaõ com o Fayal, & com a Terceira,
… & lhes levaõ muytos dos seus panos, & linhos, & algum gado, & muytas aves; & voltaõ-
se com algum vinho, azeyte, mel, louças, & adubos, & o dinheyro que podem.”.
Existem referências desde 1510 da actividade apícola na região.Há referências de se ir
buscar mel fresco às «tocas e buracos das árvores e sanguinhos onde as abelhas criavam
muito - tanta fartura havia de tudo nesta ilha, sem industria nem trabalho dos seus moradores
»(Gaspar Fructuoso, «Saudades da Terra», Liv. IV, vol.II, pag 53). O italiano Pompeeo
Arditi afirma «é excelente o mel de abelhas, não me parecendo que possa haver melhor, nem
sequer igual» (Vale das Furnas);
7
G. Fructuoso - muitas colmeias e cera nas freguesias de Agualva e Posto Santo e também bom
pasto para as abelhas como o alecrim, rosmaninho, poejo, queiró, tomilho e muitas outas flores.
1580 - Vulcão em S.Jorge (Zona da Queimada) destruiu tudo e inclusivamente morreram as abelhas
« morreram todas sem ficar nenhuma».
No mesmo sécula já havia abundância de abelhas na Ilha do Pico nomeadamente nas freguesias
de Piedade, S.Roque e Ribeiras;
1822 - Thomáz Jozé da Silva ) inspector de Agricultura dos Açores oferece a um deputado - Inácio
Pamplona - das cortes gerais um documento onde consta ..« abelhas há mui poucas e são meramente
objecto de curiosidade».
1950 - Criação, introdução e substituição de rainhas já era prática corrente. Já se exploravam
abelhas de raças super produtoras importando rainhas já fecundadas. No entanto ainda predominavam
os cortiços representando rotina neste ramo da agricultura;
1952 - Em S.Miguel existiam 238 apiários, 568 colmeias 1030 cortiços a produção de mel e cera
era de 5000Kg e 184Kg respectivamente.
Actualmente, nos Açores, existem duas cooperativas que dão apoio à apicultura. Uma na
Ilha do Pico - Cooperativa Flor de Incenso - e outra na Ilha Terceira - FRUTERCOOP, Cooperativa
de Hortofruticultores da Ilha Terceira . A primeira tem como actividade exclusiva a apicultura,
enquanto que a segunda, tem um papel mais amplo, abrangendo também a horticultura, fruticultura
e floricultura. Ainda relativamente à FRUTERCOOP, no ano ( 1996 ) iniciou a sua actividade
na área da apicultura, funcionando com um Agrupamento de Produtores de Mel, reconhecido
no âmbito do REG. ( CEE ) N.º 1360/78.
3. A ABELHA
3.1. CLASSIFICAÇÃO TAXONÓMICA
A Sistemática é a ciência que trata da classificação dos seres vivos e que recebeu do
grande naturalista sueco – Lineu – o maior impulso para a sua organização em bases científicas.
Divide-se em Taxonomia e Nomenclatura.
A Taxonomia é a parte da sistemática que, considerando a semelhança e dissemelhança
de caracteres agrupa os seres vivos nos vários grupos taxonómicos. Por exemplo: tipo, classe,
ordem, família, género, espécie, etc.
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A Nomenclatura é a parte da sistemática em que se estabelecem as regras internacionais
para dar nomes aos agrupamentos constituídos pela taxonomia.
A classificação agrupa os seres vivos
em conjuntos designados por grupos taxonómicos
que são ordenados por ordem de grandeza
de variedade de espécies que incluem. Assim, o
grupo menor é a espécie que constitui a unidade
da classificação. Um Género contém uma ou
mais espécies muito semelhantes. Uma Família
contém um ou mais géneros. As famílias estão
agrupadas em Ordens e estas em classes. Um
Filo contém uma ou mais classes, e a categoria maior de todas, o Reino, contém vários Filos.
Para as plantas, geralmente, utiliza-se o termo Divisão em vez de Filo.
Abelha é um insecto que pertence à ordem dos himenópteros e à família dos apídeos. São
conhecidas cerca de vinte mil espécies diferentes e, são as abelhas do género Apis mellifera que
mais se prestam para a polinização, ajudando a agricultura, produção de mel, geléia real, cera,
própolis e pólen.
A classificação zoológica das abelhas, segundo os biólogos, é a seguinte:
REINO - Animal
FILO- Arthropoda
CLASSE - Insecta
ORDEM- Hymenoptera
SUBORDEM - Apocrita
SUPERFAMÍLIA - Apoidea
FAMÍLIA – Apidae
SUB-FAMÍLIA - Apinae
GÉNERO – Apis
ESPÉCIE – Apis mellífera (Ocidental)
NOME COMUM: Abelha
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Outras espécies de abelhas: Apis fasciata ( Egípcia – explorada há mais tempo pelo Homem );
Apis indica (India e Sri Lanka); Apis indica japónica (Japão e China); Apis dorsata (Abelha gigante
– India e Sri Lanka); Apis cerana (Oriental); Apis florea (Abelha pequena – India e Sri
Lanka);
Raças mais importantes de Apis mellifera: Adansonii (Africana); Capensis (Cabo); Carnica (popular
na Inglaterra); Caucásica ( Cáucaso); Linguistica (Italiana).
3.2. ANATOMIA DA ABELHA
O corpo de uma abelha melífera divide-se em
cabeça, tórax e abdómen.
As abelhas possuem na cabeça os órgãos sensoriais
que lhe permitem saber o que se passa ao seu
redor.
Através dos grandes olhos compostos, podem
orientar-se em seus voos e distinguir as cores das
flores.
Nas antenas possuem os sentidos da audição,
do olfacto e do tacto, imprescindíveis quando se encontram na escuridão da colmeia. Pelo cheiro
podem reconhecer as suas companheiras e detectar os seus inimigos.
Asas
As abelhas e vespas têm dois pares de asas membranosas bem desenvolvidas, sendo o par
anterior maior do que o posterior.
Diferentemente das abelhas, as asas das vespas do
grupo Vespidae dobram-se longitudinalmente quando em
repouso, dando a impressão de que suas asas são bem finas.
Cabeça
Na cabeça estão abrigados importantes órgãos. Na
suas duas antenas, por exemplo, estão localizadas as chamadas
cavidades olfactivas, órgãos bastante desenvolvidos, que
têm a importante função de captar odores como por exemplo
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os florais, por parte das obreiras, ou o odor de rainhas virgens, por parte de zangãos. Estes apresentam
cerca de 30.000 cavidades olfactivas, as obreiras de 4.000 a 6.000 e a rainha cerca de
3.000
Também na cabeça está localizado o complexo sistema visual das abelhas, que é composto
por três ocelos, ou olhos simples, situados na parte frontal da cabeça, e de dois olhos compostos,
localizados nas zonas laterais da cabeça, que são constituídos por milhares de omatídeos,
formando um conjunto de olhos interligados. Apesar de fixos, estes olhos são capazes de ver em
todas as direcções - graças ao seu grande número - e a longas distâncias.
Enquanto que cada olho composto de uma rainha possui 4000 a 5000 omatídeos, as obreiras
e os zangãos têm respectivamente, cerca de 6300 e 7500 (Neese, 1968). Ainda na cabeça estão
localizadas duas importantes glândulas: as mandibulares, que dissolvem a cera e ajudam a
processar a geléia real que alimentará a rainha e as hipofaríngicas, que funcionam do quinto ao
12º dia de vida da obreira e segregam a geléia real. Além das glândulas e dos órgãos de sentido,
ainda estão situados na cabeça o aparelho bucal .
Tórax
O tórax da abelha é formado por três segmentos: o primeiro ligado à cabeça chama-se
Protórax: o central Mesotórax e o terceiro ligado ao abdómen Metatórax.
Os órgãos de locomoção da abelha estão situados no tórax: as seis patas, divididas em
seis segmentos, e os dois pares de asas. Também estão alojados no tórax o esófago e os espiráculos8
- órgãos de respiração.
Os pares de patas diferem entre si, possuindo cada um deles uma função. No primeiro
segmento estão instaladas as patas anteriores, as quais são forradas por pêlos microscópicos e
que servem para limpar as antenas, olhos, língua e mandíbula: no segundo estão inseridas as patas
medianas, que possuem um esporão cuja função é a limpeza das asas e a retirada do pólen
acumulado nos açafates das patas posteriores, instaladas no terceiro segmento do tórax, e que se
caracterizam pela existência dos açafates de pólen, pentes e espinhos, cuja finalidade é retirar as
partículas de cera elaborada pelas glândulas cerígenas alojadas no ventre.
Abdómen
O abdómen abriga a maioria dos órgãos das abelhas. Nele estão situados a vesícula melífera
(que transforma o néctar em mel e ainda transporta água colhida no campo para a colmeia),
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o estômago das abelhas (conhecido como ventrículo), seu intestino delgado, as oito glândulas
cerígenas situadas duas a duas nos quatro últimos esternos do abdómen (responsáveis pela produção
da cera), as traqueias ou espiráculos (órgãos de respiração), etc. No abdómen dos zangões
está localizado seu órgão reprodutor, constituído por um par de testículos, duas glândulas de
muco e pénis.
Exactamente na extremidade do abdómen está situada a arma de defesa das abelhas: o
temível ferrão. Para a abelha rainha, o ferrão nada mais é do que um instrumento de orientação,
que visa localizar as células dos favos onde irá ovular, ou então de defesa, utilizado para picar
outra rainha, que porventura tenha nascido ao mesmo tempo, com a qual travará uma luta de vida
ou morte pela hegemonia dentro da colmeia. É importante frisar que a rainha só ataca outra rainha,
ou melhor, só utilizará seu ferrão contra sua oponente. Outro ponto interessante é que o ferrão
da rainha é liso, ou seja, após penetrar e injectar o veneno, ele volta ao seu estado normal, o
que não acontece com as obreiras que têm o seu ferrão com ranhuras (em forma de serrote), que
após penetrar em algo mais duro, como a pele do ser humano, fica preso puxando parte dos seus
órgãos internos, o que ocasiona a sua morte logo em seguida.
Assim, para as obreiras, o ferrão é uma potente arma de defesa. É por meio do ferrão que
as abelhas se defendem, injectando no inimigo uma toxina que, em grandes doses, pode ser fatal.
Basta dizer que uma pessoa que seja picada por mais de 400 ou 500 abelhas tem morte certa. No
entanto, o veneno das abelhas, em doses reduzidas e adequadamente administradas, é empregado
em vários países - principalmente na União Soviética e Estados Unidos - no combate de doenças
como o reumatismo, nevralgias, transtornos circulatórios, entre várias outras. A apiterapia já está
dando uma substancial contribuição à cura e profilaxia de graves afecções.
É também no abdómen que estão localizados os órgãos de reprodução femininos : vagina,
ovários (dois), espermateca (bolsa onde a rainha armazena os espermatozóides dos zangões que a
fecundaram ) e a glândula de odor que tem importante papel de possibilitar a identificação entre
as abelhas. É por causa deste cheiro característico que uma abelha não é aceite noutra colmeia
que não seja a sua. Cada abelha tem a sua colmeia, saindo e retornando preciosamente sempre
para o mesmo alvo (entrada do ninho). Desta forma as obreiras raramente se enganam no regresso
a casa, pois se isso acontecer, serão picadas e mortas. Esse facto somente não ocorrerá se, na
hora do pouso errado, ela estiver carregada de néctar e pólen; neste caso a abelha é muito bem
recebida e integrada á família.
8 Também existem espiráculos no abdómen.
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Finalmente, no abdómen das abelhas, ainda se localiza o coração, que comanda o aparelho
circulatório, formado por vasos, pelos quais circula o sangue das abelhas, chamado hemolinfa
que, diferentemente dos animais de sangue quente, é incolor e frio.
3.3. PRINCIPAIS DIFERENÇAS– RAINHA, OBREIRA E ZANGÃO.
♦ Organização e vida da colónia.
A abelha comum (Apis mellifera L.) é um
insecto social, que vive em colónias constituídas
por castas: a abelha mãe, vulgarmente designada
rainha, milhares de obreiras e um número sazonal
variável, mas sempre muito inferior, de zangãos.
A vida da colónia decorre, durante a maior
parte do tempo, no interior de abrigos oferecidos pela natureza ou pelo Homem, neste último
caso as já mencionadas colmeias.
Numa colmeia, cada colónia encontra-se representada por populações que atingem, no
período produtivo, cerca de 50 000 indivíduos, número que em condições favoráveis chega a
ultrapassar os 100 000.
A Rainha
A rainha é a personagem central e mais importante da colmeia. Afinal, é dela que depende
a harmonia dos trabalhos da colónia, bem como a reprodução da espécie.
A rainha é quase duas vezes maior
que as obreiras e vive cerca de 3 a 6 anos.
No entanto, a partir do terceiro e quarto ano
a sua fecundidade decai. A sua única função,
do ponto de vista biológico, é a postura
de ovos, já que ela é a única abelha feminina
com capacidade de reprodução.
Mas a abelha rainha desempenha um
importante papel do ponto de vista social: Ela é a responsável pela manutenção do chamado 'Espírito
da colmeia', ou seja, pela harmonia e ordenação dos trabalhos da colónia. Ela consegue
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manter este estado de harmonia produzindo uma substância especial denominada feromona, a
partir de suas glândulas mandibulares, que é distribuída a todas as abelhas da colmeia. Esta substância,
além de informar a colónia da presença e actividade da rainha na colmeia, impede o
desenvolvimento dos órgãos sexuais femininos das obreiras impossibilitando-as, assim, de se
reproduzirem. É por essa razão que uma colónia tem sempre uma única rainha. Caso apareça
outra rainha na colmeia, ambas lutarão até que
uma delas morra.
Na verdade, a rainha nada mais é do que uma obreira que atingiu a maturidade sexual.
Ela nasce de um ovo fecundado, e é criada numa célula especial, diferente dos alvéolos hexagonais
que formam os favos. A rainha é criada numa cápsula denominada célula real, na qual é
alimentada pelas obreiras com a geléia real, produto riquíssimo em proteínas, vitaminas e hormonas
sexuais. É precisamente, esta "superalimentação" que a tornará uma rainha diferenciandoa
das obreiras. A geléia é o único e exclusivo alimento da abelha rainha, durante toda sua vida.
A abelha rainha leva de 15 a 16 dias para nascer e, a partir de então, é acompanhada por
um verdadeiro séquito de obreiras, encarregadas de garantir sua alimentação e seu bem-estar.
Após o quinto dia de vida, a rainha começa a fazer voos de reconhecimento em torno da colmeia.
E a partir do nono dia, ela já esta preparada para realizar o seu voo nupcial, quando, então, será
fecundada pelos zangões. A rainha escolhe dias quentes e ensolarados, sem ventos fortes, para
realizar o voo nupcial.
O VOO NUPCIAL
Somente os zangões mais fortes e rápidos conseguem
alcança-la após detectar a feromona. Localizada a "princesa",
dá-se início à cópula. No entanto, os vários zangões que conseguirem
a façanha terão morte certa e rápida, pois seus órgãos
genitais ficarão presos no corpo da rainha, que continuará
a copular com quantos zangões forem necessários para encher
a sua espermateca9. Em média a rainha é fecundada por 6
a 8 zangões. Este sémen, colhido durante o voo nupcial, será
o mesmo durante toda sua vida. Nesta fase a rainha fica na condição de hermafrodita10.
9 Bolsa que a mestra possui dentro do abdómen e onde é guardado o líquido (esperma) ejaculado pelo macho durante
a ejaculação.
10 Ser vivo que apresenta caracteres de dois sexos, produzindo-se no mesmo indivíduo os elementos reprodutores de
cada um dos sexos: por exemplo uma flor que possui estames e carpelos.
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O voo nupcial que a rainha faz é o único em sua vida. Ela jamais sairá novamente da
colmeia, a não ser para acompanhar parte de um enxame que abandona uma colmeia, para formar
um novo enxame. Ao regressar de seu voo nupcial, a rainha se apresenta bem maior e mais
pesada. Passará a ser tratada com atenção especial por parte das obreiras, que a alimentam com a
geléia real e cuidam de sua higiene. Se a jovem rainha é, por exemplo, devorada por um pássaro
durante o seu voo nupcial, a sua colmeia de origem fica irremediavelmente fadada à extinção.
Uma ocasião grave é quando elas percebem que a mãe de todas já não tem a mesma energia.
Sendo uma família forte, decididamente não se permite enfraquecer. Então concluem que é
hora de chamar à vida uma nova rainha. Numa colmeia forte é frequente a construção de células
reais: é uma questão de sobrevivência no caso de algum acidente acontecer com a mestra. Sendo
esta, porém, prolífica, não é permitido a estas células reais desenvolverem-se normalmente - a
não ser nestas ocasiões especiais. Neste caso, uma rainha cuja energia se acaba é sinal para as
células reais seguirem seu curso. Tendo garantida uma ou mais princesas em formação, é necessário
eliminar a velha mãe. Uma abelha comum nunca ferra uma rainha. Assim elas são obrigadas
a usar uma táctica. Formam uma bola em torno da idosa senhora e ali a vão sufocando até a
morte; e a rainha, compreendendo sua sina, não procura resistir. Terminada esta etapa, começam
a nascer as novas princesas. Só pode haver uma rainha na colmeia, e a primeira que emerge logo
procura as outras células reais para as destruir. Se duas nascem simultaneamente, lutam entre si,
e vence a mais forte. A única sobrevivente segue seu curso normal para se tornar mais uma rainha
completa. É interessante que neste momento toda uma família dependa de um único indivíduo
para sua sobrevivência.
Outra situação diferente é quando a colmeia se torna pequena para a população de abelhas,
não há mais espaço para trabalhar. Um grupo de obreiras começa a construir várias células
reais onde a rainha é levada a depositar ovos fecundados. Passado o período normal de incubação
a primeira princesa nasce, e seu instinto básico força-a a tentar destruir as outras células reais
ainda não abertas.
A rainha também não aceita a presença da princesa, mas as obreiras já decidiram que outras
princesas devem nascer, e o objectivo não é substituir a mestra, e sim dividir a família em
um ou mais enxames fenómeno conhecido por enxameação.
Depois das princesas nascerem, um grupo de obreiras dirige-se aos reservatórios de mel e
enchem seus estômagos até não caber mais uma gota. Este grupo, normalmente bem numeroso,
prepara-se para partir. Por algum mecanismo desconhecido convocam a rainha para a viagem.
Sai da colmeia uma nuvem de abelhas, a rainha entre elas, e alguns zangões. O enxame não vai
15
muito longe. Pousa numa árvore ali por perto, e algumas abelhas mais experientes, na qualidade
de escoteiras, partem em busca de um novo local para habitar.
Quando as abelhas escoteiras retornam, há um "conselho" para decidir qual o rumo a tomar.
Uma vez tomada a decisão elas partem para um voo mais longo. O enxame pode ainda parar
outras vezes. Às vezes o local escolhido não agrada ao grupo, que então aguarda por ali, para
que nova pesquisa seja feita. Se um apicultor tentar colocar este "enxame voador" numa caixa,
ele poderá ou não aceitar a morada, dependendo das informações trazidas pelas escoteiras.
Enquanto isso, a colmeia-mãe pode decidir por lançar outros enxames, desta vez acompanhados
por rainhas virgens, ou ficar como está. Esses enxames posteriores ao primeiro em
geral são menos numerosos e têm menos condições de sobreviver. É muito comum a colmeiamãe
ficar com reduzido contingente de abelhas, chegando aos limites de uma extinção, ainda
mais que contam com apenas uma chance de rainha, baseada numa das princesas que ficou.
Quando o grupo encontra o lugar adequado, começa a construção do novo ninho. As abelhas
engenheiras escolhem então o ponto mais central do que puder ser chamado de teto; ali formam
um bolo compacto e começam a gerar calor usando a reserva de mel que trouxeram no
papo. As abelhas que ficaram no centro da bola encarregam-se de produzir cera, e logo é possível
visualizar uma fina folha de cera vertical se formando. Em seguida algumas abelhas iniciam
a construção dos alvéolos hexagonais, de ambos os lados da lâmina, seguindo uma intricada arquitectura
que aproveita todos os espaços e ângulos da melhor maneira possível. Os alvéolos são
construídos de forma a terem uma leve inclinação para cima, evitando que o seu conteúdo escorra
para fora.
É fascinante observar as abelhas construírem os favos. Encostam-se umas às outras pelas
patas e começam a segregar e mastigar pequenas escamas de cera; pouco depois moldam até
completar o favo (de cima para baixo).
O Zangão
A única função claramente útil dos zangões é a fecundação
das rainhas virgens. O zangão é o único macho da colmeia, não
possui ferrão e, nasce de ovos não fecundados depositados pela
rainha.
Por não possuir órgãos de trabalho, pensa-se que o zangão
não faz outra coisa a não ser voar à procura de uma rainha virgem
para fecundá-la. No entanto há quem não pense assim e atribua ao
zangão um papel mais activo na colónia: Um inteligente apicultor
16
do Uruguai, comunicou há anos, ao Apiculteur as seguintes observações sobre o papel dos machos
nas colmeias: «Eu considerava os zangãos, como muitos apicultores, simples comedores de
mel, que, fora da sua principal função, não serviam para mais nada; a prática auxiliada pela observação,
provou-me porém o contrário. Possuindo umas poucas de colmeias aproximadamente
com a mesma população e força, dividi-as em duas metades. Na primeira metade coloquei ratoeiras
para caçar zangãos, e a outra deixei-a completamente livre; a balança da colheita inclinou-se
fortemente para o lado desta última, com notável diferença. Além disso vi, numa colmeia vidrada
pelos quatro lados, não só uma vez, mas muitas vezes, os zangãos, na mesma posição que as
obreiras, todos no mesmo sentido fazendo a mesma manobra com as patas sobre o mel operculado.
Donde concluo que não serve para coisa alguma, pelo menos nesta região, suprimir os machos,
visto que cada insecto a meu ver, desempenha o papel que lhe foi estabelecido por Deus na
natureza. Demais, a colocação de armadilhas para a apanha de zangãos à entrada das colmeias, é
um obstáculo muito desagradável para as obreiras».
Os zangãos nascem 24 dias após a postura do ovo e atingem a
maturidade sexual aos 12 dias de vida. Vivem de 80 a 90 dias e dependem
única e exclusivamente das abelhas obreiras para sobreviver:
são alimentados por elas, e por elas são expulsos da colmeia nos períodos
de falta de alimento - normalmente no outono e no inverno -
morrendo de fome e frio.
Quase duas vezes maiores do que as obreiras, a presença de
zangãos numa colmeia é sinal de que a colónia está em franco desenvolvimento e de que há alimento
em abundância.
Apesar de não possuir órgãos de defesa ou de trabalho, o zangão é dotado de aparelhos
sensitivos excepcionais: pode identificar, pelo olfacto ou pela visão, rainhas virgens a dez quilómetros
de distância.
Os zangãos costumam agrupar-se em determinados pontos próximos às colmeias onde ficam
a espera de rainhas virgens. Quando descobrem a princesa partem todos em perseguição da
rainha, para copular em pleno voo, o que acontece sempre acima dos 11 metros de altura. No voo
nupcial, uma média de oito a dez zangões conseguem realizar a façanha - exactamente os mais
fortes e vigorosos. No entanto, pagam um preço alto pela proeza: após a cópula, o seu órgão genital
desprende-se, ficando preso à câmara do ferrão da rainha. Logo após, o zangão morre.
17
OBREIRAS
A abelha obreira é responsável por todo o trabalho
realizado no interior da colmeia. As abelhas obreiras encarregam-
se da higiene da colmeia, garantem o alimento e
a água de que a colónia necessita colhendo pólen e néctar,
produzem a cera, com a qual constróem os favos, alimentam
a rainha, os zangões e as larvas por nascer e cuidam
da defesa da família.
Além destas actividades, as obreiras ainda mantêm
uma temperatura estável, entre 33º e 36ºc, no interior da
colmeia, produzem o mel que assegura a alimentação da
colónia, aquecem as larvas (crias) com o próprio corpo em dias frios e elaboram o própolis,
substância processada a partir de resinas vegetais, utilizadas para desinfectar favos e paredes,
vedar frestas e fixar peças.
Resumidamente, as obreiras respondem por todo o trabalho empreendido na colmeia.
Nascem 21 dias após a postura do ovo e podem viver até seis meses, em situações excepcionais
de pouca actividade. O seu ciclo de vida normal não ultrapassa os 60 dias.
Mas apesar de curta, a vida das obreiras é das mais intensas. E esta actividade já começa
momentos após seu nascimento, quando ela executa o trabalho de faxina, limpando alvéolos,
fundo e paredes da colmeia. Daí a denominação de faxineira. A partir do quarto dia de vida, a
operária começa a trabalhar na “cozinha” da colmeia: com o desenvolvimento de suas glândulas
hipofaríngeas, ela passa a alimentar as larvas da colónia e a rainha.
Chamadas neste período de sua vida, que vai do quarto ao 14º
dia, de nutrizes, estas abelhas ingerem pólen, mel e água, misturando
estes ingredientes em seu estômago. Em seguida, esta mistura, que
passou por uma série de transformações químicas, é regurgitada nos
alvéolos em que existam larvas. Esta mistura servirá de alimento às
abelhas por nascer. E com o desenvolvimento das glândulas hipofaríngicas,
produtoras de geléia real, as obreiras passam a alimentar
também a rainha, que se alimenta exclusivamente desta substância. Também são chamadas de
amas.
De nutrizes, as obreiras são promovidas a engenheiras, a partir do desenvolvimento de
suas glândulas cerígenas, o que acontece por volta do seu nono dia de vida. Com a cera produzida
por estas glândulas cerígenas, o que acontece por estas glândulas, as abelhas engenheiras
18
constróem os favos e paredes da colmeia e operculam, isto é, fecham as células que contêm mel
maduro ou larvas. Além deste trabalho, estas abelhas passam a produzir mel, transformando o
néctar das flores que é trazido por suas companheiras. Até esta fase, as obreiras não voam.
A partir do 21º dia de vida, as obreiras passam por nova transformação: abandonam os
trabalhos internos na colmeia e dedicam-se à colheita de água, néctar, pólen e própolis, e à defesa
da colónia. Nesta fase, que é a última de sua existência, as obreiras são conhecidas como carreteiras11.
IDADE Funções
1 a 3 dias Faxineiras: fazem a limpeza e reforma, polindo
os alvéolos.
3 a 7 dias Nutrizes: alimentam com mel e pólen as larvas
com mais de 3 dias.
7 a 14 dias
Alimentam as larvas com idade inferior a 3
dias com geléia real. Também neste período,
algumas cuidam da rainha. São Chamadas de
amas.
12 a 18 dias Fazem limpeza do lixo da colmeia.
14 a 20 dias Engenheiras: segregam a cera e constróem os
favos.
18 a 20 dias Guardas: defendem a colmeia contra inimigos
e contra o apicultor desprevenido.
21 dias em diante Carreteiras: trazem néctar, pólen, água e
própolis, até a morte.
Colhem o néctar das
flores com as suas compridas
línguas (conhecidas também
como glossas). O produto é
armazenado na vesícula melífera
(papo de mel), que também
transporta a água colhida.
Quando retornam à colmeia ,
as carreteiras transferem o néctar que colheram às engenheiras,
que vão retirar o excesso de humidade e transformá-lo em mel.
11 Designação genérica da abelha obreira que vem ao exterior carregar provisões, quer elas sejam água, néctar, pólen
ou melada..
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Além do néctar das flores, as carreteiras trazem outro importante alimento para a colmeia:
o pólen, conhecido como o pão das abelhas, que também é colocado nos favos. As carreteiras
colhem o pólen com o auxilio de suas penugens, e armazenam o material em suas cestas de
pólen, situadas nas tíbias das patas traseiras.
Finalmente, as carreteiras colhem a resina que será transformada em própolis com o auxilio
de suas mandíbulas e penugens, que é transportada nas cestas de pólen.
3.4. METAMORFOSES E CICLO EVOLUTIVO
Três dias depois de ser fecundada a abelha rainha começa a postura, colocando um ovo em
cada alvéolo. Uma rainha pode pôr cerca de três mil ovos por dia. Durante o seu ciclo, as abelhas
passam por quatro etapas muito diferenciadas:
• Ovo.
• Larva.
• Ninfa.
• Adulto.
Assim como as borboletas,
- sofrem uma METAMORFOSE
- , as larvas são muito diferentes dos adultos e o seu corpo sofre mudanças muito
importantes durante seu desenvolvimento.
Os ovos são formados nos dois ovários da rainha e, ao passarem
pelo ovidutco, podem ou não ser fertilizados pelos espermatozóides
armazenados na espermateca. Os ovos fertilizados darão origem a
abelhas obreiras ou rainhas e dos não fertilizados nascerão zangões.
Este fenómeno – do nascimento dos zangões a partir de ovos não
fecundados – é conhecido cientificamente como partenogénese.
Portanto, o zangão nasce sempre puro de raça, por originar-se de
ovo não fecundado. É apenas “filho da mãe”.
É interessante saber como a rainha determina quais os ovos que serão fertilizados, ou seja,
darão origem a obreiras, e quais os que originarão zangões. O processo dá-se seguinte forma: as
abelhas constróem alvéolos de dois tamanhos: um menor, destinado a criação de larvas de obreiras,
e outro maior, onde nascerão os zangões. Antes de ovular, a abelha rainha “mede” as dimensões
do alvéolo com suas patas dianteiras. Constatando ser um alvéolo de obreira, a rainha, ao
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introduzir o abdómen para realizar a postura, comprime a espermateca, libertando, assim, espermatozóides
que irão fecundar o ovo que será depositado no alvéolo. Caso a rainha verifique que
o alvéolo é destinado a zangões, ela simplesmente introduz o abdómen no alvéolo, sem comprimir
sua espermateca, depositando assim um ovo não fecundado.
Ciclo evolutivo das abelhas
TEMPO OPERARIA RAINHA ZANGÃO
1º ao 3º dia Ovo Ovo Óvulo
3º Eclosão do ovo Eclosão do ovo Eclosão do ovo
3º ao 8º dia Larva Larva Larva
8º Larva Célula operculada Larva
8º ao 9º dia A célula é operculada; a
larva tece o casulo A larva tece o casulo A célula é operculada: a
larva tece o casulo
10º ao 10º 1/2 dia Pré-pupa Pré-pupa Tece o casulo
11º dia Pré-pupa Pupa Pré-pupa
12º dia Pupa Pupa Pré-pupa
16º dia Pupa Insecto Adulto Pupa
21º dia Insecto Adulto - -
24º dia - - Insecto Adulto
1º ao 3º dia Incubação e limpeza Rainha Jovem Vive só para colmeia
4º dia Começa a alimentar as
larvas Rainha Jovem Voos para fora
5º dia Alimenta as larvas Voo nupcial Procura rainha para
fecundar
5º ao 6º dia
Alimenta as larvas jovens,
produz geléia real
faz os primeiros voos
para fora
A rainha é alimentada Procura rainha para
fecundar
8º ao 12º dia
Produz geléia real, produz
cera, faz os 1ºs voos
de reconhecimento
A rainha começa
engordar Se acasalar, morre
13º ao 19º dia Trabalhos de campo Inicia a postura Se acasalar, morre
21º ao 30º dia Carreteira Põe ovos Se acasalar, morre
31º dia Carreteira Põe ovos Morre
31º ao 45º dia Colheita de pólen e
néctar Põe ovos -
55º dia Morre Põe ovos -
720º - 1450º dia -
Pode voar com todas as
abelhas mais velhas, no
processo de enxameação.
Morre
-
21
É importante que o apicultor saiba destas diferenças porque, caso o lote de esperma presente
na espermateca da rainha se esgote, todas as abelhas nascerão de ovos não fecundados, dando
origem, portanto, a zangões, unicamente. Neste caso, o apicultor deverá substituir imediatamente
a rainha, para evitar que a colónia desapareça, pela falta de obreiras, que garantem alimentação,
higiene e demais serviços da colmeia.
3.5. ACÇÃO DAS FEROMONAS NO SEU COMPORTAMENTO
As feromonas12 são substâncias químicas, que as abelhas segregam para o exterior do seu
corpo e transmitem uma mensagem definida quando captadas por outro ser vivo da mesma espécie.
As abelhas produzem mais feromonas conhecidas que qualquer outro animal. Também se
sabe mais acerca da biologia da abelha que de muitos outros animais, nomeadamente insectos.
A sua acção no comportamento do animal pode ser de diferentes espécies: alarme (glândula
do veneno), acasalamento, inibição da ovogénese13, enxameação, identificação de itinerários
(glândula de Nasonov), etc.
As feromonas podem ser captadas pelos órgãos olfactivos (cheiro) ou por lambedura.
Assim distinguem-se as feromonas que actuam por ingestão e as que actual por olfacto.
Conforme a quantidade de feromonas circulantes, todas as abelhas da colónia são informadas
sobre o estado em que se encontra a colónia, sabendo assim para que fim é necessário
trabalhar, no sentido de manter ou restabelecer o equilíbrio.
A rainha produz regularmente uma feromona que informa as obreiras da sua presença na
colónia e que as impede de alimentar as larvas de modo a produzir nova rainha. Se faltar esta
feromona, por exemplo se a rainha morrer, o processo de alimentação especial de algumas larvas
é desencadeado, ao mesmo tempo que se inicia a construção de alvéolos reais nas células onde
estão essas larvas.
É também uma feromona segregada pela rainha que impede as obreiras de desenvolverem
os seus órgãos reprodutores (ovários) e possam pôr ovos. Tal acontece como veremos mais à
frente quando a colmeia permanece órfã durante algum tempo.
3.6. FORMAS DE ORIENTAÇÃO
As abelhas são dotadas de um processo de orientação excepcional, tendo o sol como referência.
12 As feromonas não são hormonas uma vez que estas últimas só segregam para o interior do corpo do animal,
transmitindo informação dentro do próprio animal.
13 Formação e desenvolvimento do ovo.
22
Para retornar à colmeia, por exemplo, as carreteiras aprendem a situar sua habitação assim
que fazem os primeiros voos de treinamento e reconhecimento.
Nestes primeiros voos, as carreteiras
aprendem a situar a disposição da colmeia em
relação ao sol, registando uma posição de que
jamais se esquecem. Trata-se de uma espécie de
memória geográfica.
As abelhas possuem a rara propriedade
de visualizar a luz do sol (que é seu referencial
mesmo nos dias nublados e encobertos, graças à
sua sensibilidade à radiação ultravioleta emitida
pelo sol. As abelhas utilizam o mesmo sistema
de orientação - sempre tendo o sol como referencia
- para guiar as suas companheiras em relação
às fontes de alimento recém-descobertas.
Neste caso,
quando querem informar
sobre a localização
e fontes de alimentos, as abelhas carreteiras transmitem a informação
por meio de um sistema de dança: quando a fonte de alimento está situada
a menos de cem metros da colmeia, a carreteira executa uma dança
em círculo, e, quando a fonte de alimento está localizada a mais de cem
metros, a campeira dança em requebrado ou em oito.
Nas duas situações, a campeira indica a direcção da fonte de alimento pelo ângulo da
dança, em relação à posição do sol.
3.7. FECUNDAÇÃO E POSTURA
A fecundação das rainhas ocorre normalmente do 3º ao 7º dia depois do nascimento, mas
pode só ser efectuada 20 dias após esta data. No entanto se passarem mais de 30 dias sem que se
realize a cópula as rainhas perderão a capacidade de fertilizar.
Após a fecundação e a consequente postura a rainha poderá iniciar a postura logo no dia
seguinte, a não ser que factores externos
como o frio, possam prolongar o período
que medeia entre a fecundação e o início
da postura.
Na figura ao lado podemos observar
ovos de rainha. Os ovos que se encontram
na vertical são ovos do dia, os
que se encontram inclinados formando
um angulo de aproximadamente 45º são ovos com dois dias e se porventura estivessem na horizontal
seriam ovos com três dias.
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3.7.1. FORÇAGEM14 DA POSTURA
A pujança da rainha em termos de postura depende, para além da sua qualidade, de uma
boa alimentação que estimule e intensifique a postura. Por outro lado é necessário que durante o
Inverno existam provisões em quantidade suficiente na colmeia para alimentar a criação no início
da Primavera.
A pouca quantidade de alimento no interior da colmeia aquando das primeiras secreções
nectaríferas vai impedir uma boa proliferação de abelhas obreiras uma vez que a rainha põe poucos
ovos e a criação é restrita.
No nosso arquipélago os Invernos são pouco rigorosos e as abelhas tem possibilidade de
forragear15 durante todo o ano. Por este motivo não existe, salvo raras excepções, a necessidade
de se fornecer à colónia alimentação suplementar.
3.8. RENOVAÇÃO PERIÓDICA DE RAINHAS
Salvo raras excepções, as colónias mais fortes, são as que possuem rainhas mais jovens
com maior capacidade de postura. Essa capacidade diminui com o tempo à medida que a abelha
rinha vai envelhecendo. Assim, a partir dos 3 - 4 anos de vida a rainha vai perdendo a sua pujança
gradualmente e torna-se necessária a sua substituição, uma vez que o que se pretende são colónias
populosas com produções elevadas de mel.
Para atingir esse objectivo poderão criar-se rainhas para a substituição como veremos
sumariamente mais à frente.
O ideal seria cada apicultor produzir as suas próprias rainhas e proceder à substituição
nas alturas devidas. Desta forma evitar-se-ia a compra de rainhas e a consequente transmissão de
doenças.
4. TIPOS DE COLMEIAS – VANTAGENS E INCONVENIENTES
Existem muitos modelos de colmeia estandardizados. Para além destas existem as não
estandardizadas, ou seja, aquelas que são construídas por curiosos sem medidas universais, o que
se poderá tornar num grande inconveniente como veremos adiante.
14 Antecipação do desenvolvimento normal de um enxame, por meio de alimentação artificial, a fim de existirem
muitas obreiras carreteira na altura de uma boa floração.
15 Colher provisões. Em apicultura significa colheita de néctar, pólen ou melada.
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Apesar dos inúmeros modelos de colmeia16 existentes por esse mundo fora, falaremos
apenas dos modelos mais vulgarizados nos Açores: Langstroth e Reversível.
Note-se que a tendência actual é para reduzir ao máximo o número de modelos havendo
mesmo quem seja da opinião de que pode e deve prevalecer um só modelo: o Langstroth que
resulta do aperfeiçoamento da colmeia original do autor.
A colmeia Langstroth é rectangular (515 x 410 x 240) com ninho igual às alças, podendo
também utilizar uma alça de altura reduzida conhecida
pela designação de meia-alça. A Reversível é quadrada
o que lhe dá a vantagem da reversibilidade e
mais pequena (410 x 410x 240). As vantagens e
inconvenientes da utilização de um deste modelos
dependem fortemente do local onde se irá instalar o
apiário de acordo com a produção nectarífera.
De acordo com algumas opiniões o modelo
Langstroth adapta-se, de modo geral, a quase todas as
regiões sendo internacionalmente reconhecido como
um bom modelo de colmeia. Mas como já foi referido
a escolha da colmeia depende da riqueza florística
da região e do tempo disponível que o apicultor possa
ter para cuidar da sua exploração.
Por exemplo em locais onde a floração é
abundante poderá preferir-se a Langstroth em detrimento da Reversível. Em contrapartida, em
zonas de menor riqueza nectarífera não deixa de ser acertado adoptar-se a Reversível.
Podemos assim concluir que qualquer um dos modelos apresentam vantagens e inconvenientes
e a sua escolha deverá ser equacionada de acordo com os parâmetros já referidos.
4.1. NORMALIZAÇÃO
A normalização consiste em regular ou fixar um conjunto de características a que deve
obedecer um produto, neste caso uma colmeia.
No tema anterior falava-se de prevalência de um único modelo de colmeia. Provavelmente
seria o ideal para o consumidor e traria também vantagens ao fabricante uma vez que o fabrico
em série exige menos mão-de-obra e baixa o preço do produto.
16 Em Portugal os modelos mais comuns são a Prática, a Lusitana, a Langstroth e a Reversível. Nos Açores predo25
O consumidor para além de beneficiar do preço terá maior facilidade em encontrar aquilo
que precisa num caso de emergência não correndo o risco de encontrar peças incompatíveis com
as suas.
Encontra-se com alguma frequência colmeias do mesmo tipo com diferenças quer no
tamanho dos quadros quer na espessura das madeira, etc., tornando-se quase impossível o auxílio
mútuo entre apicultores uma vez que os quadros não servem na colmeia do outro.
Pior ainda será quando observamos colmeias no mesmo apiário de diferentes dimensões.
Esta situação provoca concerteza grandes aborrecimentos no maneio adequado do apiário. O
ideal será o apicultor trabalhar sempre com o mesmo tipo de colmeia. Por exemplo suponha-se
um apiário com colmeias Reversíveis e Langstroth: pretende-se transferir por qualquer motivo de
ordem maior um quadro de uma colmeia Reversível para uma Langstroth. Tal não se concretizará
uma vez que as medidas são diferentes.
5. ENXAMEAÇÃO
Enxameação é o acto pelo qual uma família de abelhas abandona a sua residência para se
estabelecer em qualquer outro local. É considerada um fenómeno natural ligado ao instinto de
conservação e perpetuação da espécie.
Numa colmeia em estado normal de franco progresso,
a criação aumenta com a chegada da Primavera e a sua população
passa a ser em número suficiente para acorrer a todas as
necessidades da colónia. Se o maneio não é adequado e o
numero de abelhas aumenta para um número em que já não é
possível a sua permanência no interior da colmeia estas procuram
uma alternativa à sua sobrevivência.
As duas condições que geralmente encorajam à enxameação
são a presença de uma rainha na colónia com mais de
um ano e uma força numérica capaz de promover uma divisão
natural de forças pelo método da enxameação.
Uma rainha entre 1 a 3 anos de idade consegue pôr o numero de ovos suficiente para dar
à colónia uma força numerosa, e as qualidades necessárias para encorajar a formação de um enxame
e a resistência exigida para o acompanhar.
minam a Langstroth e a Reversível.
Célula de enxameação/substituição
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O primeiro enxame parte com a rainha mais velha mais ou menos na altura em que a 1º
célula de rainha é operculada. Se a colónia continuar a aumentar a população poderá ocorrer
nova enxameação – garfo ou enxame secundário – que será acompanhado por uma abelha jovem.
O fenómeno da enxameação, pelo enfraquecimento que produz nas colónias, justamente
no início da época de recolha nectarífera, é uma causa determinante de baixas de produção de
mel.
5.1. SINTOMA DE ENXAMEÇÃO
- Abelhas formando um cacho no exterior da colmeia – barbeando a colmeia. Este sintoma
não é o mais seguro pois em muitas ocasiões as abelhas “barbeiam” a colmeia quando à
escassez de néctar e quando há muito calor.
- Existência de células reais17 de enxameação com larvas ou já operculadas normalmente
em grande número.
5.2. FACTORES QUE FAVORECEM A ENXAMEÇÃO
- População excessiva;
- Cera velha e favos mal construídos;
- Abundância de obreiras jovens sem ocupação;
- Predisposição hereditária, ou seja, tendência da raça para enxamear;
- Espaço insuficiente para a postura da rainha;
- Arejamento insuficiente;
- Rainha idosa ou em decadência.
17 Existem três tipos de células reais: emergência, substituição e enxameação. As células
de emergência são feitas aumentando uma célula de obreira permitindo à larva que se transfira
para a parte alargada onde recebe uma alimentação exclusiva de geleia real. Estas células
são construídas quando uma colónia fica órfã e encontram-se no centro dos quadros de criação.
As células de substituição e de enxameação são idênticas sendo construídas a partir de taças
de rainha com objectivo expresso de criar uma nova rainha. As células de enxameação
formam-se quando uma colónia está prestes a dividir-se e as de substituição quando uma colónia
se prepara para substituir uma rainha velha ou incapaz. Estas células encontram-se na
parte inferior dos quadros de criação e algumas estão mesmo suspensas no fundo deste.
27
5.3. ESTRATÉGIAS PARA EVITAR ENXAMEAÇÕES
Em primeiro lugar a atenção do apicultor é fundamental. Se detectar que os espaços no
interior da colmeia são demasiadamente exíguos bastará fornecer à colmeia uma alça ou duas
para promover o descongestionamento. Uma vez que normalmente a existência de provisões é
excessiva, retiram-se alguns quadros com mel já operculado e inserem-se novos quadros com
cera moldada sempre que existirem condições óptimas para a construção.
Se por outro lado, depois de se efectuar um exame às colmeias, se detectar a presença de
células reais, estas deverão ser destruídas, ou se for o caso, aproveitá-las para fazer novos enxames
e de seguida colocar uma ou duas alças na colmeia.
Para além de aparar as pontas das asas às rainhas existem outros métodos para impedir as
enxameações. Um dos mais antigos e conhecidos é o método de Demarie que consiste em separar
a rainha da criação operculada e da maior parte da que ainda não o foi. Após encontrar a rainha
instala-se esta num quadro com uma quantidade mínima de criação no centro do ninho juntamente
com outros quadros que deverão ser de cera já puxada proporcionando assim espaço
suficiente para a rainha iniciar a postura. Coloca-se por cima deste ninho uma grade excluídora e
sobre a grade uma ou duas alças. Na alça superior coloca-se toda a criação que se separou da
rainha. Feito isto, o espaço torna-se bastante amplo no interior da colmeia. Um dos inconvenientes
deste método é o grande afastamento da criação da rainha o que torna quase certa a construção
de células reais na parte superior provocadas pela ausência de rainha.
6. ESCOLHA DO APIÁRIO
O apiário é um conjunto racional de colmeias, devidamente instalado em local preferivelmente
seco, batido pelo sol, de fácil acesso e suficientemente distante de pessoas e animais.
O progresso do apiário dependerá, em grande parte, do meio ambiente no qual esta instalado,
onde vivem e trabalham as abelhas. Por isso, caberá ao apicultor, o correcto maneio das
abelhas, para obter resultados positivos no desenvolvimento do apiário.
A localização do apiário é um dos factores mais importantes para o sucesso da apicultura.
Vale a pena gastar um pouco de tempo na identificação do melhor local da propriedade para a
instalação do apiário.
Antes de instalar as suas colmeias, o apicultor deve levar em conta a disponibilidade de
água e alimentos (floração) para suas abelhas, procurar protege-las de ventos fortes, correntes de
ar, insolação intensa (árvores de folha caduca ) e humidade excessiva. Mas a maior preocupação
28
do apicultor deve ser com relação á segurança de pessoas e animais. Este ponto é muito importante.
Naturalmente, o acesso ao apiário deve ser fácil, a fim de economizar tempo e reduzir os
trabalhos do apicultor. No entanto, as colmeias devem estar suficientemente distantes, de qualquer
tipo de habitação, estradas movimentadas e criações de animais. Afinal, as abelhas são seres
extremamente sensíveis a odores exalados por animais e pelo homem e irritam - se com qualquer
tipo de movimentação anormal que ocorra nas proximidades da colmeia. E nunca é demais lembrar
que o seu veneno, quando injectado em grandes quantidades, é fatal para a maioria dos seres
vivos, inclusive o homem.
Para prevenir o ataque de inimigos naturais das abelhas, mantenha a vegetação do apiário
limpa, livre de mato e de arbustos que dificultem o voo das obreiras. Um último cuidado: o apiário
deve guardar uma única distância de aproximadamente cinco quilómetros de localização de
outro apiário.
Água
Assim como para o homem à água é um elemento vital para as abelhas; entra na composição
do mel, da cera, e da geleia real produzida pela família. Por isso, é muito importante que
haja água limpa e em abundância próxima ao apiário. Caso não exista nenhuma nascente ou curso
de água próximo do apiário, o apicultor deverá providenciar o seu fornecimento.
Flora apícola
A flora apícola é o que se pode chamar de pasto das abelhas. É das flores que as abelhas
recolhem o néctar e o pólen, que vão alimentar a colónia.
Consequentemente, boas fontes de pólen e néctar contribuem para aumentar a produção
do apiário. Por isso, sempre que possível, o apicultor poderá planificar a formação do pasto apícola
antes mesmo da instalação do apiário.
Há plantas que produzem flores com elevada concentração de néctar, outras que produzem
bastante pólen e outras ainda que fornecem igualmente pólen e néctar. Infelizmente, não
existe o chamado pasto apícola ideal. Uma espécie vegetal de alto potencial apícola- o eucalipto,
por exemplo, pode não se adaptar à sua propriedade..
Algumas boas fontes de néctar e pólen que podem melhorar a alimentação das abelhas
são o rosmaninho, manjericão, manjerona, girassol, citrinos, fruteiras em geral, cucurbitáceas
(abóbora, melão, pepino etc.), leguminosas de uma forma geral, hortaliças, entre outras.
Até as chamadas plantas daninhas são excelentes fontes de alimento para as abelhas.
Não deixe também de cultivar, próximo ao apiário, plantas aromáticas e medicinais, pois
seu odor atrai muito as abelhas e diversificará ainda mais as fontes de alimento das colónias.
29
7. TÉCNICAS DE MANEIO
O verdadeiro trabalho do apicultor começa após a instalação de suas primeiras colmeias.
É aqui que começam as diferenças entre a apicultura racional da pilhagem ou exploração de enxames
que vivem em estado natural. E o
papel do apicultor é o de amparar as
suas abelhas nos momentos mais difíceis,
para poder beneficiar- se nos estágios
em que as colmeias se encontram
na plenitude produtiva.
Para tanto, é preciso que se entenda
que a colónia vive em constante
ciclo: nos períodos de escassez de alimento,
a família definha, os zangões são expulsos da colmeia, cai a postura da rainha e, consequentemente,
diminui ou cessa a produção de mel, pólen e cera.
É nesse momento que entra a acção do apicultor. Deve providenciar, se necessário, alimento
para sua criação, reduzir a entrada nos períodos de frio para auxiliar a manutenção da
temperatura ambiente no interior da colmeia, fornecer cera moldada para poupar as abelhas da
trabalhosa tarefa de produzir cera, verificar o estado dos quadros etc.
Já nas épocas de florações abundantes, a produção de mel da colónia, é abundante o bastante
para que o apicultor possa colher boa parte para si, sem causar prejuízo às abelhas. Igualmente
cresce a produção de pólen, cera, geléia real e própolis, que pode ser explorada, racionalmente,
pelo apicultor. A colónia cresce, permitindo que o apicultor promova o desenvolvimento
de seu apiário, fortalecendo famílias fracas, desdobrando colónias mais vigorosas, aumentando
assim seu apiário e criando novas rainhas para substituir as já velhas, cansadas e decadentes.
A inspecção da colmeia
Para verificar o andamento dos trabalhos da colmeia e interferir nos momentos de necessidade
- como, por exemplo, fornecer alimento nos períodos de carência, verificar a conformação
dos favos e a posturas da rainha etc. - o, apicultor deve fazer inspecções periódicas.
Este trabalho de revisão, como foi dito, deve ser feito pelo apicultor devidamente trajado
com a sua vestimenta, em dias quentes e ensolarados e, preferencialmente, com a ajuda de outro
colega. Neste tipo de actividade, o uso do fumigador é obrigatório e o trabalho deve ser feito de
forma rápida, em movimentos tranquilos, delicados, porém decididos. Gestos ou acções bruscas
podem provocar irritação nas abelhas.
30
Para realizar o trabalho de inspecção ou revisão, aproxime-se sempre pelo lado de trás da
caixa. Nunca interrompa, com o corpo, a linha de voo das abelhas, que entram e saem da caixa
em busca de alimentos.
O trabalho de inspecção começa sempre com o auxílio de fumo. Não fazer fumo em excesso
para não provocar o efeito contrário ao desejado, ou seja, acabar irritando as abelhas. Antes
de abrir a caixa para fazer trabalho de revisão propriamente dito, faça algum fumo junto à
entrada. Duas ou três baforadas leves bastam para abrir a tampa, e começar o trabalho de revisão.
O que verificar nas caixas
Não esquecer de que toda interferência no trabalho das abelhas deve limitar-se ao essencialmente
necessário, para não prejudicar o desenvolvimento da colónia. Basicamente, o trabalho
de revisão das colmeias é feito para verificar:
1) - A DISPOSIÇÃO DOS QUADROS - Os favos, sejam eles de cria ou de mel, devem estar em
bom estado. Favos escuros, retorcidos ou danificados devem ser substituídos por favos com cera
nova.
2) - A POSTURA DA RAINHA - Os favos, principalmente os de centro do ninho, onde se desenvolve
a criação, devem ser examinados para constatar a presença de larvas e ovos. É uma operação
delicada e que requer atenção visual, pois os ovos são pequenos, medindo cerca de 2mm.
A ocorrência de favos com pequeno número tanto de criação, abertos ou fechados, como de ovos
depositados, é sinal de que a rainha está fraca ou decadente e deve ser substituída.
3) - ESPAÇO PARA A FAMÍLIA SE DESENVOLVER - Se os favos da caixa estão todos ocupados,
com crias ou com alimento - mel e pólen -, o apicultor deve providenciar mais espaço
para a família, ou seja, uma caixa extra, com quadros dotados de cera, em cujos favos a rainha
poderá depositar os ovos. Um indício de que a caixa está "lotada", ou seja superpovoada, é a
formação daquilo que os apicultores denominam de "barba" de abelhas: a disposição, nos dias
quentes, de numerosas abelhas na entrada das colmeia, em forma de cacho.
4) - COLOCAÇÃO DE ALÇAS - O apicultor deve observar o fluxo de néctar que está entrando
na colmeia e colocar sobre o ninho uma ou duas alças.
5) - SINAIS DE DOENÇA - A presença de larvas mortas nos favos e de abelhas mortas no assoalho
da caixa é indício de ocorrência de doença na família. Uma colmeia sadia é sempre limpa e
higiénica.
6) - FALTA DE ALIMENTO - Na entre safra, ou seja, nos períodos em que a floração é escassa,
principalmente durante o inverno, verifica-se se a família tem alimento suficiente. Caso contrário,
deverá fornecer-se alimentação à colónia. No entanto, deverá ter-se sempre o cuidado de se
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deixarem reservas de mel na colmeia quando se efectua a cresta para que se evite o fornecimento
de alimento adicional.
7) - CRESTA DO MEL - Crestar o mel que estiver maduro devolvendo os quadros, vazios e
limpos, às alças.
8) - CONTROLE DE ENXAMEAÇÃO - Para evitar que parte da colónia enxameie, ou seja, que
abandone a colmeia, verifique se a família está a formar células reais nos favos. As células reais,
que são cápsulas destinadas à criação de rainhas, são formadas normalmente, nas extremidades
dos quadros, apresentando a forma de um casulo parecido com uma casca de amendoim. Elimine,
se for o caso, estas cápsulas para não perder a colónia.
7.1. ACÇÃO DO FUMO
Já no tempo de Aristóteles o efeito do fumo18 sobre as abelhas era conhecido embora em
pequena escala. No entanto os apicultores tiveram que “lutar” durante séculos antes que fosse
criado um fumigador prático.
As abelhas quando são assustadas, reagem e enchem-se de mel, com medo que lho vão
roubar. As abelhas cheias de mel são muito mais dóceis e mais fáceis de manipular.
No entanto é preciso contar sempre com as abelhas que estão a forragear e regressam à
colmeia, julgando estar a ser atacadas. Assim, procuram defender-se e vão concerteza tentar dar
ferroadas em quem não estiver protegido.
7.2. DESDOBRAMENTOS
O desdobramento é um método comum e
rudimentar de aumentar o número de colmeias do apiário
e consiste em separar a colmeia em duas partes ou mais.
Os desdobramentos podem executar-se por vários
processos dos quais se descrevem os dois mais
vulgarmente utilizados.
A) Divisão da criação de uma única origem
Num dia calmo de sol escolhe-se uma hora
18 Não se conhece muito bem a razão deste comportamento, embora possa estar relacionado com o instinto primitivo
de preparação para fuga diante de um incêndio florestal que requeira o armazenamento de reservas de mel como a
enxameação.
Célula real de emergência
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em que o número de abelhas que estejam a forragear seja bastante significativo e
selecciona-se uma colmeia bem povoada, quer em criação, quer em abelhas. Retira-se
dessa colmeia 2 quadros com criação nova, ou seja, que contenha ovos ou larvas com
menos de dois dias. Convém que nos certifiquemos que a rainha não está presente nos
quadros que retirámos.
Seguidamente colocam-se esses dois quadros num núcleo ou colmeia vazia (no centro
do ninho) e completa-se os espaços vazios da colmeia que cedeu os quadros de criação
com dois quadros com cera moldada que se colocam nas extremidades do ninho.
Na nova colmeia onde se colocaram os quadros com criação preenche-se o espaço
restante com quadros de cera moldada.
Depois desloca-se a colmeia que forneceu os quadros de criação para outro local do
apiário – convém que seja mais de 3 metros – e coloca-se no seu lugar a nova colmeia
que se acabou de povoar. Assim, as abelhas que se encontravam fora na recolha de néctar
e pólen entram na nova colmeia continuando a tratar da criação e constróem células reais
(neste caso de emergência). Das rainhas nascidas reinará a mais forte uma vez que matará
as outras com o auxílio do seu ferrão19.
B) Divisão de criação de origem diversa
O processo é idêntico ao anterior. A diferença reside no facto da criação e abelhas
adultas serem provenientes de duas ou mais colmeias fortes. Neste caso não será necessário
mudar a colmeia de lugar, ficando a nova colmeia já em local fixo, uma vez que serão
introduzidas em número suficiente na colmeia vazia abelhas, reservas de mel e pólen.
A utilização deste método requer que as abelhas seja enfarinhadas provocando alguma
desorientação o que faz com que venham a harmonizar-se sem luta, gerando uma rainha
e prosseguindo a sua laboração normal.
7.3. REUNIÃO DE ENXAMES
Em determinadas circunstâncias por vezes torna-se necessária a reunião de colmeias. Ou
por escassez de alimento, por enfraquecimento de uma colónia ou até um pequeno enxame (garfo)
que se tenha capturado sem rainha.
Se cada colónia tiver uma rainha poderá matar-se uma delas ( a mais velha se possível)
ou então deixá-las lutar entre si e ganhará a mais forte.
19 É do conhecimento comum que quando uma abelha dá uma ferroada morre uma vez que o seu ferrão fica preso e
leva consigo parte do abdómen. Com as rainhas não se passa o mesmo dado que o seu ferrão é liso.
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Como cada colónia tem o seu odor característico não se devem misturar as abelhas sem
que antes se utilize qualquer técnica que previna e evite uma luta entre elas. Assim, a mistura
deverá ser retardada o mais possível para dar tempo de se obter um odor comum utilizando para
isso uma folha de jornal que se coloca entre as duas partes da colmeia (entre ninho e alça por
exemplo). Convém que a colónia mais fraca se coloque na parte superior.
Uma outra técnica menos utilizada consiste em polvilhar as abelhas e os favos com farinha
e depois juntar as duas colmeias.
7.4. ORFANDADE – COMO ACTUAR
As colmeias podem ter enxames organizados e enxames desorganizados. Nas segundas
temos enxames órfãos em que a orfandade pode ser recente, adiantada ou macheada (colmeia
zanganeira).
Uma colmeia diz-se órfã quando não se encontra nenhuma rainha presente nem células de
criação com ovos ou larvas com menos de três dias de onde possam ser feitas rainhas. Este estado
de orfandade pode estar mais ou menos adiantado.
Os enxames órfãos recentes são aqueles que apesar de disporem de criação operculada
não possuem ovos nem larvas nos vários graus de desenvolvimento. Neste tipo de orfandade
pode estar a ser criada uma rainha de substituição não visível no acto da visita. Esta colónia salva-
se facilmente colocando no centro do ninho um quadro com ovos e larvas com menos de três
dias.
Os enxames órfãos adiantados são os que não apresentam quaisquer vestígios de criação,
ou seja, não contém ovos, larvas e criação operculada. Neste caso para salvar-mos a colónia
poderemos considerar três hipóteses.
1. Se a colónia ainda for numerosa poderemos introduzir um quadro retirado de uma
colmeia forte que contenha ovos e larvas com menos de três dias.
2. Se a colónia estiver fraca o melhor processo será introduzir no ninho, para além de
um quadro com larvas e ovos com menos de três dias, dois ou três quadros com algumas
abelhas e criação operculada retirados de uma colmeia forte. Também se pode
fornecer uma rainha já fecundada ou enxertar um célula real num dos quadros centrais
do ninho.
3. Se a colónia estiver demasiado fraca o melhor caminho é fazer a junção do enxame
órfão (Ver 7.3.) com o de outra colmeia (fraca ou não) provida de rainha.
34
Os enxames órfãos macheados são os que se encontram nas colmeias vulgarmente conhecidas
por “colmeias zanganeiras”. Nestas colónias que se encontram órfãs há bastante tempo as
obreiras sofrem alguma modificações no seu corpo e desenvolvem os ovários e começam a pôr
ovos (obreiras poedeiras). Como esses ovos não são fecundados nascerão apenas zangãos. Assim
a casta dominante na colónia são os machos. Daí a designação de “colmeia zanganeira”. Os zangãos
são anões uma vez que o seu desenvolvimento se efectuou em células de obreira.
O salvamento de uma colmeia neste estado é possível, embora não seja economicamente
viável, muito menos se só lá existirem zangões. Poderá utilizar-se um processo semelhante ao
citado no ponto 3 com a diferença de se efectuar uma troca de lugar entre a colmeia zanganeira e
uma colmeia bastante forte. Poder-se-á também fazer a sua dispersão para que esta não seja destruída
pela traça. Leva-se a colmeia para um sítio desviado alguns metros do apiário. Utilizando
um pouco de fumo para que as obreiras se encham de mel, escovam-se e sacodem-se os quadros.
As obreiras voam para o sítio onde se encontrava a colmeia, mas uma vez que não a encontram
procuram hospitalidade nas colmeias vizinhas que acabam por as aceitar visto transportarem
provisões.
7.5. CRIAÇÃO DE RAINHAS
Vejamos, para uma compreensão genérica, em que consiste a criação de rainhas, sobre
cuja técnica particular o interessado poderá aprofundar os seus conhecimentos através de um
curso específico de criação de rainhas.
Consideremos dois métodos: o natural e o artificial.
O método natural baseia-se na orfandade, ou seja, consiste em tornar órfã uma colmeia
devidamente escolhida como reprodutora tendo em consideração a raça das abelhas, capacidade
produtiva, docilidade, resistência às doenças, pouca tendência para a pilhagem20, etc. O objectivo
é “obrigar” as abelhas a construírem células reais, neste caso construíram células de emergência
ou salvamento.
É óbvio que esta orfandade provocada deve ser feita em altura própria, ou seja, durante a
primavera ou início do Verão quando a produção nectarífera é mais elevada e também a produção
de zangãos.
Ao fim de 10-12 dias deverá ser feito um exame à colmeia de modo a verificar se efectivamente
foram construídas as células reais e se as mesma se encontram operculadas. Se tal acontecer
deverão ser recortadas dos favos com muito cuidado e devidamente enxertadas nos favos
20 Pilhar - Acto ou efeito de roubar
35
de outras colmeias órfãs preparadas para o efeito – normalmente nestes casos utilizam-se núcleos
de criação que contém apenas cinco quadros.
O apicultor também pode optar por colocar sobre cada célula real uma cúpula protectora
em rede com o objectivo de evitar que as rainhas ao nascerem lutem entre si e depois introduzilas
em gaiolas de protecção em conjunto com 6 ou 7 obreiras procedendo de seguida à sua venda.
No método artificial recorre-se também
a uma colmeia na qual provocamos orfandade.
Mas antes das abelhas iniciarem o processo de
construção de células reais, a colmeia é equipada
com travessas especiais (Ver figura ao lado)
sobre as quais são dispostas taças de rainha,
construídas artificialmente com cera de abelha.
Depois procede-se à transferência de larvas (com menos de três dias), com o auxílio de uma pinça,
para as referidas taças retiradas de células de outras colmeias.
Sobre as taças referidas, as abelhas da colmeia órfã constróem óptimas células reais que
são usadas com maior facilidade que no caso anterior, dado que as taças são mantidas em posição
por dispositivos especiais
7.6 COMO IDENTIFICAR A RAINHA
A tarefa de identificar a rainha no interior da colmeia não
é das mais fáceis para o apicultor iniciante. Por isso mesmo,
muitos apicultores costumam marcar as suas rainhas com tinta.
Uma pequena gotinha de esmalte de unha é suficiente, embora
existam tintas especiais para esta operação.
Para localizar a rainha não marcada no interior da
colmeia, algumas dicas:
A abelha rainha está sempre cercada por um verdadeiro "séquito" de obreiras, que são suas
"damas de honra".
Assim, procure localiza-la nos pontos de maior aglomeração de abelhas - antes de iniciar
a operação de localização é conveniente fazer um pouco de fumo. O excesso de fumo provoca
transtornos no interior da colmeia, levando a rainha a misturar - se, o que dificulta a sua localização.
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Concentre a sua atenção nos quadros com postura recente, observando-os dos dois lados.
É pouco provável que a rainha esteja em quadros com mel ou com criação operculada.
Não faça mais do que duas tentativas para localizar a abelha rainha. Não a encontrando,
feche a colmeia e só repita a operação algum tempo depois.
O apicultor Helmuth Wiese descreve o seguinte processo para localizar uma rainha em colmeias
populosas:
• Coloque um favo com larvas de uma colmeia
estranha, mas sem abelhas, na colmeia onde se
pretende encontrar a rainha. Marque este quadro
com um "x" e feche a caixa.
• Meia hora depois, volte à colmeia, tire o quadro
marcado e examine-o com atenção. Muito
provavelmente, a rainha estará passeando sobre o
favo à procura de outra rainha, em razão do cheiro da rival, já que as rainhas são muito
ciumentas.
• Localizada a rainha, o favo poderá retornar à colmeia de origem ou permanecer na própria
colmeia, sem inconveniente.
• No caso de identificação com tinta, a rainha só deverá ser reintroduzida na colmeia depois
de pulverizada com xarope de mel para confundir o cheiro da tinta. As abelhas são
muito sensíveis a odores estranhos e, mesmo tratando-se da própria mãe da colmeia, a
rainha pode ser eliminada pelas obreiras. Para maior segurança, os apicultores costumam
devolver a rainha à colmeia abrigada numa gaiola, da qual é libertada um dia depois
7.7 EQUIPAMENTO
Já sabemos como vivem e do que se alimentam as abelhas. Vamos, agora, saber como
podemos cria-las, de forma a aproveitar sua produção excedente de mel.
Mas antes de denominar as técnicas e maneio de criação das abelhas, o apicultor deve conhecer
os equipamentos, ferramentas e, principalmente, a indumentária, ou seja, a vestimenta
com que irá trabalhar. Afinal, criar abelhas não é o mesmo que criar coelhos ou ovelhas. As abelhas
não são propriamente animais dóceis . Elas tratam de defender a sua família contra qualquer
tipo de ameaça (portanto são defensivas), e atacam todos os que consideram suspeitos com ferrão,
pelo qual injectam veneno na vítima.
37
Assim, para trabalhar com abelhas, o apicultor deve, antes de mais nada, estar adequadamente
vestido, para defender-se de eventuais picadas.
VESTIMENTA
A vestimenta básica é composta por uma simples máscara ou um casaco com máscara
acoplada, um par de luvas e eventualmente um par de polainitos. Estas peças podem ser feitas
pelo próprio produtor, mas é preferível compra-las , até que o apicultor esteja perfeitamente familiarizado
com a actividade.
O melhor tipo de máscara é o de pano, com visor de tela metálica, pintada com tinta preta
e fosca, que permite melhor visibilidade.
As luvas devem ser finas o suficiente para que o apicultor não perca totalmente o tacto -
factor de grande importância na manipulação das abelhas. As luvas de plástico, muitas vezes não
são resistentes às ferroadas, e tem o inconveniente de não permitir a evaporação do suor das
mãos, o que dificulta os trabalhos e cujo o odor pode irritar as abelhas. As luvas de couro fino,
brancas, são as mais indicadas.
O casaco deve ser constituído por uma única peça. Deve ser largo, folgado o suficiente
para não criar resistência junto ao corpo, o que permitiria a ferroada da abelha.
Importante: Lembrar sempre que as abelhas são particularmente sensíveis às tonalidades escuras,
especialmente ao preto. Têm verdadeira aversão a estas cores, que provocam o seu ataque.
Por isso, toda a indumentária do apicultor deve ser de cor clara. As mais indicadas são o branco ,
o amarelo e o azul- claro, tons que não as irritam.
UTENSÍLIOS
Fumigador - não é só a indumentária que defende o apicultor das ferroadas das abelhas. Um
utensílio indispensável para qualquer tipo de trabalho é o fumigador.
A sua função é a de diminuir a agressividade das abelhas.
É um utensílio realmente obrigatório na apicultura, principalmente
com as abelhas mais agressivas.
Há diferentes tipos e tamanhos de fumigadores. Para
quem se está iniciando na actividade, o tipo mais apropriado é
o fumigador de fole manual, que é acoplado a uma fornalha
38
dotada de grelha, na qual se queima o material que produzirá o funo. Os de tamanho grande são
preferíveis, pois garantem fumo por maior espaço de tempo.
Ao contrário do que a maioria das pessoas imaginam , o fumo produzido pelo fumigador
não "tonteia" ou "sufoca" as abelhas. Na verdade, o fumo é utilizado para criar a falsa impressão
de um incêndio na colmeia. Assim, ao primeiro sinal de fumo, as abelhas correm a proteger as
larvas e engolem todo o mel que podem, para salvar alimento em caso de necessidade de fuga.
Isto tudo faz com que as abelhas desviem a atenção do apicultor, que pode então trabalhar com
tranquilidade. Além disso, as abelhas, com os seus papos lotados de mel, ficam pesadas e têm
dificuldade para desferir a ferroada.
Como preparar e aplicar o fumo - Os materiais mais apropriados para a produção de fumo são
de origem vegetal, como cavacos de madeira, sabugos de milho, folhas secas de eucaliptos, gravetos,
cascas secas de árvores, retalhos de pano etc. O importante é que o fumo não seja jamais
produzido por materiais que possam irritar ou molestar as abelhas, como óleo de qualquer natureza,
querosene, gasolina e produtos que desprendam odor forte ou mau cheiro. O fumo deve ser
usado com moderação, em pequenas quantidades, para
não irritar as abelhas.
Raspador levanta quadros - é uma ferramenta praticamente
obrigatória. É utilizada para abrir o tecto da
colmeia, que normalmente é soldado à caixa pelas abelhas
com o própolis. Serve também para separar e limpar
as peças da colmeia.
Escova - É empregado para remover as abelhas dos quadros da colmeia sem as ferir.
Levanta de quadros - trata-se de uma ferramenta relativamente útil: composta de duas tenazes
de funcionamento simultâneo que remove facilmente os
quadros da colmeia, mesmo aqueles que estejam soldados
com própolis entre si. Além de facilitar o manuseio dos
quadros da colmeia, este instrumento diminui o risco de
esmagamento das operárias.
Outros equipamentos e ferramentas - A apicultura moderna
dispõe de diversos outros aparelhos e ferramentas
que auxiliam e facilitam o trabalho com as abelhas. Estes
instrumentos, no entanto, são recomendados a apicultores
que já dominam uma certa técnica de manejo.
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7.8. CRESTA
Na operação de retirar o mel da colmeia,
chamada cresta, há duas condições fundamentais a
respeitar: em primeiro lugar, a cresta deverá fazerse
apenas nos quadros das alças; o mel existente
no ninho deverá permanecer no ninho com o objectivo
de alimentar as abelhas em caso de emergência.
Em segundo lugar, deverá apenas crestarse
os quadros completamente operculados ou
quando muito a cerca de 80% para evitar problemas
de excesso de humidade no mel.
Ao recolher os quadros com o mel operculado,
é necessário retirar as abelhas que sobre eles
se encontram utilizando para isso diversos métodos como por exemplo:
- Varrer as abelhas com uma escova de pêlos macios;
- Sacudir as abelhas dos quadros com uma pancada “seca”;
- Soprar com ar sob pressão, usando por exemplo um compressor ou atomizador;
- Utilizar um escapa abelhas.
Existem vários tipos de escapa abelhas, cujo principio de funcionamento é semelhante:
trata-se de um dispositivo possuindo apenas um estreita passagem para as abelhas, construído de
tal modo que elas apenas possam passar num único sentido, ou seja, da alça para o ninho. Convém
que o escapa abelhas seja colocado pelo menos dois dias antes da cresta. Este é colocado
40
sobre o nino utilizando para o efeito uma prancheta com um orifício que permita a introdução do
escapa abelhas.
Uma vez os quadros sem abelhas são transportados para o local de extracção (melaria)
para serem desoperculados e posteriormente introduzido no extractor. Depois de centrifugado, o
mel é filtrado e colocado em depósitos inox onde permanece durante pelo menos uma semana a
decantar. De seguida procede-se ao embalamento em boiões de vidro.
Os quadros de onde foi retirado o mel são levados novamente para as colmeias poupando
assim às abelhas o trabalho de construir favos de novo.
8. POLINIZAÇÃO
A polinização consiste no transporte de pólen desde as anteras até ao estigma de uma flor.
As plantas destinadas à produção de frutos e sementes devem ser polinizadas, ou seja, as
flores destas plantas devem receber pólen em quantidade
suficiente para se transformarem em frutos e estes por
sua vez produzirem sementes.
Em determinadas espécies a polinização pode
ser directa, isto é, a transferência de pólen faz-se para o
estigma da mesma flor. Todavia, a maior parte das espécies
vegetais necessitam de polinização cruzada, ou seja, da transferência de pólen de uma flor para
outra, na mesma planta ou em plantas diferentes da mesma espécie. Para que a polinização ocorra,
nas espécies que necessitam de polinização cruzada, é necessário que o pólen seja transportado
geralmente ou pelo vento - polinização anemófila - ou pelos insectos - polinização entomófila.
As relações ecológicas entre as plantas entomófilas e as abelhas datam de há cerca de 80
milhões de anos ( ORTEGA SADA, 1987 ). Esta relação recíproca consiste no fornecimento de
néctar e pólen às abelhas necessários à sua alimentação e estas, por sua vez, proporcionam às
plantas a polinização.
A xenogamia21 oferece às plantas uma descendência muito mais variável, em termos genéticos
que a autogamia, e com maiores possibilidades de produzir variedades que se adaptem a
novos ambientes, competir com outras espécies e ocupar novas posições ecológicas.
Uma abelha pode visitar, para conseguir uma carga de néctar, entre 1000 a 1500 flores e
pode fazer até 20 viagens por dia ( ORTEGA SADA, 1987 ).
21 Polinização cruzada.
Comentário [A1]:
41
Borragem
Quando a abelha efectua a colheita de néctar ou de pólen arrasta-se entre os estames e, os
grânulos de pólen aderem aos pêlos de todo o seu corpo. São estes grânulos de pólen que viajarão
com a abelha de flor em flor, polinizando novas flores.
As abelhas que desenvolvem a polinização possuem pêlos por todo o corpo, especialmente
nas patas traseiras, onde podem transportar até cinco milhões de grânulos de pólen ( ORTEGA
SADA, 1987 ).
A abelha melífica22 não é a única que efectua a polinização cruzada, existindo cerca de 15
a 20000 espécies de abelhas sociais, semi-sociais e solitárias que realizam esta função, contribuindo
também para esta área vários outros insectos e pássaros, mas calcula-se que a abelha leva
a cabo 80% da polinização entomófila.
As abelhas são politrópicas23, pois realizam a sua actividade polinizadora numa grande
variedade de plantas.
PAIXÃO ( 1974 ) diz que um sábio norte americano declarou que a riqueza em mel e
cera, produzida pelas abelhas nos E.U.A, nada é em comparação com os serviços que elas prestam
na fecundação das plantas, indispensável à formação dos frutos.
Estudos levados a cabo na Hungria, Roménia e Espanha mostram claramente que a instalação
de colmeias em zonas de cultivo de girassol pode aumentar a colheita em cerca de 30%.
Também no cultivo do melão, o aumento devido a uma boa polinização pelas abelhas pode ser
superior a 50% ( ORTEGA SADA, 1987 ).
9. FLORA MELÍFERA
A flora melífera da região apresenta, como
plantas basilares principais o incenso ( Pitosporum
undulatum Vent. ), eucalipto ( Eucalyptus globulus
Labill ), trevo branco ( Trifolium repens L. ), luzerna (
Medicago polymorpha L. ) , metrosidero ( Metrosideros excelsa L. ), acácia ( Acacia melanoxylon
R. Br. ), mentrasto ( Mentha rotundifolia L. ), Citrus spp. e como plantas complementares o
alecrim ( Rosmarinus officinalis L. ), borragem ( Borago officinalis L. ), poejo ( Mentha pulegium
L. ), néveda ( Satureja nepeta L. Fritsch ), dente de leão ( Taraxacum officinale Weber),
silvas ( Rubus spp. ), confeito ( Polygonum capitatum Buch - Ham), poejo (Mentha pulegium
L.), uma grande variedade de fruteiras, hortícolas, etc,.
22 Lineu classificou inicialmente as abelhas como Apis mellifera; cinco anos depois, estudando melhor o latim, viu
que esta designação estava errada, rectificando-a para Apis mellifica. Mellifica significa que faz mel, enquanto
melífera equivale a transportador de mel ( PAIXÃO, 1974 ).
23 Politrópica - Espécie animal que se alimenta de muitas espécies de plantas.
42
Incenso
Existem determinadas épocas do ano caracterizadas
por uma abundante flora, quer de plantas basilares, quer de
plantas complementares. Outras épocas há, em que a fonte
nectarífera é menos abundante tendo as abelhas obreiras que
recorrer à recolha de néctar e pólen em plantas que
normalmente são menos atractivas.
Todavia, os Açores possuem um potencial florístico
notável capaz de permitir às abelhas obreiras uma recolha de néctar e pólen durante praticamente
todo o ano.
10. PRODUTOS DA COLMEIA
Mel
Segundo a definição da FAO/OMS ( 1974, in PAIXÃO, 1996 ) e da Norma Regional
Europeia ( 1969, anexo II ), o mel é uma .... “ substância açucarada obtida a partir do néctar das
flores ou das secreções provenientes de partes vivas das plantas ou que sobre elas se encontram e
que as abelhas melíficas libam, transformam e combinam com matérias específicas, armazenando-
a depois em favos da colmeia ”.
A aceitação em linhas muitos gerais
desta definição, não obsta que se afirme que o
mel é um produto biológico muito complexo e
que a sua composição varia notavelmente
como consequência da flora que lhe deu
origem, da zona, das condições edafoclimáticas,
etc.
A diferença entre um mel e outro resulta fundamentalmente da quantidade e qualidade de
plantas que florescem e produzem néctar na mesma altura. Em muitos caso há uma flora que
predomina nitidamente nalguns méis, conferindo-lhe características muito peculiares ( PIANA,
D`ALBORE e ISOLA, 1988 ). Assim, no primeiro caso falaremos de méis multiflorais e no segundo
de méis monoespecíficos ou monoflorais. Dos méis monoflorais mais comercializados cá
na região temos como exemplo o chamado “ Mel de Incenso “.
A composição do mel é muito variável, dependendo de numerosos factores: espécies escolhidas,
natureza do solo, raça das abelhas, estado fisiológico das colónias, etc.
43
De uma maneira muito generalizada o mel é composto essencialmente por três componentes
principais: 75 a 80% de hidratos de carbono, 1 a 5% de substâncias diversas e 14 a 23%
de água. No quadro da página seguinte podemos observar de uma forma mais completa a composição
média do mel segundo WHITE ( in JEAN-PROST, 1995 ).
O mel também contém grânulos de pólen ( de 100 a 5000 por grama de mel ), que são
indicadores da origem botânica e geográfica do mel ( JEAN-PROST, 1995 ).
Segundo PAIXÃO ( 1996 ), as principais substâncias acompanhantes, até hoje identificadas,
são as seguintes:
- Fosfato de cálcio e ferro, numa percentagem média de 0.024%; cloreto de sódio, em
quantidade insignificante;
- Ácido fórmico, que doseia, 2.793% nos méis escuros e apenas 1.867% nos méis claros;
- Diástases, que se alteram pelo aquecimento do mel e sobretudo pela esterilização, operações
portanto condenáveis;
- Vitaminas, de que estão identificadas várias destacando-se a A, a B1 e a C. A luz destrói
a primeira; o calor, em maior ou menor grau, destroi todas elas;
- A dose de vitaminas apresentada varia com a coloração do mel; assim os claros mostram-
se mais ricos em vitamina A, enquanto que os escuros contém maior percentagem de vitamina
B1 e C;
- Grânulos de pólen, os quais, embora em quantidade mínima no mel centrifugado, conferem
ao produto alto valor nutritivo.
Segundo o Prof. Valente de Almeida in PAIXÃO ( 1974 ), os valores médios do mel português
encontram-se compreendidos dentro dos limites seguintes:
Determinações Percentagem
Máxima Mínima Média
Água 20.18 15.49 17.54
Acidez 4.2 0.8 2.95
Açúcares redutores 77.16 70.14 73.85
Sacarose aparente 5.14 0.28 1.63
Substâncias albuminóides 0.90 0.11 0.44
Cinzas 0.60 0.04 0.26
Índice diastásico 26.6 5.00 15.5
44
Aplicações correntes do mel
Desde tempos imemoriais que o homem se apropria do mel produzido pelas abelhas, quer
em cortiços quer em colmeias, para uso na sua alimentação directa ou para lhe dar outro tipo de
aplicações.
Desde os indígenas das Américas, até aos aborígenes da Nova Zelândia, passando por
populações primitivas de várias outras regiões, o mel continua a ser considerado um alimento
precioso, que por vezes até se reveste de uma importância cultural, certamente também devido à
sua raridade ( in O Apicultor, 1996 ).
O mel na alimentação humana
Antes de mais, dada a sua riqueza em glúcidos, o mel fornece energia, e não uma energia
qualquer. A glucose circula imediatamente no sangue e é fonte de energia muscular para o coração;
a levulose constitui-se em reserva no fígado e, pouco a pouco, é cedida ao sangue convertida
em glucose ( PAIXÃO, 1996 ).
O cálcio, fósforo e ferro têm apreciáveis qualidades reconstituintes, pelo que o mel é
aconselhável na alimentação de crianças, intelectuais e indivíduos anémicos ( CRANE, 1975 ).
As vitaminas são indispensáveis à saúde e ao bom funcionamento de todos os organismos:
o mel constitui, por isso, um óptimo alimento natural.
O ácido fórmico tem um efeito tónico, que incide sobre a generalidade dos músculos.
Os enzimas24 mais importantes que o mel possui auxiliam a absorção dos açúcares e farináceos,
bastante fermentescíveis no intestino, desempenhando, por consequência, uma função
estimulante e higiénica na digestão ( PAIXÃO, 1996 ).
O primeiro vencedor do monte Evereste, Edmund Hillary consumiu vários quilos de mel
durante a ascensão ( DARRIGOL, 1981 ).
Aplicações terapêuticas
Desde que me conheço, sempre ouvi os mais antigos afirmarem que o mel tem várias
aplicações medicinais.
24 Substância orgânica, produzida por células vivas que actua como catalisador em certas reacções químicas.
45
QUADRO II - COMPOSIÇÃO MÉDIA DO MEL ( WHITE in JEAN-PROST, 1995 )
75 a 85% de glúcidos, 1 a 5% de substâncias diversas, 14 a 23% de água
Proteínas e
Glúcidos Ácidos ( 0,3 % ) aminoácidos Vitaminas Diastases Minerais ( 0,2 % ) Outros
( 0,4 % )
Açúcares
Redutores
70%
Glu e
Frutose
cos ⎧⎨⎩
Açúcares não redutores
5%
Sacarose
Maltose
Isomaltose
Erlose
*


⎪⎪

⎪⎪
a
10%
Melecitose
Kojibitose
Rafinose
Doxtrantriose


⎪⎪

⎪⎪
Ácido glucónico
Ác. succínico
Ác. málico
Ác. oxálico
- glutâmico
- piroglutâmico
- cítrico
- glucorónico
Ácido fórmico
( 10% da acidez total )
Ác. butírico
- cáprico
- capróico
- valérico
Matérias albuminóides
Matérias azotadas
Vestígios de :
- Tripsina
- Leucina
- Histidina
- Alamina
- Glicina
- Metionina
- Prolina
- Ác. aspártico
Vestígios de :
Tiamina = Vit. B1
Riboflavina = Vit. B2
Piridoxina = Vit. B6
Biotina = Vit. B8
Ac. ascórbico = Vit. C
Ac. pantoténico =
= Vit. B5
Ác. fólico = Vit. B9
Ác. nicotínico =
= Vit. B3 = Vit. PP
Amilase
α
β
⎧⎨⎩
Invertase ( Glucoinvertase
)
Vestígios de :
Catalase
Enzimas acidificantes
Glucose oxidase
Cálcio
Magnésio
Potássio
Ferro
Cobre
Manganésio
Boro
Fósforo
Silício
a) Esteres voláteis
Metilantranilato
b) Acetilcolina
c) Pigmentos
d) Colóides
e) Factor antibiótico
( inibina )
f) Substâncias
acompanhantes:
Pólen
* Açúcar redutor de acordo com MORRISON & BOYD ( 1990 )
46
Quem já não ouviu dizer que o mel tem um efeito laxativo, que cura constipações, tosses,
rouquidões, etc.
Os numerosos constituintes do mel permitem lutar contra a astenia25, alguns desarranjos
digestivos, em particular úlceras gástricas, deficiências cardíacas, respiratórias, neuropsíquicas,
etc.
CAMUS ( 1762 ; in JEAN-PROST, 1995 ), referia a acção terapêutica do mel num caso
de hidropisia26 do pericárdio; hoje é bem fácil interpretar o facto pela propriedade diurética27 do
açúcar e sua resultante utilidade no regime dos insuficientes renais.
O mel tem um poder laxativo suave. Todas as pessoas que sofrem de prisão de ventre
devem fazer uso frequente de mel. Devido à sua acção sobre a flora intestinal, combate as fermentações.
Por vezes há quem aconselhe o mel aos diabéticos. Convém que se apresentem algumas
restrições. O mel é rico em frutose, cuja assimilação não requer a acção da insulina28. Todavia o
mel também contém outros açúcares, para além da frutose, nomeadamente glucose que é contraindicada
para o regime de um diabético e sacarose, embora esta última com uma baixa percentagem.
Apesar de tudo o mel é muito menos nocivo para um diabético que o açúcar comum.
Para os insuficientes renais, o mel pode ser benéfico uma vez que é isento praticamente
de cloreto de sódio e albuminóides. É igualmente inócuo na artério-esclerose, por ter uma baixa
percentagem de Cálcio. Deve preferir-se também nas afecções gastrointestinais pelo esforço quase
nulo da sua digestão, sendo aconselhado na úlcera gástrica e duodenal.
HEROLD ( 1982; in DARRIGOL, 1981 ), activíssimo eclesiástico alemão refere a sua
experiência pessoal: « Eu cortara o polegar até à metade da unha. Em vez da tintura de iodo apliquei-
lhe mel e coloquei uma ligadura a proteger, nenhuma dor, nenhuma inflamação, nada de
pus, cura perfeita ».
O mel estimula a produção de sangue e linfa, permitindo assim uma feliz sinergia entre as
defesas imunitárias estimuladas e as substâncias anti-bacterianas do mel. O açúcar invertido contido
no mel favorece a osmose celular, que elimina rapidamente as toxinas das células.
PAIXÃO ( 1996 ) intitula o mel de benção para os que sofrem do coração, devido às suas
qualidades eupépticas29 e pela acção electiva sobre o miocárdio
25 Fraqueza, debilidade, falta de forças.
26 Acumulação anormal de líquido nos tecidos ou em certas cavidades de um organismo.
27 Que activa ou facilita a excreção urinária.
28 Hormonal segregada pelo pâncreas, cuja deficiência ou falta provoca diabetes.
29 Eupéptico - que facilita a digestão.
47
Segundo CRANE ( 1975 ) os nutrientes no mel em relação às necessidades humanas são os constantes
da tabela seguinte:
Nutriente
Unidade
Quantidade média em
100 g de mel
Ingestão diária recomendada
E. U. A
Equivalente energético Kcal 304 2800
Vitaminas
A U. I 5000
Tiamina ( B1 ) mg 0,004 - 0,006 1,5
Riboflavina mg 0,02 - 0,06 1,7
Ácido nicotínico mg 0,11 - 0,36 20
Piridoxina ( B6 ) mg 0,008 - 0,32 2
Ácido pantoténico mg 0,002 - 0,11 10
Ácido fólico mg 0,4
B12 􀂁g 6
Ácido ascórbico ( C ) mg 2,2 - 2,4 60
D u. i 400
E u. i 30
Biotina mg 0,3
Minerais
Cálcio g 0,004 - 0,03 1
Cloro g 0,002 - 0,02
Cobre mg 0,01 - 0,1 2
Iodo mg 0,15
Ferro mg 0,1 - 3,4 18
Magnésio mg 0,7 - 13 400
Manganês mg 0,02 - 10
Fósforo g 0,002 - 0,06 1
Potássio g 0,01 - 0,47
Sódio g 0,0006 - 0,04
Zinco mg 0,2 - 0,5 15
48
PÓLEN
“ Existirá algum símbolo da vida que se perpetua, mais
perfeito que o pólen? “
Georges Bornes
O pólen pode ser considerado como um
constituinte natural do mel uma vez que mesmo no mel
filtrado não é difícil encontrarem-se grânulos de pólen
através de um exame microscópico. No entanto o pólen
também pode ser obtido directamente das abelhas através
de um capta-pólen que se coloca na entrada da colmeia.
Muitas são as obras escritas ao longo do tempo
ainda não contrariadas que fazem referência ao pólen como um produto com inúmeras vantagens
em termos de dieta alimentar.
Este produto não pode ser sintetizado em laboratório, dificilmente será falsificado e há
milhares de anos que é utilizado no consumo humano sem qualquer manipulação ou contraindicação
( CAMPOS, 1996 ).
O pólen para além de ser um produto biológico, possui imensas potencialidades no campo
da terapia. O pólen permite às pessoas anoréxicas reencontrarem o apetite e recuperarem o
peso. É recomendado em todos os estados carenciais, descalcificação, raquitismo, atraso de crescimento,
aleitamento, etc.. Trata-se de um excelente remédio contra a anemia.
O pólen combate a fadiga intelectual a neurastenia e a astenia. Melhora a actividade cerebral,
o trabalho intelectual e a memória.
O pólen é um notável regulador intestinal. Restabelece as funções intestinais perturbadas
como a prisão de ventre crónica e diarreias. Combate as colites e as fermentações. Impede as
putrefacções. Auxilia o tratamento das colibaciloses, sendo actuante sobre as bactérias intestinais
patogénicas. O pólen é o alimento do intestino por excelência ( DARRIGOL, 1981 ).
O pólen é um excelente remédio contra a astenia sexual e a impotência. Ajuda a lutar
contra o envelhecimento prematuro e a senescência. Para os homens tem, além disto, uma acção
fortemente eficaz contra a hipertrofia da próstata. Certos autores falam de uma acção « miraculosa
» do pólen em caso de adenoma30 prostático. Em muitos casos, graças às suas propriedades
30 Tumor, de modo geral benigno, formado por tecidos glandulares.
49
descongestionadoras e antiflogísticas31, o pólen permite evitar a operação da próstata, evitado
intoleráveis sofrimentos provocados pela sua hipertrofia32 que comprime a uretra prostática, impedindo
a bexiga de se esvaziar ( DARRIGOL, 1981 ).
Própolis
Em grego significa "em prol da cidade". Substância produzida pelas abelhas a partir de
resinas vegetais, cera, pólen, ácidos e gorduras e que serve como impermeabilizante, desinfectante
e como material de construção. Algumas enfermidades que podem ser tratadas com a própolis:
asma, hemorróidas, alergias, gengivites, acne, micoses, hipertensão arterial, entre muitas
outras doenças.
Apitoxina (Veneno das Abelhas)
Em grandes quantidades é letal para o ser humano no entanto, é também um medicamento
muito eficaz na cura de diversos males, desde artrite, reumatismo, problemas circulatórios e
doenças vasculares degenerativas. O potencial terapêutico do veneno das abelhas foi utilizado
em diversas civilizações antigas: Hipocrates, 400 a.C., fala na picada de abelha para a cura da
artrite.
Geleia Real
Substância natural, secretada pelas abelhas jovens, e composta por proteínas, carbohidratos,
hormônios, enzimas, lípidos, substâncias minerais e biocatalisadoras nos processos de regeneração
das células. Utilizada pelo homem para combater problemas das vias respiratórias, úlceras,
tumores e reumatismo.
A grande importância dada à geleia real na alimentação, relaciona-se com a alimentação
da abelha rainha, cuja alimentação se baseia numa dieta à base de geleia real desde a eclosão até
ao final do desenvolvimento larvar proporcionando assim à abelha rainha um tempo de vida (4-5
anos) bastante prolongado, quando comparado com o das abelhas obreiras. Assim, as abelhas
obreiras, ao contrário da abelha rainha, apenas recebem uma dieta deste alimento nos primeiros
dois a três dias após a eclosão e em seguida com uma mistura de pólen e mel, resultando num
31 Que combate a inflamação ou a febre.
32 Desenvolvimento anormal de um órgão que, assim, aumenta sensivelmente de volume.
50
escasso tempo de vida que se resume a algumas semanas durante a Primavera-Verão e alguns
meses durante o Inverno.
Cera
Substância rica em vitamina A e que é secretada pelas abelhas a partir do mel e do pólen
para a construção de favos na colmeia. Principalmente utilizado na produção de velas, emplastos,
graxas, verniz, pomadas, impermeabilizantes, cosméticos e na produção de alguns medicamentos,
além de outros produtos industriais
11. INIMIGOS E DOENÇAS DAS ABELHAS
Inimigos
É sem dúvida o homem, o principal inimigo das abelhas, devido aos maus tratos que lhe
dá, não as pondo em condições de não serem incomodadas, deixando-as mesmo morrer à fome.
Existem diversos aspectos relacionados com o maneio da colmeia que se podem considerar incorrectos.
Geralmente os erros mais importantes são:
- Instalação de colmeias em locais pouco protegidos, nomeadamente zonas ventosas, frias e demasiado
húmidas e em locais onde frequentemente se fazem tratamentos fitossanitários.
- Falta de higiene durante a manipulação, transmitindo doenças para outras colmeias e mesmo
para outros apiários.
- Excesso de desdobramentos e a cresta exagerada, reduzem também a viabilidade dos enxames
uma vez que reduzem as reservas necessárias para ultrapassar os períodos de escassez.
Como conclusão, uma das principais causas de morte dos enxames, é a extracção excessiva
de mel sem a necessária compensação.
Aves insectívoras: Comem grande número de abelhas, quando estas se encontram a voar, ou a
visitar as flores, não sofrendo, ao que parece com o chamado « veneno » das abelhas.
Os patos também são grandes apreciadores de abelhas dizimando muitas.
De todas as aves, nos Açores a que maior número de vítimas produz será ....
51
Formigas: Consomem grande volume de mel, causando enormes prejuízos porque enfraquecem
as colónias, matam a criação e as colmeias atacadas pelas formigas ficam mais sujeitas à pilhagem
( roubo de mel de uma colónia de abelhas enfraquecida por outra colónia de abelhas ).
Para evitar o ataque pelas formigas, temos de proteger as colmeias assentando os seus pés
em copos de um material resistente com óleo não secativo. Tal medida é eficaz apenas a curto
prazo, uma vez que, em caso de necessidade, as formigas constróem pontes com os corpos das
companheiras mortas. Os venenos são eficazes mas difíceis de usar sem também destruírem as
abelhas. Assim, as formigas devem ser destruídas na origem. É importante, evitar que qualquer
ramo de planta se encoste à colmeia, facilitando a passagem das formigas.
Vespas: Grandes inimigas das abelhas. Destruir sempre que possível os vespeiros com soluções
insecticidas. Se os vespeiros se encontrarem em local fechado, pode-se queimar enxofre para as
sufocar. A caça aos vespeiros de vespas e vespões é mais fácil durante a noite.
Lagartas e cobras: Também são inimigas das abelhas e devem ser combatidas junto ao apiário.
Ratos: Gostam muito de mel, e por isso devem se combatidos. A utilização de raticida ou ratoeiras
junto das colmeias desde que não ponha em perigo as abelhas e animais domésticos é
aconselhável.
Aranhas: São inimigas das abelhas, uma vez que constróem teias nas imediações do apiário capturando
frequentemente abelhas que acabam por perecer.
Besouros: Conseguem entrar nas colmeias por possuírem uma carapaça quitinosa e invulnerável
e alimentam-se de mel.
Borboleta Sfinge caveira: Grandes inimigas das abelhas e grandes apreciadoras de mel. Não
são atacadas pelas abelhas por possuírem um a espessa felpa que lhes cobre o corpo, cuja altura é
superior ao aguilhão das abelhas.
As abelhas para se defenderem colunas de cera e própolis na entrada das colmeias.
Piolho das abelhas ( Braulea coeca ): Pequenos insectos muito semelhantes à Varroa jacobsoni.
Encontram-se em número variável, de 1 a 3, no dorso e tórax das abelhas. Para se alimentarem
dirigem-se para junto da boca das abelhas, onde colhem algum alimento.
52
Combatem-se fumigando com fumo de tabaco, depois de se ter colocado no fundo da
colmeia uma folha de papel, que recebe os piolhos como que embriagados que depois se esmagam
ou queimam.
Traça ou tinta: Pequena borboleta nocturna semelhante à traça da roupa. Alimentam-se de mel
e permanecem no estado larvar de 30 a 100 dias sendo esta a fase mais prejudicial. Como as borboletas
são impedidas de entrar na colmeia pelas obreiras, fazem a postura em qualquer fenda da
colmeia. Por vezes também fazem a postura, nas anteras das flores e, quando as abelhas colhem
o pólen levam sem saber os ovos de « traça » juntamente com o pólen ecloindo posteriormente
dentro da colmeia. Estas larvas para além de se alimentarem de mel também se alimentam dos
restos das peles das mudas das larvas e das crisálidas das abelhas. Os casulos, onde crisalidam,
ficam muitas vezes, sobrepostos, sendo de cor parda, baça, como sacos, arrumados em armazém.
Estas borboletas por ser nocturna pode ser capturada com uma lanterna, cujos vidros se
untam com um óleo espesso, ou fazendo uma fogueira onde as borboletas caem depois de terem
queimado as asas.
Principais doenças
Podem-se agrupar em duas categorias conforme afectam a criação ou abelhas no estado
adulto. A varroose ( em fase de enorme expansão em Portugal ) incide em ambos os estados de
vida das abelhas.
Doenças de criação:
Loque americana
Loque europeia
Micoses
Doenças dos adultos:
Acariose
Nosemose
Doença mista: Varroose
Loque Americana: provocada por uma bactéria ( Bacillus larvae ) que infecta o aparelho digestivo
das larvas, matando-as em pouco tempo. O interior dos alvéolos fica preenchido com um
líquido viscoso amarelo que com o tempo endurece. As abelhas não conseguem limpar os alvéo53
los e à medida que a doença se propaga deixa de haver espaço para a postura da rainha e a colónia
acaba por morrer.
Esta doença só se manifesta depois dos alvéolos estarem operculados.
Loque europeia: A sua causa é também uma bactéria ( Streptococcus pluton ) que se desenvolve
no estômago das larvas durante o estádio inicial de crescimento ( antes da operculação ). As
obreiras conseguem controlar a doença até um certo ponto, retirando as larvas mortas para o exterior.
No entanto pode haver uma infecção maciça da criação, ameaçando toda a colónia.
Micoses: Os fungos mais comuns que se desenvolvem nas larvas das abelhas são do género Ascophaera
e Aspergillus. São ingeridos pelas larvas, desenvolvendo-se no seu interior tomando
rápidamente conta do seu organismo. As larvas morrem e apresentam um aspecto bolorento ou
granuloso, conforme os casos.
Acariose: doença parasitária provocada por um ácaro muito pequeno ( Acarapis wood ) que se
multiplica na traqueia principal da abelha. Como os ácaros se alimentam da hemolinfa, através
de perfurações que fazem na parede da traqueia, têm uma forte acção debilitante. As abelhas
colocam-se no exterior da colónia, esfregam o abdómen com as patas e imobilizam-se, morrendo
de frio.
Nosemose: Infecção provocada por um organismo unicelular denominado Nosema apis, que se
desenvolve nas células do intestino do insecto, que ao defecar espalha grande número de esporos.
Os sintomas externos desta doença são muito semelhantes aos da acariose, podendo-se por
vezes distinguir, quando a abelha apresenta
diarreia.
Varroose: Doença que afecta a abelha
tanto no estado adulto como durante o desenvolvimento
larvar. Surgiu em Portugal à
relativamente pouco tempo vinda de Espanha
( 1987 ) e é provocada pelo ácaro Varroa
jacobsoni que se confunde facilmente
com o piolho da abelha ( Braulea coecca ),
podendo no entanto detectar-se diferenças
A - Varroa; B - Piolho (Braulea coeca)
54
quanto à forma e número de patas através de uma lupa. A Varroa fixa-se no exterior da abelha,
preferencialmente nos pontos onde a carapaça é mais fina ( entre os elos abdominais ) fazendo
perfurações para sugar a hemolinfa. Para se multiplicar, introduz-se nos alvéolos com larvas e
reproduz-se enquanto eles estão operculados e assim as jovens abelhas já nascem debilitadas.
No período inicial de infestação, a varroose não provoca sintomas graves. No entanto, a
morte do enxame pode-se dar, de repente, 2 a 3 anos depois da infestação, quando o número de
varroas rondar os 10.000.
Nas zonas mais quentes, a morte é mais rápida por não haver paragem de postura.
Características da VARROA:
- Ácaro castanho-avermelhado, de pequenas dimensões (
a fêmea mede cerca de 1,5 x 1 mm );
- Aparelho bucal adaptado para picar e sugar;
- Procura zonas moles da carapaça da abelha, onde faz
perfurações ( entre os elos abdominais );
- Entre os elos abdominais suga a hemolinfa debilitando a abelha.
Como se reproduz:
- A criação faz-se no interior dos alvéolos de criação
das abelhas, sobretudo no dos zangãos;
- As fêmeas entram nos alvéolos 1 a 2 dias antes da
operculação e põem um ovo de 2 em 2 dias ( 6-10
ovos );
- Em médias dentro de 7 dias surgem novas varroas
que, 4 a 13 dias depois podem reproduzir-se;
- Alimentam-se sugando a hemolinfa das larvas e das
ninfas.
Como é parasitado o enxame:
- Manipulação das colmeias pelo apicultor que contactou com enxames infestados;
- Erros de voo de obreiras de colmeias próximas;
- Divagação dos zangãos;
55
- As boas condições de desenvolvimento do enxame favorecem o desenvolvimento da varroa;
- O período de maior desenvolvimento da varroa é na Primavera, altura da criação dos zangãos;
- Depois de parasitado o enxame as larvas das abelhas podem morrer antes da eclosão, e as que
nascem apresentam muitas vezes deformações mais ou menos graves;
- Importante salientar que esta parasitose favorece o aparecimento de infecções secundárias,
enfraquecendo o enxame;
- No fim do Verão (depois da postura), no Outono (depois da armazenagem de alimentos) e
durante o Inverno, as colónias estão vulneráveis,
sendo as alturas em que morre maior número de
enxames.
Como controlar a Varroose:
Devem-se verificar frequentemente os enxames
e observar se estão parasitados.
Os testes fazem-se no principio da Primavera
e no Outono, devendo proceder ao tratamento quando o número de varroas for superior a 5%.
Métodos de diagnóstico:
1. Desoperculação dos alvéolos dos zangãos e observação das larvas.
2. Observação das obreiras. Podem-se matar cerca de 300 abelhas de cada colmeia, por asfixia,
dentro de um saco de plástico com pouco oxigénio. Lavam-se com água e detergente ou álcool
dentro de um frasco agitando bem. Voltar a agitar passados 20 minutos e coar para um pano
branco, através de uma malha larga, para reter só as abelhas. Se existirem varroas contam-se.
3. Armadilhas de rede ou papel engordurado.
4. Utilização de produtos químicos, em conjunto com armadilhas de rede.
56
Alguns tratamentos homologados em Portugal.
Nome Sub. activa Mét. Aplic. Mat. Necess Preparação Dose
p/col
Calendário
FOLBEXVA
Bromopropilato
Fumigação Tiras de papel
fumígeno
1 Tira 4 xs
4 em 4 dias
PERIZIN Cumafos Contacto * Dosificador 10/490ml 50 ml
2 xs - 7 dias
de intervalo
APISTAN Fluvalinato Contacto Tiras de plástico
impregnadas
3 tiras dte 3 semanas
APITOL Thiazolina Contacto * Dosificador 20g/100ml 100 ml 2 xs - 7 dias
de intervalo
* molhar as abelhas
12. MELARIA –ESTRUTURA E EQUIPAMENTO
Quando o apicultor se pretende instalar pela primeira vez tem de ter em conta obviamente
os objectivos a que se propôs. Perspectivou concerteza uma exploração com condições para levar
a efeito todas as manobras que uma exploração apícola exige.
Assim para além de pensar no apiário e sua dimensão deverá também dosear essa dimensão
para a construção de uma casa para extracção e armazenamento de todo o equipamento necessário
à cresta e maneio das abelhas, ou seja, uma melaria.
Todavia, a melaria nunca deverá ser idealizada apenas para satisfazer as exigências mínimas,
mas sim com uma maior dimensão a pensar num possível aumento dos efectivos.
A existência de uma melaria é de todo justificada, uma vez que o consumidor é cada vez
mais exigente e quer a garantia de que está a consumir um produto alimentar produzido nas melhores
condições de higiene. Aliás, para que o apicultor possa usufruir do uso da DOP – Denominação
de Origem Protegida terá de possuir as condições mínimas exigidas, e uma delas é a
existência de um local específico para efectuar a extracção do mel.
Em linhas muito gerais, as exigências a que estas instalações deverão obedecer podem
resumir-se a:
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Localização – Deverão localizar-se o mais próximo possível do apiário para que o transporte
de alças e quadros não se torne um calvário para o apicultor. Convém, neste caso que nas
proximidades do apiário exista água canalizada, rede de esgotos (preferível) e electricidade.
Edifício – Uma construção de um só piso é suficiente porque facilita as ampliações futuras
e o armazenamento directo pelo exterior.
As janelas deverão ser em número suficiente para permitir uma ventilação adequada e
estarem equipadas com redes de protecção contra insectos. A portas deverá ser de superfícies
lisas e não absorventes.
Os lavatórios e as retretes em número suficiente devidamente equipados com água fria e
quente, sistema de esgotos e boa ventilação. As retretes em circunstância alguma deverão comunicar
com a sala de extracção.
Os pavimentos são construídos com materiais não absorventes, anti-derrapantes e impermeáveis
de modo que seja feita a sua limpeza facilmente. Tem de ter uma inclinação que permita
o escoamento para as grelhas de escorrência.
Nas paredes os materiais também se querem impermeáveis, não absorventes e laváveis.
Nos tectos, que não deverão permitir a acumulação de sujidade, as lâmpadas devem estar
devidamente protegidas.
ESTRUTURA DO EDIFÍCIO
Existem compartimento que são absolutamente necessários e outros optativos, embora o
apicultor possa considerá-los prescindíveis.
As divisões estritamente necessárias são:
- Sala de extracção com hall para recepção de alças;
- Sala de armazenamento;
- Casas de banho.
Como opção o apicultor poderá incluir um pequeno escritório e mais uma área reservada
apenas ao armazenamento de mel com temperatura e humidade controladas.
EQUIPAMENTO DA SALA DE EXTRACÇÃO
Todos os equipamentos deverão ser de materiais lisos, laváveis e não tóxicos. O inox será
o mais indicado não se recomendando o plástico.
As salas de extracção devem ser equipadas com bancadas adequadas para a limpeza e desinfecção
dos utensílios e equipamento e dotadas de água potável quente e fria.
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Consoante a sua dimensão os equipamentos principais que deverá possuir são os seguintes:
- Extractor Inox (eléctrico ou manual);
- Bidões Inox para armazenamento e decantação;
- Facas e garfos desoperculadores;
- Tinas desoperculadoras em aço Inox;
- Porta quadros giratório;
- Prensa em aço Inox;
- Caldeira de cozer cera;
- Coadores de preferência extensíveis.
13. LEGISLAÇÃO APÍCOLA
No mês de Março de 2000 foi publicado o decreto-lei nº 37/2000 que estabelece o regime
jurídico da actividade apícola.
As deliberações constantes deste diploma causaram alguma polémica e indignação na
comunidade apícola quer a nível continental como a nível insular. No que diz respeito aos Açores
a preocupação foi no sentido dos apiários não poderem ser implantados a menos de 100 m da
via pública ou qualquer edificação em utilização. Bem visto, esta deliberação é no mínimo aberrante
tendo em conta a dimensão do nosso arquipélago.
No entanto, depois de muitas dúvidas, alguns juristas concluíram que o citado regime não
tem aplicação nas regiões autónomas uma vez que não consta a seguinte expressão no decreto
“para valer como lei geral da república”.
Desta forma, continuaremos a ser regidos pela Lei n.º 2012 decretada a 22 de Maio de
1946 no então estado novo de Oliveira Salazar. Segundo esta Lei as colmeias a implantar em
prédios rústicos devem ficar afastadas da via pública pelo menos 10 m salvo se estiverem instaladas
2 metros acima da via ou então se houver uma vedação compacta com pelo menos 2 metros
de altura.
No entanto de acordo com o decreto-lei n.º 47/2001 torna-se necessário que o governo
Açoriano adopte, pela via regulamentar, medidas específicas em função das suas especificidades.
59
Projectos de Investimento
Portaria n.º 9/2001 de 1 de Fevereiro
􀂾 Apoio ao investimento nas explorações agrícolas , Acção 2.2.1.
􀂾 Apoio à instalação de jovens agricultores . Acção 2.2.2.
As acções e despesas elegíveis são as constantes do quadro seguinte:
Montantes Máximos Elegíveis
Acções Elegíveis Despesas Elegíveis
Euro Escudo
1. Instalação ou beneficiação de unidades
de processamento e transformação
de mel e outros produtos apícolas.
♦ Construções; aquisição de
equipamento necessário ao
processamento de mel e outros
produtos, incluindo a purificação,
moldagem de cera, embalamento
e rotulagem; aquisição
de equipamentos necessários
à transformação do mel.
€1.995,19 por
tonelada de mel
extraído e/ou transformado,
até ao
investimento máximo
elegível de
€74.819,68
400.000$ por tonelada
de mel extraído
e/ou transformado
até ao investimento
máximo
elegível de
15.000.000$
2. Polinização
♦ Despesas com a polinização
até sete colónias por hectare,
para todas as espécies.
€9,98 por colónia,
para todas as espécies
a polinizar
2.000$ por colónia,
para todas as espécies
a polinizar
3. Aquisição de efectivo apícola
♦ Aquisição de colmeias novas;
aquisição de enxames.
€44,89 por enxame
e €29,93 por colmeia
completa
9.000$ por enxame
e 6.000$ por colmeia
completa

1 comentário:

Maria Isabel Pedrosa Branco Pires disse...

Primo

Já adicionei o teu link no meu blog

Beijinhos

Isabel